Após reafirmarem sua determinação, Subaru e Anastasia desceram as escadas, em direção ao salão de recepção.
Dos cinco andares da prefeitura, eles estavam conversando no terceiro andar, que aparentemente funcionava como uma sala de reuniões.
Anastasia: Como o quinto andar foi completamente destruído pelo dragão, o quarto andar tecnicamente é o último andar agora. Todas as vítimas da Luxúria estão descansando lá.
Subaru:… O que aconteceu com o rádio mágico na hora que o quinto andar pegou fogo?
Anastasia: Não há com o que se preocupar, ele foi desmontado e colocado em um lugar seguro. O dispositivo magico propriamente dito tem a forma de uma grande caixa de metal, então fica fácil de transportar. Parece que o som é captado pela caixa e depois amplificado por toda a cidade.
Uma antena… ou talvez um alto-falante?
Independentemente, o dispositivo mágico e os reféns foram recuperados em segurança, foi a única notícia boa que Subaru ouviu ao acordar.
O rádio mágico muito provavelmente será útil mais tarde, e o conhecimento de saber que os reféns estavam seguros era gratificante, além de melhorar um pouco a moral de todos.
Subaru: Você disse que todas as vítimas da Capella tão reunidas no quarto andar?
Anastasia: Mesmo que elas tenham se transformado em moscas ou dragões, elas ainda mantem a consciência humana, elas entendem o que dizemos e seguem as nossas instruções… embora eu não sei dizer ao certo se isso é algo bom.
Subaru: ……
Subaru também não conseguia decidir se deveria ou não ficar feliz com o fato de que as pessoas transformadas ainda mantinham sua consciência humana.
Se a sua consciência também tivesse mudado, tornando-se a de um inseto, eles não ficariam tristes por terem sido transformados, mas isso também significaria uma perda completa de si próprio. Mas também não seria uma perda de si próprio perder o próprio corpo e continuar vivendo naquele estado? Essa pergunta só poderia ser respondida por aqueles que passaram por aquela situação.
Anastasia: Eles também conseguem se mover normalmente. Felizmente, ainda não houveram tentativas de suicídio. As coisas aconteceram tão de repente que a maioria ainda não processou tudo que aconteceu e nem teve a chance de reagir… Resumindo, se nós resolvermos isso antes que a poeira abaixe e eles se deem conta da situação, as coisas devem ir bem.
Subaru: Tentativas de suicídio…?
Anastasia: Você não acha que é uma preocupação válida?
Subaru: ——
Aquela era uma pergunta que ele não poderia responder de forma imprudente. Comparado com Subaru, Anastasia parecia estar lidando bem com aquela situação problemática.
Anastasia: Com tanto que haja vida, existe esperança; mas sem a vontade de viver, essa esperança diminui. Apenas ter um corpo não é o suficiente, a vontade de viver é essencial, e é algo que eles não podem perder.
Embora não estivesse vendo o rosto dela, ele podia ouvir a convicção e determinação em sua voz enquanto ela seguia em frente.
Subaru, de todo o coração, concordava com toda aquela determinação que ela tinha a respeito da vida e a morte. Sobreviver era fundamental, enquanto houvesse vida, haveria chance para resistir. E por isso…
Julius: Anastasia-sama.
Enquanto Subaru e Anastasia desciam as escadas, o primeiro que os avistou foi Julius, que chamou pelo nome de sua mestra.
Originalmente, Subaru mal tinha olhado para o salão de recepção no primeiro andar, uma vez que ele tinha passado brevemente pelo local. Mesmo assim, era evidente que uma batalha tinha acontecido no local. Mesas e cadeiras viradas, paredes cobertas por golpes de espada e ataques mágicos e manchas de sangue espalhadas pelo local. Embora Julius se arrependa de ter deixado Gula escapar, ele não vacilou nem hesitou por um segundo durante a batalha.
Julius: Como foi a sua discussão com Subaru?
Anastasia: Foi um pouco demorada, mas no final deu tudo certo e teve uma conclusão tranquila. Assim como nós, Natsuki-kun é determinado.
Anastasia acenou com a cabeça em resposta à pergunta de Julius. Após um breve momento de despreocupação, ela olhou em outra direção.
