Supreme Magus – Capítulo 20

Após o fim do festival da primavera, nada de importante aconteceu, e a vida de Lith voltou à sua rotina normal.

Solus foi uma ajuda inestimável para seu treinamento mágico. Apesar de ter perdido todo seu conhecimento passado e ser bastante ingênua nos modos de vida, ela¹ era de longe a mais brilhante dos dois.

Solus não estava limitado aos cinco sentidos dos humanos, ela na verdade tinha doze. Solus tinha certeza de que, ao recuperar seus poderes, ela seria capaz de despertar ainda mais.

O senso de mana de Solus ajudou Lith a entender melhor as leis da magia que determinavam o talento inato e a capacidade de mana.

Seu senso de mana era semelhante à Visão de vida de Lith, mas muito mais profundo e preciso. Solus conseguia ver a mana fluindo até mesmo de folhas de grama ou seixos. Ao olhar para alguém, ela era imediatamente capaz de perceber seu talento mágico.

Ainda mais importante, ela era capaz de usar seu sentido de mana até mesmo nas memórias de Lith. De acordo com Solus, todas as informações necessárias para o sentido de mana também estavam contidas no espectro visível, mas os humanos não tinham os meios para interpretá-las.

“Quando você estava na Terra, você não tinha núcleo de mana. Seu mundo nativo basicamente não tinha mana alguma. A mesma coisa aconteceu na nave alienígena.

Mas quando você nasceu aqui, você começou com um núcleo de mana vermelho-sangue muito pequeno. Ao absorver e processar a energia do mundo com sua técnica de respiração, você conseguiu desenvolvê-la de vermelho para laranja.”

“Tantos anos de prática incansável só para promovê-lo ao próximo nível?” Lith ficou bastante deprimido com a notícia.

“Não exatamente. Seu núcleo de mana também continua mudando e se desenvolvendo conforme você cresce, e isso acontece com todos os outros também. No momento do seu nascimento, o núcleo de mana de Tista já era vermelho-papoula, e ficava mais brilhante a cada ano. Agora mesmo é laranja claro, e não me surpreenderia se depois do seu surto de crescimento final ele ficasse amarelo, ou mesmo verde. Ela parece ser bastante talentosa para magia.”

“E aonde isso me deixa?” Lith continuou se sentindo pior sobre si mesmo. “Eu sou realmente um fracasso completo em tudo? Aparência, talento, não consigo fazer nada certo?”

“Pare de ficar se lamentando e me escute. Você continua esquecendo que é dois anos mais novo e eu não tenho ideia se homens e mulheres desenvolvem seus núcleos de mana em taxas diferentes. Além disso, pular etapas constantemente torna difícil para mim entender qual é seu talento base. Após cada ciclo de expansão e compressão, seu núcleo de mana ficaria um tom mais brilhante. Toda vez que você expele impurezas de seu núcleo de mana, ele pula para o próximo nível. Agora é verde escuro.”

“Sou eu, ou essa força do núcleo de mana parece estar de alguma forma relacionada ao espectro de luz?” Lith ponderou. “Um prisma pode quebrar a luz branca em seus componentes básicos: vermelho, laranja, amarelo, verde, ciano, azul, roxo.”

“Concordo.” Solus assentiu mentalmente. “Mas também pode estar relacionado ao fogo. Chamas seguem o mesmo princípio, uma estrela amarela é mais fria que uma verde e assim por diante. Nossa pergunta real é: o passo final para um núcleo de mana é ficar roxo ou branco?”

Lith balançou a cabeça.

“Estou começando a ter uma dor de cabeça de tanto pensar. Vamos encarar isso como eu enfrentei a faculdade na Terra, uma sessão de provas de cada vez. Mesmo lá atrás, se eu começasse a pensar em todas as provas que teria que passar para obter meu diploma, só para começar de novo  meu mestrado, eu entraria em uma depressão profunda.” A lembrança o fez estremecer.

“Então vamos focar no presente. Eu sou verde profundo, e a Nana?”

“Ela é a única pessoa com um núcleo de mana ciano claro. Para nascer com tal talento, ela é realmente impressionante.”

“Há mais alguém talentoso na vila?” Lith devia estar ciente da possível competição.

“Não. O garoto doente que o conde Lark trouxe tinha um núcleo de mana amarelo brilhante, mas não acho que ele more por perto.”

Lith suspirou, toda aquela informação o sobrecarregando. Por tantos anos ele se iludiu pensando que era especial, mais forte do que qualquer outra pessoa.

Agora ele se sentia como o proverbial sapo no poço, finalmente descobrindo a vastidão do mar.

“Chega de lamentação, vamos arregaçar as mangas e trabalhar duro. Nada que vale a pena ter vem fácil.”

Lith e Solus continuaram praticando juntos durante o ano inteiro, ficando cada vez mais próximos, como gêmeos fraternos.

O aniversário de Lith era no outono, mas todas as principais atividades na vila seriam suspensas até a próxima primavera. Como a oferta de Nana era substituir os dois anos de escola pública por um estágio, Lith também teve que esperar até a primavera para começar sua educação mágica.

