Com uma expressão estranha, Hans assistiu a Zich entrando na construção. Desde que chegaram ao território Dracul, sua batalha contra doenças continuou até Ospurin. No início, ele odiou o trabalho devido ao medo e as aparências dos pacientes. Mesmo agora, não mudou toda a sua opinião quanto a isso.
Sua simpatia e piedade com os infectados aumentou com o tempo. Quando não pôde salvar a aldeia, queria explodir de tanto chorar. Ao saber das chances de recuperação, trabalhou mais do que ninguém para parar a propagação e ajudar pacientes. Portanto, toda a atenção dele estava agora nas palavras de Zich e na cura que ele supostamente conhecia.
— Sênior, e aí? — Snoc caminhou em sua direção.
Usando seus poderes, Snoc criou barreiras em áreas infectadas e ajudou pessoas em quarentena. Olhou aonde Hans observava: o prédio pelo qual Zich acabou de entrar.
— O senhor Zich tem negócios a fazer?
— É por conta do boato.
“Boato”. Quando ouviu a palavra, os olhos do garoto se tornaram curiosos.
— Acha que é verdade? — sussurrou aos ouvidos de Hans.
Quando a sua respiração chegou aos ouvidos de Hans, o empregado saltou feroz para trás e o empurrou para longe.
— O que está fazendo?!
Vendo a reação, o menino coçou a bochecha, constrangido; percebeu que respirar diretamente no ouvido de outra pessoa era rude.
Koo!
Nowem, que estava no seu ombro, mordeu a orelha dele, como se o repreendesse.
Hans parou de o encarar, e depois de soltar um suspiro, respondeu à pergunta.
— Tem uma grande chance de que o senhor Zich está dizendo a verdade. Não importa o quão mer… caprichosa a personalidade dele é, não acho que ele é do tipo de mentir sobre coisas assim.
— Então, vai ter uma cura para a doença?
O boato era que Zich sabia a cura para ígram. Até Snoc tinha ouvido falar sobre ela antes. Se espalhou várias vezes ao longo da história de Suol, e enquanto bebiam no bar, o tópico surgia algumas vezes em conversas. Não quando a atmosfera era animada e alegre, mas quando medo e insegurança se espalhavam entre os mineiros.
A doença era incomparavelmente menos mortal do que as outras se espalharam pelo território, porém era tão famosa que mesmo Snoc sabia sobre. Saber a cura era inédito!
— Não espalhe isso por enquanto. Sabe que o segundo filho do conde Dracul está tentando silenciar, certo?
Por mais que confiassem muito em Zich, era difícil acreditar que ele encontrou a cura. Se a notícia se espalhasse e ele não a tivesse produzido, as reações dos soldados seriam de desespero e raiva. Por natureza, eram mais vulneráveis ao pavor logo após a esperança.
— Sim, senhor!
— Então vamos continuar nosso trabalho. Vou ajudar os soldados, e você verifica se tem algo de errado com seus comportamentos…
Hans fechou a boca. Zich saiu do local e foi para outro, um reservado para os testes clínicos da cura. Visto que ela era tão significativa e preciosa, poucos sabiam da existência do edifício.
Hans tentou verificar a expressão de Zich, que era a mesma de sempre: um rosto confiante beirando a arrogância. Entretanto, ele nem sempre fazia ela. Quando as coisas não iam de acordo com o plano, franzia a testa ou fechava a cara. Claro, em comparação a outras pessoas, suas expressões irritadas eram mínimas.
“Ele descobriu!”
Foi o que Hans previu.
Zich rapidamente procurou por Joaquim. Como sempre, a sau aparência doentia e a expressão dolorosa eram suficientes para enganar as pessoas de que ele era um paciente.
— Senhor.
— Sim? — Estava atento analisando um mapa com regiões infectadas marcadas antes de levantar a cabeça — Por que… Seu sorriso; talvez você tenha…!
— Sim, é o que estávamos esperando.
— Vamos lá agora!
Ele colocou os outros pensamentos fora da mente e seguiu Zich. Se funcionasse, todos os problemas desapareceriam de uma vez.
Eles foram em direção ao edifício onde os ensaios clínicos ocorriam. Em silêncio, pressionou Zich, e caminharam rápido ao ponto de ele se preocupar que Joaquim desmaiasse.
Bam!
Joaquim abriu a porta. O interior era o mesmo de quando Zich o deixou.
— Senhor, você veio visitar! — O cuidador dos pacientes o cumprimentou.
Joaquim o ignorou e foi atrás dos pacientes deitados nas camas, que tentaram se levantar. Não sabiam quem ele era, contudo pensaram que fosse importante, para o cuidador se dirigir a ele como “senhor”.
— Não têm que se levantar para mim.
Ele gesticulou em direção a eles, e se deitaram desajeitadamente. Lembrou das condições deles ao conhecê-los; estavam muito perto de morrer. Se não tivessem recebido tratamento na hora, não teriam durado mais do que um ou dois dias. Mas agora, o observavam com curiosidade sem nenhum traço tão ruim nas características. Na verdade, pareciam saudáveis o suficiente para não serem mais considerados pacientes.
— Como se parecem? — Zich perguntou logo atrás.
