— Eca… Isso é tão… nojento. — Agatha cobriu a boca, quase vomitando, enquanto saía do esôfago do Verme Devorador, Fran. — Parecia que eu estava dentro de um saco cheio de gosma que foi arremessado na parede várias vezes.
— Você não consegue encontrar palavras melhores que essas? — Rouxinol perguntou enquanto saía do Mundo da Névoa, despreocupada. Ela olhou para as outras, que estavam banhadas em muco estomacal. — Se Fran não tivesse feito a entrada da caverna desabar, nós estaríamos em grande perigo. — A vantagem de ter o Mundo da Névoa, que permitia que Rouxinol viajasse tranquilamente entre os espaços, poupou ela de ter que se esconder dentro do estômago do Verme Devorador, que era repleto de muco.
— Desculpem-me…Eu fui muito impulsiva? — Fran perguntou, sentindo-se culpada, mas Agatha estava muito ocupada tentando não vomitar, que nem se deu ao trabalho de responder.
— Pra mim foi de boa. — Raio disse enquanto tirava o muco de seu cabelo e cheirava. — Ser engolida por um Verme Devorador e depois sair de lá ilesa é uma experiência única, uma aventura que nenhum outro explorador teve a oportunidade de vivenciar.
As Bruxas da Punição Divina sentiam o mesmo.
— Certo, certo… Não vamos falar mais disso. — Agatha tossiu e interrompeu as outras com uma voz rouca. — Quanto ao próximo problema, o que vamos fazer?
Um sentimento de medo invadiu o coração de todas as bruxas presentes quando lembraram do que havia acontecido há alguns minutos. Apesar do aviso de Fran, naquele momento, quando aquele barulho soou, o instinto de olhar para cima foi mais forte. Como resultado, mais de uma delas não conseguiram manter a cabeça abaixada e acabaram olhando na direção de onde veio o barulho.
Ninguém conseguiu ter uma imagem clara do monstro. Tudo o que elas conseguiram ver foram milhares de olhos escarlates.
Elas acreditavam que aquela miríade de olhos pertencia a um Demônio Multi-Olhos. E isso até que fazia sentido, pois elas já haviam encontrado a Pagoda de Pedra Negra que fora engolida pelo verme. No entanto, diferente do Demônio Multi-Olhos, a área dos olhos desse monstro, que elas viram há pouco, era muito maior, como se o corpo dele tivesse sido esmagado e esticado consideravelmente.
Depois daquele barulho, uma grande quantidade de bestas demoníacas surgiram das profundezas das ruínas e avançaram em direção às bruxas. Tudo o que Rouxinol conseguiu ver enquanto estava no Mundo da Névoa foi um súbito aparecimento de vários pontos de luz. Esses pontos de luz, que na verdade eram focos de poder mágico, haviam aparecido do nada, de todo canto da caverna. Eles vieram das paredes rochosas, do rio subterrâneo e do teto escuro. No Mundo da Névoa de Rouxinol, eram tantos pontos de luz que eles logo se transformaram num brilho bem forte, e o barulho feito por eles chegou a ser mais forte do que o do rio subterrâneo. Foi como se a montanha toda tivesse acordado para expulsar os intrusos.
Naquele momento de crise, foi Fran que agiu de maneira decisiva.
Ela engoliu todas as bruxas, exceto Rouxinol, virou-se e começou a escavar rapidamente a parede da caverna. Quando o corpo dela já estava praticamente dentro da parede, as bestas demoníacas se aproximaram e começaram a atacá-la violentamente. Mesmo com a ajuda de Rouxinol, Fran não conseguiu se defender de todos os ataques.
No entanto, apesar da dor, Fran persistiu e cavou por mais dez metros. Em seguida, ela se virou, esmagou as bestas demoníacas com seu corpo gigante e juntou toda a sua força para golpear o teto da caverna, fazendo com que várias pedras caíssem no chão e bloqueassem a passagem das bestas.
Durante todo esse confronto, as bruxas que estavam no estômago de Fran tiveram uma experiência inesquecível. Elas ficaram balançando para lá e para cá enquanto Fran lutava contra as bestas demoníacas. Como se isso não bastasse, perto delas também havia um pedaço de carne em fase de digestão que fedia que só o diacho. Tudo isso quase as fez vomitar.
Bem… Apesar disso, todas elas ficaram vivas no final. Isso que era importante.
— Primeiro temos que descobrir o que está acontecendo. — Elena olhou para Fran. — Como foi que você ficou presa lá?
— Eu acho que a formação rochosa das Montanhas Nevadas foi erodida pela água subterrânea ao longo dos séculos, sei lá. Isso fez com que o túnel desabasse quando eu estava criando a passagem. Aconteceu tão rápido que eu já estava caindo quando me dei por conta. Em seguida, eu colidi com algo e fiquei inconsciente. — Fran disse fracamente. — Quando acordei, eu estava sendo carregada por várias criaturas invisíveis. Elas me deixaram naquele lugar que vocês me encontraram.
