Nas profundezas da câmara do chefe da masmorra, os mineradores anões transformaram uma escavação rudimentar em uma maravilha da engenharia. O túnel agora se estendia diante deles, cada lado completamente reforçado. Envolto em uma substância que lembrava concreto endurecido e entrelaçado com uma estrutura de metal brilhante. As superfícies lisas e inflexíveis eram gravadas com padrões rúnicos sutis, indícios de magia que mantinham algo sob controle.
Um bipe baixo e insistente cortou os murmúrios dos mineiros reunidos. Na vanguarda estava o mineiro-chefe, seu rosto envelhecido era um testemunho do trabalho de campo. Agarrado firmemente em sua mão calejada estava um curioso dispositivo mágico. Sua luz azul pulsante brilhava sobre algumas gravuras intrincadas, e bipes rápidos ecoavam como um aviso. Um dos anões, um sujeito de ombros largos com uma barba espessa e manchada de fuligem, virou-se para o mineiro-chefe com uma carranca pesada.
“As leituras estão fora de série!”
O mineiro-chefe murmurou, com a voz claramente tensa.
“A concentração de mana aqui está perigosamente alta. Isso não é normal!”
Murmúrios percorreram o grupo. Até mesmo os mineradores mais experientes nunca encontraram níveis de mana tão intensos. Eles estavam acostumados a lidar com anomalias mágicas, mas isso era outra coisa. Era como estar na beira de uma tempestade furiosa. Se eles se movessem mais sem o equipamento adequado, estariam em sérios apuros.
Para pessoas comuns que não tinham classes de combate e não eram detentoras de classes de nível três, tal concentração poderia ser mortal. Quanto mais tempo permanecessem, maior a probabilidade de contraírem a doença de mana. O excesso de mana se infiltraria em seus corpos, causando estragos e matando-os lentamente, como uma doença incurável. Para combater isso, eles usavam trajes de mineração especializados, projetados para bloquear a entrada de mana em seus poros. No entanto, a concentração estava aumentando tão rapidamente que seus equipamentos estavam se aproximando de seus limites.
“Isso não é normal, chefe. Nunca vi concentrações de mana tão altas antes. Se continuarmos insistindo, todo esse maldito túnel pode se transformar em nossos túmulos!”
O trabalhador repetiu-se novamente, seu rosto parecendo pálido sob toda a sujeira que o cobria. O minerador-chefe grunhiu, olhando para as paredes reforçadas ao redor deles.
“É, eu já imaginava. Essa coisa está ficando louca.”
Ele ergueu o dispositivo, cujo brilho agora era quase ofuscante.
“Mana está se acumulando à frente como uma represa pronta para estourar. O que quer que esteja espreitando atrás daquela última camada… é mortal, mas…”
O velho anão lambeu os lábios. Ele sabia do risco, mas algo naquela parede inquebrável diante deles sugeria algo grande. Em sua humilde opinião, poderia ser uma mina enorme cheia de pedras de mana ou outros minerais raros e ricos em mana, uma muito maior do que qualquer coisa na masmorra de Albrook.
Já conseguia imaginar as pedras brilhantes e a fortuna que poderia ganhar vendendo-as. Era perigoso, mas a ganância estava começando a superar sua cautela. Ele tinha que ver o que havia do outro lado.
“Não vai doer dar uma espiadinha… certo?”
Assim que o minerador-chefe estava prestes a dar a ordem para prosseguir, uma nova presença entrou no túnel. Botas pesadas e blindadas tilintaram contra o piso de pedra reforçado, cortando os murmúrios tensos dos mineradores reunidos. O ar começou a mudar quando alguma força invisível empurrou o mana que poluía o lugar para longe.
“Dê um passo para trás.”
A voz de Roland soou clara e firme pela passagem bem iluminada. Os anões se viraram como um só. Alguns pareciam visivelmente aliviados, enquanto seu líder parecia descontente, com uma carranca profunda se formando em seu rosto. Seus olhos rapidamente caíram sobre sua nova armadura. Seu equipamento usual também era vermelho, mas esse era diferente. Era como se estivessem olhando para algo forjado do corpo de um dragão vermelho, o padrão de escamas inconfundível.
Os mineradores hesitaram, mas finalmente obedeceram, recuando da última parede intacta. Roland examinou o túnel reforçado, notando as camadas de proteção rúnica e a maneira como a própria pedra parecia ondular com energia. Cabos escuros corriam ao longo das paredes, fornecendo energia para as runas, uma tecnologia que ele ajudou a desenvolver.
