Os sete bandidos estavam sentados em um esconderijo precário, bebendo o álcool que haviam roubado de suas vítimas.
— O carregamento de hoje foi bem lucrativo, hein?
— Aham, se levarmos o que conseguimos pro vilarejo sei que todos vão ficar felizes também.
Esses homens estavam conversando como se fossem fazendeiros compartilhando uma bebida após terminarem de arar os campos, mas eles definitivamente eram bandidos.
O vinho, roubado de mercadores — agora mortos — que foram demasiadamente mesquinhos para contratarem a proteção de aventureiros ao longo do caminho era a prova definitiva disso.
O equipamento que estavam usando era velho; armaduras de couro com inúmeros remendos após terem sido rasgadas e as únicas armas em posse desses bandidos eram lanças rústicas, pequenas machadinhas, arcos e algumas flechas — ou seja, algo incrivelmente precário. Eles também não receberam nenhum tipo de treinamento formal. Olhando por esse lado, a experiência em combate exercida por esses homens vinha unicamente de batalhas reais e pequenas escaramuças. Por outro, eles não passavam de um grupo de pessoas que balançavam suas armas desajeitadamente, sem empregar nenhuma técnica especializada.
Na verdade, boa parte desses bandidos era da classe Fazendeiro, o que explicava não terem recebido treinamento para combate. E por que eles viraram saqueadores? Bem, principalmente por causa da pobreza.
Os jovens de um vilarejo que ficou pobre por inúmeros motivos deixaram suas casas para cometer crimes. Casos como esse não eram incomuns em Lambda.
— Pois bem, acho que alguém vai ter que ficar de vigia para podermos ir dormir.
A base dos bandidos consistia simplesmente de diversas tendas armadas em um prado com grama alta, situada em um espaço onde parte do mato foi cortado. Havia uma torre de vigia, mas nenhum deles parecia ter a intenção de usá-la.
Na verdade, comumente apenas cervos selvagens apareciam neste prado, então era um ambiente seguro desde que o fogo permanecesse aceso. O único motivo para ficarem de guarda era o ocasional ataque de um goblin vagueando pela região.
Mas até mesmo essas criaturas gritariam de maneira barulhenta ao se aproximarem, tornando desnecessário que eles vigiassem os arredores.
E é exatamente por isso que nenhum dos bandidos perceberia caso um inimigo estivesse se aproximando silenciosamente, ocultando habilmente o ruído de seus passos.
— Hic! Acho que bebi demai-AAH?!
O homem que estava encarregado de vigiar o acampamento, aparentemente bêbado, foi agarrado pela pata de Urso Esqueleto, que surgiu inesperadamente de uma das sebes, e desapareceu.
Ruídos abafados soaram de dentro das tendas, mas ninguém saiu. Ao invés disso, Homem Esqueleto, Macaco Esqueleto e Lobo Esqueleto, com Pássaro Esqueleto montado em sua garupa, surgiram da grama alta.
E atrás deles estava Vandalieu.
— Ainda restam seis deles. Acabem com isso depressa.
O ar foi preenchido pelo ruído de ossos rangendo.
Os bandidos nunca voltaram para seu vilarejo.
Para alguém como Vandalieu, encontrar o esconderijo de bandidos que cometeram crimes hediondos era algo simples, já que ele podia usar os espíritos de suas vítimas mortas como fontes de informação.
Os inocentes que foram atacados por esses bandidos e não tiveram apenas seus pertences roubados, mas também suas vidas. O pesar e o ódio que sentiam por seus agressores era feroz e fazer com que insetos encontrassem esses espíritos era uma tarefa simples.
Mesmo que estivessem em um lugar muito distante, Vandalieu podia usar a técnica [Comunicação Espiritual] para invocá-los de modo que pudesse ouvir o que eles tinham a dizer.
E então ele enviaria os mortos-vivos usando as informações fornecidas por esses espíritos, que normalmente encontrariam os esconderijos dentro de alguns dias.
Usando esse método, Vandalieu já havia encontrado quatro grupos de bandidos operando nos arredores do território de Baronete Bestero.
Depois de encontrá-los, ele continuou a reunir informações sobre quantos bandidos haviam e quão bem estavam armados. O grupo de camponeses bandidos que ele resolveu atacar hoje era o menor e mais mal equipado dentre os quatro.
