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Second Life Ranker – Capítulo 435

Arthia (5)

A carta começava: O que eu estou escrevendo aqui não passam de desculpas e não podem servir de conforto para o leitor dessa carta. Eu sei que não posso pagar pelo que fiz, mas ainda assim… queria escrever essas palavras. Sinto muito, Jeong-woo.

***

Tudo começou com o que Bayluk disse.

“Bayluk?” Yeon-woo não esperava ouvir esse nome. O relógio de bolso começou a tremer incontrolavelmente. Yeon-woo colocou sua mão no relógio para confortá-lo. Junto com Vieira Dune, Bayluk foi quem mais se beneficiou com a queda de Arthia e a morte de Jeong-woo. Ele foi o responsável por envenenar Jeong-woo em segredo com o veneno que causou sua morte: Olho de Lótus Vermelha.

A dor do veneno era cruel. Bayluk teve um enorme cuidado para envenenar Jeong-woo de um modo que não fosse detectado. Quando Jeong-woo percebeu que algo estava errado, o veneno já tinha invadido sua medula e era tarde demais. Foi mais ou menos nessa época que a condição de Jeong-woo piorou, deixando-o irregular e temperamental.

Bayluk era essencialmente o culpado que causou a separação de Arthia. ‘Mas o problema é que ninguém sabe onde ele está agora.’ Bayluk se escondeu na mesma época que Jeong-woo morreu. Era impossível encontrá-lo agora.

Bayluk me perguntou de repente, “Você quer se encontrar com a sua família?” Foi na manhã em que estávamos nos preparando para a guerra contra a aliança de clãs. Não era uma manhã diferente das outras, mas eu nunca me esqueci desse momento.

O que ele disse provocou desespero em mim, alguém que nunca soube da própria identidade. Mas quando perguntei o que ele queria dizer, ele simplesmente deu um sorriso estranho como sempre fazia e disse, “Eu encontrei as ruínas da espécie dos Gigantes.” Essas palavras foram o suficiente para me deixar louco.

Valdebich sempre esteve em conflito com sua identidade, já que ele não era nem humano e nem Gigante. Ser um mestiço na Torre não era nada de especial já que havia vários jogadores de diferentes planetas e dimensões aqui. No entanto, Valdebich era diferente.

Ele não era tão esperto quanto os humanos e não possuía o espírito de luta incrível dos Gigantes. Valdebich não era um mortal e nem um imortal, ele possuía uma posição incerta. Por ser o descendente de uma espécie extinta, ele chamava bastante atenção, mas isso sempre foi uma fonte de trauma.

Valdebich também não sabia nada sobre seu nascimento. Ele tinha algumas memórias vagas de sua infância: de uma casa com um enorme jardim, de irmãos e amigos que brincavam com ele, de pais que sorriam e diziam que o amavam.

Mas essas memórias eram nebulosas e os rostos dos seus pais pareciam estar sendo obscurecidos por uma sombra. A memória mais clara que ele possuía era de quando tinha cinco anos de idade. Ele se lembrava de seu avô, que se chamava de mordomo da família, o forçando a aprender as técnicas básicas dos Gigantes.

Seu avô era diferente de seus pais carinhosos e sempre dava broncas cruéis em Valdebich, chamando-o de “perdedor” e “idiota”. Ele dizia que Valdebich não era bom o suficiente e que era uma vergonha para a espécie dos Gigantes.

Por causa disso, Valdebich se tornou uma criança tímida que realmente acreditava que era um ser inútil. Esse trauma persistiu mesmo depois de ele ter ganhado o apelido de Yaksha da Espada e ter causado um tumulto na Torre. Também foi o motivo para ele ter se tornado obcecado com a ideia de família.

Quem era ele? Por que ele teve que deixar a família que o amava tanto? Será que eles o abandonaram? Ou foi algum tipo de acidente?

Se ele não tivesse sido criado pelo seu avô estranho e ficado com sua família, ele teria crescido normalmente, não é? Valdebich fez de tudo para encontrar suas raízes, mas ele falhou todas as vezes.

A espécie Dracônica ainda tinha um último membro, a Rainha do Verão, mas os Gigantes tinham sido extintos muito antes e mal deixaram rastros para trás. Também havia dúvidas sobre a existência de um meio-Gigante como ele e se ele realmente era um. Se sim, será que ainda existia Gigantes vivos hoje em dia?