Na direção oposta da escada onde Subaru tinha acabado de descer, a enorme e corpulenta figura de Ricardo apareceu na entrada do salão. Anastasia tinha dito que ele estava procurando por outros sobreviventes.
Anastasia: Bem vindo de volta, Ricardo. Como está a situação?
Ricardo: Senhorita… você parece muito animada… A situação está péssima, está indo de mal a pior. Esses arrombados são especialistas em causar confusão.
Ricardo franziu a testa e suspirou irritado, era natural considerando o resultado da inspeção.
Enquanto coçava sua cabeça de fera, ele gesticulava, instruindo os membros da Presa de Ferro. Alguns deles ficaram de guarda, enquanto os outros foram descansar.
Subaru: O Culto da Bruxa continua perseguindo as pessoas? Não, eu pensei que a nossa situação já fosse ruim o suficiente… mas ainda tem mais problemas?
Garfiel: A transmissão, Capitão. O maluco aí tá falando da porra da transmissão desanimadora que aqueles arrombados do Culto fizeram.
Garfiel, descendo as escadas, respondeu à pergunta de Subaru. Enquanto ele mordia suas presas, frustrado, Subaru prontamente perguntou.
Subaru: A transmissão… aquela lá das exigências? Eles falaram alguma outra coisa?
Julius: Não foi nada tão extravagante, eles espalharam a notícia que eles esmagaram aqueles que tentaram retomar a Prefeitura, entretanto, a forma como o Arcebispo da Luxúria falou foi realmente desprezível.
Ricardo: Por culpa dela, as pessoas que eu visitei nos abrigos já não tinham vontade de lutar, não tem mais vontade de reconquistar a cidade. Não será fácil levantar seu ânimo e convencê-los a retomar a cidade.
Após ouvir a resposta, Subaru imediatamente entendeu o que o Culto da Bruxa queria. Mais cedo, antes que eles conseguissem retomar a Prefeitura, Capella fez sua transmissão com uma série de exigências.
Os cidadãos comuns, que não tinham capacidade lutar, estavam completamente desencorajados por causa daquela suposta derrota, aqueles que podiam lutar, entenderiam as severas consequências disso. Eles sabiam que invadir a prefeitura certamente exigira um grupo com uma força de combate considerável, e considerando que esse grupo tinha supostamente falhado, então não havia sentido em lutar, era desanimador.
Em outras palavras, a transmissão de Capella foi uma tentativa de acabar com qualquer forma de resistência que os outros abrigos poderiam ter.
Ricardo: Graças aos registros na Prefeitura, eu localizei todos os abrigos na cidade e visitei os mais próximos um por um, mas…
Ricardo estendeu as mãos, confirmando, assim, a preocupação de Subaru. O problema estava no coração daquelas pessoas, não era culpa de Ricardo por não ter conseguido anima-los, a culpa era somente da forma imoral e desprezível que o Culto da Bruxa atuava…
Anastasia: Sem determinação não teremos coragem para resistir. Nesse caso, a situação só vai piorar.
Em contraste à fúria de Subaru, Anastasia estava quieta e pensativa. Ouvindo sua voz suave, Subaru levantou a cabeça, Anastasia virou-se para ele, dizendo “ Não é mesmo?”
Anastasia: “Mesmo se lutarmos, não temos chance de vencer” – Colocar este pensamento na mente de todos só vai encoraja-los a desistir de lutar. O que você acha que vai acontecer, então?
Subaru: Eles vão desistir e vão entrar em desespero… é isso que você quer ouvir de mim?
Anastasia: Se eles só vão ficar abraçando seus joelhos e chorando, isso seria quase infantil, você não acha? Mas de qualquer forma, isso não vai acontecer. Eles podem ter perdido a vontade de lutar, mas não perderam a vontade de viver. Então, o que sobra?
Subaru:… Então, você tá dizendo que…
Basicamente, Subaru tinha uma boa ideia de onde ela queria chegar. Entretanto, a ideia de que o Culto da Bruxa deliberadamente havia tentado criar aquela situação trouxe um forte sentimento de desgosto e repugnância.
Como se para confirmar a conclusão assustadora que Subaru havia chegado, Anastasia bateu as palmas das mãos e disse…
Anastasia: As condições para que eles se salvem já foram dadas, na forma de exigências. O mais razoável em uma situação desesperadora dessas, obviamente, seria atender às exigências. Então, o Livro da Sabedoria e os contratantes dos espíritos artificiais não estão seguros, certo? E mesmo os casais podem se tornar sacrifícios.
