D’niel era um espadachim altamente qualificado. Os elfos, em boa parte das vezes, não usavam espadas, pois dependiam de táticas de guerrilha com flechas e arcos na floresta. Não tinham nenhum propósito para espadas, exceto em situações como a guerra.
A guarda real, da qual ele fazia parte, era diferente. Possuíam perícias de longo alcance incríveis, bem como uma esplêndida esgrima. E ele estava encarregado de proteger a princesa Leona, então mesmo entre a guarda, ele ficava no topo.
Dronian ficou chocado com a visão diante dele.
As espadas, fortalecidas com mana, colidiram, emitindo um alto barulho. Zich meneou Windur, acertando, de novo, a lâmina do elfo. E aí, um som explosivo, fazendo com que D’niel desse uns passos para trás com uma careta. “Como ele tem tanto poder…?!”, pensou, olhando para Zich. Achou que perderia o controle da lâmina de outra forma.
— Hmph!
Após pular do chão com um forte chute, correu em direção a Zich. Ele estava ciente de que não se comparava ao oponente, porém se manteve confiante. Machucou seu orgulho de elfo ter uma mana e habilidades físicas melhores que os humanos e perder para Zich em força. Todavia, ele não pretendia continuar usando pura força para proteger o orgulho.
— Ráa!
Sua espada se moveu com rapidez para perfurar. Um humano sem muito treino não teria sido capaz de revidar, mas Zich se afastou sem dificuldade. Contudo, o elfo não ficou desapontado, já que sua estocada fora uma isca.
Pam!
Com passos elegantes e rápidos, ele se virou para o lado do humano, pensando: “Ele não vai contra…!”
Windur voou na sua direção e bloqueou o golpe, chocando-o. A espada do humano se continuou na ativa, sendo vez ou outra acertada pela lâmina oponente.
“É demais! Ele também é mais rápido do que eu.”
Ele não achava os humanos uma raça inferior, no entanto, como os longevos elfos tinham um físico melhor por natureza, achou que os humanos seriam mais “moles”. Assim, quando ouviu pela primeira vez a oferta de Zich para ajudar na guerra, acreditou que, embora o grupo recém-chegado pudessem ser benéficos nas táticas, talvez não oferecessem tanto na ofensiva. Porém, agora, percebeu o quão errado estava.
Ele respirou fundo, pois tem um pulmão. O suor escorria em sua testa e pelas têmporas. Os olhos coçavam, mas não conseguia fechá-los, porque pensava que se piscasse o oponente ganharia.
“O que devo fazer? Talvez eu tenha mesmo que desistir de um braço ou perna…”
Naquele momento, escutou uma voz alta. “Parem!”, dizia.
Ele recobrou a consciência do entorno. Seus pensamentos, antes apenas focados na chance de vitória, foram preenchidos com outros paralelos. “Ah, certo, estou em um duelo.”
Surpreso com o envolvimento que teve na luta, balançou a cabeça para aliviar o fervor e estendeu a mão para Zich. — Estou impressionado. Você é muito forte.
— O mesmo para você. A maioria dos elfos usa arcos e flechas, então não é comum ver um que pode usar uma espada tão bem. Dornian, como foi o resultado deste teste? O objetivo não era vencer.
— Também teremos que ver as habilidades de seus companheiros, mas parece que não temos que nos preocupar com você no campo de batalha.
Ele havia se preocupado um pouco a respeito do nível dos outros integrantes do grupo humano que em breve testaria. E ele não ficou desapontado.
— Rá! — Hans arqueou o movimento, abaixo, porém impressionante, do nível de Zich.
Koo! A capacidade de Snoc de controlar a terra impressionou até os elfos com um conhecimento considerável sobre o mundo. E…
Craaaaash!
Quando Dronian testemunhou a força da magia de Lyla, viu que conquistou um aliado incrível.
— Como foi? — perguntou Zich.
— Foi incrível e além das minhas expectativas!
— Então, vai nos contratar?
— Com certeza.
Era óbvio que precisavam usar aquele poder incrível deles. “A única preocupação é sua confiabilidade, mas já que salvaram Leona e ajudaram-a a recuperar a Lágrima do Lago, suponho que posso acreditar neles até certo ponto.”
Isso significava que havia apenas um problema para resolver antes de contratá-los.
— Tudo o que nos resta fazer é decidir seu pagamento agora. Quanto você quer? Como não tenho muito dinheiro humano, gostaria de pagar a vocês com pedras preciosas.
Entretanto, Zich não estava interessado em dinheiro; com o que possuía, podiam viajar enquanto desfrutavam de todos os luxos. Claro, não planejava recusar o que lhe era oferecido, mas tinha algo mais que ele queria.
— Você talvez saiba alguma coisa sobre o império antigo?
— Antigo império?
— Sim, ouvi de Leona que há muito tempo, existia um império de humanos fortes.
O príncipe pôs a mão no queixo. — São muitos os impérios humanos que surgiram e caíram ao longo dos anos, mas a julgar por suas palavras, não parece que queira informações sobre qualquer um. Nesse caso… tem uma lenda a respeito de um que é passada entre nós.
— Então você sabe de algo?
— São apenas histórias passadas para a nossa geração. Não sei se conta.
