Quando Roland voltou ao salão do castelo, ele sentou-se no assento de honra e olhou para os seus súditos.
Perscrutando as memórias do antigo príncipe, Roland notou que ele só havia exercido seu direito de julgar apenas uma vez, e isso ocorreu pouco tempo depois de ele chegar a Vila Fronteiriça. Depois que ele brigou com os nobres e ficou insatisfeito com a vida que estava levando neste lugar remoto, ele entregou todas as suas responsabilidades e assuntos para Barov e nunca mais se interessou por isso.
Quando todos os envolvidos estavam presentes, Roland iniciou julgamento.
Cada parte foi autorizada a declarar suas razões antes de Roland interrogá-los. Com a assistência secreta de Rouxinol, seu dever como juiz tornou-se muito mais fácil, afinal, ele não precisaria descobrir quem estava mentindo, nem precisava ter uma postura austera como se fosse o próprio anjo da morte. No fim, a história ficou bastante clara e concisa.
Depois de ser despojado de seu status como cavaleiro, Khoya Harvie começou a ter um crescente descontentamento com sua situação, ao mesmo tempo que se cansou do trabalho tedioso e burocrático com os papéis na Prefeitura. Ele decidiu então descontar sua raiva nos refugiados. Ao distribuir mingau para eles, Khoya deliberadamente cobrava um preço. Ele mentia aos refugiados dizendo que os servos não haviam entregue todos os grãos, logo, como o estoque de trigo era insuficiente, a Prefeitura precisava cobrar pelo mingau.
Na verdade, Khoya estava cobrando pelo mingau há muitos dias. Como ele estava sempre usando o uniforme inconfundível da Prefeitura, e os refugiados estavam preocupados com a represália dos funcionários, a maioria deles preferiu permanecer em silêncio. Isso deixou Khoya ainda mais ousado. Somente hoje, quando um refugiado com o nome de Vader se apresentou para protestar contra as medidas de Khoya e provocou uma comoção, é que o assunto foi trazido à luz.
Depois que Roland entendeu as circunstâncias, ele suspirou aliviado.
Durante a fase de desenvolvimento de uma organização, ela normalmente estaria cheia de vigor e vitalidade. Após estabilizar, a corrupção e a intransigência se tornariam inevitáveis. No entanto, no entender de Roland, esses problemas só deveriam ocorrer após a unificação do Reino de Castelo Cinza. Se esses problemas surgissem em um estágio tão inicial, a organização estaria destinada a um fim prematuro.
Foi uma sorte que esse incidente todo foi causado unicamente pelo comportamento de Khoya Harvie e não envolveu outros funcionários da Prefeitura. Além disso, o assunto era apenas extorsão de dinheiro. Roland estava preocupado de que houvesse mais funcionários em conluio com os servos para revender e traficar grãos.
Claro, Roland também era culpado por este incidente. Inicialmente, quando a Prefeitura estava desesperadamente sem mão de obra, ele não providenciou nenhum treinamento e nem fez uma análise criteriosa de cada candidato, mas simplesmente pegou todos os cavaleiros que se renderam, deu-lhes um breve aviso, e os entregou a Barov. Observando essa situação como um todo, Roland percebeu que nem todos puderam aceitar esse trabalho sem reclamar, tendo que suportar o duro golpe psicológico de cair da posição de cavaleiro para ser um civil comum.
Roland chamou Barov para o seu lado e perguntou baixinho:
— Como um Lorde costuma lidar com uma situação como essa?
— Vossa Alteza, há dois tipos de situação. — Barov disse respeitosamente — Se o ofensor é um nobre, ele pode pagar algumas peças de ouro e ser poupado de uma punição mais severa. Agora, se o ofensor for um civil, e o ofendido for um nobre, então a punição pode variar desde açoitamento até amputação.
— Mas Khoya não é um nobre. — O Príncipe deu de ombros — Eu o privei do título.
— Compreendo, Alteza. Bem, se é assim, então o veredito depende inteiramente da vontade do Lorde.
— Não existe nada estipulado?
Barov balançou a cabeça em negação.
Roland franziu as sobrancelhas.
Se isso depende inteiramente da minha vontade, então, não faz diferença como eu lido com os civis. — Roland pensou — Parece que aos olhos dos nobres, eles não são pessoas que precisam ser tratadas com seriedade.
— Além de cortar seus membros, chicotear, arrancar suas unhas e punições semelhantes, há algo mais normal? Como prisão?
— Prisão? — Barov ficou surpreso — Vossa Alteza, o senhor quer simplesmente trancá-los? Isso não conta como um castigo. Prisão é apenas um lugar temporário para prender criminosos enquanto eles aguardam julgamento. Se nós os mantivermos trancados, o senhor terá que destacar pessoas para cuidar deles e ainda dar comida de graça. Isso pode até mesmo ser considerado como recompensa.