— Muito bem, o treinamento foi um sucesso. Bom trabalho, pessoal.
A expressão de Vandalieu permaneceu apática ao notar que o grupo de bandidos tinha sido exterminado, mas ele parabenizou os mortos-vivos com muita satisfação.
É claro que os mortos-vivos, sendo feitos unicamente de ossos, eram incapazes de sorrir, mas o brilho azulado em seus globos oculares pareceu cintilar com alegria. O MVP [1] da vez foi Urso Esqueleto, que matou o homem designado como vigia com um abraço de urso e então enterrou outro bandido usando suas garras.
Homem Esqueleto apunhalou dois deles até a morte com sua adaga, enquanto que tanto Macaco Esqueleto quanto Lobo Esqueleto deram conta de um, sufocando e mordendo os desavisados até a morte.
— Er, vai ficar tudo bem. Logo você será capaz de voar!
Pássaro Esqueleto era o único que estava desanimado. Vandalieu precisou transformar a terra sob os pés de um dos bandidos em um golem, fazendo o chão ceder para prendê-lo pelo pescoço de modo que o morto-vivo pássaro pudesse derrotá-lo após inúmeras bicadas.
Ter apenas uma asa era um verdadeiro fardo, ainda que inevitável. Pássaro Esqueleto não conseguia voar.
Asas feitas inteiramente de ossos e cartilagem, desprovidas de penas, obviamente jamais seriam capazes de alçar voo.
— Se você continuar acumulando experiência e subir de grau novamente, definitivamente será capaz de voar. Acredite em si mesmo!
Sendo encorajado por Vandalieu, o pássaro esquelético bateu suas asas, que emitiram pequenos estalos, para expressar sua felicidade, como se estivesse dizendo que se esforçaria.
Dando uma olhadela feliz na direção de Pássaro Esqueleto, junto de um cafuné em seu crânio, Vandalieu examinou o tesouro que aqueles bandidos acumularam.
A primeira coisa que chamou sua atenção foi a carroça, onde ainda restavam três barris de vinho. Eram as sobras do que os bandidos estavam bebendo anteriormente.
O vilarejo de Evbejia se orgulhava do vinho local, então provavelmente era de uma qualidade razoavelmente boa.
— Eu me pergunto se há algo além disso…
E, no entanto, para alguém tão novo esse vinho era ainda menos valioso do que água. Ele não tinha como vendê-lo em troca de dinheiro e seus companheiros eram todos feitos de ossos, tornando a bebida algo completamente inútil. No melhor das hipóteses, ela poderia ser usada para cozinhar alguma coisa.
Na verdade, Vandalieu provavelmente conseguiria beber o vinho. Mesmo tendo um ano de idade, sua habilidade [Resistência a Efeitos Negativos] já estava no nível três, então ele não ficaria bêbado a menos que consumisse a bebida em grandes quantidades.
— Nada disso! Você não pode beber álcool tão jovem assim. O que vai acontecer se você virar um beberrão quando for mais velho?
Mas sua mãe certamente não permitiria isso, então ele decidiu não beber.
— Bem, eu posso muito bem levar um dos barris de volta pra casa, já que tem até uma carroça. Além disso…
Vandalieu procurou ao redor da carroça e dentro das tendas, mas concluiu que esses homens eram completos pobretões quando comparados a aventureiros e soldados comuns. Eles aparentemente roubaram bolsas de tecido dos mercadores, que usavam-nas para guardar moedas de cobre e prata, mas havia uma pilha inteira de bolsas cheias de sementes e aveia, que normalmente serviriam como alimento para animais domésticos e de fazenda na Terra. Ele também encontrou alguns peixes de água doce previamente curados. O resto eram itens usados no dia a dia dos bandidos.
O achado mais interessante foi, talvez, um vaso cheio com aproximadamente cinco quilos de sal.
Era um tesouro consideravelmente modesto, mas talvez fosse de se esperar. Esses sete homens não passavam um grupo de camponeses e fazendeiros.
Eles certamente não tinham a habilidade para alvejar caravanas com riquezas mais abundantes — mercadores que contratariam aventureiros como escoltas.
Mas, para Vandalieu, esta era uma colheita decente à sua própria maneira.
Esse já é um ótimo resultado. Estava ficando cansado de só comer carne e sangue, já que o sal que a mãe tinha acabou há bastante tempo. E estou feliz de ter conseguido encontrar alguns tecidos.