‘Essas runas não são o suficiente para estabilizar esta área. Seria melhor se eu fizesse esses mineradores se afastarem por enquanto.’
Roland havia completado duas de suas armaduras e escolheu usar a variante Salamander, enquanto armazenava sua outra armadura elemental em uma das runas espaciais. O túnel que havia ordenado que fosse construído estava em andamento há mais de um mês e era uma tarefa e tanto. Estava feliz por nunca ter tentado lidar com essa tarefa sozinho, pois era muito melhor administrada pela empresa de mineração. No entanto, parecia que havia chego no momento perfeito, pois eles estavam bem antes de chegar ao fim.
O mana diante dele era quase tão espesso quanto água, uma névoa enorme azul vazando da parede à frente. Foi uma sorte que ele tenha chego antes que os mineradores tentassem violá-la, pois poderiam ter sofrido com o que quer que estivesse além. Conforme se aproximava, ele notou outro fenômeno estranho: as rochas rachadas estavam se consertando a uma taxa pelo menos dez vezes mais rápida do que uma parede normal de masmorra. Se eles não continuassem cavando, a parede se consertaria em poucas horas, algo que eles não podiam deixar acontecer.
‘Parece que vai explodir…’
Roland olhou de volta para o grupo de anões agora parados atrás dele. Tinha se movido para a parede e estava examinando-a cuidadosamente com seus sensores. Quanto mais cálculos fazia, mais suas preocupações cresciam, forçando-o a tomar uma decisão. Ele finalmente se virou para os mineradores anões e emitiu uma ordem firme.
“Todos vocês, retirem-se por enquanto. Eu cuido dessa parte sozinho.”
“O quê?”
Os anões estavam claramente descontentes, e entendeu o porquê. Eles eram exploradores e também mineradores, e esse era o trabalho de suas vidas. Deve ter parecido que ele estava tirando a descoberta deles antes mesmo que pudessem testemunhar. Alguns podem até ter suspeitado que ele pretendia alterar a câmara antes que tivessem a chance de vê-la ou reivindicar o tesouro mais valioso para si. Mas suas objeções não importavam para ele. Esta expedição era dele, e sua palavra era lei aqui.
“A magia aqui é muito densa. É possível que, uma vez que eu quebre essa parede, a correnteza mágica trancada lá dentro possa ficar furiosa. Não serei capaz de proteger vocês se isso acontecer.”
Embora pudesse parecer que ele simplesmente queria ser o primeiro a entrar, este era um momento crítico e perigoso. Todos precisavam entender que havia uma possibilidade real de que o túnel inteiro pudesse explodir. Com tantas paredes reforçadas, todo aquele mana teria apenas uma maneira de escapar, e isso incineraria os anões. Os níveis de energia não eram altos o suficiente para machucá-lo seriamente se ele se concentrasse, mas eram intensos demais para ele garantir a segurança de todos.
O minerador-chefe hesitou, suas sobrancelhas grossas franzindo profundamente enquanto refletia sobre as palavras de Roland. As veias em suas mãos calejadas ficaram tensas enquanto considerava discutir, mas não era um tolo. O homem diante dele não era apenas um nobre supervisionando seu trabalho, ele era um artesão, um guerreiro e alguém que havia se provado repetidamente. Mais do que isso, Roland era quem financiava essa operação, e suas ordens tinham peso.
“Sim, rapazes, vocês o ouviram”
O anão finalmente cedeu, voltando-se para seus homens.
“Arrumem tudo! Estamos indo embora!”
Roland assentiu enquanto os mineradores resmungavam, mas não discutiram. Em vez disso, eles começaram a se afastar do túnel, reunindo suas ferramentas e ordenando que seus golens de mineração recuassem. O minerador líder deu a Roland um olhar longo e ilegível antes de recuar e se afastar lentamente. Em instantes, a equipe havia se dispersado, indo em direção à entrada do túnel, onde estariam seguros. Agora, Roland estava sozinho, pronto para enfrentar o que quer que estivesse por vir.
‘Bom. É melhor que valha a pena. Isso já tomou muito tempo e dinheiro.’
Assim que teve certeza de que todos tinham saído do túnel, agarrou a enorme broca que havia sido deixada para trás. As runas em sua manopla começaram a brilhar enquanto finos fios de energia se estendiam dela, conectando-se ao dispositivo rúnico. Em um instante, assumiu o controle da máquina e a levantou sobre seu ombro. Algo que normalmente exigia um golem de mineração para carregar era facilmente mantido no alto por sua própria força física. Considerou explodir a parede, mas decidiu não fazê-lo. O risco de desencadear uma explosão mágica era muito alto, e não podia se dar ao luxo de forçar a sorte.