Ele se virou e o viu de braços cruzados em frente à entrada do prédio. Joaquim abriu os braços, caminhou em direção a ele e deu um grande abraço.
— Te conhecer foi a melhor coisa que já aconteceu comigo!
“Ele está feliz de verdade.”
Joaquim sorria de uma forma que deixava claro a sua alegria. Considerando o quanto lutava e se preocupava com doenças, era esperado.
“Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.”
Zich o afastou. Ele era um ogro de macho e não queria ser abraçado por um homem, não importava o quão boas fossem as circunstâncias.
— Oh, desculpe. Me empolguei demais. — disse envergonhado, com um meio sorriso contente no rosto.
Como esperado de um veterano, se acalmou no instante e se concentrou em suas tarefas.
— O quão longe a melhora deles foi?
A julgar pela aparência, pareciam cem por cento curados, todavia precisava ter certeza.
— A maioria dos sintomas desapareceram. Ainda tossem às vezes, mas é bem leve.
— É o bastante para confiarem na cura. Quais eram os ingredientes, mesmo?
— Tem muitos, mas os mais importantes são folha pulazu, raíz bucó e a fruta wim.
— Hmm, não estou familiarizado com eles.
Embora fosse o líder das tropas que lutavam contra doenças, não era um médico ou um boticário. Zich omitiu todas as outras informações — ele também não sabia muito bem como fazer a cura — e apenas deu as que Joaquim tinha que saber.
— Todos os três são muitíssimo caros. Os outros vão ser também.
— Hummm…
Independente da gravidade da situação, o dinheiro sempre era um fator importante a ser considerado. Havia também um grande número de infectados. Se não planejassem de acordo, seriam incapazes de prevenir o surto com eficiência.
— Vai conseguir não tocar no teto do orçamento?
— Se me der um pouco mais de dinheiro, posso. Os ingredientes são caros, mas não muito raros. É o mesmo para os outros.
— Isso é bom. Por favor, faça uma lista deles. Vou preparar o dinheiro de algum jeito, mesmo que eu chegue a falir e a forçar o do meu irmão.
Estava falando um bocado agora, contudo se acalmara mais, e aparentava de fato querer entrar no castelo pelo dinheiro. Ele ordenou que os soldados saíssem para lhe trazer um pedaço de papel e uma ferramenta de escrita.
— Vou tentar o meu melhor para conseguir o maior número possível. Vai poder dizer aos médicos como fabricar… — Fechou a boca de repente.
— O que foi?
— Sei que é estranho mencionar isso agora, mas vai ficar tudo bem? Você encontrou a cura para a doença. Se monopolizar e vendê-la, vai fazer montes de dinheiro.
Os pacientes não eram os únicos que queriam; reis, nobres e outras pessoas importantes lutariam em desespero a fim de reivindicá-la. Porém Zich balançou a cabeça.
— Não tenho muito interesse em dinheiro. Além disso, estou tentando ter uma vida melhor. Se as pessoas se beneficiarem, será bom para mim também.
E mais: se ajudasse Joaquim a ter sucesso como conde e trazer o Fest, seria ainda melhor.
— Já falei antes, mas vou dizer de novo: te conhecer foi a melhor coisa que aconteceu comigo. — Sorriu brilhantemente com os olhos trêmulos.
Após a cura ser revelada, muitos mais começaram a se recuperar. Os à beira da morte voltaram à normalidade, e a gravidade dos sintomas caiu de forma significativa. Por outro lado, a situação estava longe de acabar. Era necessário tempo para recuperar ingredientes e fabricar, e já que o surto ainda estava acontecendo, novos casos apareciam. No entanto, o seu pico acabou.
Enquanto ajudava os médicos, um soldado chamou Zich porque Joaquim estava chamando por ele. Zich o seguiu até o quartel-general.
— Senhor, eu trouxe o senhor Zich aqui!
— Traga-o!
— Vamos entrar, senhor.
Por conta dos seus experimentos serem um sucesso, a autoridade dele chegou aos céus. A partir daí, todos os soldados e até Joaquim o trataram com grande respeito.
Zich abriu a porta e entrou. Como visitou muitas vezes, tudo parecia familiar: uma grande mesa e cadeira no meio, mapas ocupados na mesa de madeira e uma grande pilha de relatórios sobre ela, o que destacava mais que ainda não acabou.
O cenário à frente era familiar. Entretanto havia alguém desconhecido na sala que Zich nunca viu antes. Para ser mais preciso, era alguém que nunca vira trabalhando no campo.
“É o cara que costumava ficar ao lado daquele gordo de merda do Biyom.”
Com grande confiança, era o velho que proclamava ser confidente de Biyom. Quando o surto estava no auge, ele desapareceu, mas agora tinha o queixo alto como se estivesse os apoiando o tempo todo.
— Bem-vindo, senhor Zich.
Havia uma carranca profunda no rosto de Joaquim, o que era estranho, pois ele depois da descoberta passou a viver grato e confiante a respeito do companheiro.
“É por causa dessa pessoa?”
Assim que pensou isso, o visitante se moveu em sua direção.
— Você é o Zich?
O homem tinha uma cara fria e modos rudes.
“Uau” pensou com certo nojo. “Que maluco mal-educado?”