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Release that Witch – Capítulo 93

A estrutura do novo exército

Poucos dias após a celebração da vitória, Roland finalmente terminou seu grande projeto agrícola.

Ao olhar pela janela de seu novo escritório no castelo, ele podia ver e ouvir um gotejamento constante, como se estivesse chovendo. Na verdade, era o som da neve derretida.

Quando ele ia para o interior durante o Ano Novo, Roland ficava na frente da janela a maior parte do tempo, observando os grandes cristais de gelo transparentes que pendiam sob o teto transformando-se em gotas que, então, caíam. Mas no momento, ele não tinha tempo para esse lazer. Desenhar os planos e projetos para o futuro, enquanto simultaneamente ouvia o som da Terra rejuvenescendo após o grande período de inverno, era muito prazeroso.

De acordo com as informações recolhidas nos anos anteriores, a neve precisaria de cerca de uma semana para derreter, mas a estrada entre Vila Fronteiriça e Forte Cancioneiro precisaria de pelo menos um mês até que fosse utilizável novamente. Mesmo após a neve derreter, ainda demoraria muito tempo para as estradas serem utilizadas, visto que elas não possuíam sistema de drenagem, o que tornava a estrada um lamaçal puro.

Roland já imaginava que, se quisesse derrotar Forte Cancioneiro, a primeira coisa que precisaria fazer era construir uma estrada entre as duas cidades que fosse utilizável por carruagens, mesmo durante as fortes chuvas.

Mas agora, o problema de maior prioridade ainda era a reorganização do exército. Sem um exército confiável e poderoso, seria impossível derrotar as forças de Forte Cancioneiro, que possuía uma tropa considerável. Transferir a milícia para o exército regular foi apenas o primeiro passo. A preparação específica para estabelecer o novo sistema de regras, disciplina, recompensa e punição revelou-se uma grande dor de cabeça.

Embora ele tenha jogado Luzhanqi[1] quando criança, ele já havia se esquecido das regras e lições desse jogo. Depois de pensar por um longo tempo, Roland decidiu fazer do seu próprio jeito, afinal, como o criador desta nova estrutura do exército, mesmo que ele implementasse algo que não fosse muito razoável, ninguém iria descobrir, visto que tudo seria bastante novo.

Assim, a primeira hierarquia do novo exército de Vila Fronteiriça foi feita:

– Corpo;

– Divisão;

– Batalhão;

– Pelotão;

– Equipe;

Uma equipe possuiria cinco pessoas, levando em conta que um canhão precisaria de cinco pessoas para ser manuseado. Uma pelotão seria composto por dez equipes. Por conseguinte, um batalhão seria composto por dez pelotões. Com relação à quantidade de batalhões necessários para compor uma divisão, Roland achou melhor considerar isso depois. Ao levar em conta a realidade de números, tecnologia e estratégias das batalhas entre exércitos dessa era, Roland achou que enviar dois ou três batalhões de soldados seria o suficiente para lidar com a maior parte dos seus futuros adversários, por enquanto.

Após decidir o básico da estrutura do novo exército de Vila Fronteiriça, Roland suspirou fundo.

As regras e os regulamentos que vieram a seguir eram muito mais simples. Além de sempre usar seu uniforme, os soldados deveriam obedecer às ordens de seu comandante, nunca desertar, nunca trair um companheiro e assim por diante. A primeira regra de Roland era proibir pilhagens e assédio.

Os problemas causados ​​pela pilhagem eram numerosos, e o impacto negativo sobre os habitantes locais era tão grande, que eles precisariam de anos para se recuperar, e mesmo alguns jamais se recuperariam. Esta era também a razão pela qual ele insistiu em usar apenas civis como soldados.

Quando a aristocracia respondia ao chamado para a batalha de seus Lordes, a principal razão para sua obediência não era derrotar o inimigo, em vez disso, era para a pilhagem que se seguiria. Ou, em outras palavras, a principal razão pela qual eles obedeciam ao chamado para guerra, era saquear a riqueza e o território de um inimigo, e claro, isso incluía também os civis inocentes dentro desse território.

Quanto aos mercenários, para não mencionar os bandidos, mesmo que parecessem resolutos e ferozes, bastava olhar mais de perto para perceber que eram como cascas de amendoim ao vento, sua lealdade não podia ser garantida. Furtos e roubos eram sua principal fonte de riquezas, portanto, a esperança de obter uma disciplina militar dessas pessoas não fazia o menor sentido.

Somente um exército formado por civis não enxergaria outros civis como cordeiros a serem abatidos. Claro, depender da disciplina e da restrição moral por si só não era suficiente. Após longos dias no campo de batalha, a cada vitória ou conquista, a ganância aumentaria no coração dos soldados. Logo, as recompensas obtidas deveriam acompanhar a ganância, pois somente assim, Roland poderia evitar a pilhagem e outros comportamentos ilegais.

Com o intuito de tornar a recompensa grande o suficiente, Roland decidiu oferecer a maior recompensa de todas, que era receber sua própria terra. Se um soldado obtivesse excelentes méritos durante as batalhas, ele poderia ganhar seu próprio território como recompensa. Roland tinha muitos territórios não reclamados, assim, a terra entre Vila Fronteiriça e Forte Cancioneiro poderia ser recuperada lentamente.

Como mais de 90% de todas as terras pertenciam aos membros da aristocracia, tal recompensa era muito, mas muito atraente. Se um soldado conseguisse sua própria terra, ele estaria ao lado de Roland de todo o coração e, no caso de alguém querer batalhar contra Roland, este mesmo soldado demonstraria a resistência mais forte possível, visando proteger seu benfeitor, e com isso proteger sua própria terra também.

