Após ajudar Salvadora a colocar as meias de proteção, Espadim a colocou na cadeira de rodas. Ela deu um banho rápido em Salvadora e fez o café da manhã para ela… Amy, cujo quarto ficava logo ao lado, também já havia acordado. Quando tudo estava pronto, elas empurraram a cadeira de rodas juntas e foram para o hospital.
Salvadora estava muito mais nervosa que o normal e quase não falou ao longo do caminho. Felizmente, Amy fez com que o clima ficasse mais alegre, então a tensão meio que não afetou Espadim.
Quanto a Amy… Provavelmente ela era otimista por natureza, podendo sorrir a qualquer momento. Espadim lembrou que essa menina costumava sorrir até mesmo quando as quatro fugiam da Igreja. Algo digno de inveja.
Já era quase nove da manhã quando elas chegaram no hospital. Assim que entraram no pátio hospitalar, as três viram a Lady Wendy esperando na entrada.
Não, não apenas Wendy, como também Pergaminho, Anna, Ramos, Lunna e Lily… Quase todas as integrantes da União das Bruxas estavam reunidas esperando pela chegada das três.
Embora ela não fosse a paciente, Espadim sentiu seu coração aquecer. Ela até mesmo sentiu seus olhos marejarem.
Houve um leve tremor na cadeira de rodas. Com isso, Espadim soube que Salvadora estava ficando emocionada.
— Sua Majestade e a Marquesa Speer estão esperando por vocês na sala cirúrgica. — Wendy disse com um sorriso, tocando a cabeça de Salvadora. — Não se preocupe, você vai recuperar sua liberdade logo, logo.
— Sua Majestade? — A voz de Espadim soou surpresa. — Sua Majestade em pessoa?
— E quem mais poderia ser? — Lunna exclamou. — Somente Sua Majestade faria Lily largar um pouco aquele microscópio e vermes estranhos minúsculos.
— Não fale besteira! — Lily deu um gritão e tentou cobrir a boca de Lunna.
Isso fez Amy, Espadim e Salvadora rirem um pouco, aliviando a tensão.
Wendy balançou a cabeça relutantemente, dizendo:
— Não vamos deixar Sua Majestade esperando.
Espadim empurrou a cadeira de rodas até a sala cirúrgica e, após saudar o rei e a Marquesa, colocou Salvadora cuidadosamente na cama.
Quando Salvadora estava prestes a ingerir a erva do sono, Annie finalmente chegou.
Ela agarrou a mão de Salvadora gentilmente, assim como no passado, e disse:
— Estarei aqui quando você acordar.
Essas palavras pareceram ter um efeito mágico, já que Espadim finalmente viu Salvadora se acalmar.
Na época em que fugiram do Reino do Alvorecer, foi Annie que ficou ocupada tomando conta das três que não tinham experiência na selva, trazendo segurança a todas. No processo, todas passaram a enxergá-la como o pilar do grupo, acreditando que, contanto que ela estivesse lá, todos os problemas poderiam ser resolvidos.
Pouco após ingerir a erva, Salvadora caiu no sono.
— Vamos começar. — Wendy disse, olhando para Espadim.
Espadim assentiu com a cabeça e fechou os olhos. Num instante, seus cinco sentidos desapareceram completamente, como se ela tivesse sido jogada no vazio. No entanto, essa sensação durou apenas alguns segundos, e logo ela passou a “observar” as coisas em volta novamente através dos olhos da Senhorita Nana.
A experiência que Espadim estava tendo agora era incrível. Ela conseguia ver a si mesma na forma de uma “adaga” pequena, vibrante e fina, cuja lâmina irradiava um brilho acinzentado.
Essa “adaga estranha” havia sido uma sugestão de Sua Majestade. Ele disse que segurar uma espada na frente de uma cama hospitalar era muito estranho, e que seria melhor ela se tornar uma “adaga pequena”. Ele também nomeou essa “adaga estranha” de “bisturi”.
De repente, um poder mágico invadiu o corpo de Espadim, e essa sensação fez a garota soltar um leve gemido de agonia. Claro, somente Nana conseguiu notar isso, pois as duas estavam conectadas.
— Ainda se sente desconfortável? — Nana aproximou o bisturi do rosto.
— Muito melhor que das últimas vezes. — Espadim respirou fundo, embora soubesse que esse “respirar” era só uma ilusão criada por sua mente. Afinal, espadas não respiravam. — Não importa o que aconteça. Eu vou suportar. Vá em frente.
