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Release that Witch – Capítulo 827

Suprimentos de Guerra

Edith foi a primeira a fazer uma pergunta depois que Ramos terminou de falar.

— Vossa Majestade, é seguro para nós, pessoas comuns, consumirmos esse trigo modificado magicamente?

Esse provavelmente era o problema que preocupava a maior parte das pessoas no local. Depois que a Pérola da Região Norte trouxe essa questão à tona, não apenas Petrov, como Speer, esperaram ansiosamente pela resposta do rei.

Roland respondeu com um sorriso.

— Primeiramente, não há uma diferença significativa entre as Sementes Douradas Nº 01 e Nº 02, já que ambas foram desenvolvidas por Ramos. A única diferença é que a Nº 02 rende duas vezes mais que a Nº 01. Segundo, embora a semente seja fortalecida pelo poder de uma bruxa, a planta em si não contém nenhum poder mágico, então vocês não precisam se preocupar com possíveis danos à saúde das pessoas comuns. Pra falar a verdade, o mingau e a panqueca que eu comi alguns dias atrás foram feitos utilizando o trigo gerado pelas Sementes Douradas Nº 02.

Roland meio que se lembrou dos debates acalorados que havia sobre comida natural, híbrida e transgênica no Mundo Moderno. Algumas pessoas diziam que a melhor comida era a natural, mas eles haviam se esquecido de como eram essas comidas no passado.

A origem das Sementes Douradas Nº 02 era muito complicada. Para explicar completamente, Roland teria que ensiná-los sobre mutação genética e mecanismos de hereditariedade; um conhecimento do qual nem Ramos sabia muito. Embora a habilidade de Ramos induzisse grandes mudanças nas plantas em pouco tempo, ela tinha que utilizar poder mágico constantemente para efetuar a mudança, e essa mudança não podia ser passada para as próximas gerações. Outro ponto era que, se a mudança fosse muito grande, as plantas morreriam imediatamente após o processo.

Portanto, quando Ramos criava Sementes Douradas, ela utilizava a habilidade dela principalmente para induzir mutações genéticas e acelerar o crescimento das plantas. Em seguida, ela selecionava as melhores plantas e eliminava as mais fracas. Após inúmeras rodadas de seleção e reprodução, ela por último cultivava a espécie que mais havia se destacado entre todas. O processo não era diferente da agricultura normal, exceto que era muito mais rápido. O processo de seleção, que normalmente levaria centenas de anos, havia sido concluído em apenas dois anos.

Roland já tinha visto a verdadeira aparência de uma melancia original. Era uma fruta do tamanho de um punho, numa casca dura, e sua polpa era amarelada. No século 17, no entanto, a polpa ficou vermelha e a fruta em si ficou muito, mas muito maior. Porém, boa parte de sua polpa ainda não era comestível nessa época, com várias fibras brancas ocupando seu interior. Foi só com o tempo e seleção que essas fibras foram diminuindo, tornando-se a melancia que conhecemos hoje.

Além da melancia, muitas frutas que as pessoas viam hoje eram bem diferentes das do passado. Na verdade, o mesmo se aplicava às plantas e animais. O exemplo mais comum era o cachorro, uma espécie derivada do lobo, resultado de influências humanas.

Portanto, a tal “comida natural” também era um produto humano de repetidas seleções e eliminações. A verdade mesmo era que a comida original não possuía sabor.

Além disso, não apenas os humanos, como também as outras espécies, desde mamíferos a microrganismos, sempre procuravam uma forma de melhorar suas vidas. Na opinião de Roland, era natural que os seres humanos construíssem coisas como unidades de fermentação de leveduras, pois a vida em si era uma parte da natureza.

Roland sabia que essas teorias estavam além da compreensão desses oficiais locais, então ele simplificou a resposta com duas explicações: A): As Sementes Douradas Nº 01 foram seguras, então as Nº 02 certamente serão; B): Eu também as comi. A melhor forma de persuadir essas pessoas era o próprio rei dando o exemplo.

Ao ver que todos agora estavam convencidos, Roland prosseguiu:

— Além disso, assim como fazemos na Cidade de Primavera Eterna, todo o comércio de comida em seus respectivos territórios deverá ser supervisionado pela Prefeitura local. Venda privada de comida está proibida. Barov falará sobre a implementação dessa política.

A Condessa Speer Passi ergueu as sobrancelhas, dizendo:

— Vossa Majestade, já que as Sementes Douradas Nº 02 fornecem uma alta colheita, como o senhor descreveu, provavelmente haverá um excedente de comida. Isso gerará gastos ao governo, caso a Prefeitura queira comprar de volta todo esse excedente. A população da Serra do Dragão Caído é pouco mais de dez mil. Considerando isso, nós também temos que produzir tanta comida?

