Agora todas na Terceira Área Fronteiriça sabiam que uma Bruxa da Punição Divina podia recuperar a verdadeira aparência e sentidos quando entrava no Mundo dos Sonhos. Phyllis havia contado a Roland várias vezes o quanto as bruxas de Taquila ficavam entusiasmadas quando se tratava do Mundo dos Sonhos. Segundo ela, toda vez que ela ia para o subterrâneo, as bruxas a seguiam e ficavam fazendo perguntas de todo tipo sobre esse mundo.
Roland se perguntava se elas ainda estariam dispostas a se integrar aos receptáculos agora que havia um novo método de restaurar os sentidos.
No entanto, esta não era uma solução perfeita para o problema delas, já que elas só poderiam entrar no Mundo dos Sonhos quando ele (Roland) dormia. Em contraste, nos receptáculos, elas recuperariam os sentidos para toda a vida, e esses receptáculos podiam viver por muito, mas muito tempo.
Seria difícil escolher entre essas duas alternativas.
Se as bruxas de Taquila tivessem mantido em segredo a notícia sobre o Mundo dos Sonhos, elas teriam conseguido facilmente encontrar voluntárias para realizar a Transferência de Alma. Dessa forma, as voluntárias nunca conseguiriam voltar, mesmo que se arrependessem no futuro. No entanto, Roland acreditava que Pasha não enganaria as bruxas para fazê-las se integrarem aos receptáculos. Com base em sua observação no último mês, apesar das bruxas de Taquila terem vivido escondidas por centenas de anos, elas não eram um grupo com a mente fechada. Elas eram abertas para novas coisas e haviam abolido o conceito de desigualdade. Aparentemente, o sacrifício das Três Líderes as haviam mudado bastante, e a ameaça representada pelos demônios as haviam mantido unidas em direção ao progresso.
Pasha pareceu ter lido a mente de Roland, dizendo:
— O senhor não precisa se preocupar. Com mais receptáculos, estaremos mais preparadas para derrotar os demônios. Portadores Originais podem operar núcleos mágicos, e Vermes Devoradores podem acelerar a construção da linha de defesa. Elas farão de tudo para vencer a iminente Batalha da Vontade Divina, sem nenhuma hesitação. Na verdade, já conseguimos as voluntárias, e foi mais rápido e fácil do que o senhor imagina.
Voluntárias que não temem nenhum sacrifício… — Roland pensou enquanto mordia os lábios. Ele disse:
— Parece que eu me preocupei demais. Fornecerei os navios que forem necessários para transportar o instrumento.
— Obrigada por nos ajudar. — Ela disse alegremente.
Roland assentiu com a cabeça e colocou as “fotos” criadas por Soraya na mesa.
— Todas as informações que eu mandei pra você antes foram de materiais escritos. Eu finalmente recebi essas fotos, ou melhor, imagens das ruínas hoje. Eu quero saber a opinião de vocês sobre esse monstro.
— Por favor, espere um momento. — Ela acenou com os tentáculos para chamar Celine e Alethea, que estavam consertando o Instrumento da Retribuição Divina. Esses Seres-de-Tentáculos aproximaram-se da “cortina de luz” para analisar as “fotos” juntas.
Com os tentáculos conectados, elas ficaram em silêncio por muito tempo, comunicando-se mentalmente. Já que os Seres-de-Tentáculos não possuíam expressões faciais, Roland sentiu como se essa vídeochamada tivesse desconectado de alguma forma.
Após um bom tempo, ele finalmente ouviu a voz de Pasha em sua cabeça novamente:
— Desculpe-nos por fazê-lo esperar. Ficamos chocadas com algumas imagens, então nossa conversa acabou demorando um pouco.
— Não é nem uma besta demoníaca, nem um demônio, certo?
— Exato. — Celine disse. — E esse esqueleto que submergiu na água já foi mencionado pela Lady Natália quando ela falava sobre a Terra Divina.
— Tem certeza?
— Sim. Nós vivemos no subterrâneo por centenas de anos, mas nunca seríamos idiotas o suficiente para esquecer uma informação tão importante. Na verdade, Portadores Originais possuem uma memória muito melhor que a dos seres humanos. — Alethea disse, irritada. — A Lady Natália viu o mar e esqueletos parecidos com esse no Segundo Quadro da Terra Divina. Além do mais, esse lago está conectado ao mar, então temos certeza que se trata da mesma criatura mencionada pela Lady.
— Então podemos dizer que essa criatura pertence à civilização desconhecida? — Ele perguntou enquanto tocava no próprio queixo. Ele não estava surpreso. Quando descobriu que o Verme Devorador também atacava a Comunidade de Demônios, ele suspeitou que o verme muito provavelmente havia sido mandado por alguma terceira força. Essa terceira força só poderia ser o inimigo desconhecido da Batalha da Vontade Divina. Ele havia formulado esse plano de exploração das Montanhas Nevadas não apenas para ajudar as bruxas de Taquila, mas também para eliminar ameaças escondidas próximo à Cidade de Primavera Eterna e espionar o inimigo desconhecido.