O estilo de vida de Vandalieu, até agora, foi sustentado através da caça de cervos na floresta, já que os suprimentos de emergência que Darcia tinha preparado, consistindo de trigo, queijo, vegetais e sal, foram esgotados relativamente rápido após sua morte. Afinal de contas, era o suficiente apenas para uma única pessoa, armazenado com o intuito de sustentar a viagem que ela estava planejando, então ela não guardou mais do que seria possível carregar.
E conforme Vandalieu crescia, a quantidade de comida que ele precisava para sobreviver também aumentou.
Seria problemático usar sangue como substituto para todas as suas necessidades nutricionais e também seria um problema caso ele se tornasse muito parecido com um vampiro, fraco à luz do sol. É por isso que Vandalieu também queria comer comida normal. Mas carne que era cozinhada depois de ter seu sangue extraído era bastante insípida e havia momentos em que ele só conseguia arranjar carne de guaxinins, raposas e derivados, cujo gosto não era nada saboroso. Embora fosse muito melhor do que os momentos em que ele só tinha carne de goblin para comer.
As roupas que ele estava usando não eram realmente apropriadas, considerando que eram simplesmente peles de animais envoltas ao redor de seu corpo.
Ele estava parecendo uma criança bárbara.
Usando as roupas sobressalentes dos bandidos, talvez eu consiga fazer algo apropriado para ser vestido. Também tem um pouco de dinheiro, mas… bem, será que vou ter a chance de usá-lo?
O Amid era a moeda usada no Império Amid e em suas nações. Um amid equivale a cerca de cem ienes na Terra [2]. Ela é subdividida em um meio amid de cobre, um amid de cobre, dez amids de cobre, cem amids de prata, mil amids de ouro e, por fim, dez mil amids de platina.
Além disso, aparentemente existia dinheiro em cédulas, usado apenas pelos comerciantes ricos e nobres, com valor entre cem mil e um milhão de amids. Para ser mais preciso, elas não eram exatamente cédulas, mas algo como títulos públicos escritos à mão.
Os bandidos juntaram cerca de mil amids, aproximadamente o dobro do salário de um trabalhador vivendo em uma região urbana.
Mas se Vandalieu entrasse em um vilarejo, guardas ou aventureiros tentariam matá-lo sem fazer perguntas, então era duvidoso se ele conseguiria usar esse dinheiro ou não.
Entretanto, pode ser possível convertê-lo na moeda de outro país após sair de Mirg, então ele decidiu guardá-lo.
Hm? O que está nesta bolsa?
Ele percebeu que havia outra bolsinha de couro embaixo das outras contendo dinheiro. Era leve e algo tilintava lá dentro ao ser movida.
Desamarrando o cordão e olhando para o interior da bolsa, Vandalieu viu duas pedras de cor transparente dentro. Parecia ser uma espécie de gema, mas não eram particularmente bonitas.
— Mãe, você sabe o que é isso?
— São o que chamamos de [Pedras Mágicas]. Você pode coletá-las de monstros e acredito que estas tenham vindo de goblins, dado o tamanho e a cor. Se me lembro bem, elas valem cerca de dez amids cada.
O mana armazenado no cadáver de monstros cristalizaria no momento de suas mortes, criando as Pedras Mágicas no processo. Eram comumente usadas como ingredientes em diversos itens mágicos e remédios espirituais, como poções. Também eram usadas como fontes de poder para que pessoas normais com pequenas quantidades de mana pudessem usar itens mágicos.
Quando usadas como fontes de poder de tal modo, elas se tornariam pedras normais após terem seu mana esgotado, sendo itens consumíveis. Mas através do refino alquímico, mana podia ser imbuído nessas pedras uma vez mais, permitindo que elas fossem usadas de novo e de novo.
Ninguém se daria ao trabalho de refinar as Pedras Mágicas de goblins, que normalmente eram usadas como objetos descartáveis, portanto seu valor era baixo.
— Por falar nisso, é comum que monstros de baixo grau sequer deixem cair Pedras Mágicas após morrerem. A probabilidade de um monstro de Grau 1 deixar uma delas é de cerca de uma em cem. Por outro lado, monstros de alto grau quase sempre deixam essas pedras ao morrerem. Monstros de Grau 5 e acima, por exemplo.