Bayluk usou a insegurança de Valdebich em relação a sua família como uma isca e Valdebich a mordeu sem perceber que estava envenenada. Ele saiu para procurar pelas ruinas de acordo com as instruções de Bayluk, mas não conseguiu avisar Jeong-woo e os outros.

Valdebich achou que seria difícil contar a eles sobre sua partida já que eles estavam se preparando para a guerra. No passado, seus amigos o ajudaram a procurar pelas ruinas, só para o esforço acabar em falha.

Eu já tinha superado o meu trauma e a localização não era tão longe, então pensei que conseguiria voltar rápido. Eu não achava que seria um problema se desse uma olhada rápida e voltasse, mas era exatamente isso que Bayluk estava planejando.

Bayluk não mentiu. As ruinas realmente possuíam vestígios da espécie dos Gigantes, mais ainda do que as que Valdebich tinha investigado antes. Havia restos de uma vila, túmulos e até uma missão oculta relacionada à queda dos Gigantes. Valdebich ficou tão envolvido na missão e em sua obsessão por sua família e identidade que ele se esqueceu sobre Arthia.

Os únicos pensamentos em sua cabeça estavam relacionados à missão e à procura de sua família que poderia estar em algum lugar em perigo. O tempo passou e quando ele recuperou sua razão, tudo já tinha acabado.

Foi só então que eu ouvi notícias sobre o Jeong-woo e percebi que eu fui um idiota. A minha família me abandonou e, em troca, eu abandonei o meu único amigo quando ele mais precisava. Ainda assim, talvez os céus quisessem me dar outra chance.

Eu me lembrei que Jeong-woo mencionou uma vez que a minha família ainda poderia estar viva em algum lugar já que ele conseguiu encontrar um dragão, uma espécie que todos assumiam que já estava extinta. Ele disse que talvez eu tivesse sido separado da minha família por algum tipo de acidente.

Dragões. Eu precisava encontrar a moradia dos últimos dragões. Não sei se era porque eles possuíam os mesmos traços que os Gigantes, devido à imortalidade e à arrogância por um dia terem sido iguais aos deuses e demônios, mas não foi difícil de encontrar o lugar. Tudo que eu tive que fazer foi ir para lugares onde só seres superiores seriam capazes de acessar.

Eu descobri que Jeong-woo já tinha partido. Eu vim às pressas, mas no fim, foi tarde demais. Então, eu me lembrei da recompensa que recebi das ruinas e a usei para enviar Jeong-woo de volta para sua terra natal. Apesar de ter conseguido o que sempre quis, eu queria que ele tivesse uma chance de voltar para os braços de sua família.

Valdebich possuía um passe que permitia que ele viajasse para qualquer dimensão apesar do tempo e da localização sem nenhuma restrição das leis da natureza. Valdebich pensou em usá-lo para voltar para a dimensão de sua espécie depois de terminar a missão oculta, mas ao invés disso, abriu o portal para a Terra sem nenhuma hesitação.

Eu fui um idiota até o fim. Só percebi o que tinha perdido depois que perdi. O Jeong-woo era muito mais um irmão para mim do que os das minhas memórias e muito mais especial para mim do que os meus pais.

Valdebich nunca conseguiu voltar para a dimensão de sua espécie, mas não importava. Ele queria que Jeong-woo, seu amigo e irmão, voltasse para sua terra natal.

Ele ainda se lembrava de quando entrou na Torre muito tempo atrás, quando todos pensavam em tomar vantagem dele, menos Jeong-woo. Jeong-woo simplesmente estendeu a mão e disse, “Quer ser meu amigo?”

Yeon-woo leu a carta várias vezes antes de devolvê-la para o envelope. Valdebich tinha saído para procurar por sua família, só para perdê-la junto com seus amigos no processo. Yeon-woo conseguia imaginar a expressão abatida de Valdebich enquanto enviava Jeong-woo de volta para a Terra antes de deixar Laputa com passos pesados, talvez pensando em suas memórias.

Havia um pequeno recipiente próximo do lugar onde o envelope estava. Yeon-woo o abriu e encontrou uma garrafa de vidro azul em uma almofada desbotada. Era o elixir – o remédio que o seu irmão estava tentando encontrar tão desesperadamente, mas não conseguiu levá-lo de volta no fim.

***

“Posso perguntar algo?”

「Sim…?」

“Como era o Caos Rastejante?”