Subaru: Mas nem todo mundo chegaria a esse ponto, certo?!
Anastasia: Provavelmente, não. Alguns se recusariam a sobreviver a custo das vidas de outros, esses provavelmente vão procurar uma forma de fugir da cidade. Independentemente, ainda haverá muito pânico, não vamos conseguir fazer nada nessa confusão.
Uma vez que o pânico se espalhasse por completo, um único erro bastaria para que a situação que já estava precária, colapsasse. Era doloroso de imaginar a cidade naquele estado, dominada através do medo pelo Culto da Bruxa, quase como se eles fossem marionetes, sendo controladas.
Subaru: Então… de alguma forma poderíamos visitar todos os abrigos e motivar todo mundo?
Anastasia: Essa possibilidade não é nem um pouco realística, você não acha?
Subaru: Essa conclusão é pessimista pra caralho!
Quando todos estavam inquietos, com medo, era natural que o pânico se espalhasse. A única forma de lutar contra o pânico seria proporcionando a esperança.
Subaru: “Nós estamos preparando um contra-ataque” — Dizer isso certamente daria um pouco de esperança para eles e ajudaria a controlar o pânico, você não acha?
Anastasia: Creio que devemos evitar o mínimo de sacrifícios, mas também temos que nos preparar para eventuais perdas. Todo recurso que desperdiçamos dá ao outro lado uma vantagem.
Subaru: Espera, espera, Anastasia-san. Isso não parece com o que eu tinha em mente.
O comentário de Anastasia o incomodou, ele não pôde deixar de encara-la enquanto franzia a testa; em resposta, ela apenas suspirou, cansada.
Anastasia: A ideia de Natsuki-kun de evitar sacrifícios é linda, realmente admirável, porém não é nada realística. Nossas forças já sofreram muitos danos no começo da batalha, não conseguiremos vencer sem evitar perdas. Isso não deveria ser óbvio?
Subaru: Nas duas primeiras vezes… sim, esse foi de fato o caso. Mas dessa vez, não podemos simplesmente aceitar as perdas conforme elas vêm… isso é exatamente o que estamos tentando evitar!
Anastasia: Se estivéssemos prestes a lançar um ataque final, que nos levaria a uma vitória certa, eu concordaria. Mas na nossa situação, isso é impossível. Pense nisso como se fosse uma batalha naval, é natural que ajudemos aqueles bravos corajosos que ainda tentam sobreviver… mas não é nada razoável que tentemos resgatar aqueles que claramente já desistiram de viver.
Subaru: Mas mesmo que nós vencêssemos…
Anastasia: Se perdemos, todos vamos acabar no fundo do mar e morrer! Se você não liga se vamos vencer ou perder, então você está pronto para morrer? Ou você quer viver?! Natsuki-kun, você é muito ingênuo em realmente acreditar que será possível sobreviver sem que haja perdas!
A raiva de Anastasia serviu apenas para atiçar ainda mais as chamas da própria raiva de Subaru. Quando Subaru estava prestes a avançar, Julius levantou o braço em sinal de advertência, impedindo Subaru de avançar, entretanto seu olhar cuidadoso não estava fixo em Subaru, mas sim em Anastasia, quase como se ele estivesse do lado de Subaru. Ele então suspirou levemente e fechou os olhos.
Julius: Anastasia-sama, eu entendo seus sentimentos, mas eu também concordo com Subaru. De fato, é impossível de evitar as preocupações de Anastasia-sama. Contudo, aceitar que os inocentes sejam sacrificados dessa forma certamente também seria problemático, além de prejudicar sua imagem… é exatamente isso que o Culto da Bruxa quer.
Subaru: J-Julius!
Com a ajuda inesperada de Julius, opondo-se até mesmo ao seu mestre, a raiva de Subaru foi amenizada, sendo substituída por surpresa, até mesmo sua confiança se renovou. Se Julius, um exemplo de justiça e virtude, o renomado Cavaleiro dos Cavaleiros, compartilhasse da mesma opinião de Subaru, então certamente ele não poderia estar errado. Contudo Anastasia apenas voltou-se para Julius, enquanto acariciava seu cachecol.