Ele também havia lido uma descrição parecida no fragmento de memória de Zero, mas aquilo era muito vago. Agora, já que as bruxas também achavam que o monstro pertencia à civilização desconhecida, ele poderia confirmar sua suspeita.
— É bem provável que pertença, mas… — Pasha hesitou por um momento e continuou. — Ainda tem muitas coisas que não entendemos, tais como as bestas demoníacas.
— Essas bestas espalhadas pelas Terras do Amanhecer são animais que passaram por alguma mutação. Eles devem ter sido afetados pela Erosão do poder mágico, assim como as bruxas. Mas por que eles seguiam às ordens do monstro? Isso é diferente dos demônios, que escravizam as bestas híbridas. Mas neste caso, as bestas obedeceram de bom grado às ordens do monstro.
Roland também havia pensado bastante nisso. Ele achava que, se os inimigos desconhecidos realmente eram criaturas inteligentes que possuíam bestas demoníacas como parte da civilização, eles poderiam ter acumulado bestas híbridas primeiro e depois tê-las usado para eliminar tanto os seres humanos quanto os demônios. Ele não conseguia entender por que essa civilização desconhecida desperdiçava essas bestas nos Meses dos Demônios todo ano.
Talvez a origem dessas bestas mutadas não seja tão simples quanto acreditamos…
— Nós saberemos a resposta quando a Batalha da Vontade Divina começar. — Roland deu de ombros, fingindo estar tranquilo. — Talvez as bestas sejam alguma subespécie do monstro. Nesse caso, nunca mais precisaremos ver essas criaturas feias nas planícies nevadas quando derrotarmos os chefes deles na batalha.
Pasha ficou atônita por um momento e depois começou a rir.
— Sim, o senhor está certíssimo. Independentemente de onde eles venham, ainda teremos que derrotá-los na terceira Batalha da Vontade Divina.
Após isso, eles conversaram sobre o projeto de construção da linha de defesa e o método para bloquear o rio subterrâneo nas Montanhas Nevadas. Afinal, eles não queriam que o monstro voltasse de repente e atacasse. Quando a reunião estava prestes a terminar, Roland de repente trouxe uma questão à tona.
— Ah, sim, já que agora achamos algumas pistas sobre a civilização desconhecida, nós temos que nomeá-los, não acham? — Ele tossicou (limpou a garganta). — Assim como fizemos com as criaturas do Primeiro Quadro, chamando-as de demônios, devemos fazer com essas criaturas do Segundo Quadro.
— Isso é importante? — O tentáculo principal de Pasha inclinou para o lado. Aparentemente, ela estava confusa. — Além disso, o nome “demônio” é apenas a forma mais conhecida pela qual os chamamos. Mas eles também têm outros nomes, como Bestas Sangrentas, a Deformidade ou Poluidores.
— Claro que dar um nome é importante. Um nome adequado é crucial para fazer uma propaganda ou campanhas motivacionais. Devemos fazer com que o nome soe o mais maligno possível, de uma forma que desperte a indignação das pessoas.
— Então… O senhor tem alguma ideia?
— Bem, já que esses inimigos ficam no mar na maior parte do tempo, por que não os chamamos de “Monstros do Mar”?
— …
Todas as pessoas na reunião ficaram em silêncio.
— Ahn… Não é um nome bom?
— Eu pensei que Terceira Área Fronteiriça fosse ruim o bastante, mas não esperava que você fosse inventar um nome ainda pior. — Alethea zombou. — “Monstros do Mar”? Você tem o quê? Dez anos?
— Alethea! — Pasha usou o tentáculo para dar um cascudo em Alethea. — Vossa Majestade, se o senhor acha que esse é um bom nome… eu acho… que não temos problema com isso.
A bruxa anciã concordou com o nome, mas de forma relutante. Roland pegou a xícara e bebeu um pouco de chá, tentando esconder seu constrangimento.
— Cof, cof. — Pergaminho, que estava ao lado de Roland registrando a conversa da reunião, tossiu de repente. — Vossa Majestade, que tal chamá-los de “Demônios do Mar Profundo”.
— Demônios… do Mar Profundo? — Ele repetiu.
— Sim, já que o conceito de demônios está enraizado no coração das pessoas, elas entenderão que esse novo nome se refere a algo ruim, sem que precisemos explicar. Dessa forma, não precisaremos despender muito esforço para aclarar o que é a civilização desconhecida para essas pessoas. Será mais fácil para a Prefeitura realizar as campanhas de divulgação, e as pessoas não sentirão que precisaremos lutar contra muitos inimigos ao mesmo tempo. — Pergaminho explicou com a pena de escrever na mão.
Embora não quisesse aceitar o fato de que alguém havia inventado um nome melhor, Roland franziu os lábios e disse:
— Esse nome é um pouquinho melhor… Vamos usá-lo então.
Agora a civilização do Segundo Quadro tinha um nome oficial: “Demônios do Mar Profundo”.