Afinal, a humanidade não era conduzida por palavras e chicotes, mas por seus próprios benefícios. Colocando de outra forma, se Roland puder cumprir continuamente os interesses básicos do povo sob seu domínio, não haveria ninguém que pudesse abalar o seu governo.

Ao contrário de um feudo tradicional, Roland concederia aos seus uma área entre 6 ares até 1 hectare[2]. O território poderia ser usado para construir suas próprias residências, e eles poderiam comprar servos ou contratar agricultores para cuidar de seus campos, mas eles não teriam permissão para criar sua própria indústria. A título de comparação, o território recompensado a um cavaleiro é de cerca de 133 hectares, uma área equivalente a uma pequena vila. A ganho da produção decorrente poderia ser usada para prover ao cavaleiro e seus serviçais, por exemplo, o que fosse necessário para guerra, como suas próprias armas, armaduras e cavalos.

A aristocracia não possuía interesse em ser recompensada com uma pequena porção de terra e, por causa disso, Roland não encontraria muita resistência, mas também enfraqueceria o sentimento de independência das pessoas no campo de batalha. Na opinião de Roland, era como pagar uma pensão com aposentadoria, o que garantiria que os soldados tivessem uma renda estável, mesmo depois de se aposentarem.

Ao mesmo tempo, para fortalecer a centralização do poder, e para evitar que ocorresse o pensamento de que ‘o servo do meu servo não é meu servo’, Roland só concederia a propriedade do território, mas não a autonomia. Em outras palavras, a terra ainda estaria sob a jurisdição das leis, regulamentos e sistemas na área do Lorde. Em certo sentido, eles se tornariam o alicerce para as futuras gerações de agricultores.

Depois de ter escrito o conceito para o sistema de recompensas, Roland deu uma pausa e esticou seu corpo. Finalmente ele poderia começar a pensar dentro de seu campo de formação e especialização, I&D[3] de armas.

Com a crescente velocidade da fabricação de pistolas de pederneiras, obrigar os soldados com um pique a proteger os fuzileiros, parecia ser um desperdício de mão-de-obra, por isso, os soldados precisavam ser capazes de lutar de forma independente no combate corpo-a-corpo.

Havia uma solução muito fácil para esse problema, ou seja, adicionar uma lâmina à pistola, transformando-a em uma baioneta[4]. Roland não esperava que seus próprios homens tomassem a iniciativa de se envolver em combate corpo a corpo, em vez disso, eles só deveriam ser capazes de se defender, caso o poder da arma não pudesse destruir completamente a coragem do inimigo, ou se os inimigos iniciassem um ataque desesperado.

Uma arma como a baioneta não era tão difícil assim de fabricar. De uma forma simples, era apenas uma lâmina afiada e, no caso de melhorar ainda mais a eficácia dos ataques, ele também poderia adicionar um sulco, para causar o efeito de sangramento. A parte-chave era a conexão entre a lâmina e a pistola. A primeira baioneta era uma lâmina conectada em um polo fino de madeira, diretamente no cano da pistola. A fácil construção deste tipo de arma era sua maior vantagem, enquanto sua desvantagem, que também era bastante óbvia, era que se a baioneta fosse utilizada, a arma não conseguiria disparar. Além disso, se alguém utilizasse a baioneta para esfaquear alguém, poderia ocorrer de a arma ficar presa no corpo do inimigo.

Então, Roland pretendia produzir uma baioneta de segunda geração melhorada: uma baioneta do tipo caixa. Esta baioneta teria uma carcaça de ferro adicionada ao punho da lâmina. O diâmetro interno do invólucro seria ligeiramente maior do que o cano ranhurado.

O ferreiro só precisaria soldar um pedaço de ferro em um buraco no topo do tambor. Depois de conectar a lâmina na parte superior do cano e inserir um enchimento no buraco, esse arranjo ficaria fixo. A baioneta tinha uma forma triangular, com três lâminas afiadas. Se um soldado perfurasse o corpo do inimigo com essa arma, a baioneta não iria ficar presa, nem iria cair, e causaria uma ferida difícil de curar.

Após a instalação da baioneta, a área do tambor ficaria um pouco maior, o que também complicaria um pouco o processo de carregamento das pistolas. Mas em comparação com uma baioneta dobrável, a fabricação era muito mais simples, além de ser possível produzir em massa rapidamente. Bastaria uma única unidade, e qualquer ferreiro seria capaz de reproduzi-la.

Mas para permitir que a baioneta desempenhasse uma parte importante em batalha, era importante treinar os soldados, para que eles soubessem perfeitamente como utilizá-la.

Roland, naturalmente, não sabia nada sobre isso. Felizmente, ele lembrou-se de que seu cavaleiro-chefe já se vangloriou uma vez dizendo que ele conseguia manejar qualquer tipo de arma. Então, ele só tinha que encontrar Carter e deixar com que ele ensinasse os soldados a utilizar uma baioneta.


[1] Luzhanqi é um board-game chinês, que também pode ser traduzido como xadrez de batalha terrestre. Ninguém sabe ao certo quem criou, mas é bastante antigo e trata-se de um jogo com hierarquias militares, minas, bombas e outras detalhes. Se você quiser saber mais, pode conferir neste link uma coletânea das regras em português.

[2] 1 are corresponde a 100 m², e 1 hectare a 10.000 m².

[3] I&D significa Investigação e Desenvolvimento. A área é diferente de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, pois são feitas por unidades especializadas de empresas, universidades ou governos. No geral, também pode-se aplicar ao estudo e replicação de tecnologias de adversários. Se você quiser saber mais, clique neste link.

[4] A baioneta é uma arma bem famosa. Caso você queira saber um pouco mais, clique neste link da Wikipédia.


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