Ainda confuso, deitado ali balançando a cabeça, Subaru se levantou e olhou em volta. Não demorou muito para entender que estava em um lugar bastante familiar.
Subaru: “Esta é a sala de estar da mansão, não é?”
???: “Ah, você acordou, Subaru?”
Uma voz falou num murmúrio, e então a porta se abriu e Subaru pode ver o rosto de Emilia.
Seu cabelo prateado em uma trança, ela tinha uma expressão levemente brilhante no rosto enquanto caminhava até Subaru no sofá, e curvando-se encontrou seu olhar. Sendo encarado intensamente pelos olhos grandes e redondos, fez ele se encolher.
Subaru: “Hhm, Emilia-tan o que aconteceu?”
Emilia: “Quando você entrou na mansão ouvimos seu grito, então eu e Otto corremos para ver o que havia acontecido…”
Subaru: “E eu estava dormindo?”
Emilia: “Bem… de certa forma, sim…”
Emilia colocou um dedo nos lábios e inclinou a cabeça ligeiramente para o lado.
Vendo-a dessa maneira relaxada, Subaru percebeu que não havia nenhuma emergência. Mesmo assim, coçando a cabeça confuso.
Ele não conseguia se livrar da sensação de que tinha alguma coisa fora do comum.
Ele tinha certeza que antes de acabar dormindo ele tinha visto um tipo de animal com presas afiadas…
???: “Emilia-sama, posso ter um momento ?”
Houve uma batida na porta do lado de fora, seguida pelo som da voz de uma mulher chamando Emilia. Olhando em direção ao som da voz, ela deu seu assentimento com um “Claro” e a porta se abriu casualmente.
Subaru não pôde deixar de se sentir confuso.
—Ele nunca ouviu a voz daquela mulher antes.
Suas dúvidas foram confirmadas quando ele viu a figura que estava do outro lado da porta.
???: “Eu trouxe bebidas e alguns guardanapos, ah, você já acordou.”
O sorriso da mulher ficou implantado na cabeça de Subaru.
Era uma mulher com longos cabelos loiros quase translúcidos, as linhas das costas estavam em perfeita postura. Ela estava usando a mesma roupa familiar que os outros servos da mansão de Roswaal costumavam usar. O uniforme de empregada bonito e prático, sem nenhum vinco ou ruga visível.
O prato em suas mãos continha uma jarra de água e toalhas de mão, que ela colocou suavemente sobre o suporte no centro da sala sem emitir nenhum som— se ela fosse pontuada, teria passado com louvor.
Além do mais, o sorriso no final de seu movimento perfeitamente fluido – foi completamente arruinado pelo conjunto de presas afiadas que espreitavam pelo canto da boca. Olhando ainda mais de perto, havia algo de antinatural na nitidez de seu olhar, e suas pupilas verdes pareciam emitir uma luz cintilante, como uma fera felina carnívora que olhava suas presas.
???: “É um prazer conhecê-lo, sou uma serva da casa do Margrave Roswaal L. Mathers, Frederica Baumann…”
Subaru: “Assustadora—!?”
Sua introdução respeitosa foi interrompida pelas palavras excessivamente francas e cruéis que saíram da boca de Subaru. Ao ouvir isso, a expressão da mulher congelou e depois que seus lindos olhos piscaram várias vezes――lágrimas começaram a se formar.
Frederica: “…sniffle, sniffle…”
Subaru: “Eh?”
Emilia: “Subaru, seu burro!”
Com essas palavras a mulher virou o rosto, até mesmo Subaru pareceu chocado, e com um rugido Emilia puxou seu ouvido dolorosamente.
Soltando um grito e se virando para olhar, ele viu as sobrancelhas normalmente gentis de Emilia se franzir em raiva.
Emilia: “Não se diz isso para uma dama, Frederica fez de tudo para cuidar de você e ainda assim, você a recebe…”
Frederica: “Está tudo bem Emilia-sama, não precisa se preocupar. Quando Ram me recrutou de volta para a mansão eu fiquei tão feliz e empolgada…e acabei esquecendo que minha aparência é desagradável para muitos…”
Frederica falou puxando a manga da roupa de Emilia, enquanto balançava a cabeça. E com a outra mão ela cobria a boca.
Frederica: “Peço desculpas por ter assustado você. Fiz algo muito desnecessário a pouco tempo atrás. Eu nunca pensei que confundiria Natsuki Subaru-sama com um intruso.”