Em vez disso, Roland sobrecarregou as configurações da furadeira, modificando sua velocidade e pressão para compensar a densa resistência mágica à frente. Logo se preparou e pressionou a broca giratória contra a parede. Faíscas voaram quando a máquina encantada cravou na pedra, e as vibrações viajaram por seu braço enquanto aplicava força constante. A rocha densa resistiu no início, mas conforme a energia rúnica da furadeira pulsava em sincronia com seu próprio mana, a resistência começou a diminuir.
Não demorou muito para que as primeiras fissuras se espalhassem pela superfície como raios, e um grito agudo ecoasse pelo túnel. A parede cedeu sob a pressão, e ele podia senti-la começando a ceder ainda mais. Era isso, estava quase lá, talvez a momentos de desencadear uma reação. Não recuou. Em vez disso, cercou-se com um véu espesso de seu próprio mana e avançou.
Com um grito final de metal contra pedra, a parede desabou. Uma poderosa rajada de mana irrompeu da abertura, quase forte o suficiente para derrubar Roland. Mas seus encantamentos defensivos permaneceram firmes. O corredor inteiro tremeu quando a onda de mana entrou. Quando colidiu com seus encantamentos, uma centelha de energia mágica se acendeu, sobrecarregando as correntes caóticas e gerando uma torrente massiva. A onda de magia bruta surgiu violentamente pelo túnel, bem na direção para onde os mineradores haviam recuado.
“V… Voltem!”
Os anões mineradores notaram a onda de mana tarde demais. Eles tinham acabado de chegar à segurança da entrada do túnel quando a força os atingiu. Uma onda de energia azul, como uma violenta rajada de vento, correu pelo corredor. Os mineradores avançaram e, no último momento, pularam para a segurança fora do túnel, mas a onda de mana os fez voar em todas as direções.
“Eu disse para eles saírem mais rápido…”
Roland comentou enquanto a poeira começava a baixar. A explosão de energia havia diminuído e, felizmente, ele havia absorvido boa parte dela através de seu véu de mana. Graças a isso, a explosão que atingiu os anões não causou ferimentos. Depois de confirmar a segurança de todos com seu dispositivo de mapeamento, se virou para vislumbrar o que havia além. O buraco era pequeno, mas com alguns chutes bem colocados, conseguiu alargá-lo o suficiente para passar por ele.
‘O que é isso?’
Ele olhou para dentro e viu algo que não esperava. A câmara diante dele era enorme, muito maior do que havia previsto. O teto se estendia alto acima, desaparecendo na escuridão. As paredes se estendiam infinitamente para os lados, fazendo o espaço parecer uma caverna sem limites. No entanto, não foi isso que realmente chamou sua atenção. Foi o que flutuava dentro da câmara.
“O que poderia ser isso? Mana altamente concentrado?”
Milhares ou talvez centenas de milhares de pequenos orbes de mana flutuavam pelo ar. Eles preenchiam o espaço, seus números absolutos iluminando a câmara inteira. Ele observou enquanto eles esbarravam uns nos outros e contra as paredes, desencadeando um fenômeno estranho que nunca tinha visto antes. Era como se estivessem consumindo a pedra, expandindo a caverna e esculpindo novos corredores conforme se moviam.
“Poderia ser… expansão de masmorra? Não era o que eu esperava…”
Roland veio aqui para encontrar algo que pudesse empurrá-lo além do seu nível atual sem a necessidade de se aventurar em outros territórios. Ele ainda esperava descobrir uma entrada escondida para a super masmorra, o que lhe permitiria lutar contra monstros de nível três de nível mais alto e reunir materiais ainda mais valiosos. Em vez disso, tropeçou em uma parte da masmorra que ainda estava em processo de montagem. Havia lido sobre tais ocorrências em escritos antigos, mas elas nunca foram devidamente pesquisadas.
Normalmente, uma masmorra se expande até ficar grande o suficiente, com cada andar já preparado para os aventureiros que ela busca atrair. Uma vez concluída, ela abre um caminho para as pessoas entrarem, e seu ciclo de vida começa. As pessoas começam a fluir para dentro, e ela consome seu mana para ficar ainda mais forte e, com tempo suficiente, pode ficar ainda maior.
‘Então é provavelmente por isso que não foi criada uma entrada.’