É verdade, parece que o conceito de prisão desta era não é o mesmo do meu mundo anterior, então não posso aplicá-lo aqui. — Roland ponderou por um momento e decidiu seguir as regras do Reino de Castelo Cinza. Ele se levantou e passou o olhar pelo corredor inteiro, focando no antigo cavaleiro:
— Agora vou pronunciar meu julgamento. Khoya Harvie, por abandono do dever e extorsão de refugiados, a partir de hoje você será removido de suas funções na Prefeitura e trabalhará nas minas por dez anos. Você também pagará uma multa equivalente a três vezes o montante que ganhou com a chantagem e extorsão.
Roland olhou então para Vader e os demais refugiados e continuou:
— Vader, por instigar o ataque a um funcionário da Prefeitura, você receberá dez chicotadas. Quanto aos demais refugiados e servos que participaram da briga, cada um de vocês pagará uma multa de duas peças de prata ou cinco chicotadas. O mingau continuará a ser distribuído gratuitamente. O dinheiro da extorsão será devolvido integralmente a cada um. — Roland olhou para Barov e continuou — Você estará encarregado de executar as decisões estabelecidas. O resultado do julgamento deve ser declarado em voz alta para todas as pessoas que vivem na área residencial provisória.
— Sim, Vossa Alteza. — Barov respondeu enquanto fazia uma reverência.
Quando Roland voltou ao seu escritório, ele recostou-se em sua cadeira e esticou o corpo. Ele prontamente sentiu um par de mãos começarem a massagear seus ombros gentilmente. Ele fechou os olhos para aproveitar esse momento de relaxamento.
A partir desse incidente, Roland percebeu que à medida que a população de Vila Fronteiriça aumentava e, consequentemente, a autoridade da Prefeitura também, talvez fosse a hora de começar a discorrer sobre a regulamentação interna do governo.
No entanto, ele não queria estabelecer uma organização semelhante a uma procuradoria, ou mais ainda, ter uma unidade de segurança pública independente. A procuradoria exigiria um grande número de pessoas com educação básica e estaria propensa a causar conflitos mútuos e pressão devido à interesses individuais, impedindo a implementação e expansão de novas políticas. Por outro lado, uma unidade independente diminuiria insidiosamente seus próprios poderes, como na legislação, interpretação judicial e jurisdição, os quais ele achava que estaria melhor sob seu controle.
O que ele precisava era de um sistema simples e eficaz que não exigisse muitos funcionários para servir às funções de supervisão.
Ele, então, segurou a mão em seu ombro. Rouxinol saiu da névoa e segurou a mão do Príncipe enquanto se sentava na borda da mesa à frente. Ela inclinou a cabeça e perguntou:
— Qual é o problema?
Enquanto balançava as pernas finas sobre a borda da mesa, suas botas altas de couro de camurça e suas calças apertadas formaram uma curva perfeita.
Roland tossiu duas vezes antes de falar:
— Pretendo montar um novo departamento que supervisione a Prefeitura e prenda pessoas ou grupos que ameacem a estabilidade da Região Oeste. Esse departamento só responderá a mim e a ninguém mais, além de ser independente da Prefeitura e do Primeiro Exército. — Ele enfatizou cada palavra — Por enquanto, vou chamá-lo de Agência de Segurança da Região Oeste. Espero que você possa estar à frente dessa agência.
— Eu? — Rouxinol piscou os olhos, surpresa.
— Sim, pois somente você pode distinguir facilmente entre a verdade e a mentira. Nenhuma fraude escapará de você. — Roland assentiu em aprovação — O que me diz? Se você aceitar, eu posso até mesmo oferecer um chá da tarde cheio de sorvete só para você e…
Rouxinol gentilmente beliscou a mão dele.
— Mesmo sem essa oferta, eu ainda assim concordaria com o seu pedido, já que é algo que você quer.
Roland de repente se sentiu um pouco envergonhado. Ela riu e quebrou o silêncio antes de ficar estranho:
— Mas o que exatamente eu tenho que fazer?
— Humm, supervisionar é realmente fácil. — O Príncipe se recompôs e continuou — Vou instalar uma caixa de correio no portão do castelo para reportar ofensas. Tudo o que você precisa fazer é verificar o conteúdo das cartas recebidas.
As soluções indubitavelmente mais eficazes em termos de custos eram permitir a supervisão pública, ou seja, que os próprios habitantes se policiassem; e permitir que a Prefeitura supervisionasse a si mesma, semelhante à forma como ele prendeu os espiões que se infiltraram em Vila Fronteiriça durante os Meses dos Demônios no ano passado.
A desvantagem desse método, em uma abordagem posterior, era que tanto o acusado quanto o acusador precisariam ser meticulosamente verificados. Também haveria casos de relatórios falsos ou equivocados, sem falar das armações e artimanhas. No entanto, esses problemas se tornariam insignificantes com a habilidade de Rouxinol. Seria fácil verificar as informações simplesmente por meio de um interrogatório com os envolvidos. Além disso, ao recompensar o acusador com o atestamento da veracidade, e ao punir falsas acusações e informações, esse sistema de denúncias se tornaria extremamente eficaz.
— Quanto a manter a estabilidade da Região Oeste e eliminar ameaças e perigos, será melhor ter um sistema interno de inteligência. Lentamente vou fornecer mais agentes para você até que tenha olhos suficientes para vigiar toda a Região Oeste.