Subaru: “Intruso?…ah espere, acho que entendi o que houve.”
Liberado do castigo de Emilia por um momento, Subaru massageou seu ouvido enquanto observava suas palavras.
Basicamente a figura que ele encontrou logo após entrar na mansão era:
Subaru: “Então… quando voltei para a mansão, Frederica-san pensava que eu era um intruso e, portanto, me atacou para tentar impedir minha entrada. Então, Emilia-tan veio e explicou o mal-entendido.”
Frederica: “Você está correto. Você consegue processar as coisas rapidamente, pelo o que eu vejo.”
Eles definitivamente começaram com o pé direito. Ao contrário dele, que foi confundido por um intruso suspeito, as palavras que foram direcionadas à ela foram completamente rudes. Subaru dirigiu seu olhar para Emilia, que estava atrás de Frederica, e apontava para ela com o dedo. Como se entendesse o que ela insinuava, Subaru se levantou.
Subaru: “Prazer em conhecê-la, sinto muito por dizer algo tão desagradável repentinamente. Eu sei que não posso inventar desculpas em relação a isso, você pode decidir se vai me servir aos Majuus, ou se vai me fritar… embora eu ficasse muito agradecido se não tivesse muita dor no processo.”
Diante da tal ação, Subaru fez sua sugestão a Frederica. Ele sabia que a ação da empregada não justificava suas palavras cruéis e rudes. Tendo isso em vista, ele se ofereceu para ser torturado caso isso aliviasse a raiva que ela sentia. No entanto, Frederica não era esse tipo de pessoa.
Frederica: “Haha, você é realmente um cara engraçado. Não, eu que tenho que me desculpar, apesar de eu ter agido com meu senso de dever de proteger a mansão, o que fiz com Subaru-sama ainda foi rude.”
Subaru: “Não, não se preocupe, está tudo bem. Afinal você cuidou de mim enquanto eu dormia, obrigado!”
Frederica: “Não agradeça a mim, mas sim a Emilia-sama. Ela realmente se esforçou muito, tenho certeza que você iria corar com as coisas que ela dizia a seu respeito…”
Subaru: “O quê?”
Chocado com o que Frederica acabara de dizer a ele, Subaru soltou um grito, olhando para Emilia, tentando esconder seu rosto desesperado.
Emilia: “Fre-de-ri-ca!”
Com as mãos nos quadris, Emilia deixou escapar uma voz histérica, encarando bruscamente a criada.
Frederica: “Oh, meu deus, tão assustador, vejo que a Emilia-sama não mudou nada, ainda não é fofa. Normalmente qualquer um ficaria vermelho de vergonha ouvindo o que eu disse.”
Emilia: “Isso é mentira! Pare de dizer essas coisas constrangedoras. Eu sei quando você está mentindo! Seus olhos ficam preguiçosos quando mente.”
Frederica: “A propósito Emilia-sama, você sabia que quando você mente, seus ouvidos ficam um pouco mais longos!?”
Emilia: “De jeito nenhum!?”
A expressão de vitória de Emilia, que esticava o braço e erguia um dedo apontando para Frederica, foi interrompida quando ela lançou as mãos para trás para agarrar as duas orelhas. Uma expressão de satisfação invadiu o rosto da empregada, como se a vitória da discussão fosse dela.
Ainda nervosa, Emilia pareceu não perceber que havia perdido, mas Subaru que observou tudo com atenção, soltou um suspiro e encolheu os ombros.
Subaru: “Parece que fomos completamente derrotados… Meu nome é Natsuki Subaru. Devemos recomeçar as apresentações?”
Frederica: “Sim, claro. Eu adoraria. Vamos recomeçar e nos conhecermos bem, desta vez.”
Subaru: “Parando pra pensar nisso, acho que ouvi sobre você… uma empregada que saiu pouco antes de eu chegar, certo? Eu vim para a mansão mais ou menos um mês atrás… então fazem três meses que você saiu?”
Frederica: “Tudo parece estar nos conformes. Havia me demitido devido a razões pessoais, e ainda lembro no quão doloroso foi a solidão que senti ao sair daqui… mas parece que fui capaz de voltar bem antes do esperado.”