Ele já havia explorado os níveis superiores, que se estendiam bem acima, mas nunca revelavam uma entrada. O motivo agora estava claro. A masmorra estava inacabada e ainda se expandia em todas as direções. No entanto, a questão importante permanecia. Era só isso que havia? Esses túneis, cheios de luzes brilhantes e caminhos em constante crescimento, pareciam infinitos. Mas eles poderiam realmente levar a algum lugar?
“Uau…”
Ao olhar ao redor, ele ouviu passos, e não de dentro da caverna larga, mas do corredor pelo qual tinha acabado de passar. Eram os anões que ele havia ordenado que ficassem para trás. Eles tinham se recuperado rapidamente do surto de mana e agora estavam se aproximando cautelosamente da nova abertura. Seu líder, um velho mineiro grisalho, deu um passo à frente primeiro, esfregando a barba enquanto olhava para a vasta câmara.
“Pelos ancestrais…”
Ele murmurou, claramente incomodado com a visão.
“Em que diabos tropeçamos?”
Roland virou-se para eles, de braços cruzados.
“Eu disse para vocês ficarem para trás.”
“Sim, ficamos.”
O anão respondeu, embora não houvesse nenhum sinal de desculpas em seu tom.”
Mas você não pode esperar que fiquemos parados aí depois de testemunhar algo assim. Estou cavando há décadas, rapaz, e nunca vi algo assim… Acha que vale alguma coisa?”
O velho anão continuou olhando ao redor como se estivesse procurando por um cristal de mana ou um rico depósito mineral, mas não encontrou nada. Como um minerador altamente habilidoso, ele geralmente conseguia sentir onde minérios exóticos estavam escondidos, mas aqui, não detectou nada. A câmara estava cheia apenas de luzes estranhas e da expansão lenta e contínua da masmorra, nada como o que ele esperava.
“Primeiro, protejam a entrada. Ela já está se fechando. Vou explorar mais. Vocês todos fiquem aqui e não saiam.”
“Tudo bem…”
Roland voltou seu olhar para a caverna em constante expansão. Os orbes de mana flutuavam preguiçosamente, seu brilho refletindo nas superfícies rochosas e em sua armadura. O pulso constante de magia no ar era diferente de tudo que ele já havia encontrado antes, e era bem problemático, para dizer o mínimo.
‘Todos os meus sensores estão enlouquecendo. Há muita poluição de mana no ar.’
Ele foi forçado a confiar em uma abordagem menos mágica: mapear a área usando câmeras que identificavam os arredores por meio da visão. A imagem era então processada por um de seus programas rúnicos para criar uma parte do mapa em uma espécie de técnica de escaneamento. Esse processo era muito mais lento do que seu pulso rúnico usual, que identificaria rapidamente o mana na área e criaria um mapa quase instantaneamente.
‘Isso pode demorar um pouco…’
Depois de se aventurar por cerca de quinze minutos, Roland parou. Não havia nada ali, e nenhum fim à vista. Os mineradores tinham desaparecido de vista, e outro problema surgiu. Ele estava cego. Embora pudesse criar um mapa bruto usando outra técnica, era impossível obter um sinal. Ele não tinha como saber o que estava acontecendo atrás dele. Seu acesso à rede rúnica estava completamente cortado, tudo por causa da poluição de mana no ar.
‘… Não é bom, mas é muito cedo para desistir.’
Uma runa na parte de trás de sua armadura começou a brilhar e, de repente, um golem aranha saltou para fora. Ele rapidamente puxou um longo cabo metálico já preso a um grande carretel. Depois de prender o cabo ao golem e instruí-lo a continuar com a missão de reconhecimento, recuou em direção à entrada. Lentamente, desenrolou o carretel de cabo enquanto se movia. Se soluções sem fio não fossem uma opção, faria do jeito antigo.
Então, voltou sua atenção para o mana. Era espesso, como vapor, não tão potente quanto o fluido usado para golens ou as formas cristalizadas de mana, mas a quantidade era enorme. Uma vasta quantidade de energia estava sendo gerada aqui, e mesmo que eles já tivessem geradores geotérmicos, isso não significava que não pudessem aproveitar mais dela.
No entanto, perguntas começaram a surgir em sua mente enquanto ele observava o ambiente desconhecido. Para onde essa vasta extensão de masmorra levava? Ele ainda estava dentro da mesma masmorra? E mais uma pergunta… uma que o incomodava muito. Esse lugar era mesmo uma masmorra, ou algo totalmente diferente?