Darcia aparentemente pensou ser inútil dizer esse tipo de coisa para Vandalieu até agora já que ele estava apenas lutando contra alguns goblins esparsos de Grau 1.
Ademais, aparentemente existem alguns monstros de baixo grau que têm mais chance de deixar essas pedras ao morrerem, bem como monstros que deixam Pedras Mágicas de qualidade muito mais elevada do que seu grau original. Mas para Vandalieu, que estava focado em matar bandidos no momento, essa informação serviria apenas como futura referência.
Ele queria se registrar em uma Guilda dos Aventureiros e se tornar um deles assim que possível.
— Por fim, deixe-me dar uma olhada no status de Homem Esqueleto… oh, então você ganhou trinta níveis só de matar aqueles dois bandidos fracotes. Você também, Urso Esqueleto. E o resto de vocês também ganhou mais de dez níveis por terem matado um bandido cada!
Apenas por emboscar e matar um ou dois desses bandidos que falharam como fazendeiros e não conseguiam nem lutar direito, seus níveis aumentaram consideravelmente. A quantidade de experiência que eles adquiriram de goblins ou das criaturas na floresta não era nem mesmo comparável.
Se isso vale não só para mortos-vivos, mas também para outros tipos de monstros, então significa que humanos são uma ótima fonte de experiência para essas criaturas. Isso também explica o porquê de monstros serem tão agressivos contra humanos.
Muito bem. Eu vou exterminar todos os bandidos nesta região e aumentar o nível do pessoal.
Tendo visto esse aumento significativo no nível de seus mortos-vivos, Vandalieu não podia mais voltar a caçar monstros fracos.
Ainda restavam muitos grupos de criminosos nos arredores do território de Baronete Bestero. Um deles tinha o mesmo número de pessoas que o grupo que Vandalieu matou hoje, outro tinha mais de dez pessoas e o terceiro tinha cerca de vinte membros.
Os mortos-vivos certamente alcançariam o Grau 3 após exterminarem todos.
— Já que você foi capaz de nos matar, os caras ao sul vão ser mamão com açúcar de lidar.
— Os caras ao oeste daqui são de três vilas mais adiante. Eles têm um monte de pessoas, mas ainda assim deve ser fácil.
— Mas os caras ao norte são bandidos profissionais. Seu líder aparentemente já foi um guarda em alguma cidade e eu ouvi dizer que ele juntou um bando de subordinados fortes. Eles já extorquiram dinheiro da gente, também.
Enquanto aprendia algumas informações dos espíritos dos bandidos mortos, Vandalieu usou o Golem de Terra para enterrar seus corpos. Depois de carregar a carroça com seus espólios, ele partiu, deixando aquela trágica cena para trás.
Cerca de um mês se passou desde o primeiro aniversário de Vandalieu. Já era chegada a estação em que ele precisava usar sua magia para se livrar dos insetos toda noite e, principalmente, Vandalieu finalmente estava pronto para enfrentar o maior e mais poderoso grupo de bandidos no território de Baronete Bestero. Eles se moviam de maneira discreta, tomando cuidado para que nenhum viajante ou patrulhas na estrada principal os avistassem, enquanto treinavam em florestas ou em regiões com grama alta e espessa para polir suas habilidades.
— Nossos oponentes desta vez estão em um patamar completamente diferente dos bandidos que matamos até agora. Seu líder é um ex-soldado e seus subordinados foram devidamente treinados. Em outras palavras, não dá pra simplesmente erguermos nossas armas para assustar nossos inimigos, nós realmente teremos que lutar contra eles.
— Oooooooooh~
— Gurururuuuuu~
Chamas de pura determinação arderam nos globos oculares dos mortos-vivos reunidos envolta de Vandalieu. Por conta de toda a experiência que adquiriram ao matar aqueles bandidos, Homem Esqueleto teve seu grau aumentado e se transformou em um [Soldado Esqueleto], enquanto que Macaco Esqueleto, Urso Esqueleto e Lobo Esqueleto viraram [Bestas Esqueleto].
Ademais, eles adquiriram a habilidade [Força Sobre-humana] e, talvez por terem matado os bandidos majoritariamente através de emboscadas, também adquiriram a habilidade [Passos Silenciosos]. Ao ser usada, esta habilidade extingue completamente o ranger dos ossos dos mortos-vivos. Homem Esqueleto também ganhou as habilidades [Arte da Espada], [Arquearia] e [Proficiência com Escudo].