Cobrindo a boca com a manga da roupa, Frederica sorriu. Enquanto ela cobria sua boca, seu belo e dourado cabelo, junto de seu frio e passageiro olhar combinariam em algo próximo a beleza feminina. Contudo, sua personalidade brincalhona e boca cheia de presas pareciam negar isso tudo.
Na sala de estar da mansão de Roswaal, Subaru e Frederica trocaram apenas informações básicas e seus nomes. Ouvindo sua introdução, ele pareceu ter recordado ouvir esse nome antes.
Subaru: “Três meses atrás, então quer dizer que você é conhecida da Emilia, certo?”
Emilia: “Ora mais! Isso está correto, sim”
Subaru: “Quem diz ʽOra maisʼ esses dias? Falando de forma tão antiquada e aborrecida assim chega a ser fofo, poxa”
Ao olhar a pergunta de Subaru, Emilia sentou sobre o sofá, desviando os olhos como se negasse a adentrar a conversa, por mais que fosse óbvio a atenção que prestava na mesma. Ela estava agindo assim até que, tarde demais, notou como Frederica a enganou. Independente disso,
Subaru: “Faz só dois ou três dias desde que voltou, certo? Saímos do vilarejo há uns três dias… quatro se contar a viagem de agora pouco. Parece bastante coincidência.”
Frederica: “Também fiquei surpresa quando retornei à mansão e a encontrei deserta. Por sorte, havia uma carta explicando tudo no escritório do mestre, então ignorei o pior da confusão”
Subaru: “Uma carta?”
Frederica: “Sim, da Ram. Foi ela quem me chamou de volta à mansão, por mais que tenha sido um pouco descortês na parte da comunicação… Sei que é pedir demais devido sua personalidade, mas é como me sinto”
Através do meio sorriso de Frederica, Subaru notou o vínculo contraditório que ela e Ram devem ter compartilhado, e todos os maravilhosos momentos passados juntos. Ao mesmo tempo, apagado de suas memórias, seu tempo gasto com Rem deve ter sido tão incrível quanto.
Subaru: “Pode dizer por que Ram te chamou de volta?”
Frederica: “Eu mesma não entendo completamente a razão. Mas senhorita Emilia estava aqui o tempo todo, tenho certeza que ela sabe”
Ambos olhares se voltaram à curiosa Emilia. Mesmo agora, ela continuava a manter sua pose de “Estou brava, realmente muito brava,” fazendo-a virar seu rosto. Porém, ao passo em que não conseguia resistir a extrema atenção que recebia, ela tentou furtar um olhar rápido na direção deles. Mas isso só acabou sendo um olhar bastante óbvio.
Subaru: “Emilia-tan, se anima… ou, na verdade, não foi eu quem te irritou dessa vez. Frederica, por favor, poderia se desculpar corretamente?”
Frederica: “Eu peço pelo seu perdão, Emilia-sama. O que fiz há pouco não foi certo e por isso isso anseio pelo seu perdão. Estava tão feliz com nosso reencontro após tanto tempo que meu lado mal escapou”
Emilia: “… Você não vai me zoar mais?”
Frederica: “Não, irei me conter de o fazer. Por tudo que é mais sagrado no mundo, jamais vou provocar a Emilia-sama dessa maneira mais uma vez.”
Subaru não pôde deixar de pensar que as palavras de Frederica deixavam brechas para duplo sentido. De qualquer forma, nossa Deusa Emilia aparentou ter acreditado nessas palavras sem duvidar, e sua expressão aborrecida se tornou em uma que parecia dizer, “Bem, parece que nada pode ser feito.”
Emilia: “Compreendo. Não estou mais brava. Tá bom assim?”
Frederica: “Sim, mais uma vez, me desculpo por antes, Emilia-sama. ——muito fácil”
Apenas Subaru ouviu a última parte. Ele tremeu sua cabeça para encarar Frederica, mas a mesma se fez de boba. Emilia, que não fazia ideia ser “muito fácil”, posicionou um dedo na bochecha e falou,
Emilia: “Então, vejamos. O motivo de Frederica ter sido chamada de volta para a mansão… Hum…”
Subaru: “É, é. Se apressar pra chamar alguém que você demitiu significaria que tem algo estranho rolando… na verdade, acho que tive uma ideia”
Realmente tinha uma emergência, fora apenas há alguns poucos dias que a mansão e o vilarejo de Arlam se tornaram alvos do Culto da Bruxa. Considerando sua habilidade, capaz de deixar Subaru inconsciente em instante, Frederica devia ser outra empregada de Roswaal com capacidades de batalha absurdas.