No final do inverno, o tempo melhorou e as trocas entre a vila e as fazendas tornaram-se cada vez mais frequentes.

Graças a isso, Nana conseguiu avisar Lith sobre a data que havia marcado para começar seu aprendizado, confiando a mensagem a um de seus vizinhos que tinha ido até ela para curar um ferimento grave sofrido durante o conserto do telhado.

Quando o dia chegou, Lith acordou cedo, determinado a manter sua rotina de limpar sua casa e a de Selia antes de ir para a vila.

A caçadora tinha feito tanto por ele, que lith começou considera-la uma tia. Uma mesquinha, chata, e que faria acordos de roubo, mas ainda assim, uma tia.

Naquela manhã, a casa estava um tumulto. Todos os seus entes queridos estavam tão animados com a ideia de ter um futuro mago na família, que mal conseguiam comer o café da manhã, gastando todo o seu tempo e energia dando a ele conselhos indesejados e óbvios.

“Não se atrase. É melhor chegar um pouco mais cedo do que mais tarde.”

“Seja obediente e respeitoso. Nana está lhe dando uma grande chance!”

O motivo pelo qual todos estavam nervosos era que, apesar de considerarem o primeiro dia de vital importância, Lith tinha que ir sozinho para a aldeia.

A casa precisava urgentemente de reparos e, com a saída de Orpal, eles precisavam de todos os funcionários para cuidar também dos campos e dos animais.

Lith não se importou nem um pouco, era apenas uma caminhada de trinta minutos que ele já tinha feito inúmeras vezes. Raaz e Elina, no entanto, sentiam que estavam abandonando seu filho em sua hora de necessidade.

Lith saiu correndo de casa, para escapar daquela enxurrada de preocupações. Ele estava muito calmo sobre o aprendizado, não era a sua primeira vez, afinal.

Mas eles conseguiram deixá-lo nervoso como um adolescente em seu primeiro encontro. Depois de terminar as tarefas na casa de Selia e receber seu pagamento habitual, Lith olhou inquieto para o céu.

“Droga, ainda é quase madrugada. E aqui estava eu, tremendo de medo. Ainda tenho muito tempo.”

Lith andou rapidamente em direção à vila, esperando que, quando chegasse, Nana já estivesse acordada. Chegar tão cedo para acordá-la teria sido bem estranho.

Quando chegou na metade do caminho, Lith notou algo estranho. Havia um cavaleiro parado na beira da estrada.

Já era incomum encontrar um estranho tão cedo pela manhã, mas o que realmente o alarmou foi que o homem não estava se movendo. Quem quer que fosse, ele estava claramente em patrulha.

Assim que o cavaleiro notou Lith, ele tirou um apito prateado de baixo da camisa, emitindo um ruído agudo.

Lith continua avançando, mas lentamente, pronto para reagir a qualquer momento.

Logo o batedor foi acompanhado por outros quatro cavaleiros, e outras sequências a trotar em direção a Lith em formação de ponta de flecha.

Lith parou de se mover, com muitos feitiços prontos à mão.

“Garoto, você é Lith? Filho de Raaz e Elina?” Disse o cavaleiro pontualmente. Ele era um homem de meia-idade, com cabelos e olhos castanhos. Ele tinha bigodes perfeitamente aparados, e tudo, desde sua postura ereta até seu tom de comando, o identificava como um militar de algum tipo.

Olhando com cuidado, todos os cavaleiros tinham a mesma vibração, marchando perfeitamente suavizados. No entanto, eles usam roupas casuais, como camisas brancas sobre calças de couro de caça.

“Não é um pouco cedo para sair sem a jaqueta de couro combinando?”, pensou Lith. “A menos que, é claro, eles precisem evitar mostrar qualquer insígnia de familia.”

“Quem é você, senhor? Minha mãe sempre me diz que eu não devo falar com estranhos.” Lith decidiu ganhar tempo, enquanto ele e Solus verificavam os arredores em busca de vigias ou possíveis reforços ainda escondidos.

“Percebo apenas cinco homens humanos, força física acima da média, núcleos de mana vermelho-escuro.” Solus relata. Era a mesma coisa que Lith havia determinado usando a Visão da vida, mas quatro olhos eram melhores do que dois.

“Eu faço as perguntas, garoto. Você é Lith, o garoto que deveria começar seu aprendizado hoje?”

Lith fez uma careta.

“Que surpresa, esse sujeito contratado sabe muito sobre mim.”

“Eu sou.” Lith retrucou ferozmente. “E não é da sua conta.”

“Estou aqui para lhe dar um conselho amigável, filho. Hoje você está se sentindo muito mal, e é melhor você voltar para casa e ficar na cama o dia todo.”

A raiva de Lith começou a crescer e ele não se importava em escondê-la.

“Estou me sentindo perfeitamente bem, obrigado. Agora com licença!”

Os cinco homens abaixaram as mãos para as armas enfiadas em seus cintos, as redes firmemente seguras, prontas para o ataque.