Elas ainda eram habilidades de nível 1, mas o resultado podia ser considerado bastante satisfatório tendo em vista que foram obtidas através de batalhas de treinamento contra golens ao longo do último mês.
— …
Pássaro Esqueleto, entretanto, ainda estava no Grau 2. Mas já tendo alcançado o nível 90, ele também subiria de grau caso o plano de hoje desse certo.
— É por isso que hoje precisaremos ser ainda mais cautelosos. Ainda temos muitos ossos sobressalentes pra vocês, mas tomem cuidado para que seus crânios não sejam danificados ou destruídos. Além disso, se encontrarem humanos que não parecem ser bandidos, como por exemplo humanos que estão amarrados por cordas ou humanos que estão presos em gaiolas, não matem nenhum deles. Por fim, iremos dar início ao nosso plano assim que eu usar os feitiços de suporte.
Falando em seu tom habitualmente indiferente e com a face inexpressiva, Vandalieu não demonstrou nenhum pouco de seu nervosismo enquanto lançava os feitiços.
— Primeiramente, vou usar [Aperfeiçoamento: Carnificina] em suas armas, presas e garras. E em seguida [Absorção de Energia] em suas armaduras e ossos.
[Aperfeiçoamento: Carnificina] é um feitiço que amplifica o poder de ataque de qualquer coisa na qual é imbuído; mesmo escudos e armaduras podiam causar dano ao inimigo caso entrassem em contato com ele.
[Absorção de Energia] é um feitiço defensivo capaz de absorver magia, calor, eletricidade e mesmo energia motriz, sendo efetivo tanto contra ataques mágicos quanto físicos em Lambda.
Ambos os feitiços tinham efeitos poderosos, mas já que não eram tão complicados assim de serem usados com o Atributo da Morte, masterizá-los foi uma tarefa fácil para Vandalieu.
— Ooooh…
O primeiro a entrar em ação dentre os mortos-vivos envoltos de magia azul escura foi Homem Esqueleto. Ele se dirigiu até a torre de vigia na base dos bandidos — um pequeno amontoado de cabanas simples rodeadas por uma cerca de madeira — carregando uma flecha no arco tomado de Orbie e seus companheiros para então puxar a corda.
Os bandidos na torre de vigia estavam armados de arco e flechas, com aljavas nas suas costas e aparentavam estar completamente desmotivados.
— Cara, nós somos realmente azarados. Ficar com o dever de vigia no dia anterior ao que supostamente deveríamos ir embora…
Os bandidos estavam planejando pegar tudo o que tinham obtido até agora e se mudar para uma nova região. O plano era coletar o dinheiro de resgate dos reféns ao longo do caminho e então ir até um novo território ou uma nova nação, recomeçando seus “trabalhos” como bandidos novamente.
Outros grupos de bandidos começaram a desaparecer nos últimos tempos e eles ouviram certos rumores de que um Lorde se cansou da deterioração da ordem pública nas estradas, formando um grupo de subjugação. Fosse esse o caso, então realmente era hora de partir.
Eles decidiram se livrar das coisas que atrapalhariam durante a viagem e estavam no meio de uma festa para consumir todo o excesso de comida e licor de uma só vez.
Esses bandidos eram os azarados que não puderam comparecer à festa e que estavam distraídos demais com seu próprio infortúnio para perceber qualquer coisa relevante.
— Gahhhh!?
A flecha de Homem Esqueleto varou a noite, fincando-se contra a garganta de um deles. Soltando um curto grito, o homem perdeu o equilíbrio e caiu da torre.
Vendo que um dos guardas tombou com uma flecha em seu pescoço, os bandidos que estavam bêbados desfrutando das festividades foram despertados de seu estupor.
— A-ataque inimigo!
— Acordem, seus bastardos! Peguem suas armas!
Ao que os bandidos tentaram pegar seus machados, maças e lanças.
— Guwoooon!
— Uooooooooooh, uooooooooh!
Destruindo a cerca de madeira e espalhando lascas por todo o lugar, Macaco Esqueleto e Urso Esqueleto investiram contra os bandidos.
— São os mortos-vivos! Monstros! Estamos sendo atacados por monstros!