— Mesmo assim, tudo bem. Você pode organizar todas as histórias e entregá-las para nós?
— Não vai ser difícil. Os mais velhos gostam de nos contar histórias sobre o passado. Eles ficariam felizes em escrever algumas das lendas que conhecem e têm uma pequena tarefa a fazer. Isso é tudo o que você quer de nós?
— Sim. Se você achar que não é suficiente, pode nos pagar com algo que acha adequado.
No entanto, o príncipe Dronian não podia simplesmente dar-lhes qualquer coisa que fosse “adequada”. O pagamento deles estava relacionado à honra da tribo.
“Eu posso simplesmente dar jóias, mas…”
— E que tal isso? Há uma biblioteca nossa em Mentis. Chama-se Kalpunar.
— Uma biblioteca?
— Sim. É um lugar com livros que nossos ancestrais coletaram pela primeira vez. Mesmo que seja considerado uma biblioteca, é mais como um lugar de enterro literário. Em primeiro lugar, não foi construído como uma “biblioteca”, mas como um lugar para depositar livros que nossos ancestrais trouxeram. A quantidade de conteúdo lá é enorme. Não é um exagero dizer que a história do local é quase tão antiga quanto Adrowon. Mas, tem uns problemas. Mesmo que estejamos cuidando disso até certo ponto, os livros não estão em muito bom estado, graças ao tempo.
— Não é um problema para nós.
No início, Zich pensou em ver algumas lendas passadas entre a raça. Já que recebeu a oportunidade de obter informações definitivas, não era um problema se alguns livros estivessem em más condições.
— O segundo problema é que Kalpunar não é só um tesouro da Tribo do Lago, mas de todas as tribos de Adrowon. Portanto, você precisa de permissão delas.
Obter permissão de todas as tribos da floresta era uma provação muito mais complicada. Não importava o que a Tribo do Lago falasse dele, haveria uma ou duas que se sentiriam desconfortáveis em revelar seu marco histórico. Isso fez ele sorrir, na verdade.
— Bem, pode ser rude da minha parte dizer isso, mas eu vim em um bom momento.
— É, um bom momento. — Concordou Dronian, se sentindo amargo.
— Não tem melhor momento do que agora para que todas as tribos fiquem em dívida com você.
Atualmente, todos os reis tribais estavam sendo mantidos como reféns. Se Zich conseguisse ajudá-los, nenhuma das tribos seria contra o grupo entrar na biblioteca.
— Tem outra razão para eu participar desta guerra, mas, príncipe Dornian, não preciso da permissão da Tribo do Ferro, certo?
— Ah, se precisa. — Com a piada, o elfo deu um sorriso agudo e amargo.
— Por centenas de anos, eles não conseguirão expressar sua opinião nesta região florestal. Mas, claro, isso só se conseguirem sobreviver.
Depois disso, conversaram um pouco mais antes de o grupo ir à sala designada a eles. Leona, que tentara segui-los escondida, foi pega por Freid e arrastada para fora. Mesmo que tenha pedido ajuda com os olhos lacrimejantes, seus companheiros ignoraram-a e seguiram em frente.
Ao chegarem aos seus aposentos, Zich assumiu um tom alegre. — E assim, agora estamos participando de uma guerra de elfos.
— O que você quer dizer com “e assim”?
Lyla protestou contra sua decisão, que não considerava nenhuma das opiniões ou pensamentos do seu grupo. No entanto, sua voz mal tinha força para isso; ela já havia quase desistido. Por essa razão, mostrou suas habilidades no duelo também.
— Calma, você não quer ajudar Leona? Você continuou cuidando tão bem dela. Eu não sabia que você é, em segredo, uma pessoa tão cruel.
Quando ela levantou os braços, ele deu alguns passos para trás. Mas a brincadeira durou apenas um momento.
— Como o príncipe disse, vou participar desta guerra. O que você vai fazer? Está saindo?
Mesmo que a guerra fosse um lugar onde os magos pudessem utilizar plenamente suas habilidades de amplo alcance, ele não tinha intenção de força-la a uma batalha que não queria participar.
— Se eu sair, você vai continuar falando sobre como eu não quero ajudar Leona?
— Dizer a verdade e respeitar sua decisão são assuntos diferentes.
Com a resposta desavergonhada dele, ela riu alto. — Tanto faz. Eu ia ajudá-la, de qualquer maneira. E estou interessado na compensação que você receberá. — Ela olhou para Hans e Snoc — O que vocês vão fazer?
— Ah, senhorita, estamos…
— Por que quer saber deles? — Zich interrompeu Hans, que estava prestes a responder — Eles obviamente têm que me seguir. A única pessoa a que eu estava perguntando era você, Lyla.
Hans deu um sorriso amargo e Snoc acenou com a cabeça, como se esperasse isso.
— Vocês dois, vão em frente. Como vão sofrer no futuro, devem descansar muito.
Ambos foram procurar seus quartos. Lyla estava prestes a segui-los, mas foi parada por Zich.
— Por quê?
— Você tem alguma lembrança sobre esse conflito de elfos? Não sei muito.
— Não me lembro ao certo.
— Tudo bem.
— Mas acho que teve algo a ver com Glen Zenard. Meus sentidos me dizem isso.