Anastasia: Você acha que eu gosto de falar tão levemente sobre possíveis perdas? Você acha que eu sugeri abandonar essas pessoas por opção? Eu nem sei de fato se os outros abrigos vão ou não colapsar! É apenas uma possibilidade, não tem como lidarmos com cada possibilidade problemática uma por uma, mas essa é uma que não podemos ignorar!
Julius: Mas…
Anastasia: Você não é mais uma criança, você entende, não é? Da forma como nossos recursos estão limitados, a única forma de lidar com o Culto da Bruxa é pondo tudo na ofensiva. E mesmo assim, não há muito que possamos fazer. Se nos espalharmos, e tentar estender essa responsabilidade pela cidade toda, não seremos capazes de fazer o que devemos fazer.
As palavras de Anastasia devem ter soado frias e impiedosas para Julius, que mordeu o lábio ressentido, como uma criança arrependida. Ao mesmo tempo, aquelas palavras também eram destinadas a Subaru, que originalmente havia lançado a ideia. É claro, Subaru entendia perfeitamente o lado de Anastasia. O peso de uma vida era um fardo muito pesado.
Salvar uma única pessoa já era muito difícil, quanto mais pessoas precisassem ser salvas, mais difícil seria de salvar a todos. Salvar tantas pessoas quanto Subaru queria beirava o impossível, mesmo uma criança poderia chegar a essa conclusão. Quanto mais maças uma criança quisesse segurar, mais rapidamente a força da criança acabaria, e, no fim, ela não teria nada.
Anastasia: Para vencermos, devemos agir como adultos, ao invés de agir como crianças mimadas. Como um cavaleiro, você não deveria perceber a diferença?
Julius:——
Ouvindo as palavras de Anastasia, Julius fechou os olhos, como se tivesse aceitado sua afirmação. Enquanto ele abaixava a cabeça, Subaru pôde ver que ele estava com os punhos fechados. Mesmo assim, era evidente que Julius não faria mais objeções. Entretanto…
Subaru: Desistir aqui, significa ser ainda mais indigno de ser chamado de cavaleiro.
Anastasia: Ei, Natsuki-kun, você ao menos prestou atenção no que eu disse? Você continua agindo da mesma forma que agia na capital? Sabe, apesar de tudo, você conseguiu se tornar um cavaleiro, eu esperava mais de você.
Subaru: Sim, eu também sou um cavaleiro, e por causa disso eu não vou desistir, não posso desistir.
Quanto mais maçãs você segurasse, maior a chance que elas acabassem caindo no chão. Subaru e Julius eram cavaleiros, em vez de segurar maças, eles tinham algo muito mais importante em mãos. Em vez de segurar frutas que poderiam cair sem que houvesse consequências, eles carregavam vidas humanas em suas mãos.
Subaru: Isso é algo que me interessa desde o começo, não vou desistir logo de cara, eu ainda ajo de acordo com meus ideais. Desculpe-me por não ser tão suscetível ao bom senso desse mundo!
Anastasia: Mais uma vez, você está dizendo algo misterioso e incompreensível… mas o fato é que, tanto na batalha contra a Baleia Branca, e posteriormente a batalha contra o Culto da Bruxa… muitos morreram. Enquanto houver luta, perdas são inevitáveis. Natsuki-kun, mesmo vendo com os próprios olhos, você ainda insiste em dizer que venceremos sem sacrifícios?
Subaru: Não subestime essas pessoas, Anastasia. As mortes deles foram trágicas, mas eles eram soldados, dispostos a morrer em batalha. Eles sabiam o que estavam fazendo. Essas pessoas inocentes estão prestes a serem sacrificadas, e não estão cientes disso, esta é a diferença!
Ele sabia que sua ideia não era nada razoável, e talvez fosse completamente sem sentido. Entretanto, era isso que Subaru acreditava, naquela situação de vida ou morte, aquilo era tudo que importava para ele.
Subaru: As pessoas dessa cidade, são pessoas normais. Eles nunca tiveram obrigação de assumir as responsabilidades de um soldado. O Culto da Bruxa os forçou arbitrariamente a entrar no campo de batalha. Abandona-los por causa disso é errado.