— Acalmem-se, idiotas! Aqueles que sabem usar machados e maças, à frente! Aqueles que usam espadas e lanças, atrás! Arqueiros também!
O líder dos bandidos calmamente deu ordens precisas aos seus subordinados, empunhando uma alabarda com as próprias mãos.
Este homem tinha experiência em lutar contra esqueletos e mortos-vivos da época em que ainda era um soldado. Ele sabia que seus subordinados conseguiriam lidar com as criaturas de maneira efetiva caso usassem armas contundentes, como porretes ou machados, ao invés de armas com lâminas afiadas, como espadas ou lanças, ainda que não fossem particularmente habilidosos em combate.
— Um punhado de monstros de Rank 1 ou 2 não são páreos para vinte de nós! Peguem eles!
A moral dos bandidos, que tinha enfraquecido graças ao ataque surpresa e a morte de um de seus companheiros, foi impulsionada pelas instruções de seu líder. Eles correram contra os rudes mortos-vivos que arruinaram as festividades.
— Guooooo!
— Ghyaa?!
Um bandido que ergueu seu machado saiu voando quando Urso Esqueleto ficou de pé em suas patas traseiras, desferindo um ataque com suas patas dianteiras.
Seguido do som de algo sendo triturado, Macaco Esqueleto esmagou a cabeça de um bandido como se fosse um ovo.
As presas de Lobo Esqueleto perfuraram as pernas dos bandidos que, ao tombarem, tiveram suas gargantas destroçadas.
— Ooooh… Oaoooooh~
Homem Esqueleto guardou seu arco e desembainhou a espada longa que ele havia tomado de um dos outros bandidos que eles derrotaram, com a intenção de abrir um caminho através das fileiras inimigas.
— Hiii?! Gyaaah!
Homem Esqueleto contra os bandidos. Ambos os lados nunca receberam treinamento formal na arte da espada e não demorou muito para que o esqueleto emergisse vitorioso.
Suas habilidades de combate eram basicamente parecidas e a espada longa que Homem Esqueleto estava usando era uma espada de ferro rústica. Na verdade, as armas dos inimigos eram de muito melhor qualidade.
Entretanto, a força de um Soldado Esqueleto de Grau 3 estava muito acima de um humano comum, especialmente graças à habilidade [Força Sobre-humana] e, portanto, Homem Esqueleto era muito mais poderoso do que os bandidos.
Já que humanos careciam de força física e habilidades especiais, eles aperfeiçoavam suas habilidades e aprendiam artes marciais e magia para lutar contra monstros. Um humano lutando contra um monstro quando ambos os lados possuem a mesma capacidade não tinha chance alguma de ganhar.
— Ooooh…
Banhado pelo sangue de seus inimigos, Homem Esqueleto estremeceu com a sensação de obter pontos de experiência ao extinguir uma vida e, desejando obter ainda mais, pulou na direção de sua próxima presa.
— Chefe! Esses monstros não são de Grau 2!
— Não conseguimos segurá-los! Ajude-nos, chefe!
Ouvindo os gritos patéticos de seus subordinados enquanto seus números diminuíam, o líder dos bandidos estalou a língua.
Tolos inúteis! Já que é assim, vou ter que fugir sozinho.
O líder dos bandidos escolheu fugir sem hesitação. Ele não pensou em lutar contra os mortos-vivos junto de seus homens por nem mesmo um único segundo.
Pra começo de conversa, ele nem era habilidoso o bastante para lutar contra um monstro de Grau 3 ou superior.
Em dado momento de sua vida, este homem certamente já foi um soldado, até mesmo tendo a habilidade [Proficiência em Alabarda] que lhe permitia usar a arma com certa maestria. Contudo, no fim das contas, ele era apenas um ex-guarda de segurança. De acordo com a Guilda dos Aventureiros, sua capacidade de combate era meramente de classe E.
É dito que para lutar de igual para igual contra um monstro de Grau 3, você precisa ser ao menos um aventureiro de classe D.
Se ele fizesse um bom uso de seus subordinados, talvez fosse possível derrotar um dos mortos-vivos. Mas havia quatro. Ou melhor, cinco.
— …
O líder dos bandidos notou Pássaro Esqueleto, que estava dando o golpe final nos bandidos que tombaram inconscientes usando seu bico, mas considerou aquela criatura como uma exceção.
