Comer ela.
Naquele momento, a cena da predação de Pale na Montanha das Flores veio a sua mente.
— Não posso.
Não havia necessidade de pensar muito profundamente sobre isso.
Lukas recusou quase reflexivamente.
— Por que não?
— Porque eu não quero ficar forte assim.
— Não entendo.
Pale murmurou em um tom incompreensível. Parecia frustrada.
— Esta mulher é a melhor presa para você. Esta é uma ótima oportunidade para comer sem nenhuma repercussão!
Kuk, kuk.
Enquanto falava, cutucou a mulher com o dedo.
— Ninguém iria culpá-lo por isso.
— Esse não é o motivo.
— Então qual é?
— …
Por um momento, Lukas não sabia o que dizer. Havia muitas palavras na ponta da língua, mas não conseguia expressá-las facilmente.
Como mencionado antes, Lukas ainda tinha algumas coisas que o tornavam humano. No entanto, o fato dele ter repulsa pelo canibalismo era, de fato, uma clara contradição.
De repente, ele pensou na técnica de espada de Yang In-hyun…
Espada Ameixa Eterna, Primeiro Movimento, Aniquilação Marcial.
Por alguma razão, ele não conseguia tirar da cabeça essa técnica de espada, que o havia derrotado perfeitamente.
Aquela lâmina era capaz de cortar todos os conceitos. Mesmo a capacidade do poder absoluto de controlar o espaço era ineficaz. Talvez até tivesse a capacidade de cortar o domínio da morte e os grilhões do abismo.
Ele não sabia como derrotá-lo, e esse fato parecia estranho para ele.
Embora o oponente fosse um dos Doze Lordes do Vazio, sua essência fundamental era claramente humana. Por outro lado, os oponentes que Lukas estava acostumado a enfrentar eram aqueles que nasceram como Absolutos.
E, no entanto, a pessoa que ele agora teria que arriscar tudo para enfrentar era um humano.
Esse fato fez Lukas se sentir estranho.
“É esse o motivo?”
Ele não se sentia desesperado, porque seu oponente era outro humano?
Ainda poderia se dar ao luxo de ser exigente quanto aos meios?
Não podia…
Tinha visto o que o futuro reservava se não se tornasse um dos Doze Lordes do Vazio.
— Apenas…
Lukas começou.
— Não posso fazer, porque simplesmente não gosto.
Ele sentiu o olhar de Pale sobre ele.
Lukas levantou a cabeça e olhou para ela.
Por um momento, seus olhares se encontraram.
— Você precisa de um motivo melhor do que esse?
Pale riu.
— Não há necessidade.
Hihihi. Ela soltou uma risada baixa e alegre.
— Porque o que você não gosta é o que você não gosta.
Parecia que ela havia gostado da resposta de Lukas.
Por outro lado, apesar de tomar uma decisão, a ansiedade de Lukas aumentou.
Se o canibalismo era o princípio mais eficiente e básico para se tornar forte neste mundo, como ele deveria ficar mais forte?
Talvez naquele momento ele estivesse olhando para a única pessoa que poderia responder a tal pergunta, Pale.
— Existe alguma outra maneira?
— Hmmm.
Pale pareceu pensar nisso seriamente por um momento. Ela cruzou as mãos e começou a cantarolar. Quase parecia que ele podia ouvir o som do cérebro dela funcionando de onde estava.
Depois de um tempo, ela balançou o dedo indicador como se estivesse desenhando algo e disse.
— Há. Mas no seu nível atual, seria muito perigoso.
Lukas respondeu ao seu tom levemente condescendente.
— Isso não importa.
Ele não pretendia ficar mais forte enquanto garantia sua segurança pessoal.
Em primeiro lugar, sabia que era impossível ficar muito mais forte facilmente em um curto espaço de tempo. O crescimento radical sempre vinha com grande risco.
Pale olhou para Lukas com uma expressão sutil e assentiu.
— Não importa, né…? Bem, você pode mudar de ideia se ver por si mesmo, mas eu vou te levar lá.
— Levar-me lá? Como?
Será que Pale também conseguia ver a ‘estrada’.
— Não é isso, é porque é um lugar especial.
Pale respondeu com um sorriso.
Lukas sabia o significado daquele sorriso, “não importa o que o tio pergunte, não vou falar mais nada”.
Parecia que Lukas agora conseguia entender o significado dos sorrisos de Pale.
— Primeiro, você não vai conseguir carregar essa mulher até lá…
As palavras de Pale se perderam um pouco e os cantos de seus olhos se iluminaram.
— Na verdade. Pensei em uma boa maneira de lidar com ela. Já que você não quer comê-la, eu vou apenas…
— Não.
— Tsc.
Pale franziu os lábios com a resposta afiada.
Depois de uma breve pausa, Lukas avançou novamente.