Em suma, Ram deve tê-la chamado para reforçar as defesas da mansão durante—
Emilia: “Foi devido a desastrosa aptidão de Ram nos afazeres domésticos, e pela mansão ter acabado em total desordem. Foi só por alguns dias, mas à medida que o tempo passava, mais difícil era viver aqui”
Subaru: “Esse realmente é um ótimo motivo! Ela é sempre tão esnobe e… pera, Ram sabe que é inútil, diz isso sobre si mesma! Ela tem consciência disso, então ao menos devia tentar melhorar! Certo!?”
O peito de Subaru parecia que ia explodir do quão essa realidade era mais convincente se comparado às suas adivinhações.
Emilia deixou escapar um sorriso irônico devido a reação extrema de Subaru, então voltou seu olhar para a sala de estar―― ou melhor, para a mansão como um todo, como se conseguisse ver por trás das paredes.
Emilia: “Mas, desde que Frederica voltou, a mansão realmente esteve bem limpa. Acho que a Ram fez a decisão certa deixando o trabalho para alguém capaz, melhor que deixar as coisas pior ignorando”
Subaru: “Emilia-tan, acho que não foi o que quis dizer, mas essa observação é como um tapa na cara! E, bem, ainda não acho uma razão suficientemente plausível para desistir tão fácil”
Frederica: “Deixando a capacidade de decisão da Ram de lado, já faz bastante tempo desde que me foi dada a oportunidade de fazer um trabalho que valha a pena. Felizmente, como não havia ninguém, consegui focar apenas em limpar a mansão”
Ouvindo Frederica falar tão respeitosamente sobre cuidar da mansão, a respiração de Subaru cessou, incapaz de ignorar a dor crescente em seu coração.
Isso era uma consequência das forças do mundo compensando a erradicação da existência de Rem pela autoridade da “Gula”.
Subaru: “Acho que Ram não pode cuidar da mansão sozinha, então a solução óbvia seria confiar em outra pessoa…”
Então Ram contatou Frederica, que tinha se demitido, pedindo-a para retornar à mansão. Sem Rem, a propriedade de Roswaal não se manteria funcional. Então veio Frederica, a reposição de Rem.
Ainda assim, o único no mundo que sabia dessa triste realidade era Subaru. Ram apenas fez como a necessidade pediu, sem pensar do porque ela precisaria da ajuda de Frederica tão de repente, ou como foi capaz de cuidar da mansão até o momento. Era simplesmente isso.
Mas,
Subaru: “Mals por ser tão sério de repente, mas…. é uma necessidade que todas as servas da mansão tenham de ser tão peculiares?”
Frederica: “……? Considerando quem é nosso mestre, qual o sentido de sequer perguntar?”
Subaru: “Isso é irritantemente persuasivo!”
Até então, todas as dúvidas de Subaru foram respondidas. Vendo sua resposta, Frederica assentiu alegremente, e com sua postura perfeita, encarou fixamente Subaru. Então, casualmente, com uma voz baixa,
Frederica: “Mudando de assunto, o motorista da carruagem de dragão foi deixado fora da mansão por mais de uma hora… isso tá certo?”
“Subaru: Humm? Ah, você quer dizer o Otto. Entendo, já foi uma hora… Bem, não acho que seja um problema tão grande. Eu quero deixar a Patrasche logo nos estábulos para descansar, mas não precisa dar tanta atenção ao Otto.”
Otto: “Para companheiros que compartilharam de uma experiência de quase morte, você é bem sem coração, Natsuki-san! Nunca imaginei que minha prioridade fosse menor que a de um dragão de terra!”
Bem na hora, Otto abriu as portas dramaticamente. Seus ombros tremeram em raiva, ele estava encarando Subaru enquanto sua respiração desaprovadora corria pelas narinas. Devido sua entrada, Subaru lentamente se levantou, balançou a cabeça e suspirou.
Subaru: “Não, Otto, você tá errado.”
Otto: “Como posso estar? Já é tarde demais para voltar atrás em suas palavras……”
Subaru: “Não é como se sua prioridade fosse menor que a de um dragão de terra. Ela é muito, tipo, muuuuito menor se comparada a de um dragão de terra”
Otto: “Isso é duas vezes pior! Muito pior!”