Ainda que ele conseguisse derrotar um deles, seria basicamente inútil já que os mortos-vivos remanescentes cuidariam do resto. Não fazia sentido retaliar sem a esperança de vencer.
— Todos vocês, não recuem! Em frente!
Dando esta ordem irracional aos seus homens, o líder dos bandidos começou a recuar cautelosamente para não ser percebido. Ele pretendia simplesmente pular na carruagem roubada dos mercadores e fugir. Se ele conseguisse, seria simples formar outro grupo de bandidos.
— Erga-se.
Suas esperanças de escapar foram destruídas quando uma parede de madeira surgiu do chão atrás dele.
— Q-que? Um alquimista?!
Ele escutou uma voz aguda, tal qual a de uma garotinha, através dos gritos desesperados de seus homens e dos berros atados de ressentimento dos mortos-vivos. Ele percebeu que isso foi feito pelo dono da voz e olhou em volta para procurá-lo.
E o encontrou quase que de imediato.
Uma pequena criança estava parada a alguns metros de distância, vestida em trapos. Era aparente que se tratava de um bebê.
— Está me dizendo que quem fez tudo isso é uma criança?!
O líder dos bandidos arregalou os olhos, mas não havia como negar a estranheza do garoto.
O cabelo branco e os olhos de cores diferentes — carmesim e roxo-azulado. E mesmo neste campo de batalha ensanguentado, sua presença era tênue como a de um fantasma. Se a criança não tivesse dito nada, ela teria conseguido facilmente se aproximar do líder dos bandidos sem que ele percebesse.
— V-você está controlando esses mortos-vivos? S-sendo assim, eu desisto. Eu me rendo. Vou deixar você ficar com todo o tesouro, então vá em frente e me entregue para a Guilda dos Aventureiros ou qualquer coisa assim.
Largando sua alabarda, o líder dos bandidos ergueu as mãos e desistiu.
Se ele não pudesse vencer, ele correria. Se ele não pudesse correr, ele viveria ao se render. Teimosia e orgulho não te daria um único amid como recompensa.
— Desistir?
— Sim, isso mesmo.
Abrindo um sorriso forçado, o líder respondeu para Vandalieu, que falou em um tom monótono.
— Há uma recompensa pela minha cabeça. E eu também tenho informações sobre os outros grupos de bandido nesta região. E metade do dinheiro adquirido ao vender escravos criminosos vai para o seu bolso. Não consegue ver? Será muito mais vantajoso se você nos capturar vivos!
As coisas que o homem disse eram inteiramente verdadeiras. Este era um homem que estava disposto a vender seus próprios companheiros em troca de sua vida.
Além do mais, dependendo da severidade de seus crimes, os bandidos que eram capturados vivos seriam vendidos como escravos criminosos. A grande maioria seria explorada em trabalho forçado nas minas ou no exército. Metade do lucro adquirido por eles não era algo a ser subestimado e, dependendo do número de escravos capturados com vida, o lucro seria ainda maior do que o valor de todo o tesouro coletado pelos bandidos.
— Você é um idiota, eu assumo?
Mas, em resposta, o bebê proferiu um insulto ao perguntar sobre suas capacidades mentais.
— O-o que você disse?!
— Como pode ver, eu sou um dampiro. Se eu te levasse até a Guilda dos Aventureiros para entregá-lo às autoridades, eles simplesmente me matariam. Eu estaria morto antes mesmo que você pudesse ser vendido como escravo.
No Império Amid e em suas nações, onde o povo era temente ao Deus da Lei e do Destino, Alda, dampiros são tratados como monstros ao invés de pessoas. Ainda que ele entrasse na cidade com a intenção de entregar os bandidos, os guardas ou aventureiros priorizariam lidar com o dampiro ao invés dos criminosos.
O líder dos bandidos não era um aventureiro e estava alheio ao pânico generalizado causado pelo dampiro algum tempo atrás, então ele demorou a perceber que estava conversando com um deles.
— E-então me deixe ser um de seus subordinados! Eu vou ser muito útil. Seus mortos-vivos são bem fortes, mas você precisa de um subordinado humano também, certo?!
Naquele momento, a impressão de Vandalieu sobre aquele bandido aumentou um pouco, percebendo que o homem era mais esperto do que aparentava ser.