Uma viagem de ida e volta não significava que a viagem levaria a mesma quantidade de tempo.
Estranhamente, estava demorando muito mais para voltar do que para sair. Isso ocorria devido ao movimento constante do espaço. Se ele pudesse entender melhor esses movimentos espaciais, talvez fosse possível encontrar um atalho em vez de apenas ‘seguir a estrada’.
Ou se ele desse alguns passos na direção certa e parasse, poderia ir para qualquer lugar que quisesse, como um náufrago sendo levado pelas ondas.
Mas isso estava muito longe por agora…
Enquanto calculava as coordenadas, Lukas não pôde deixar de pensar na Montanha das Flores.
Não por causa de Yang In-hyun, ou sua técnica de espada.
Mas Lee Jong-hak, o homem que ainda estava na prisão.
“Aquele era o Lee Jong-hak que eu conheço?”
Agora que tinha algum tempo livre, esse pensamento finalmente apareceu em sua mente.
Ele certamente agiu como se o conhecesse, mas ainda permanecia o fato de que a pessoa que ele conhecia ‘podia ser uma pessoa completamente diferente’.
Em outras palavras, o Lee Jong-hak, na prisão subterrânea poderia ter sido ‘outra possibilidade’ que existia nos incontáveis mundos paralelos.
Era possível que Lee Jong-hak também conhecesse outro Lukas lá e pudesse ter construído um relacionamento e memórias semelhantes ao que ele conhecia.
No entanto, tudo não passava de sua conjectura. E era algo que ele não conseguiria achar a conclusão naquele momento.
A melhor maneira seria comparar e contrastar suas memórias com as de Lee Jong-hak, mas, infelizmente, isso era impossível por enquanto, já que estava preso na Montanha das Flores.
Algum dia, se tivesse a chance, teria uma conversa profunda com Lee Jong-hak.
Ao ter esse pensamento, de repente sentiu um movimento em suas costas.
— Ugh…
Um gemido baixo soou em seu ouvido.
Claro, não era Pale.
A mulher que Lukas carregava nas costas, a mulher que encontraram deitada no deserto, finalmente acordou.
— Você está acordada?
— Uau! Ela finalmente acordou!
— On…de…
Uma voz falha soou. Uma voz tão frágil que era quase como se fosse quebrar a qualquer momento.
Parecia que engolir a carne seca não havia restaurado sua condição perfeitamente.
Lukas parou de andar e olhou por cima do ombro.
A mulher tinha uma expressão enjoada.
— Me coloque no chão…
Ele fez o que ela pediu.
Cambaleando, a mulher se esforçou para ficar de pé na areia. Ela exalava uma sensação muito instável, como se fosse desmaiar a qualquer momento.
Depois de respirar um pouco, a mulher olhou para Lukas e Pale com um olhar levemente solene.
— Vocês não parecem discípulos da Montanha das Flores… Quem são vocês?
Sua voz rígida não conseguia esconder seu tom de suspeita.
Para dizer o mínimo, era prudente, para dizer severamente, era ingrata. Em particular, o lábio inferior de Pale, que havia sacrificado um pedaço de carne seca, se projetava visivelmente.
— Que rude. Nós salvamos você.
— …
— Nós deveríamos apenas comê-la.
— Pare com isso.
Lukas parou Pale antes de se virar para a mulher mais uma vez.
— Você estava inconsciente no meio do deserto. Coberta de sangue. Consegui salvá-la com a carne seca que Pale, aqui, me deu.
A expressão da mulher ficou um pouco mais relaxada e ela abaixou a cabeça para eles.
— Devo-lhes a minha vida. Por favor, desculpem minha grosseria.
— Você entendeu rapidinho! Humpf humpf!
Pale bufou e resmungou alto.
— Mas, por que me salvaram?
O traço sutil de vigilância não desapareceu dos olhos da mulher.
Por alguma razão, Lukas sentiu como se estivesse olhando para si mesmo.
Independentemente deles a salvarem ou não, seria difícil ela confiar em pessoas cujas intenções não tinha certeza. Se seus papéis tivessem sido invertidos, Lukas teria agido da mesma forma.
— Você parece alguém da cidade subterrânea.
— Sim.
— Conheço o Lorde daquele lugar, Michael.
— …
— Se você não acredita em mim, está livre para continuar por conta própria.
Como os miglings, ela deveria saber o caminho de volta ao território.
A mulher pareceu se sentir um pouco confusa com as palavras de Lukas, mas no final, talvez por ter se decidido, falou educadamente.
— Não estou em uma condição muito boa agora. Sinto muito, mas posso ficar te devendo um pouco mais?
— Não temos intenção de entrar na cidade.
Ele podia esbarrar em um Schweiser que recobrou a consciência.
Sem revelar seus motivos, Lukas continuou.
— Podemos levá-la nas proximidades.