Satisfeito com a resposta e o bater de pé de Otto, Subaru voltou seu olhar para a janela. Mais especificamente para onde estava a carruagem de dragão puxada por Patrasche.
Otto seguiu o olhar, e pareceu entender algo. Ainda com uma cara desgostosa, falou,
Otto: “Já deixei a Patrasche nos estábulos. Ela é como uma criança teimosa, mas não quis causar nenhum problema a você, então foi até que dócil”
Subaru: “Ouvindo isso de você, me faz duvidar da sua Proteção Divina “Sussurro Animal”. Se ela fosse uma mulher, Patrasche seria uma completa Kuudere, mesmo que tão fofa por dentro. Quando essa mudança aconteceu?”
Otto: “Como eu saberia esse tipo de coisa. Mais importante…”
Enquanto Subaru tentava entender o que havia feito para Patrasche se tornar tão devotada a ele, Otto mudou o rumo da conversa para o outro assunto sobre a carruagem de dragão, que era—-
Otto: “O que vamos fazer sobre a garota desacordada na carruagem? Acho que é malvado deixa-la trancada por lá. Se estiverem ocupados posso leva-la para um quarto….”
Subaru: “—Não encoste nem um dedo na Rem”
Não havia malícia na sugestão de Otto. Mas a própria voz de Subaru estava fria como gelo… ele estava surpreso pelo quão afiado conseguiu ser por um vacilo de Otto.
Era quase como um sussurro, as palavras eram baixas e negras, uma reflexão do seu viscoso e pesado estado mental. Foi bom que não tenha chegado às garotas, ainda assim, Subaru estava profundamente conturbado pela anormalidade daquilo que escapou de sua garganta.
Subaru: “……Eu vou levar ela, então não precisa fazer nada. Suas costas morreriam se você tivesse de carregar uma garota por aí, de qualquer forma.”
Otto: “Sabe, mercadores estão sempre carregando especiarias pesadas durante o trabalho. Não somos tão fracos quanto pensa, Natsuki-san”
Subaru tentou cobrir sua última fala com uma piada, e foi graças a resposta de Otto que deu certo, por mais que tenha vindo após um pouco de hesitação. Ele soltou um suspiro.
Não importava a circunstância, havia exagerado. Mesmo que não houvesse sido intencional— ou melhor, exatamente por não ser intencional era um problema. Seus nervos estavam a mil e qualquer um que sequer tentasse tocar Rem pareceria para ele um inimigo, independente das ambições.
Subaru: “Isso não tá legal…. Droga, me sinto tão ridículo. Por que eu sempre tô…”
Era suposto que ele houvesse superado isso, no entanto, havia tropeçado na primeira pedra no caminho. Por que ele nunca tinha a força necessária para se manter de pé firme e forte?
Se Rem estivesse aqui, se Emilia o estivesse observando— se ambas estivessem com ele agora, com certeza teria uma força inabalável.
Subaru: “Eu causei tudo isso… Não, fiz a Rem pagar pelos meus pecados. Sou a droga de um malandro”
Devia ter um caminho melhor, um perfeito.
Ele acreditou que tinha feito seu melhor, ao fim dos intermináveis loops de alguns dias atrás, ele realmente acreditava nisso. Mas devia ter uma escolha melhor, utópica, uma saída perfeita. Mas Subaru perdeu a chance de a encontrar. Em sua covardice, hesitação, contentou-se com um futuro imperfeito. E o sacrifício de Rem foi o preço.
Se tivesse sido mais competente, teria notado isso.
Antes de evacuar Emilia e Ram da mansão, a carta escrita a mão entregue ao mensageiro de Crusch já estava em branco. Ele imaginou que um subordinado do culto houvesse acompanhado o mensageiro e trocado as cartas para confundir as chapas, mas essa possibilidade chegava a ser risível.
Não tinha forma do Culto da Bruxa estar consciente do pacto firmado, e como ele sequer podia ter pensado que o Culto usaria tal redundante forma de plantar sementes de distúrbio entre duas forças? Indo além, não teria sido ainda mais proveitoso trocar o conteúdo da carta em vez de apaga-lo?
Então por quê, por que a carta escrita a mão estava em branco? Se não era obra do Culto da Bruxa, então só tinha uma resposta.
