— Ah, antes disso, tenho algo para te dar — falou Albus com a mão no bolso, parando antes de entrar na mansão.
— Isso…
— Pegue. Comprei porque achei que ficaria bom em você.
Era um anel com três pedras vermelhas brilhantes de aparência rara, o que atraiu a atenção de Evelyn, enfeitiçada pela beleza.
— É lindo. Pode colocá-lo?
— Sim.
Com aquele, ela ficou com dois, contando com o de noivado.
— Como esperado, fica bem em você. Vamos? Não podemos fazer o duque esperar.
— Vamos. — Pôs a mão ao redor do braço dele, sorrindo. O anel vermelho brilhava estranhamente.
A festa sem tantos convidados correu bem. Não precisavam gastar muito tempo em saudações, apesar de tomarem cuidado especial com as suas maneiras devido ao status de marquês ser menor que o do restante.
Ela sofria com o calor do salão. O cheiro do perfume emitido sempre que as passavam por eles e o cansaço sentido por estresse excessivo com as muitas festas nos últimos dias a deixaram tonta.
— Você está bem?
— Posso lidar com isso. — Forçou um sorriso.
— Apenas aguente um pouco mais, porque o príncipe chegará em breve. Vamos descansar depois de cumprimentá-lo.
Tempo passado, o convidado mais estimado chegou. Um por um, foram cumprimentando o duque e a sua esposa, que apareceram com o príncipe herdeiro. A tontura de Evelyn ficou mais forte ainda.
“Só um pouco mais.”
Ela não precisava fazer nada além de cumprimentá-lo e se afastar. Albus lidaria com a maior parte da conversa fiada. Se o seu noivo explicasse que ela estava doente, o príncipe não diria muito a respeito da quietude dela.
O príncipe os recebeu com um sorriso ao ser cumprimentado. Evelyn não conseguia entender o que ele dizia.
“Acho que não aguento mais.”
Se não saísse, talvez fizesse papel de boba. Frio, Albus olhou para ela como se pudesse ler os seus pensamentos. A lucidez dela ficou mais fraca conforme os ruídos em seu entorno cessaram, e ela pensou ter ouvido um grito e sentido um líquido quente nela. Antes que pudesse entender a situação, a sua consciência desapareceu por completo.
De costume, Zich estava na torre do sino, acompanhando o trajeto de Evelyn à mansão do duque. Ao avistar uma carruagem com o símbolo real surgir logo atrás, ele se levantou.
“Hoje pode ser o dia.”
Com Albus, Evelyn e o príncipe herdeiro presentes, era outro dia perfeito para a realização do plano arquitetado pela organização. E ao se concentrar melhor, com certeza, havia uma comoção lá dentro. Alguém saltou para fora, e ele soube quem era a pessoa de imediato.
“Evelyn!”
Pelo que ele sabia, as habilidades físicas dela eram limitadas a uma jovem nobre dama. Entretanto, ela fugiu que nem um cavaleiro treinado; não mais rápido do que Zich, que a perseguiu dos telhados.
Em um instante, estava saindo da estrada fora da cidade a fim de entrar na floresta.
“Esta é a direção para…”
Mesmo que o lago estivesse ao lado da capital, isso somente era verdade se considerar o tamanho de todo o reino. A distância real entre as duas áreas era considerável, demonstrada pelo tempo que ele levou para chegar com Lyla.
“O seu corpo vai ser arruinado a este ritmo.”
Ele não sabia que poder deu a ela tal força sobre-humana, contudo, ela sofreria grandes efeitos colaterais.
Com o tempo, chegaram. Ela ficou parada, e ele se escondeu atrás de um arbusto próximo. O silêncio cercou o corpo d’água, e nem um dos dois se moveram.
“Parece que ela está enfeitiçada.”
Ele tinha certeza de que algo estava errado e decidiu observar a situação por um pouco mais de tempo.
— Hã? — Ela reuniu os sentidos O que aconteceu…? Ack!
Ela caiu, a cabeça dolorida como se fosse se abrir e chorando. Ela inteira queimava, e os seus órgãos pareciam estar virados de cabeça para baixo. Em suma, todo o seu corpo doía a tal ponto que a morte era preferível.
— P-por favor, alguém…! — Virou a cabeça, tonta — Este lugar é… o lago?
“Por que estou aqui?”
Há pouco, ela estava na festa do duque com o noivo, Albus.