Anastasia: Mesmo que seja errado, eles foram arbitrariamente arrastados até o campo de batalha. Eles estão se dando conta disso e certamente esperam ser atacados, não é? Cabe a eles lutarem por conta própria, assim como nós.
Subaru: Isso não é justo e nem um pouco razoável, cidadãos normais despreparados não tem como se defenderem contra atacantes que se prepararam previamente, ainda mais se tratando do Culto da Bruxa. É pra isso que servem os cavaleiros, é nosso dever proteger aqueles que não conseguem se defender por contra própria. Esse é o cavaleiro que eu idealizo, esse é o cavaleiro que eu finjo ser na frente daquelas crianças indefesas da vila.
Depois de ser condecorado como cavaleiro e receber alguns elogios, Subaru se viu capaz de viver seu sonho. Era apenas natural que ele pensasse dessa forma. Essa determinação veio das crianças da vila, que olhavam para ele com admiração e brilho nos olhos sempre que ele dizia algo corajoso. Subaru queria fazer o seu melhor por elas. Claro, também ajudava o fato de que quando ele falava, Emilia também olhava com admiração, com um brilho nos olhos.
Subaru: Como cavaleiro da Emilia, vou lutar por ela, mas isso não significa que vou lutar apenas por ela, ignorando os outros. Anastasia-san, Julius, como seu cavaleiro, luta, acima de tudo, por você, mas não apenas por você. Essa é a natureza gananciosa de um cavaleiro, não estamos satisfeitos de proteger apenas nosso mestre, nós não deixaríamos de fazer algo que nos tornaria ainda mais bravos e corajosos.
Anastasia:——
Subaru: Especialmente Julius. Ele pode estar a beira da morte, mas ainda assim vai continuar agindo de forma virtuosa e cavaleiresca, tudo porque esse pau no cu é o Cavaleiro dos Cavaleiros. Em outras palavras, ele quer parecer mais legal que todo mundo.
Enquanto Anastasia olhava para ele, boquiaberta e sem palavras, Subaru gesticulou com o polegar para Julius, que prontamente sentiu-se constrangido. Uma Anastasia sem palavras e um Julius chocado… aquilo era tão raro de se ver que Subaru não pôde deixar de sorrir.
Subaru: Acabar com esses malditos é um objetivo muito simples, mas decidir viver com a culpa de abandonar e sacrificar alguém é ridículo. Todos devem ser salvos e todos aqueles arrombados do Culto da Bruxa devem ser eliminados. Mesmo que possamos falhar, devemos manter nossas convicções, certo?
Perder daquela forma traria os mesmos resultados que aceitar a derrota desde o começo, porém havia uma grande diferença em como essa derrota afetaria você. É claro, seria mais fácil interpretar isso como puro egoísmo e autossatisfação, contudo…
???: Viver pelo próprio ego é a melhor e mais humana forma de se viver. Eu concordo completamente com você, irmão.
Subaru: ——!
Enquanto Subaru estava ocupado, elaborando todo seu idealismo ingênuo, uma nova voz entrou em cena. Todos olharam surpresos para a entrada do salão de recepção. Tendo chamado a atenção de todos, o homem olhou para trás e para frente, enquanto encolhia os ombros, claramente infeliz com toda aquela atenção.
???: Ei, me olhar dessa forma, com tanto entusiasmo, é um pouco desagradável. Minha aparência não está das melhores, então eu não sei o quão bem eu atenderia à expectativa de todos.
Subaru: —— Al?
Usando um elmo negro, falando de forma alegre, com brincadeiras e piadas, e sem qualquer traço de hostilidade, aquele homem era um dos conhecidos de Subaru, que tinha desaparecido depois que ele havia deixado o hotel naquela manhã — Aquele homem era Al.
Ele olhou novamente para todas as pessoas que ocupavam o local.
Al: Cadê todos aqueles rostos familiares? Não tinha mais gente hoje de manhã?
Subaru: Eles estão lá em cima com Crusch-san. Por que você está aqui?
Al: Bem, quando toda aquela confusão começou, decidi virar as costas e procurar um lugar para me esconder por um tempo. Quando as coisas começaram a se acalmar, eu dei uma olhada lá fora e escutei a transmissão sobre a Prefeitura. Na hora eu pensei que vocês provavelmente estavam envolvidos na situação toda, e mesmo que não, pelo menos eu encontraria alguém que soubesse o que está acontecendo.