“Última chance, garoto. Volte agora. Eu sei que você tem uma casa tão bonita e uma mãe tão linda. Sem mencionar duas irmãs lindas prontas para serem pegas². Seria muito triste se algo ruim acontecesse com elas.”

Lith liberou uma aura de intenção assassina tão poderosa que os cavalos deram um passo para trás. Os pelos do pescoço dos cavaleiros se arrepiaram de repente.

“Eu queria ir devagar e com calma, mas mudei de ideia.”

Com um movimento de sua mão direita, cinco lâminas de vento atingiram as pernas dos cavalos, fazendo-os gemer de dor enquanto caíam de lado.

“Agora você não pode mais recuar.”

O homem de bigode e seu braço direito conseguiram desmontar com um rolamento, evitando serem esmagados pelo cavalo que caiu. Os outros três não eram tão habilidosos.

“Mate-o! Vai! Vai! Vai!”

“Ajoelhe-se!” A voz de Lith era fria, suas palavras caíram sobre os dois homens como pedras, fazendo-os cair de joelhos instantaneamente.

A magia espiritual de Lith era mais forte do que nunca, e ele não se conteve nem um pouco.

“Que diabos? Sargento, eu não consigo me levantar!” Gritou o homem da direita, lutando no chão.

“Eu nunca permiti que você falasse ou olhasse para mim. Eu disse para se ajoelhar!” Outra onda, ainda mais forte que a anterior, empurrou suas cabeças em direção ao chão.

Apesar de largarem as armas para absorver o impacto com as mãos, eles ainda atingiram o chão com tanta força que os fez sangrar.

“Muito melhor. Agora deixe-me jogar o lixo fora antes de continuar nossa conversa.” Lith caminhou até o cavaleiro mais próximo, ainda sob seu cavalo, a perna presa e quebrada, fazendo-o gritar e estremecendo de dor.

Com um aceno de mão, ambos viraram a cabeça 180°, e os pescoços estalaram como um tronco seco jogado no fogo.

“Fique longe! Fique longe de mim, monstro!” Gritou o próximo da fila, chorando em desespero.

“Eu sou um monstro? Não foi você quem estava pronto para queimar uma casa cheia de inocentes, e para estuprar uma criança de apenas oito anos?” Sem esperar pela sua resposta, Lith fechou o punho, distorcendo a cabeça do homem antes de fazê-la implorar como um condenado.

“Por favor, por favor! Não é minha culpa! Tenha misericórdia! Eu só estava seguindo ordens!” Disse um jovem loiro e bonito tentando soltar sua perna presa.

“Só seguindo ordens… Eu poderia dar um sermão sobre as muitas atrocidades que homens como você fizeram com tal desculpa. Mas veja, eu sou igual. Estou apenas seguindo ordens também! Minhas para ser mais preciso!” Um raio de fogo atingiu o cavalo e o cavaleiro, tocando-os em uma pira, gritando em agonia.

Lith retornou aos homens ajoelhados. Eles ainda estavam lutando para escapar do seu controle, seus rostos pálidos como fantasmas, rangendo os dentes enquanto exerciam cada grama de sua força.

“Sinto muito.” Lith disse com um sorriso angelical, enquanto eles deixavam de levantar a cabeça. “Mas meu feitiço de Mestre de Marionetes não é tão simples. É preciso mais do que um toque de força e uma colherada de pensamento positivo para escapar dele.”

Os dois homens desejavam implorar por misericórdia, mas suas bocas se recusavam a abrir. Era como se seus dentes estivessem fundidos um ao outro.

“Agora, tenho boas e mais notícias. A má notícia é que não preciso de vocês dois. E entre o líder da matilha e um lacaio, a escolha é óbvia. A boa notícia é que vou permitir que você fale. Alguma última palavra?”

“Por favor, não! Acabei de me casar, preciso do prêmio em dinheiro do meu Senhor! Minha esposa está esperando um filho! Eu não poderia permitir perder minha posição.”

Lith soltou uma risada cruel e sem alegria.

“Teremos que concordar em discordar. Você diz esposa, mas tudo o que consigo ouvir é viúva.”

Lith colocou a mão esquerda na cabeça do homem, girando-a em um bloco de gelo.

Ele caiu no chão, quebrando-se em inúmeros fragmentos de ossos, pele e massa encefálicos.

O homem de bigodes começou a vomitar incontrolavelmente, mas sua boca ainda estava bem fechada. Um pouco de vômito conseguiu escapar do seu nariz, o resto foi empurrado ara dentro, fazendo ele engolir repetidamente, para evitar engasgar.

Lith levantou a mão, fazendo o homem de bigode flutuar no ar de cabeça para baixo, para que ele pudesse olhá-lo diretamente nos olhos.

“E agora, você tem apenas duas escolhas. Você pode me dizer o que eu quero e morrer sem sofrer muito. Ou você pode continuar resistindo, sofrendo com dor e agonia inimagináveis antes de me dizer o que eu quero saber. Você tem livre arbítrio, afinal.”

Notas:

[1] se catar mermão, eu confundi os pronomes da pedra, tava me referindo no masculino, e o certo é no feminino.

[2] no caso, ele está dizendo que vai estuprar elas, bico nojento.