“E…”
Então as suas memórias confusas se tornaram mais claras com o passar do tempo. Ao cumprimentar o príncipe, ficou tão tonta que teve que se desculpar. Todavia, por uma razão desconhecida, o seu corpo se moveu contra a sua vontade. Agora com uma faca, se moveu de maneira brusca para esfaquear o príncipe.
Ela se desesperou com a memória. Era ainda mais desesperador para ela, porque não foi o príncipe quem foi esfaqueado, e sim Albus, quem saltou na frente para salvá-lo. Por um momento, a dor desapareceu. Foi difícil para ela ficar consciente dos eventos chocantes.
— P-por que eu…!Tinha uma coisa de que ela possuía certeza: ela cometeu uma ação que nunca seria desfeita. O peso do evento horrível além do seu controle pressionou a sua mente e corpo feito um enorme fardo.
Um estranho apareceu na frente dela. Ela estava com medo, no entanto, a figura de manto estendeu a mão.
— Você está bem? — A pessoa tirou o capuz. Era uma mulher nos trinta e poucos anos, talvez.
— Q-quem…
— Sou uma viajante. Visito este lugar sempre, mas te encontrei desmaiada aqui. Você não parece bem. Pode se levantar?
Evelyn balançou a cabeça, dolorida.
— Acho que não tem jeito. Suba nas minhas costas.
— O quê?
— Você deveria ficar nas minhas costas. Como estamos perto da capital, não tem monstros perigosos fora os fracos e animais selvagens. Este não é um lugar seguro para feridos.
A nobre se encolheu quando a mulher, sorrindo, se aproximou.
— Está tudo bem. Não sei o que aconteceu, mas não se preocupe. Estou do seu lado.
Uma desconhecida gentil surgiu do nada. De certa forma, era muito suspeito, mas ela passou por uma experiência tão chocante que a bondade de uma estranha que passava era suficiente para fazê-la se emocionar de gratidão. Chorando e prestes a assentir…
— Calma aí, que até eu chorei nessa. Planejaram bastante um drama desses, não foi? Tocante!
As duas ficaram surpresas. Não havia vestígios do sorriso bondoso no rosto da mulher, e ela olhou para a pessoa à frente com olhos afiados.
— Senhor Zich?
— O próprio. Senhora Rouge, a julgar pela sua situação, parece que este não é o momento certo para eu perguntar se você está bem.
— C-como você che…
— Te segui até aqui.
— O quê? — Ela ficou pálida ao interpretar isso como uma possível interrogação sobre os seus crimes. Se pensasse um pouco na posição de Zich, a interpretação não faria sentido, porém, ela não podia pensar bem na condição atual.
— N-não é verdade! — gritou — Eu… eu não fiz aquilo! Eu também não sei o que aconteceu. Eu nunca apunhalaria o príncipe! E eu nunca esperei que Albus se joga…
— Foi o que aconteceu? Senhora Rouge, não se preocupe. Sei que você é inocente. Você não cometeu nenhum erro, só acabou de ser lançada dentro de uma conspiração.
— C-conspiração?
— Isso aí. Uma suja e vil. — Apontou o indicador para a mulher — Por pessoas que nem ela.
— Não tenho ideia do que você está falando — falou a mulher, a guarda erguida — Eu simplesmente passei e quis ajudá-la. Uma conspiração… que absur…!
— Você tirou o manto por vontade própria. Não é de se admirar que pareça haver muitos tipos diferentes de pessoas no seu grupo; você até tentou se envolver com o alvo.
— Conhece essa pessoa rude, senhora?
— U-um pouco.
— Já que ele apareceu do nada e começou a me acusar, talvez tenha sido ele quem tramou aquela conspiração de que tanto fala.
— Vocês são os melhores em jogar a culpa nos outros. Sendo honesto, não tenho nenhuma evidência para convencer a minha inocência agora.
— Então você está mesmo…
— Mas posso fazer com que você revele a sua verdadeira natureza. — Sorriu — Sei que tem uma puta de uma organização tentando mexer na cabeça da galera de todo o mundo para criar demônios. Atrapalhei os planos do seu grupo umas vezes, e pretendo continuar.
Não houve respostas.
— Por onde começo? Vocês possuem vários artefatos explosivos raros, e os seus líderes têm a capacidade de se transformar em monstros estranhos. E aí? Não acha que deveria ignorar a Súcubo por ora e concentrar todos os seus esforços em recrutar um talento como eu?