— Lily, Lily, você ouviu? — Lunna entrou correndo no quarto e colocou o rosto bem perto do de Lily. — Alguma coisa aconteceu no Distrito Escolar.
— Se afaste! Você tá bloqueando a luz! — Lily empurrou o rosto de Lunna e continuou a ajustar o foco do microscópio, mas ela suspirava por dentro, sabendo que o teste de duplicação de hoje terminaria em fracasso novamente.
— Disseram que houve uma explosão que causou um fogo imenso. Quem você acha que foi o responsável por isso? A Igreja ou os demônios?
— A Igreja foi derrotada por Sua Majestade, e os demônios estão a milhares de quilômetros de nós! — Lily olhou para Lunna impacientemente. — Suponho que tenha sido alguns idiotas que roubaram materiais do laboratório de química e levaram para a sala de aula.
Casos similares haviam acontecido antes, tal como o acidente de duas semanas atrás, quando um pesquisador havia levado nitrocelulose para casa, querendo usá-la como material para acender o fogão a lenha. Como resultado, o filho dele acabou inflamando a nitrocelulose sem querer, e isso acabou incendiando toda a casa. Ao saber desse incidente, Sua Majestade havia ficado muito bravo, repreendendo o pesquisador com uma voz tão alta que ecoou por todo o castelo.
Após isso, as regras do laboratório de química haviam ficado muito mais rígidas. Lily já havia lido as novas regras. Essas regras, que antes cabiam numa só página, haviam se transformado num livro da grossura de um dedo.
— Mas dessa vez é uma explosão. Por que você não se importa com as coisas que acontecem aqui na Cidade de Primavera Eterna? Aqui é nossa casa! — Lunna disse eloquentemente.
— Pare de fingir. Você só está curiosa! — Lily ficou um pouco irritada. — Devemos deixar isso para as pessoas profissionais. A propósito, o que estou fazendo também é pelo desenvolvimento da Cidade de Primavera Eterna! — Ela parou, mas logo continuou: — Além disso, você tá atrapalhando meu experimento.
— Oh? — Lunna revelou um sorriso estranho. — Então você teve algum avanço no seu experimento?
— Err… — Lily de repente ficou sem saber o que responder.
— Nenhum avanço, né? Você ficou o ano todo trabalhando nesse microscópio aí e não fez nada de útil para Sua Majestade, enquanto que meu poder eletromagnético trouxe luz para Sua Majestade, fazendo com que as pessoas conseguissem trabalhar à noite. — Lunna disse, com o nariz empinado. — Oh… mas eu, como sempre, ainda gosto de você, minha velha amiga. Encontrar a verdade por trás desse problema também é uma forma de ajudarmos Sua Majestade.
— Por favor, não goste de mim. — Lily respondeu maldosamente.
Ela ainda não sabia por que continuava não tendo sucesso em transformar a população de “micróbios parentais” em alguns tipos específicos de micróbios[1]. Ela já havia conseguido controlar a forma dos “micróbios parentais” e fazê-los se parecer o máximo possível com os “micróbios almejados”, mas ela sempre fracassava no final.
A garota sentia vagamente que havia algo diferente entre eles, mas não fazia ideia do que era. Portanto, além de curar alguns casos de peste fria, ela passava a maior parte do tempo dela no microscópio. O fato de que ela não conseguia promover a produtividade na Cidade de Primavera Eterna, como Anna e Soraya, nem trazer alegria para todos, como Evelyn, pesava bastante na consciência dela.
Lily gostava muito de observar o mundo complexo que não podia ser enxergado a olho nu, mas… ela não queria ser um peso morto; ela queria ajudar Sua Majestade de alguma forma, embora ela nunca fosse admitir isso na frente dele.
Ao pensar que até mesmo a idiota Lunna estava sendo mais útil que ela, Lily se sentiu tão descontente que o coração dela chegou a doer.
— Não, eu não vou. Sinto muito… Encare como se eu quisesse ficar sozinha, tá bom? — Ao ver que provocar Lily não havia funcionado, Lunna imediatamente mudou de estratégia. Ela fez cara de choro e se agarrou aos braços de Lily, implorando: — Não vai machucar se você sair pra caminhar um pouco. Ficar internada o dia todo no quarto pode te fazer mal.
