O silêncio desceu sobre o salão.
Hector e Asilla se entreolharam. A tensão era grande, mas foi Asilla quem desviou o olhar primeiro.
Ela mesma admitiu isso um pouco. Pois sabia o quão egoísta e ridícula estava sendo naquele momento.
Mas mesmo que soubesse… Não deveria ser?
Era uma solução realista e viável. Claro que era boa. No entanto, era muito cruel tratar e julgar as coisas de forma tão lógica. Especialmente quando havia tantas vidas em jogo.
Não seria melhor arriscar e tentar salvar a vida da maioria, mesmo quando a probabilidade era baixa, do que salvar certamente a vida de alguns poucos?
No mínimo, para Asilla, mesmo que perdesse a aposta, ela poderia morrer com um sorriso.
Mas Hector era diferente. Por isso não conseguiam se entender.
Nem uma única vez em milhares de anos.
— Acho que não conseguiríamos sair facilmente com a pedra de dobra.
As palavras de Peran a trouxeram de volta aos seus sentidos.
— O inimigo é um Mago de nove estrelas. Não há como ele não notar uma magia de dobra em grande escala. Ele também tem poder suficiente para pará-la.
— Bem, suponho que sim.
Era um absurdo…
Asilla ficou com uma expressão vazia por um momento, então se virou para encarar Hector.
— Você já sabia disso.
— Eu não sabia.
— Você sabia disso e estava apenas brincando comigo.
Desde o início, mencionar a pedra de dobra tinha sido um truque. Hector fingiu desviar o olhar, mas Asilla já estava borbulhando de raiva.
Este era o ponto.
Era exatamente por isso que Asilla odiava Hector.
— Eu não acho que a Senhorita Iris foi derrotada tão facilmente.
Mais uma vez, foi Peran quem a despertou de seus pensamentos.
— E mesmo que fosse, teria sido impossível para Diablo fazer isso sozinho.
— Ei, o que você está tentando dizer?
— Senhorita Asilla, você consegue observar a posição atual de Diablo?
A maioria das barreiras havia sido quebrada, mas a função de observação não deveria ter sido danificada.
Peran perguntou isso com essa expectativa, e sua previsão não estava errada.
— Embora seja possível… Não acho que ver isso mudaria alguma coisa.
— Pode mudar muitas coisas.
— Certo…
Ao dizer isso, os olhos de Asilla se arregalaram.
Ela piscou. Por um momento, seus olhos brilharam com uma cor âmbar.
Jing—
A luz que emanava de seus olhos tomou uma forma.
Ao ver esta forma, Peran fez uma expressão de surpresa. Isso não era magia. Então era um tipo de divinação? Apenas parecia diferente de tudo.
Parecia uma habilidade impossível para uma pessoa normal, era algo que só poderia ser anexado a uma forma de vida artificial mágica.
— Senhorita Asilla, por acaso você…
— Não fale mais nada.
Asilla falou com um sorriso melancólico.
Peran não falou mais e se concentrou na imagem que apareceu à sua frente.
A luz mudou de forma e logo se tornou uma visão aérea de um determinado lugar.
Uma cidade arruinada. Yuterdam.
Mortos-vivos podiam ser vistos devastando cidadãos que não tinham como resistir. Era uma cena de horrenda matança. Os cidadãos tentavam implorar pela misericórdia dos mortos-vivos sem ego. Mas não era diferente de tentar falar com um desastre natural.
— …
Peran mordeu o lábio e revelou uma expressão de dor ao testemunhar os horrores, mas logo parou.
Agora não era o momento de se deixar levar pela sua raiva.
Ele tinha que encontrar.
Os olhos de Peran moveram-se ocupados.
“Diablo sozinho não é suficiente…”
Algo que levou Snow à beira da morte e até colocou a vida de Iris em perigo.
Diablo sozinho não era suficiente. Havia definitivamente ‘algo’ a mais.
“Cadê?”
Onde ele esconderia tal ser, ou tal recurso?
Diablo havia perdido a maior parte de sua legião de elite na batalha contra Snow. Os mortos-vivos que estavam atacando no momento eram todos mortos-vivos de baixo nível que não eram diferentes de animais mortos sem ego.
Para ele, Yuterdam não era diferente de uma fortaleza inimiga. Não havia como avançar para o centro da cidade usando somente mortos-vivos de baixo nível.
Não importava o quão confiante estivesse em sua capacidade de esmagar a cidade, ele era Diablo.
Contanto que tivesse a meticulosidade que todos mencionaram, teria pelo menos duas ou três medidas de segurança instaladas.
Um meio definitivo de se proteger…
Claro, não havia garantia de que o ‘algo’ foi o que colocou Snow em um estado de quase morte, mas poderia lhe dar uma dica.
Depois de um momento, os olhos de Peran se voltaram para um determinado lugar.
Entre os mortos-vivos de baixo nível naquele lugar havia um único morto-vivo de alto nível.
Um cavaleiro de armadura negra, um Cavaleiro da Morte.
E…
Em sua mão havia uma espada familiar.
No momento em que viu aquela espada familiar, seu corpo tremeu como se uma corrente elétrica tivesse percorrido todo o seu corpo.
— Senhor Hector…
— Você notou alguma coisa, Peran?
— Talvez. Mas antes disso, gostaria de lhe perguntar uma coisa.
— Vá em frente.
— Entre os Espadachins de nossa era, há alguém que possa competir com a Senhorita Snow?
Embora ele parecesse não ter nenhuma ligação com o mundo, uma impressão que muitos acreditavam, Peran sabia a verdade.
A rede de informações de Hector se estendia por todo o continente.
Não era apenas sua loja que tinha filiais em todos os países.
— Não sei… Se fosse cinco anos atrás, eu poderia ter dito aquele garoto Jekid.
O homem em questão já havia perdido para Snow em um duelo justo. Com uma lacuna bastante grande também.
O título ‘Mestra da Espada’ era de Snow desde aquele dia, e as pessoas respeitosamente se referiam a ela como a ‘Branca Suprema’.
— Além dele, não consigo pensar em mais ninguém.
— Então, que tal no passado?
— Hã?
— Há algum grande homem ou herói registrado na história?
— Peran, o que diabos você está pensando?
— Algo louco.
O olhar de Peran ainda estava fixo no Rei da Morte e na espada que ele segurava.
— Por favor, me dê um tempo… Quinze minutos, não, dez minutos é o suficiente…
— Você tem um plano?
Peran assentiu.