Na realidade, Vandalieu estava pensando exatamente a mesma coisa já há algum tempo. Os mortos-vivos que seguiam obedientemente seus comandos. Os espíritos de Darcia e dos outros. Apenas a presença deles não podia resolver as pequenas inconveniências do dia a dia.
Entretanto, usar o homem na frente dele para resolvê-las era algo impensável.
— Ainda que eu verdadeiramente precise de um companheiro vivo, um bandido que sacrificaria até mesmo seus homens para fugir não me é útil. Mas eu posso usá-lo como um subordinado depois que você morrer.
Apontando para o líder que outrora expressou certa esperança, mas que agora estava mergulhado em desespero, Vandalieu pediu a Urso Esqueleto e os outros.
— Matem-no.
— P-por favor, espera! E-eu não quero morrer!
— Hm? As pessoas que você matou também não queriam, certo?
Este homem estava inconsciente de muitas coisas. No momento em que esse pensamento passou pela cabeça de Vandalieu e ele se virou para falar com o líder novamente, Urso Esqueleto já tinha quebrado seu pescoço.
— Gu, guru?
“Merda, eu matei ele cedo demais?”, o morto-vivo pareceu perguntar, mas Vandalieu acenou com a mão como se dissesse “está tudo bem, está tudo bem” e suspirou profundamente.
Isso foi bastante estressante. Foi a primeira vez que conversei com alguém que não fosse minha mãe, então eu fiquei bastante nervoso.
Ele sofria de ansiedade para conversar com estranhos nos três mundos: Terra, Origem e Lambda. Vandalieu preferia ter evitado esse tipo de conversa cara a cara neste lugar ensanguentado.
O cheiro de sangue é tão forte que está me deixando com fome. Mas eu não quero ficar ainda mais parecido com um vampiro por beber o sangue dos bandidos, então vou ter que resistir. Resistir… por enquanto, vou checar se há algum sobrevivente. [Detectar Vida].
Para se distrair da fome causada pelo cheiro de sangue, ele usou um feitiço do atributo da morte para detectar todo tipo de vida nas redondezas.
Ignorando as reações vindas de insetos, ervas daninhas, germes e fungos, ele procurou por reações vindas de animais, humanos contendo magia ou monstros grandes.
Havia… três animais grandes atrás da maior cabana, provavelmente cavalos. O feitiço também reagiu a uma presença no porão da cabana. Pela reação, parecia ser um humano.
Ele ouviu dos espíritos que o número de bandidos era exatamente dezenove. O número de cadáveres no chão também era dezenove.
— Há alguém no porão da cabana. É um cara novo?
— N-não, ele não é meu subordinado. É um mascate que eu capturei alguns dias atrás. Cof. Eu o deixei vivo porque aparentemente ele tem um negócio familiar ou algo assim em uma cidade nos domínios do Visconde Maggio e talvez pagariam o resgate. M-meu pescoço…
Graças ao choque e ao medo que ele sentiu no momento de sua morte, o pescoço do líder dos bandidos estava torcido. Vandalieu meneou as sobrancelhas enquanto processava a informação que havia recebido.
A situação ficou um pouco mais complicada.
Nome: Homem Esqueleto
Grau: 3
Raça: Soldado Esqueleto
Nível: 39
Habilidades Passivas
- Visão Noturna
- Força Sobre-humana: Nível 1 [NOVO!]
Habilidades Ativas
- Arte da Espada: Nível 1 [NOVO!]
- Proficiência em Escudo: Nível 1 [NOVO!]
- Arquearia: Nível 1 [NOVO!]
- Passos Silenciosos: Nível 1 [NOVO!]
Nome: Macaco Esqueleto / Lobo Esqueleto / Urso Esqueleto / Pássaro Esqueleto
Grau: 3
Raça: Besta Esqueleto
Nível: 24 ~ 32
Habilidades Passivas
- Visão Noturna
- Força Sobre-humana: Nível 1 [NOVO!]
Habilidades Ativas
- Passos Silenciosos: Nível 1 [NOVO!]
[1] MVP é um termo inglês comumente usado em jogos ou competições, significado “Most Valuable Player”, ou “Jogador mais Valioso”. É dado ao jogador que teve o melhor desempenho em uma partida ou que fez as coisas mais memoráveis e impressionantes.
[2] Na cotação atual, exatamente R$5,00.