Esse poder mágico que Espadim sentiu veio de Ramos por meio de Speer Passi, conectando as duas. Felizmente, a habilidade da Senhorita Ramos possuía características de vitalidade e natureza, então a adaptação não era tão desconfortável. Era diferente da Chama-negra de Anna, que era pesada, afiada e fria, como se estivesse coberta por agulhas. Tudo isso, acrescentando a capacidade mágica de Anna, tornava a experiência quase insuportável para Espadim.
Portanto, raramente Anna era usada como fonte de poder mágico.
Após se tornar uma lâmina, Espadim não apenas desenvolvia uma conexão de consciência com a usuária, como também conseguia analisar se as duas possuíam uma natureza compatível. A natureza mágica de cada bruxa poderia ser sentida por meio da flutuação de magia. Então era difícil entender por que Anna, que parecia tão simpática e inteligente, tinha um poder mágico tão pesado e frio assim.
Anna primeiramente retirou as meias de Salvadora. Em seguida, uma linha negra saiu da ponta de seus dedos e se enrolou nas pernas de Salvadora, como uma corda.
Espadim tremeu ao ver isso.
Ela tinha visto com seus próprios olhos que essa Chama-negra conseguiria derreter imediatamente qualquer metal. Mas, no momento, esse filamento parecia frio e rígido, assim como a natureza do poder mágico de Anna.
De repente, a linha negra pareceu ter “desaparecido”, mas Espadim sabia que o filamento havia afundado na carne de Salvadora. Só que como o filamento era muito fino, não deu para vê-lo entrando na carne e cortando os ossos e veias. Foi só depois de alguns segundos que uma pequena marca de sangue começou a aparecer.
O pedaço retirado por Anna foi bem fino, e Nana já havia começado a agir, utilizando sua habilidade.
Espadim viu isso acontecer várias vezes.
Carne, ossos e veias começaram a crescer onde antes não havia nada, terminando com uma pele rosada na superfície. Esse processo consumia muito poder mágico. Se não fosse por Ramos, as duas (Nana e Espadim) já estariam esgotadas.
Meia-hora depois, um par completo de pés finalmente apareceu na frente de todas.
A energia de Nana também se esgotou completamente, e ela largou o bisturi. A garota se apoiou na cama, ofegando, com a testa coberta de suor.
Espadim também não estava nada bem. Durante todo o processo, foi como se seus órgãos estivessem pegando fogo. Mesmo após voltar ao normal, ela ainda sentia dores pelo corpo.
Wendy levou Nana para o quarto de descanso. Ela também queria levar Espadim, mas a garota insistiu em ficar.
Ela queria ficar com Annie e Amy, esperando Salvadora acordar.
Depois que o efeito da erva do sono acabou, Salvadora lentamente abriu os olhos.
— Como você se sente? — Wendy a ajudou a se sentar na cama e perguntou gentilmente. — Consegue sentir seus pés?
Salvadora primeiramente balançou a cabeça, querendo livrar-se da sonolência. Em seguida, seus olhos se arregalaram quando ela olhou para seus próprios pés, onde antes não havia nada.
Todos seguraram o fôlego e olharam para os pés dela. A sala cirúrgica ficou em silêncio por um momento.
De repente, um de seus dedos mexeu levemente.
O coração de Espadim estremeceu nesse momento. Ela até pensou que foi só impressão, então piscou os olhos várias vezes e olhou novamente.
Os pés de Salvadora se moveram novamente. Eram movimentos rígidos e desengonçados, como se fosse algo velho que não se movia há muito tempo.
O coração inquieto de Espadim finalmente se encheu de paz e tudo o que ela queria fazer agora era comemorar. Porém, ela viu duas lágrimas escorrerem dos olhos de Salvadora. Espadim ficou atônita, já que nem mesmo nos momentos mais difíceis ela viu Salvadora chorar.
— Obri… — Salvadora não conseguiu completar a palavra. Sempre que ela abria a boca, um sentimento forte vinha e não a deixava falar. Mas todos sabiam o que ela estava tentando dizer: “Obrigada… Obrigada…”
Annie passou a mão no cabelo de Salvadora e a abraçou. Isso foi como um estopim para a garota, que desabou aos choros nos braços de Annie.
Nem chorei tbm
lembrei de avatar
Tenso