Roland bocejou enquanto se levantava da cama. Ele notou que a escada tesoura que ele usou para cair ainda estava no mesmo lugar de antes, e que o brilho do sol passava pelas persianas da janela.
Anteriormente, quando ele havia caído da escada tesoura, ele estava usando roupas normais, mas… neste exato momento, havia apenas uma cueca samba canção em seu corpo.
Será que isso foi causado pela inércia da subconsciência? — Parecia que quando ele saía do Mundo dos Sonhos, isso não necessariamente faria com que o “tio de Zero” adormecesse. O “tio de Zero” continuaria acordado normalmente até a hora de dormir. Isso garantiria que toda vez que Roland entrasse no Mundo dos Sonhos, fosse o exato momento em que o “tio de Zero” acordasse. — O quão formalizado é isso?
Ele decidiu que partiria do Mundo dos Sonhos à meia noite para ver se poderia eliminar essa espécie de “sonambulismo interdimensional”.
Além disso, Roland se sentia exausto pela falta de sono, totalmente diferente de uma pessoa que havia acabado de acordar. Seus olhos estavam vermelhos e secos, e sua mente estava cansada. Ele também não parava de bocejar. Ele esteve acordado por mais de vinte horas, contando o tempo que ele havia passado no Mundo dos Sonhos.
Roland achou que talvez ele devesse tentar dormir um pouco à tarde.
Roland colocou uma camisa de manga curta e caminhou para a sala de estar, onde viu a garotinha de novo.
— Por que você acordou tão cedo hoje? — Zero parecia surpresa. — Eu nem comecei a fazer o café da manhã ainda… Espere um pouco. Vou fazer agora.
Obviamente, Zero também havia acabado de acordar. O cabelo longo e branco dela estava todo bagunçado, com alguns fios eriçados. Ela parecia completamente diferente do habitual, onde estaria toda arrumada. Ela usava o mesmo vestido azul-claro com meias brancas, que, se Roland não estava enganado, já era o terceiro dia consecutivo que ela o vestia. Já que Zero sempre mantinha o quarto dela bem limpo e arrumado, ela muito provavelmente repetia esse vestido por causa da falta de roupas, e não por pura preguiça ou descuido[1].
Ao pensar nisso, Roland se sentiu indignado.
Não só por causa dela, mas também por si próprio.
Era inacreditável que só havia míseros 300… ou melhor, 250 yuan em seu bolso. Como podia ele, o fundador do Mundo dos Sonhos, e Zero, o gatilho do Mundo dos Sonhos, se encontrarem num estado tão deprimente? Isso não poderia ser mais trágico.
Roland não deixaria a situação piorar, pois ele precisaria de dinheiro se quisesse comprar livros ou explorar o Mundo dos Sonhos. Ele tinha que encontrar alguma forma de ganhar dinheiro. 250 yuan não poderia nem mesmo pagar um táxi, quanto mais comprar comida e outras coisas.
Enquanto Roland estava distraído pensando em como ganhar dinheiro, Zero já tinha ido para a cozinha fazer o café da manhã.
Ela rapidamente acendeu o fogo para esquentar a frigideira e, em seguida, adicionou óleo. Com uma só mão, ela quebrou a casca do ovo, derramando a gema e a clara na frigideira. Para virar o ovo, ela teve que usar uma espátula, já que a frigideira era muito pesada para ela virar o ovo jogando-o para cima.
Enquanto o óleo quente crepitava na frigideira, o aroma tentador de ovo frito rapidamente se espalhou pela casa.
Por causa do custo de vida limitado, o café da manhã deles raramente mudava. Roland ficou com duas fatias de pão de forma e um ovo frito, e Zero ficou apenas com uma fatia de pão de forma.
— Esse pão foi comprado ontem? — Roland deu uma mordida no pão de forma e percebeu que a massa do pão estava um pouco dura.
— Claro. — Zero grunhiu. — Essas foram as últimas fatias de pão de forma que havia na padaria ontem, então elas estavam bem baratas. De vez em quando o dono da padaria me dá um pouco de massa de pão, e eu mesma faço várias fatias de pão de forma aqui.
Roland ficou surpreso e perguntou:
— Você fazia a mesma coisa quando estava no interior?
— Quase. — A garotinha balançou a cabeça e não disse mais nada. Parecia que ela não queria falar da família dela. Após o café da manhã, ela trocou de roupa, pegou a mochila, caminhou em direção à porta e disse:
— Tio, como sempre, eu só volto ao meio-dia. Você vai ter que lavar os pratos.
— Ah, tudo bem. Tome cuidado! — Roland assentiu com a cabeça.
