O jantar foi servido por uma empregada.
Antes da empregada tirar a tampa da bandeja, Annie já sentia um cheirinho de dar água na boca. Numa bandeja de ferro, havia vários pães com cascas douradas. Só de olhar, ela soube que esses pães eram feitos de farinha de trigo de ótima qualidade, que havia sido moído e ralado. Além disso, também havia um pote de manteiga e um pote de caldo de carne, o que era mais do que o suficiente para cinco pessoas desfrutarem.
— As colheres e pratos estão todos no armário de madeira. O café de amanhã de manhã também será servido, então vocês não precisam guardar essa comida para amanhã. — A empregada disse. — Vocês não podem sair sozinhas deste Edifício de Relações Exteriores até que a Prefeitura entregue seus Cartões de Identidade. Além disso, vocês não podem ir até o porão. Se vocês quiserem praticar suas habilidades, a cobertura está disponível. Tem uma sala de serviço no térreo, que também é onde eu durmo. Se vocês precisarem de algo, fiquem à vontade para me procurar. Diferentemente dos hotéis, todos os serviços aqui são de graça.
As cinco mulheres ficaram atônitas e paralisadas até mesmo depois que a empregada se curvou e saiu.
— Essa não é a hospitalidade que os nobres de alta estirpe recebem? É exatamente da mesma forma que eu vi no teatro. — Amy foi a primeira a suspirar e dizer. — Claro, tirando algumas falas que precisam ser mudadas.
— Quais? — Espadim e Salvadora perguntaram, curiosas.
— Como, por exemplo, “Vossa Honorável Excelência, é um prazer servi-la…”
— Não somos nobres, então claro que não falariam assim com a gente. — Número 76 sorriu gentilmente. — Enfim, vamos comer, estou morta de fome.
— Ótima ideia. — Elas ficaram com água na boca e concordaram.
Isso não é nada bom. Será que o Rei de Castelo Cinza está usando comidas deliciosas para nos seduzir? — Annie se sentiu preocupada. Parecia que o rei estava tentando fisgá-las, e Wendy nem mesmo havia feito os testes de habilidade ainda. O comportamento das pessoas da Cidade de Primavera Eterna era difícil de entender. Já que ela não estava sozinha e havia mais quatro pessoas que precisavam de sua proteção, ela tinha que ser mais cuidadosa e não cometer os erros que ela cometeu no passado.
Sem dúvida alguma, o método mais seguro era ficar longe da Região Oeste. A Igreja havia sido derrotada, então o maior inimigo delas já havia sumido. Antes, o que elas precisavam fazer era encontrar uma aldeia ou vila pequena para que pudessem viver lá com nomes falsos, assim como fizeram no Reino do Alvorecer.
No entanto, esse método não funcionaria mais.
Ela suspirou ao ver Número 76 tropeçar ao lado da mesa. Enfim, a União das Bruxas podia curar os feridos e enfermos, e também haviam se mostrado bastante receptivas. Agora que havia esperança de que Salvadora, no futuro, pudesse andar novamente, ela não poderia simplesmente levá-las para outro lugar.
Bem, é melhor comer.
Quando Annie colocou um pedaço de pão com manteiga na boca, um sabor incrível, acompanhado de uma maciez indescritível, imediatamente envolveu sua língua; ela nunca havia provado algo assim antes. O pão era bastante delicado e não tinha nenhum carocinho de trigo. Parecia que o pão derretia ao tocar na língua. Ela nem precisava mastigar para engolir.
Nossa! Elas com certeza serão seduzidas por essa comida deliciosa. — Annie pensou.
Embora pensasse isso, a mão dela não parava de agarrar outro pedaço de pão e colocar na boca.
Todas comiam vorazmente, e ninguém falava.
Quando somente migalhas restaram na bandeja de ferro, elas respiraram profundamente.
— Será que vamos comer algo assim de novo no futuro? — Espadim lambeu os dedos e perguntou, relutante.
— Receio… que não. — Amy pegou o pote de caldo de carne e dividiu igualmente, passando para cinco tigelas. Havia pedaços de cebolinha e círculos de óleo flutuando na superfície do caldo, o que o tornava ainda mais gostoso. — Somente os nobres da alta estirpe podem se dar ao luxo de comer pães tão deliciosos; até mesmo meu pai não comia pães assim, só aqueles cheios de carocinho de trigo.
