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Release that Witch – Capítulo 150

Torre de pedra

Raio estava voando por cima da Floresta das Brumas. O mundo parecia encolher diante de seus olhos. Todos os detalhes tornavam-se obscuros em sua visão, sobrando apenas vários blocos coloridos. O marrom era de terra, o cinza das montanhas, o verde das florestas e o azul dos rios.

Verde, no entanto, ocupava a maior parte da paisagem que Raio enxergava. Ao contrário da cor verde brilhante e vivaz dos campos em Vila Fronteiriça, a cor verde aqui estava num tom escuro e intenso, misturado com alguns tons de cinza e preto. A paisagem verde-escura sem fim se estendia de todo o oeste ao norte. Quando Raio olhava para esse verde por muito tempo, ela tinha a sensação de estar caindo. Portanto, ela precisava desviar sua atenção para o azul do céu de tempo em tempo, para tirar da cabeça essa sensação ruim.

Enquanto isso, as nuvens baixas e espessas atrás dela se estendiam sobre os picos da Cordilheira Intransponível e envolvia Vila Fronteiriça com uma fina camada de chuva e névoa.

Raio estava procurando aquela relíquia de 450 anos que estava escondida na Floresta das Brumas. Sem dúvida, essa seria uma grande exploração. Duas semanas atrás, quando Roland tinha dado esta tarefa a ela, Raio havia prometido que iria encontrar a relíquia, e com bastante confiança. Ao contrário da antiga Mentora Kara, a bruxa da serpente, que seguia rigorosamente as palavras do livro antigo com uma obstinação incrível, o Príncipe Roland repetia diversas vezes com bastante ênfase que o mapa não era nada mais do que uma referência. Ele disse a Raio para ficar segura e que, caso ela não conseguisse cumprir sua promessa, não era para ela ficar triste. Estas palavras deixaram a garota muito feliz.

Raio sabia que Sua Alteza estava certo. Mesmo se estas relíquias estivessem em um grande castelo, era bastante provável que após estes mais de quatrocentos anos, a mata já tivesse crescido a ponto de sobrepor toda a construção. Mas ela ainda queria encontrar esse lugar. Se ela localizasse a Estrela de Seis Pontas, ela poderia, assim, identificar onde a Cidade Sagrada de Taquila estava. Depois de ouvir o relato completo, Raio entendeu imediatamente o que Taquila representava.

Se Raio encontrar a relíquia, é muito provável que a relíquia ajude o Príncipe a descobrir a verdadeira razão por trás da batalha entre a Igreja e os demônios. Afinal, a Igreja se esforçou muito para esconder a verdade por trás desta história.

Isso ia ser muito mais divertido do que explorar novas rotas de comércio com seu pai!

Usando o método de fazer cartas náuticas, Raio primeiramente desenhou algumas linhas em um pergaminho. Como ela já tinha treinado e sabia quanto poder mágico utilizava para voar uma certa distância, de tempos em tempos ela desenhava uma linha no pergaminho, de modo que ela poderia saber a distância entre Vila Fronteiriça e a relíquia. Quando todas as linhas fossem preenchidas, sua tarefa estaria terminada.

Ela já tinha feito linhas em metade do mapa.

As nuvens de chuva por trás se aproximavam cada vez mais rápido de Raio. A garota poderia até mesmo ouvir trovões suaves quando as camadas de nuvens passavam abaixo de si. Ela desceu e começou a voar em direção à floresta abaixo, a uma velocidade tremenda.

Só então, ela teve um vislumbre de uma sombra cinza-claro transitória quando olhou de soslaio. Por um segundo, Raio não tinha certeza do que exatamente tinha visto. Então, ela parou de voar, pairou no ar e se virou para olhar sobre a área que ela tinha acabado de passar. Mas ela não encontrou nada de especial.

Raio perguntou se isso era uma ilusão. Ela decidiu examinar a área mais uma vez. Só que agora, ela voou ainda mais baixo, baixo o suficiente para ver os troncos das árvores, e identificar os diversos tipos de galhos e folhas de toda a floresta verde. Ela viu novamente os detalhes daquele local cinza.

Poucos minutos depois, Raio de repente descobriu uma pequena parte de uma torre de pedra branca saindo de camadas de ramos. Como o topo da torre foi cortada e sua parte inferior estava escondida na floresta, era muito difícil para ela ver a torre do céu. Se não fosse por causa das nuvens de chuva, ela provavelmente teria passado batido.

O coração de Raio estava batendo em seu peito.

Será que é a relíquia marcada no mapa? — Raio pensou eufórica.

Ela voou em torno da torre de pedra, mas não percebeu nada de anormal. Portanto, ela decidiu olhar mais de perto. Após aterrissar, a menina percebeu que não era tecnicamente uma torre de pedra branca. Enquanto Raio se aproximava, ela percebia que a torre estava coberta com videiras e musgos e acabava por ter uma cor verde acinzentada. A torre estava ligeiramente inclinada, como se tivesse sido atingido por forças poderosas. Pedras da mesma cor e material das pedras da torre se espalhavam aos montes pelo chão e tudo indicava que tinham caído do topo. Algumas pedras maiores ainda eram visíveis, enquanto outras menores tinham sido enterradas na grama e no solo. A torre era colossal, cuja base era quase tão grande quanto o castelo do príncipe Roland. Geralmente, neste tipo de construção deveria haver um porão sob o solo.