Embora ele estivesse falando com um otimismo absurdo através de seu elmo metálico, todos ficaram descontentes com sua resposta. Afinal, ele era um dos únicos que era capaz de lutar, mas mesmo assim priorizou a própria segurança.
Al: Qual é povo, não me olhem dessa forma. Foi mal aí, mas vocês realmente acham que perderam aquela última batalha por minha culpa? Além disso, mesmo se eu tivesse na hora, o resultado seria o mesmo.
Garfiel: Ô, Capitão, esse maluco aí tá tentando provocar a gente?
A forma descontraída como Al agia irritou Garfiel desde o começo. Parando para pensar, Al e Garfiel nunca tinham se conhecido. Quando Priscilla tinha interrompido o agradável café da manhã no hotel, Garfiel estava ausente. Do ponto de vista dele, Al era um estranho, potencialmente perigoso.
Subaru: Espera, espera, Garfiel. Esse cara tá envolvido na Seleção Real. Você ainda não o conhece, mas ele é o cavaleiro da Priscilla. Não sei se você sabe, mas todas as cinco candidatas atualmente tão na cidade.
Al: Tecnicamente, eu só sou o subordinado da princesa, não sou um cavaleiro. Se bem que eu seria extremamente apropriado para a função. A propósito, sem ofensas, irmão.
Embora Subaru tenha impedido Garfiel de se exaltar, Al respondeu à introdução de Subaru de forma irônica. Aquela atitude fez Garfiel novamente morder as presas, com raiva.
Anastasia: Certo, já chega! Silêncio! Todos vocês estão sendo muito irritantes.
Com um forte bater de palmas, ela acabou com a tensão que aos poucos crescia. Então, seus olhos se fixaram em Al.
Anastasia: Você não é como seu mestre não, né? Aparecendo assim do nada e acabando com o clima agradável? Causar uma confusão agora só vai irritar as pessoas, que tal você deixar isso de lado por enquanto?
Al: Wow, você é bem honesta. Infelizmente, é assim que eu sou. Todo mundo diz que eu irrito as pessoas e perturbo o sossego delas. Bem, funciona como uma técnica de sobrevivência.
Al enfiou o dedo na abertura entre seu elmo e sua cabeça, coçando seu pescoço. Anastasia então virou-se para Subaru, dando um pequeno suspiro.
Anastasia: Embora as coisas aparentemente tenham ficado um pouco mais complicadas, meu posicionamento não vai mudar. Eu também gostaria de evitar sacrifícios se possível, mas, se o caminho para vitória exige sacrifícios, então assim será. Se Natsuki-kun se recusa a ter qualquer baixa, então trabalhe bastante pensando em um plano.
Subaru: Então, você não vai me impedir de visitar os outros abrigos?
Anastasia: Se você consegue fazer isso no seu tempo livre, então vá em frente. De qualquer forma, nós precisamos de poder de combate. Se você achar alguém que pode lutar, tente recrutar para o nosso lado.
Embora ela ainda discordasse, Anastasia não se opôs mais à ideia de Subaru. Convence-la a mudar de ideia seria absolutamente impossível, Subaru também não reclamaria, considerando a liberdade que lhe foi dada para agir.
Anastasia: Leve um espelho de comunicação. Seu tempo limite será de seis horas, se precisarmos que volte antes, entraremos em contato. Tome cuidado e tente não se meter em confusão.
Subaru: Tempo limite… certo, eu ainda não perguntei: que horas são?
Julius: Ainda estamos no mesmo dia, por volta da meia noite. Partiremos daqui a nove horas.
Dessa vez, foi Julius quem forneceu a informação. Se eles quisessem realizar uma reunião estratégica daqui a seis horas, então Subaru tinha cerca de três horas para trazer Anastasia para o seu lado.
Além disso, antes desse limite de tempo, ele também precisava de alguma forma encontrar alguma maneira de derrotar o Culto da Bruxa e salvar a cidade… não, não apenas isso. Ele também precisava resgatar Emilia do Arcebispo da Ganância, recuperar as memórias de Rem que foram comidas pelo Arcebispo da Gula e ainda recuperar as vítimas afetadas pelo Arcebispo da Luxúria. Somente completando todos esses objetivos ele poderia dizer que alcançou uma vitória completa.
