A luxuosa carruagem que transportava Zich e os companheiros partiu devagar. Enquanto se dirigiam ao palácio, uma atmosfera tensa preencheu o veículo. Qualquer um que visse diria que eram loucos por chegar perto do príncipe.
O humor pesado aparentava sair somente das de Evelyn e Lyla, os rostos rígidos. Pelo contrário, Zich parecia calmo e à vontade na frente delas.
— Credo, relaxem. Vocês duas parecem estar indo à guilhotina.
— As outras pessoas pensariam igual.
— Essas “outras pessoas” estão erradas, Lyla. Como esta jornada alegre seria o nosso caminho à morte?
— O que exatamente há de alegre nisso?
— Podemos ver o Albus ficar pálido e rolar no chão clamando por misericórdia.
— Você é terrível.
— É o meu charme único.
Lyla estalou a língua e virou a cabeça. Com a lógica distorcida dele, sabia que não o venceria com palavras. Ao menos, graças a ele, a tensão se esvaiu.
— Vai dar tudo certo, tudo planejado. Vamos só conversar no caminho e elogiar um ao outro sobre o quão bem estamos vestidos. Parecemos nobres respeitáveis.
— Eu estou superdesconfortável. Não é desnecessário? — falou Lyla, puxando as mangas do seu vestido.
— Óbvio, vamos a um encontro formal. Além disso, combina contigo.
— Você está incrível, Lyla. Estou bem feliz, já que as minhas roupas couberam em você — disse Evelyn.
— É-é mesmo?
— Senhor Zich, também foi ótimo que as roupas do meu irmão tenham servido em você. Você está ótimo.
— Minha senhora, obrigado pelo elogio.
— Até os seus modos são semelhantes aos de um nobre. Você tem origens aristocráticas?
Embora Lyla estivesse elegante, os seus movimentos eram um pouco estranhos. Por outro lado, Zich se tornou um nobre por inteiro ao se vestir com aquele terno chique. Isso somente graças à prática das memórias do seu passado.
— Eu tenho uns parentes, mas não são a minha família.
— Ah, entendi.
Ela concluiu que o seu histórico familiar era complicado.
“Talvez eu veja alguns hoje… Mas agora somos estranhos, então não preciso me preocupar com eles.”
Dado o tempo, chegaram ao palácio.
— Com licença, poderiam nos mostrar o convite? — perguntou a Hans um dos guardas. Snoc, ao lado, ficou nervoso com a interação, diferente do outro servo.
— Aqui está.
Quando o guarda examinou e assentiu, as lâminas da lança bloqueando o caminho se afastaram. Hans moveu a carruagem para frente e passou pelo interior do palácio.
— Conseguimos — disse Lyla, aliviada.
— Está tudo bem mesmo? A tentativa de assassinato do príncipe foi há poucos dias. Não estão nos deixando entrar muito facilmente?
— É por isso que verificaram os nossos convites e multiplicaram as suas forças de segurança. Tenho certeza de que vão nos verificar de novo quando sairmos da carruagem. É tranquilo, não precisaremos lutar.
— Espero que seja o caso.
— Hum, mas… onde você conseguiu o convite? — perguntou Evelyn.
— Isso? — Sorriu — Peguei emprestado de alguém que nunca mais queria ver.
Ao mesmo tempo, outra conversa diferente por completo ocorria em outra carruagem que se dirigia para o palácio.
— Como pôde perder um convite, ainda mais em um momento desses?
— Eu não estou mentindo. Juro que deixei dentro da gaveta da mesa.
— O meu amigo já parece ter sintomas de demência. Parece que o apelido de muralha de ferro do reino é coisa antiga.
Zich e os seus companheiros pararam.
— Estendam as mãos — mandou Lyla. Havia anéis com uma pequena joia nos dedos deles.
Ziiing!
Mana saiu da mão dela e se infiltrou nos anéis, transformando o rosto de Evelyn e Zich.
— Pus magia de ilusão nestas joias baratas para que não durassem muito tempo.
— Tudo bem, é só até que todos os principais cheguem, de qualquer modo.
— Vamos. Albus deve estar voando no céu por ser conhecido como o salvador do príncipe. Vamos empurrá-lo de volta ao chão, e de cabeça para baixo.
Como dito por Zich, cavaleiros e soldados estavam em todo o palácio. A magia era eficaz ao extremo, então ninguém os reconheceu.