Subaru: “Rem escreveu a carta. Fui eu quem pediu para ser entregue, e Crusch ficou encarregada do mensageiro. Assim sendo, a carta foi entregue, mas o conteúdo apagado”
Isso era a autoridade da “Gula” em ação, e o destino daqueles que têm o nome e memória comidos. Uma existência apagada do mundo, deixando para trás uma complexa reação em cadeia de incongruências. Se não estivesse consciente disso, você nunca sentiria que há algo de errado, ou sequer perceberia que algo estava faltando.
Nesse caso, para quem, ou para quê, seria o propósito dessa existência—-.
Se houvesse prestado mais atenção ao fato da carta em branco, investigado propriamente, pensado, tentado buscar a verdade… talvez Rem estivesse acordada.
Pelo que Emilia disse, a carta chegou no fim da tarde anterior ao dia final. Nesse momento, o conteúdo da carta já havia sido apagado, então Rem foi atacada antes disso. Sendo assim, pouco tempo havia passado desde que se separaram após a batalha da Baleia branca. A chance de conectar todos esses pontos era minúscula, contanto, existia.
Subaru deixou essa oportunidade escapar. O porquê disso, ele não podia dizer. Ele realmente não havia sentido nada fora do lugar?
Ram, com seu complexo de irmã, Emilia, que estava ciente de ter deixado Rem com Subaru na capital, e mesmo assim não a mencionaram, então por quê—
[Subaru: —Ah]
Ele finalmente compreendeu.
Nesse momento, Subaru deixou um gemido idiota escapar e trouxe sua mão à testa. Um pouco desengonçado ele deslizou pela parede, e bateu a cabeça contra ela o mais forte que pôde.
Choque e dor. Mas uma única vez não era o suficiente, de novo, de novo, de novo, de novo, ele repetiu.
Emilia: “Quê, Subaru!?”
Às suas ações inexplicáveis, os três o vendo estavam pasmos. No entanto, Emilia, a primeira a retornar ao normal, o chamou desconfortada. Ela agarrou seu ombro por trás, virando-o,
Emilia: “O que aconteceu tão de repente? Não é como se essa tivesse sido a primeira vez que faz algo tão estranho, mas isso… Ah—, veja sua testa, está toda vermelha!”
Subaru: “O quão burro eu sou, do fundo do meu coração estou surpreso, sinceramente”
Sentindo a frieza do toque dos dedos de Emilia em sua testa, Subaru chacoalhou a cabeça como se odiasse a si mesmo. Como havia dito, não podia suportar sequer olhar para sua própria incompetência.
Então, subitamente se aproximando de Emilia, a olhou fixamente.
Subaru: “Emilia-tan, eu tenho um favor para pedir”
Emilia: “Qu, quê—? Espere um minuto, Subaru, sua cabeça tá muito perto, e seus olhos estão me assustando…..”
Subaru: “Minha incrível estupidez…. você pode me xingar um pouco?”
Emilia: “Hum?”
Assustada, os olhos de Emilia abriram bastante. Vendo a negação em sua resposta, Subaru posicionou ambas mãos nos ombros dela, segurando-a bem forte para que não fugisse, e então trouxe seu rosto para ainda mais perto
Subaru: “Por favor. Não me perdoe, apenas me xingue”
Emilia: “Is-isso… eu não posso fazer isso. Não acho que tenha feito algo de errado nem nada……”
Subaru: “Então encontre um motivo”
Emilia: “Mesmo me pedindo…”
Subaru: “Por favor! Se fizer isso pra mim, te oferecerei toda minha alma……!”
Emilia: “Dizer algo tão importante só me deixa mais inconfortável! Poxa, acho que não tenho opção”
Emilia hesitou por um momento contra o desespero de Subaru, mas finalmente sucumbiu e acenou em formato de renúncia. Ela limpou a garganta e olhou fixamente para Subaru.
Emilia: “Subaru, seu boboca!”
Subaru: “Hurr…—”
Emilia: “Malcriado, teimoso, egoísta, patife, tapado, não sabe quando desistir, paga de arrogante mas é incrivelmente idiota!”
Emilia: “Ninguém te pediu, ainda assim foi o único a se preocupar com os outros, sem se importar com os limites. É um bobalhão que ajuda uma meio-elfa odiada. Quando eu estou desolada e me sentindo triste, você se põe no meu lugar, age sem cautela e a faz todo tipo de coisa imprudente!”
Subaru: “Hum… Hein?”