Raio deveria ter marcado a localização da relíquia no mapa e voltado para Vila Fronteiriça imediatamente. Uma voz sensata em sua cabeça estava dizendo a ela que não era uma boa ideia entrar nestas ruínas de centenas de anos de idade, porque os gases tóxicos acumulados ali poderiam matá-la. Mas Raio estava enraizada no chão e ardendo de curiosidade. Outra voz destemida estava pedindo a ela para dar uma olhada, só uma espiadinha.

Ela olhou para o céu. O céu sem nuvens agora parecia mal-humorado. Aparentemente, uma forte chuva estava a caminho.

Raio finalmente encontrou uma justificativa para si mesma para entrar na torre: se voar na chuva não era confortável, então ela precisava entrar na torre para não se molhar. Se ela encontrasse o porão, ela absolutamente não iria entrar lá sozinha.[1]

Depois de decidir, Raio, impulsionada por sua curiosidade, foi até a entrada coberta de vinhas. Ela pegou a adaga da cintura e conseguiu cortar um pequeno buraco para rastejar até dentro da torre. As molduras de portas de madeira já estavam podres há muito tempo, então ela conseguiu entrar sem quaisquer dificuldades.

Como o topo da torre tinha sido cortada, Raio podia ver claramente tudo sem uma tocha. Ela procurou o primeiro andar da torre, mas não encontrou nada. Evidentemente, qualquer coisa exposta à luz solar tinha sido dizimada pelas areias do tempo sem deixar o menor vestígio. Não havia mais nada no piso térreo da torre, além das ruínas das paredes. Raio também encontrou alguns buracos das antigas escadas que começavam desde o chão até o teto, mas já não havia nenhuma escada.

Foi bastante fácil para ela localizar a passagem que levava até o porão. Estava ao sudoeste do andar térreo, em frente à entrada da torre. Raio suspeitava que ela provavelmente poderia encontrar a Cidade Sagrada de Taquila mencionada no livro antigo, se ela avançasse pelas Terras Selvagens neste sentido.

Enquanto ela estava pensando, ela sentiu algo cair no nariz. Chuva. Ela entrou lentamente pela passagem sinuosa até o porão e deu uma acelerada. Lá, ela chegou a uma porta de madeira. Embora a porta não tivesse sido completamente corroída, a porta já estava bastante danificada como se estivesse pronta para se despedaçar no menor toque.

Rapidamente, a leve garoa se transformou em uma chuva torrencial. A chuva batia no chão com muita força, obscurecendo a visão de Raio. Embora ela estivesse parada em um lugar seco, poças começaram a se formar e rapidamente transbordar, além de que a água começou a escorrer pelas paredes de pedra. Para não ficar molhada e encharcar seus sapatos, Raio flutuava acima do solo com seus dois pés balançando no ar.

Só que, de repente, Raio ouviu um grito fraco, camuflado na chuva.

O som fez todos os seus cabelos se arrepiarem. A menina olhou em volta horrorizada. A passagem estreita estava cheia de… nada, somente com algumas videiras mortas aqui e ali. Com a ajuda da luz fraca do lado de fora, ela abriu a bolsa e tirou uma tocha e uma pederneira, tentando acender a tocha para uma análise mais aprofundada.

Naquele momento, ela ouviu aquele grito mais uma vez. Desta vez, ela percebeu que o som estava vindo da porta de madeira atrás dela. Raio estremeceu de susto e virou-se imediatamente. A tocha caiu no chão e a água espirrou sobre seu corpo.

Desta vez, a voz era clara. Embora ainda bastante tranquila, era alta o suficiente para que ela descobrisse que era uma mulher.

Será que tem alguém no porão? — Raio pensou enquanto suas costas suavam friamente — Como isso é possível? A torre de pedra deve ser uma ruína de mais de quatrocentos anos de idade. Ela está no meio do nada, no fundo da Floresta das Brumas, quem poderia estar aqui além de mim?

— Ajude-me…

No momento em que a mulher gritou pela terceira vez, a voz tornou-se bastante clara. Realmente, ela estava vindo de algum lugar de trás da porta. Alguém estava realmente pedindo ajuda. Raio engoliu em seco. Ela colocou a mão na maçaneta da porta com cautela e, em seguida, empurrou a porta. A porta de madeira rangeu e acabou caindo inteira para trás no chão, fazendo um barulho abafado.

Uma criatura alta e corpulenta apareceu diante dela abruptamente!

Raio sentiu todo o seu sangue congelar. A criatura parecia exatamente como os demônios que Soraya tinha desenhado. À luz sombria, Raio sentiu que o demônio também estava olhando para ela. Sua estatura gigante ligeiramente se inclinou para frente. Na sua mão, com apenas três dedos, ele tinha um machado brilhando com manchas escuras e vermelhas de sangue. Em um segundo, ela recordou do dia em que estes demônios tinham abatido as bruxas da Associação Cooperativa das Bruxas.

—Ah…! — Raio gritou com toda a sua força e uma voz estridente.

Ela jogou sua pederneira no demônio e correu para fora da passagem tão rápido quanto podia. Ela voou direto para a chuva e se dirigiu para Vila Fronteiriça.

Raio não notou, porém, que a pedra atingiu o demônio em seu peito com um som nítido e claro. Algumas pequenas rachaduras apareceram rapidamente em torno da área em que o demônio foi atingido e, em seguida, as rachaduras começaram a se expandir por todo o seu corpo. O demônio gradualmente foi se quebrando à medida que mais rachaduras emergiam.

O corpo do demônio, após um tempo, foi reduzido a um pó fino e branco, eventualmente se misturando ao vento.


[1] Nada como enganarmos a nós mesmos com as justificativas mais absurdas, mas que na hora fazem todo o sentido, não é mesmo?


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