Subaru: Não resta muito tempo… Você tem um mapa com a localização de todos os abrigos?
Anastasia: Sim, temos vários. Aqui está um mapa de todos os lugares que Ricardo e os Presa de Ferro já visitaram e ainda visitarão.
Ela o deu o mapa de Ricardo, os Presa de Ferro já haviam explorado os abrigos mais distantes, restando assim, os mais próximos, o que era bem conveniente para Subaru, que iria a pé. Era quase como se alguém tivesse planejado essa situação.
Julius: Subaru, eu vou com você.
Subaru: Julius? Não, você não deve. Você seria de grande ajuda, mas seria problemático se deixássemos a Prefeitura sem lutadores o suficiente.
Ricardo estava patrulhando do lado de fora, Subaru pretendia levar Garfiel junto com ele. Embora Wilhelm estivesse presente, dar a ele a responsabilidade de proteger sozinho todo o prédio da Prefeitura era exagero. Além disso, a facção da Crusch estava em um péssimo estado, envolto em tristeza. Ao ouvir a resposta de Subaru, Julius acenou com a cabeça, relutante.
Aparentemente ele estava bem menos calmo que o habitual, ver ele agindo de forma precipitava era bem raro. Subaru então deu um tapinha em seu ombro e em seguida gesticulou para Garfiel.
Subaru: Garfiel, venha comigo. Vamos visitar os outros abrigos e procurar por pessoas que possam lutar. Temos que encontrar uma forma de acabar logo com essa confusão que já se prologando demais.
Garfiel: Tendi. Deixa com meu incrível eu, Capitão.
Embora a resposta de Garfiel ao pedido de Subaru tenha tido um leve atraso, no fim das contas, ele concordou. Ao receber essa confirmação, Subaru examinou o mapa em suas mãos, procurando pelos abrigos próximos a Prefeitura.
Sua prioridade era garantir poder de combate – nesse caso, localizar Reinhard seria o melhor a se fazer.
Al: Não deveríamos ir ao abrigo próximo ao hotel primeiro? Não acho que a Princesa teria ido muito longe de lá.
Subaru: Nesse caso, se seguirmos este caminho… espera um pouco…
Enquanto analisava o mapa, Subaru subitamente parou. Como Al tinha se envolvido na conversa, já falando sobre seus próprios planos, era apenas natural que Subaru perguntasse.
Subaru: Você… vem com a gente ?
Al: Sim. Afinal, ir por conta própria seria bem complicado, ainda mais se, no fim das contas, eu nem ao menos achasse a princesa. Como vocês sabem muito, eu teria mais chance de encontra-la se for com vocês. Seria terrvel se eu não encontrasse a princesa em uma confusão dessas.
Subaru: Mas que belo exemplo de relacionamento entre mestre e servo.
Embora aquela situação o tenha dado uma sensação um tanto estranha, Subaru ficou feliz por ter mais uma pessoa junto dele. Por outro lado, Garfiel não gostou nem um pouco que Al iria acompanha-los. Considerando que Al era praticamente um desconhecido para Garfiel, e levando em conta a situação crítica em que eles estavam, era natural que Garfiel agisse dessa forma. De qualquer forma, embora Al fosse um tanto irritante, ele genuinamente parecia querer encontrar Priscilla.
Subaru: Por falar na Priscilla, a última vez que eu a vi foi no parque da primeira rua, quinze minutos antes do ataque. Ela deve estar em um abrigo por perto.
Al: Sério? Essa informação é muito útil, irmão. Vamos começar por lá então.
Encantado com aquela noticia, Al deu vários tapinhas nas costas de Subaru.
Então, Subaru junto de um Al satisfeito e um Garfiel carrancudo deixaram o prédio da Prefeitura, em direção aos abrigos mais próximos.
E, vendo os partir…
Echidna: Ai, ai, parece que você foi tratada como se fosse a vilã, não é?
Anastasia: Quieta, raposa cachecol. Não é como se eu ainda não tivesse resolvido. Se Natsuki-kun ainda conseguir falar com tanta determinação quando ele voltar, então ele é realmente muito ruim em aprender.
Anastasia falou, com uma expressão exausta no rosto, enquanto o cachecol balançava levemente em seu pescoço. Ninguém mais havia percebido aquela pequena conversa.