Emilia: “Você escuta mas não age de acordo, um covarde que flerta e depois corre. Um burro que tenta ajudar alguém em problema, mesmo depois que esse alguém tenha brigado com você. Quando as coisas não vão como esperado, quando quer algo simplesmente diz o necessário para tal, é tão injusto. Então, quando tudo tá acabado, e todos estão resolvendo as pontas soltas, você vai dormir e relaxar. Subaru, seu panaca!”
Subaru: “Panaca, bem, não é uma palavra que se escuta todo dia, sabe, Emilia-tan”
Ele esperava ser repreendido, mas o que recebeu estava bem longe disso. As palavras não o machucavam ou abriam ainda mais a ferida em seu coração, na verdade, eram profundas e bondosas, e deixou uma marca no coração dele e de Emilia.
Para a fala de Subaru, Emilia manteve seu olhar, seus lábios seguiram.
Emilia: “Quê?”
Subaru: “Como dizer… é como você sente sobre mim?”
Emilia: “Eu sei, pode parecer que deixei meus sentimentos escapulirem. Então meio que isso aconteceu e não fazia mais ideia do que eu dizia… Subaru, você acha que é assim que eu me sinto?”
Subaru: “Me pergunto. Quando se deixa levar pelo momento, esses seriam seus sentimentos verdadeiros…… Não acho que posso distinguir”
Algo que Subaru pode afirmar é que se arrependia de certas coisas ditas devido ao momento.
Eram esses dolorosos sentimentos selados querendo escapar, ou apenas a explosão de certas emoções de forma repentina?
Ele pensou que ninguém jamais pudesse responder essa dúvida.
Subaru: “Obrigado, Emilia-tan”
Emilia: “Tudo que fiz foi falar mal de você. Para ser agradecida por isso… Subaru, você realmente é estranho, não?”
Subaru: “ʽEstranhoʼ apenas para a Emilia-tan. Se eu escuto de você, não importa se é um insulto, abuso ou um poema sobre segurança em trânsito. Sempre vai ser prazeroso de ouvir”
Emilia: “Não entendi essa última, mas realmente aparenta ser algo que não preciso saber, então simplesmente vou esquecer que ouvi. —Então, está satisfeito?”
Ela tentou responder suprimindo um gracejo, mas no fim, seus olhos pareciam imbuídos de tristeza.
Essa expressão crua que mostrava às vezes, e o motivo pelo qual Subaru não podia deixar seu lado.
Em resposta ao seu gesto, Subaru fez um sorriso de ponta a ponta que mostrava os dentes.
Subaru: “É, tá tudo bem agora. Na real, talvez eu não esteja 100%. Porém, se eu recebesse um beijo da Emilia-tan, a maldição que me cerca se dissiparia, e eu teria a coragem necessária para continuar. Se apenas…”
Emilia: “Que peninha, porque a barraca de pedidos está fechada por hoje”
Subaru: “Droga! Ferrei tudo! Por que eu sempre… tão tarde… Ah!”
Como decepcionado, Subaru quebrou em pedaços. Vendo isso, Emilia deixou escapar um sorriso de ironia. Após um tempo parecendo miserável, Subaru voltou ao seu eu normal e deu uma olhada pelo quarto
Subaru: “Assim sendo, acho que tenho umas coisas que tenho de resolver. Me sinto mal por ter de deixar todo mundo e a Emilia-tan, mas eu preciso de um tempo. Não acho que vá demorar muito… o que tem com essa cara, Otto?”
Otto: “Eu sinto que preciso ser indenizado após presenciar uma cena tão vergonhosa, mas deixarei as negociações para mais tarde. O que você estava fazendo!?”
Otto, esquecido até o momento, deixou seu descontentamento vir a tona, e em resposta, Subaru cruzou os braços encostou a cabeça, entendendo tudo. Parando para pensar, Otto não conhecia a última integrante da mansão.
Sendo esse o caso, dizer as palavras certas para Otto eram necessárias para que ele entendesse o que Subaru planejava.
Após agonizar sobre esse problema apenas por um tempinho, Subaru descruzou seus braços e disse,
Subaru: “Bem, tô indo me encontrar com uma loli de molas que se esconde em uma sala que cheira a mofo”
Com isso, ele completamente abandonou a responsabilidade de explicar a situação, e deixou Otto em um sério estado de confusão.