“Funcionou muito bem. Como esperado, o príncipe está aqui.”
No centro da festa, cumprimentavam o príncipe. Embora ele, na maioria das vezes, chegasse no fim com o rei, era uma ocasião especial. O filho do aniversariante tinha que sair antes e cumprimentar os convidados.
“Ele provavelmente quer mostrar às pessoas que está bem e saudável. E olha só ele no lado do príncipe… Justo, parece o conselheiro mais favorecido e confiável possível, já que o salvou. Fico feliz em pensar que ele está feliz agora. Mas, cumprimento o príncipe agora ou espero um pouco o humor do Albus melhorar mais? Isso tornaria o seu desespero ainda maior se caísse pro abismo.”
Naquele momento, a porta do palácio se abriu.
“Está na hora.”
Infelizmente, era o fim do tempo feliz de Albus. A criada que escoltou Zich entrou no salão com vários nobres, cavaleiros e soldados. Então, Zich apontou para Lyla e Evelyn. As duas, que esperaram em silêncio nas proximidades para não chamar a atenção, foram pro lado dele.
Toda a atenção se concentrou nos que entraram. Um dos nobres sussurrou algo para o príncipe, enquanto a empregada começou a verificar os rostos de todos no salão. Quando o seu olhar pousou em Zich, os olhos dela se arregalaram.”
— Foram aqueles! Aqueles! — Apontou para o trio, atraindo o olhar de todos. Apesar das duas terem ficado nervosas, Zich estufou o peito e parecia orgulhoso — Eles que roubaram o convite dos Steelwalls para vir aqui!
Os cavaleiros e soldados atrás dela ergueram as espadas e lanças e se aproximaram com movimentos precisos e afiados.
— Me deixe passar.
Alguém afastou os cavaleiros e entrou no círculo que feito para capturar os três. Não contestaram, porque o homem merecia entrar.
“Já faz um tempo.”
O homem estava do exato jeito que quando se separaram: bigode fino e olhos ferozes.
— Você é o maldito que roubou o meu convite? — perguntou o conde Steelwall da maneira áspera que Zich conhecia.
— Sim, senhor!
As sobrancelhas do conde se contraíram. Como poderia um ladrão ser tão descarado?
— Percebe que o meu convite não é algo para um vagabundo como você usar?
— Se está falando do proprietário legítimo do convite, admito que você está certo. Neste momento, não tenho autoridade para participar desta festa.
— Não tem autoridade neste momento?
Foi uma coisa estranha de se dizer. O conde estava curioso sobre a identidade do ladrão destemido, porém, a pessoa era mais estranha do que ele esperava.
— Quem diabos é você?
Zich sorriu, tirando o anel no dedo. As pessoas ficaram chocadas ao verem o seu rosto mudar.
— V-você… você…!
— Já faz um tempo, conde Steelwall. — Inclinou com exagero a cabeça
— E… acho que para você, não faz tanto tempo, não é, Albus Windpool? — De um sorriso exagerado, foi para um malicioso — Como me disse, vim até aqui.
A festa ficou caótica. Quando a identidade dele foi revelada, alguns dos nobres se assustaram, outros se irritaram, outros tentaram descobrir mais… O foco principal do evento, entretanto, não prestou atenção a todos os outros. Ele não tinha tempo para isso.
— C-como você…
— Seja por alegria ou raiva, vamos adiar a nossa reunião, conde Steelwall. Não vim aqui para te ver.
— O quê…?
— Não é a primeira vez que nos encontramos, mas como você não deve se lembrar, quero saudar pela primeira vez a sua alteza — disse Zich ao se virar pro príncipe.
— Quem é você? — perguntou o príncipe, a postura firme.
— Tenho algo a te dizer, sua alteza. Por favor, desculpe a minha interrupção.
Zich acenou para Evelyn, que chegou mais perto do príncipe. Os cavaleiros e soldados ficaram tensos, todavia, para mostrar que não tinha más intenções, ela parou a uma distância deles e tirou o anel.Aqueles que reconheceram o rosto dela ficaram chocados, em especial Albus, que arregalou os olhos. A reverência dela foi bem-educada e elegante.
— Evelyn Rouge, da família Rouge, cumprimenta a sua alteza, o príncipe herdeiro.