Quando Lunna agia desse jeito, Lily não sabia muito bem como lidar com ela.
Ela impacientemente empurrou Lunna e disse, suspirando:
— Eu sei, mas não cause problemas para Sua Majestade e Irmã Rouxinol.
— Eu prometo!
Como que ela não havia notado que Lunna se tornaria tão grudenta após se conhecerem melhor?
Se ela soubesse disso antes, teria insistido para ser colega de quarto de Pergaminho ou Ramos.
— Então… vamos pra lá agora? — Lily perguntou.
— Pera um pouquinho. Nosso grupo ainda não está completo. Eu vou buscar as outras irmãs que também querem descobrir a verdade. — Quando Lunna disse isso, ela saiu correndo do quarto, e após quinze minutos, voltou acompanhada de cinco bruxas. — Agora que todas estão aqui, vamos lá! — Lunna anunciou.
Lily ficou boquiaberta ao ver as cinco bruxas atrás de Lunna.
— Você vai levar essa quantidade de pessoas lá?
— Nós também queremos ajudar! — Amy levantou a mão e respondeu. Ela, que havia criado laços rapidamente com as outras bruxas, parecia até mesmo mais animada que Lunna.
— Se Sua Majestade permite… — Margie, que estava um pouco tímida, expressou sua vontade.
— E eu… — Vanila tentou dizer algo.
Nem preciso perguntar por que elas estão aqui. Elas devem ter sido forçadas por Lunna. — Lily disse por dentro.
— O que Lunna disse é muito interessante. Eu vou com vocês. — Evelyn encontrou para si mesma um motivo.
Oh, Deus, até mesmo Evelyn está aqui… Ela não tinha que fazer um novo lote de licor hoje? — Lily pensou.
— Suponho que eu tenha que fazer o mesmo que eu fiz da última vez, quando tentamos descobrir a nota de Maggie. — Vera disse por último. Ela parecia bem nervosa, mas um pouco mais disposta que da última vez.
Coitadas, elas foram enfeitiçadas por Lunna, só pode ser. Afinal, qualquer um vê que Lunna só foi atrás delas porque teria mais cúmplices para dividir o castigo caso fosse pega por Sua Majestade.
Mas Lily se sentiu aliviada ao ver Vera, já que sabia que se Rouxinol ou o Ministério da Justiça não havia levado Vera com eles para o local da explosão, queria dizer que o acidente na escola não havia sido grave.
Portanto, Lily decidiu que não faria mal algum acompanhá-las nessa aventura.
Margie invocou o Arco Mágico para levar o grupo até o Distrito Escolar. Olhando para cima, Lily conseguia ver tudo o que havia na superfície, o que foi uma experiência fantástica para ela. Viajar pelo subterrâneo fez ela sentir como se estivesse nadando no mar, já que mesmo debaixo do mar, era possível enxergar a claridade da superfície.
Um cordão de isolamento havia sido colocado ao redor da escola, e policiais, em uniformes pretos, vigiavam o local. Mas isso não deteve o Arco Mágico, que passou por debaixo deles e entrou na escola.
No passado, a escola era uma mansão que pertencia a um aristocrata de Forte Cancioneiro. Após ser expandida por Sua Majestade, transformou-se numa instituição de ensino elementar. No entanto, diferente das casas do Distrito Residencial que eram feitas de tijolos e cimento, a maior parte das salas aqui era feita de madeira. Neste momento, o incêndio já havia sido contido.
Ainda no subterrâneo, as bruxas perceberam que o acidente havia acontecido no primeiro andar da escola, onde algumas paredes estavam queimadas e destruídas, e cacos de vidro estavam espalhados pelo chão, provavelmente devido à explosão.
O grupo permaneceu no subsolo por um instante, para ter certeza que a escola estava vazia. Em seguida, Margie conduziu o Arco Mágico até a superfície, emergindo ao lado da escola.
[1] – Lily chama os micróbios de “insetos” ou “vermes” no inglês. Mas decidi adaptar para o nome correto, que é micróbio. E só esclarecendo:
Micróbio Parental: São os micróbios que Lily cria.
Micróbio Almejado: São os micróbios que ela quer imitar.