— Obrigada…
Depois que ela assentiu, Lukas se virou e começou a se afastar.
Apesar de seus passos cambaleantes, a mulher seguiu sem dizer uma palavra.
Ela parecia ser uma figura orgulhosa, então provavelmente seria melhor não se oferecer para carregá-la novamente.
Foi só naquele momento que ele percebeu algo que deveria ter perguntado antes.
— Qual o seu nome?
— Meu nome é Lesha… E você?
— Sou Pale.
A mulher, Lesha, parecia ignorar Pale e estava apenas olhando para Lukas.
Lukas, que estava tendo uma sensação estranha por causa do olhar dela, revelou seu nome.
— Lukas…
Quando a cor do céu mudou pela terceira vez, o grupo de Lukas parou de repente.
— Está ouvindo esse barulho?
Ele assentiu.
Havia uma atmosfera turbulenta que não combinava com o tranquilo deserto cinzento.
Clang, clang—
Havia também os sons fracos de metal se chocando. Seguido por uma forte explosão e o que parecia ser um grito…
Gradualmente, uma sensação de tempestade desceu sobre o deserto sem vento.
O som de uma luta em grupo.
— Impossível…
Lesha correu para frente com uma expressão rígida. Então começou a escalar a pequena duna de areia na frente deles. Ao subir lá, ela seria capaz de ver a origem da comoção.
Lukas e Pale a seguiram.
Lesha, que havia subido primeiro, conseguiu chegar ao topo da duna rapidamente.
E seu palpite não estava errado.
Havia dois grupos lutando no vasto deserto abaixo.
De um lado estavam… Os Espadachins da Montanha das Flores. Não havia ninguém que conhecesse no grupo, mas poderia dizer sua identidade por suas roupas únicas e a Técnica da Espada da Flor de Ameixa.
Do outro lado estavam os miglings. Eles não estavam sozinhos. Havia uma mistura de pessoas, que pareciam humanos, entre os anões.
Swoosh!
Havia também seres flutuando no céu, carregados por asas brancas brilhantes.
Pareciam anjos que apareceriam nos templos.
— Oh, ei~ É uma guerra de existência.
Pale fingiu fazer uma luneta com as mãos como se tivesse encontrado um espetáculo maravilhoso.
— Não podemos perder isso. Tio, eles parecem estar no mesmo nível, vamos assistir daqui e depois acabar com eles!
— Não pretendo tomar partido.
Algum dia, ele enfrentaria a Montanha das Flores, mas se ele aparecesse agora, evitar o grupo de Kwak Do-san teria sido desnecessário.
— Isso…
A expressão de Lesha, que havia chegado antes deles, era rígida.
Mordendo o lábio, ela olhou para o campo de batalha e tentou dar um passo à frente.
— Você está planejando ir?
— Sim.
— Você não seria de muita ajuda em seu estado atual.
— Eu sei disso. Mas eu tenho que ir. Aqueles são os que eu tenho que proteger.
— …
Essas palavras causaram uma estranha batida em seu peito.
No entanto, Lesha caiu no chão depois de dar alguns passos.
Ele praticamente podia sentir os músculos sob suas vestes se contraindo. Em troca de forçar seu corpo a se mover, a dor devia parecer como se todo o seu corpo estivesse sendo dilacerado.
— Droga, minha mana ainda está…
Assim que Lesha murmurou essas palavras, outra pessoa apareceu no campo de batalha.
Era um homem de cabelos brancos, ofegante e coberto de suor, Schweiser.
Sua condição não era boa. Só de olhar para sua expressão, podia-se dizer que ele havia passado seus limites.
Os Espadachins da Montanha das Flores se aproximaram de Schweiser. As lâminas de suas espadas cravando em seu corpo como as presas afiadas de uma besta feroz.
“Idiota…”
Confrontos diretos não eram sua especialidade.
Lukas suspirou.
Teria sido melhor se ele não visse essa cena.
Onde estava o Lorde, não, Michael? Se ele aparecesse, a batalha teria sido unilateral.
Lukas olhou cuidadosamente para o campo de batalha, mas não conseguiu encontrar nenhum vestígio de Michael.
De repente, o braço de Schweiser foi cortado. Isso significava que ele provavelmente não duraria mais doze segundos. Considerando sua condição atual, esse resultado era natural.
Uma lâmina fria se aproximou rapidamente de seu pescoço indefeso.
Crack—
Mas um feixe de luz vermelho-escuro disparou para a frente e quebrou a espada.
— !
Schweiser voltou seu olhar para o topo da duna e para Lukas.
— Você não disse que não tomaria partido?
Ele não se preocupou em responder ao sarcasmo de Pale.
Levantando o capuz, Lukas deslizou pela duna.
Por causa disso…
— Absoluto? Impossível…
Ele não ouviu o murmúrio de Lesha.