— Sim, porque não vamos consumir o excedente, e sim armazená-lo.

— Armazená-lo? — Speer ficou um pouco surpresa.

— Sim, para a iminente Batalha da Vontade Divina. — Roland pronunciou as palavras lentamente.

Além de atrair imigrantes para o Reino de Castelo Cinza, o outro motivo pelo qual ele estava forçando os oficiais a promoverem as Sementes Douradas Nº 02 era para garantir a sobrevivência de todos os seres humanos. Já que Roland havia nascido em tempos de paz e nunca havia testemunhado a crueldade de uma guerra prolongada, ele podia apenas se preparar com base no que havia aprendido da história.

O pior cenário em que Roland conseguia pensar era a da população sendo reduzida em 30%, com jovens saudáveis indo para a guerra, deixando as mulheres e crianças trabalhando nas fábricas para prover suprimentos à linha de frente. Nesse caso, o número de pessoas trabalhando nas áreas de plantio sofreria uma redução. Mas se eles tivessem um excedente de comida quando isso acontecesse, não precisariam se preocupar com a fome por dois ou três anos. Com isso, talvez eles conseguissem sobreviver ao período mais crítico da guerra e esperar até que as coisas melhorassem.

Roland havia discutido esse assunto com Karl Van Bate, o Ministro da Construção. O ministro acreditava que um celeiro bem projetado e de boa estrutura poderia preservar os grãos por pelo menos cinco anos. Embora grãos de um ou dois anos não fossem tão saborosos quanto os mais frescos, ninguém se importaria com isso num período cruel de guerra.

Importante destacar que Ramos havia feito testes com outros tipos de plantações, além do trigo. Após dois anos de experimentos, Ramos havia melhorado outras plantações, como a cana-de-açúcar, milho e batata, cultivando suas melhores versões. Milho e batata, em particular, produziam geneticamente mais comida que o trigo. Os motivos pelos quais Roland escolheu usar o trigo e não o milho ou batata para promover as Sementes Douradas Nº 02 foram: A): Ele não conseguiria criar facilmente um monopólio de comida, já que essas duas plantações podiam se reproduzir; B): O milho e a batata não serviam muito para ser armazenados, diferente do trigo[1].

Claro, a agricultura era uma indústria muito complexa, que também envolvia a criação de animais… Por exemplo, galinha se alimentava de milho. No entanto, Roland não tinha tempo para planejar essa parte no momento, pois o problema da escassez de comida em tempos de guerra já era um aspecto grande o suficiente para ele se preocupar.

Já que a maioria dos participantes presentes sabia o que era a Batalha da Vontade Divina, ninguém fez nenhuma pergunta. No final da conferência, Roland olhou para Pergaminho e disse:

— Eu quero que adicionemos a Agricultura em nossa grade de educação para ensinarmos as pessoas a como cultivar diversos tipos de frutas e grãos.

Já que o nível de educação em outras cidades mal podia se comparar ao de Primavera Eterna, Roland sabia que seria difícil democratizar a educação por todo o Reino de Castelo Cinza num curto espaço de tempo. Portanto, ele acreditava que seria mais fácil mandar alguns profissionais treinados de Primavera Eterna para supervisionar a indústria agrícola em outras cidades. O mesmo poderia se aplicar às outras indústrias, como a de química, a de arquitetura e a de ciência médica. Roland não buscava que seus súditos conduzissem as próprias pesquisas ou desenvolvessem novas teorias. Ele só queria que eles aplicassem o que haviam aprendido no mundo operacional da indústria.

Após a conferência, Wendy trouxe uma notícia para Roland.

As bruxas que estavam explorando as Montanhas Nevadas finalmente haviam retornado.

Quando Roland chegou no cais, alguém correu até ele e se atirou em seus braços.

O cabelo loiro dessa bruxa fez cócegas nas bochechas de Roland. O ar estava impregnado por uma fragrância que lhe era bastante familiar.

— Voltei. — Sorrindo, Rouxinol sussurrou no ouvido dele.


[1] – O que eu entendi foi: Ramos não pode mudar bruscamente uma planta, pois esta morrerá. Por isso ela vai mudando a planta aos poucos, forçando pequenas mutações e acelerando o crescimento para selecionar as melhores versões e repetir o processo. Só que com isso a planta perde a habilidade de se reproduzir. PORÉM, quando ela não força mutações genéticas e só acelera o crescimento das plantas para selecionar de forma natural, a planta não perde a característica de reprodução. No mais, o que falta a Ramos é o estudo mais aprofundado de mutações genéticas. Resumindo, Ramos consegue melhorar a semente de duas formas: a natural, acelerando apenas o processo de crescimento e selecionando as melhores; ou a mágica, induzindo pequenas mutações e selecionando as melhores, só que com isso a planta passa a depender do poder de Ramos para se reproduzir.


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