— Entendi… Eles acharam que você era um receptáculo sem alma. — Elena ergueu as sobrancelhas. — No final, tivemos sorte.
— Realmente, tivemos muita sorte, especialmente se considerarmos que não fomos devoradas ali mesmo… — Fran murmurou. — É uma pena que eu tenha olhado acidentalmente para o teto da caverna quando eu estava prestes a escapar.
— Aquilo realmente é um Demônio Multi-Olhos? — Agatha perguntou, séria.
— Não sei. No momento que eu vi o monstro, ele também me viu, mas eu não sei ao certo o que aquela coisa é. Esse monstro é muito maior que um Demônio Multi-Olhos. — Fran suspirou, exalando um ar fétido que invadiu as narinas de Agatha, Raio e Rouxinol. — Ah, me desculpem… Já que Elena e as outras Bruxas da Punição Divina perderam o olfato, eu parei de me importar com meu bafo…
— Ah! Que fe… Está tudo bem… — A Bruxa do Gelo, Agatha, prendeu a respiração por um bom tempo antes de falar. — Você conseguiu ter uma visão clara do monstro?
— Depois que me prenderam no chão, o monstro se desprendeu do teto da caverna e começou a se banhar no lago que fica perto do rio subterrâneo…. — Fran parou por um momento enquanto procurava as palavras certas. — Eu não sei como descrevê-lo. Ele parece um experimento que deu errado, é como uma massa de carne amassada conectada ao corpo de um Demônio Multi-Olhos. As duas partes não combinam em nada, parecendo mais uma colcha de retalhos forçada. Eu também notei que, no espaço entre essas duas partes, havia tentáculos. Mas não sei ao certo se esses “tentáculos” eram vermes hospedeiros ou se faziam parte do corpo do monstro. Enfim, a massa de carne era muito maior que o Demônio Multi-Olhos, até mesmo maior que uma Temível Besta do Inferno.
— Será que esse monstro está consumindo os demônios? — Rouxinol franziu as sobrancelhas. — Acredito que ele não possa ser encarado como uma simples besta demoníaca híbrida.
— Acho que devemos descobrir primeiro como dar o fora daqui antes de tentarmos descobrir o que aquele monstro é. — Elena deu uns tapinhas no corpo gigante de Fran. — Consegue se mover?
— Não consigo. Estou esgotada… — Fran balançou a cabeça. — Eu consumi toda a comida no meu estômago durante o tempo que fiquei presa aqui, então eu preciso de mais comida para ter energia.
— Que tal darmos o resto de nossas comidas? — Raio sugeriu.
— Isso mal dá pra ela cavar uns sessenta passos (30 metros)… — Elena respirou profundamente. — Tudo o que podemos fazer é esperar… ou… nos arriscarmos ao sair.
— Esperar aqui também não é seguro. — Agatha disse calmamente. — O espaço aqui é muito pequeno, e todas nós iremos sufocar em menos de um dia se não encontrarmos uma saída. Mesmo que Sylvie consiga nos localizar, o Primeiro Exército terá primeiro que destruir as bestas demoníacas para só então tentar nos salvar. — Ela parou por um momento, mas logo continuou: — E não se esqueçam de que o inimigo também possui Vermes Devoradores.
— Infelizmente, se sairmos agora, é bem provável que sejamos devoradas pelas inúmeras bestas demoníacas. — As Bruxas da Punição Divina hesitaram. — Além disso… O que faremos com Fran? Ela mal consegue se mover, quanto mais se defender de uma infinidade de inimigos.
— Pois bem… Deixem-me checar a situação lá fora primeiro. — Rouxinol deu meia-volta, não querendo se envolver nessa discussão delicada.
— Se vocês descobrirem um jeito de escapar, não se preocupem comigo. — Fran disse de repente. — As bruxas de Taquila não temem a morte. Eu sempre lutarei pelo objetivo do grupo, independentemente do que eu me torne. A propósito, eu tenho algo em meu estômago que talvez ajude vocês. — Fran se contorceu, cuspindo lentamente várias caixas de ferro fedorentas.
— O que é…
— Os equipamentos de guarnição que o Primeiro Exército me pediu para carregar. Eles disseram que essas coisas eram muito pesadas e me pediram ajuda, então eu as engoli.
Agatha abriu as caixas, uma por uma. Nelas, havia ferramentas e materiais, tais como pás, enxadas, arame farpado, etc. Quando os itens na última caixa foram revelados, Agatha congelou por um momento.
A caixa de ferro não era muito grande, mas era muito pesada. Além da palha usada para amortecer o impacto, na caixa de ferro também havia algumas caixas de madeira com a seguinte descrição: “segunda fábrica de química, amostra 64, qualificada”.
Se ela lembrava corretamente, a maior parte do nitrogênio gerado durante a decomposição havia sido enviada para essa fábrica.
Essas caixas carregavam explosivos.
Bora explodir tudo heheheh