Enquanto Yeon-woo vagava pela casa do clã, seguindo os rastros de seu irmão, o resto de seus amigos estava sentado em um banco no jardim. Edora olhava para o prédio principal com uma expressão preocupada, Galliard tinha saído para algum lugar e Brahm estava conversando com Boo. Eles possuíam uma amizade profunda, já que um deles era um alquimista e o outro era um feiticeiro com vários interesses em comum.

Eles conversavam mais sobre seus experimentos, mas recentemente, depois que Boo recuperou suas memórias e identidade como Fausto, suas conversas ficaram mais profundas. Eles não conseguiam conter a curiosidade que possuíam um pelo outro: um deles já foi um deus e o outro tentou seguir os passos dos deuses.

Brahm estava especialmente curioso com o Caos Rastejante, o ser que Fausto experimentou em primeira mão.

“Esses deuses do outro mundo são todos seres que nós não conhecemos.” Os deuses e demônios já estavam presos no 98º andar a tanto tempo que tinham inveja dos seres que eles chamavam de Deuses Externos e a quem os jogadores se referiam como deuses do outro mundo.

Para eles, esses deuses possuíam completa liberdade, mas ninguém sabia de suas origens. No passado, os deuses e demônios viajavam pelo vasto universo e eram idolatrados por várias dimensões e mundos. Eles eram transcendentes sábios e oniscientes, mas ignoravam localizações que não reconheciam. Eles achavam que esses espaços vazios e inúteis não eram dignos de suas presenças.

No entanto, depois que foram presos na Torre e os deuses do outro mundo apareceram, eles ficaram chocados por verem seres cósmicos tão grandes e vastos que não possuíam ego.

Essas entidades também não eram transcendentes recém-nascidos, já que suas lendas eram tão profundas quanto as deles. Os deuses e demônios tinham curiosidade sobre suas origens, como eles chegaram na Torre e como conseguiram evitar a maldição da Torre.

Eles acreditavam que descobrir isso os ajudaria a escapar da prisão do 98º andar. No entanto, por estarem presos, havia limites para o que os deuses e demônios podiam fazer. Os deuses do outro mundo não reconheciam suas autoridades e rapidamente perderam o interesse em seres que pareciam mais com animais enjaulados para eles. Foi por isso que Brahm nunca teve a chance de pesquisar os deuses do outro mundo.

Na verdade, desde o começo, já era difícil de se comunicar com esses seres estranhos, mas ainda assim, o grande mago Fausto conseguiu formar um contrato com o Caos Rastejante, um dos maiores deuses do outro mundo. Através desse contrato, ele adquiriu conhecimento o suficiente para criar a Inscrição Esmeralda.

Já que Fausto estava diante dele, não havia dúvidas de que Brahm estava interessando. Além disso, enquanto Yeon-woo estava ocupado com Kalatus, Fausto conseguiu fazer contato com o Caos Rastejante. Brahm queria saber quais foram suas impressões.

「Não… tinha… nada.」

“Nada? O que você quer dizer?” Brahm inclinou a cabeça, sem entender.

「Era… escuridão.」

Brahm franziu a testa.

「Escuridão falsa… tentando imitar a verdadeira Escuridão… Era um… vazio sem nada.」

O rosto de Brahm se enrijeceu. Escuridão e vazio eram palavras familiares.

「Isso é… tudo… que eu me lembro… Se… eu quiser… me lembrar de mais… tenho… que recuperar… a minha… antiga… vida.」

O ser estava impedindo Boo de se lembrar mesmo já sendo um Lich Ancião.

“Então se você recuperar a sua antiga vida, a Escuridão…!” Brahm estava prestes a perguntar algo quando alguém veio voando na direção deles com o som de vidro se quebrando.

Crack! Bam!

Brahm mal conseguiu pegá-lo. Pedaços de armadura quebrada caíram no chão.

“O que aconteceu, Hanryeong?!”

Hanryeong, que tinha sido enviado para lidar com Elohim, estava ferido seriamente. Isso era impossível, já que não havia ninguém em Elohim que conseguiria ferir Hanryeong. Com o Ditador e os líderes da família Protogono mortos, Elohim estavam indefeso.

Além disso, o corpo de Hanryeong estava derretendo. Já que tinha nascido da morte e criado das sombras, ele podia se ferir, mas nunca morreria. Ainda assim, era exatamente o que estava acontecendo com ele. Brahm e Boo nunca viram esse estranho fenômeno antes.

「O Antiveneno… apareceu… em Elohim!」Ele estava se referindo ao Antiveneno Bayluk.

Depois de dizer essas palavras, o braço de Hanryeong caiu no chão e se desfez em partículas. Whoosh.


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