Zero não pôde deixar de ficar surpresa. Após um momento, ela disse “sim” e foi embora.
Bem… Chegou a hora de ver o que eu tenho.
Ele retornou ao seu quarto e checou cada gaveta da mesa de cabeceira e guarda-roupa, procurando por todos os seus pertences.
Primeiramente, ele encontrou uma carteira que continha seu RG, um cartão de débito e um pouco mais de 200 yuan, além de vários bilhetes de loteria. Roland, obviamente, jogou os bilhetes de loteria na lata de lixo. Afinal, todos já estavam vencidos.
Em seguida, ele encontrou um celular que tinha a lista de contatos vazia. As únicas mensagens que havia no celular eram do banco que o informava sobre os dados do cartão de débito. Ao ler as mensagens do banco, Roland notou que os pais de Zero mandavam 1.500 yuan para ele ao fim de cada mês. Mas agora, faltando quatro dias para o próximo envio, havia apenas 20 yuan de saldo no cartão de débito, que seria apenas o suficiente para não deixá-lo passar fome.
Por último, ele encontrou algumas joias que pareciam ser de ouro. Se ele vendesse essas joias para uma joalheria, poderia obter por volta de 1000 yuan, que poderia ser usado para emergências.
Esta era toda a sua riqueza descartável, mas ainda estava longe do que ele precisava. Roland suspirou. Em seguida, ele decidiu dar uma olhada no quarto de guardar coisas velhas, que ficava no fundo do apartamento.
Ele abriu a porta do quarto e começou a avaliar alguns itens velhos que havia lá.
A bicicleta de ferro e a máquina de costura, que estavam cobertas de poeira e teias de aranha, valeriam em torno de 30 a 40 yuan devido ao material delas, especialmente a máquina de costura, que era extremamente pesada. E a grande porta de ferro, que poderia contar como sucata de ferro, valeria mais de 100 yuan. Essa quantidade pífia de dinheiro poderia parecer de pouca importância para Roland em circunstâncias normais, mas neste exato momento, era de extrema relevância.
Se ele fosse em algum estabelecimento que vendesse livros de segunda mão, 100 yuan já seria o suficiente para ele comprar diversos livros didáticos.
Roland lembrou que, em um dos cartazes que ele viu no corredor, havia o número telefônico de uma estação de reciclagem.
Mas primeiro eu tenho que limpá-los, talvez assim eu consiga vendê-los por um preço melhor.
Ofegando, ele carregou a bicicleta e empurrou a máquina de costura para a sala de estar. Mas ele logo notou um problema.
Parecia que a grande porta de ferro não estava encostada na parede, e sim unida à parede! Em outras palavras, a porta de ferro na verdade era uma passagem.
Droga. Quem foi o idiota que fez isso? Qual é a lógica de botar uma porta nesta parede? Ele não notou que essa parede é o fundo do apartamento? Será que ele botou essa porta aqui pra facilitar o suicídio? — Roland pensou, incrédulo. – Bem… Pelo menos ela tá trancada com um cadeado. Espere aí… — Foi neste momento que ele lembrou que havia duas chaves em seu chaveiro.
Roland imediatamente pegou seu chaveiro, no qual uma das chaves era a da porta de entrada. Ele colocou a outra chave no cadeado da porta. Inesperadamente… A chave funcionou.
Com um estalo, o cadeado abriu e, em seguida, caiu do fecho da porta[2].
Roland não se importou em catar o cadeado no chão. Ele puxou o fecho e empurrou a porta de ferro.
Assim que abriu a porta, um vento forte misturado com flocos de neve invadiu o quarto. Isso fez Roland, que usava apenas uma camisa de manga curta e uma cueca samba canção, tremer de frio.
Para seu espanto, havia um mundo de neve atrás da porta de ferro.
À distância, ele conseguiu ver uma cidade acinzentada cercada por montanhas de neve. Era uma cidade que havia sido construída dentro de uma grande fenda nas montanhas. No centro dessa cidade, havia uma torre imensa.
Embora esta fosse a primeira vez que Roland via esta cidade, ele rapidamente a reconheceu.
A Nova Cidade Sagrada de Hermes.
Uma fortaleza que fora construída na área fraturada da Cordilheira Intransponível, e que também era um símbolo que representava a grandeza e o poder da Igreja.
[1] – Ela provavelmente usa esse vestido só para dormir. Funciona como um pijama para ela, apesar de não parecer como um.
[2] – Fecho, trinco, tranca ou ferrolho são mecanismos usados para fechar a porta ou portão pelo lado de dentro, e sempre estão acompanhados de cadeado. O portão de sua casa provavelmente tem um fecho. Eu anexei uma imagem demonstrativa no texto.