— Pães cheios de caroço já seriam bons o suficiente. Lembro que a gente sempre ficava com fome lá no Reino do Alvorecer. — Salvadora soprou o caldo quente, tomou um gole e, em seguida, exalou ar da boca. Quando ela murmurou, havia satisfação no tom de voz dela.
— Lady Wendy disse que podemos ter muitos benefícios se nos juntarmos à União das Bruxas… Será que esses benefícios incluem comidas deliciosas?
— Ela também disse que iria nos levar para conhecer a União das Bruxas e algumas partes da Cidade de Primavera Eterna. Quando ela vier, a gente pergunta a ela.
— Espero que a comida esteja incluída nesses benefícios.
Ao observar as três bruxas discutindo sobre o tratamento que poderiam receber da União das Bruxas, Annie teve uma leve premonição de que elas ficariam na Cidade de Primavera Eterna por um bom tempo.
Após tomar banho, elas foram para cama dormir. A moradia consistia em uma sala de estar e quatro quartos. Após uma breve conversa, elas decidiram como iriam distribuir os quartos. Como a bruxa mais forte do grupo, Annie escolheu dormir com Salvadora, que não podia andar.
A cama era bastante macia, e não havia nenhum mofo nela. Obviamente, faziam limpezas diárias neste lugar. As chamas da lareira já estavam fracas, e sua luz tênue e bruxuleante reluzia nas paredes de pedra branca.
Ela cobriu Salvadora e soprou as velas.
Annie invocou sua habilidade para fazer com que a cama ficasse quente. Salvadora se aconchegou nos braços de Annie e perguntou gentilmente:
— Quanto tempo já faz que fugimos do Reino de Coração de Lobo? Quase um ano?
— Sim… Um ano e dois meses se contarmos os dias que passamos viajando antes disso. — Annie assentiu com a cabeça.
— E quanto tempo faz desde que fugimos de nossas cidades natais?
Essa pergunta fez Annie ficar em silêncio. Na verdade, nem mesmo Annie sabia quando ela havia fugido de sua cidade natal; tudo o que ela lembrava é que era uma aldeia ao noroeste do Reino de Coração de Lobo. Desde que sua identidade como bruxa foi exposta, ela havia fugido continuamente em direção ao leste e viajado por quase todo o Reino de Coração de Lobo. O lugar em que ela ficou mais tempo foi nos subúrbios da Cidade Real de Coração de Lobo, logo após ser traída pela Associação Presas de Sangue.
O mesmo se aplicava a Espadim e Salvadora.
Elas foram forçadas a fugir de suas casas e sofreram bastante. No meio dessa jornada, encontraram-se com Annie e formaram um grupo.
— Já faz quase cinco anos que fugi da minha cidade natal. — Salvadora disse em voz baixa. — Nesses cinco anos, eu nunca permaneci por muito tempo num lugar porque não queria ser capturada pela Igreja. Eu pensei que na Cidade Real de Coração de Lobo eu não precisaria mais fugir, mas para a minha surpresa, eu ainda tive que fugir, e até mesmo perdi minhas pernas.
Annie abraçou Salvadora com mais força.
— Lady Wendy disse que aqui é a casa das bruxas. Será que finalmente encontramos nosso lar? Um lugar onde podemos ficar de vez? — A voz de Salvadora começou a ficar mais fraca devido ao sono. Parecia que ela estava fazendo uma pergunta para Annie, mas ao mesmo, murmurando para si mesma. — Eu não quero mais fugir…
Os olhos de Annie se encheram de lágrimas.
— Não se preocupe. Nós teremos nossa própria casa, e você também vai recuperar suas pernas. Você poderá ir para qualquer lugar despreocupada, sem precisar fugir.
— Verdade? — Salvadora parou por um longo tempo e falou. — Se eu ao menos tivesse nascido no Reino de Castelo Cinza… — No fim, Annie não conseguiu ouvir o que ela disse.
Quando Annie abriu a boca e estava prestes a falar algo, ela ouviu um som pleno de respiração.
A garota em seus braços havia dormido.