A queda da estrela.
Rumores se espalharam rapidamente sobre o que cada ser dentro do Abismo viu.
— Myad estava certo!
— Ele alegou que o Grande Irmão estava em forma de estrela por centenas de anos e finalmente…
— Então, afinal ele fez tudo aquilo para destruir o Grande Irmão!
A luta de Myad começou a ser glorificada e tornou-se verdade, influenciando todo o <Abismo>. Depois de uma semana, havia outra verdade que todos passaram a aceitar.
-O <Grande Irmão> caiu.
Foi o incidente mais chocante dos duzentos e dez mil anos de história do <Abismo>.
— Droga. Aquela maldita coisa enterrou Jaehwan e o sétimo local!
Sétimo local, Sala do Trono de Edmunt…
Surha, que era a estrategista dos ‘Portadores do Fim’, estava discutindo assuntos com Pierre. Ela murmurou enquanto andava pela sala sem parar.
— Ugh, isso é loucura. Devíamos ter inimigos correndo para o sétimo local agora…
O incidente fez Jaehwan se tornar uma estrela instantânea. O incidente chamado [Retorno da Esperança] era a única chance para o sétimo local e os Portadores do Fim crescerem em poder. Surha sabia disso. E por isso usou cada grama de seu poder para espalhar o nome de Jaehwan e fazer com que ele atuasse como um símbolo para lutar contra a Ruptura.
Mas há uma semana, no [Dia da Revolução], seus planos viraram pó.
A atenção de todos estava agora em Myad e na Ruptura. Mesmo no sétimo local, a Ruptura e o Grande Irmão eram problemas maiores do que o próprio Jaehwan.
— Ugh. Pierre, fale comigo. O que devemos fazer agora? O que você acha?
No meio de todas as perguntas, Pierre apenas olhou pela janela estupefato. Surha não esperava uma resposta, então não se importou.
“Eu não sabia que a Ruptura faria isso… Então o que realmente aconteceu?”
Ela sentiu como se sua cabeça fosse explodir só de pensar em todas as perguntas que tinha.
— Pierre, o Mestre realmente derrotou o Grande Irmão?
Ela estava confusa. Sua cabeça se recusava a acreditar, mas ela viu com seus próprios olhos. A estrela. Ela ainda se lembrava da cara que Myad fazia sempre que apontava para a estrela.
-Surha, é ali que está o nosso objetivo.
Ele tinha razão. A estrela que foi destruída foi a estrela que Myad mostrou a ela antes.
“Mas é impossível. Eu não vi esse futuro. O Mestre não planejava lutar contra o Grande Irmão…!”
Surha mordeu os lábios ao se lembrar da [Premonição] que viu antes.
O <Abismo> em vermelho sangue. A Ruptura que havia caído e os deuses que foram destruídos. Myad, levantou-se sobre tudo o que havia terminado, declarando um novo mundo.
Era realmente Myad?
Foi uma das premonições mais fortes e claras, e ela tinha que acreditar. No entanto, cada pedaço de realidade estava se opondo à sua premonição agora.
Myad de repente voou para o céu e derrubou a estrela.
Myad, que havia sido acusado por todos, agora estava se tornando o salvador do <Abismo>. Agora havia forças concordando com sua Invasão do Abismo como um todo.
A queda do Grande Irmão tinha muito significado. Surha perguntou novamente.
— Pierre. O Grande Irmão realmente caiu? Você acha?
Pierre olhou para Surha e voltou-se para o céu. Ele estava olhando para o céu cada vez mais ultimamente.
— Talvez sim. Talvez não.
Surha ficou curiosa.
— O que quer dizer?
— Eu quis dizer o que disse. Talvez sim e talvez não.
— É uma tendência dificultar as coisas? Aquele pirralho fazia isso um tempo atrás.
Surha franziu a testa ao pensar em um garoto murmurando ‘Ouroboros’.
— Você me disse antes que Myad não podia derrotar o Grande Irmão.
— Sim.
— Então, como Myad derrotou o Grande Irmão?
— Não sei.
— O quê?
Surha mal se conteve para não gritar. Suas discussões com Pierre eram sempre assim. Ela se lembrou daquele menino Ouroboros explicando que ‘É tudo por causa de Ouroboros’.
“Pierre foi para a floresta também.”
Jaehwan, Runald e Pierre. Esses foram os que visitaram a Floresta da Loucura. Ela percebeu que todos compartilhavam semelhanças em como discutiam as coisas. Para eles, coisas importantes nunca eram ditas com clareza.
Surha não tinha certeza do que Jaehwan estava pensando agora. Ela sabia que ele estava tentando subir ao topo da Árvore das Miragens para destruir o Sistema, mas não tinha certeza do que o fez querer fazer isso e o que o estava levando. Runald uma vez falou com Surha, que estava frustrada.
-O problema é a pergunta.
-Pergunta?
-Você tem que fazer a pergunta certa.
Ela não prestou muita atenção, mas pensou que talvez fosse verdade. O importante era a pergunta… Surha olhou para Pierre. Algo lhe veio à mente.
— Pierre. Você disse que o Grande Irmão é uma ‘lua’ para você.
Pierre parou e balançou a cabeça lentamente.
— Você ainda vê aquela ‘lua’?
Pierre ficou hesitante e respondeu:
— Não.
— Oh… Droga.
Surha respondeu com desapontamento. Desta vez, Pierre se voltou contra Surha. Era a pergunta certa.
— Eu não vejo mais a lua, então você acha que o Grande Irmão desapareceu.
— Não vou negar isso.
Surha pensou que se o Grande Irmão realmente desaparecesse, todo ser que pudesse vê-lo não poderia mais. E no <Abismo>, apenas quatro pessoas podiam ver o Grande Irmão.
Myad, Budda, Pierre e Jaehwan.
Surha tinha duas perguntas a fazer. Mas talvez ela não precisasse perguntar as duas coisas. Uma era o suficiente.
— Pierre, se você não consegue ver o Grande Irmão, acho que o Mestre o derrotou. Deve ser verdade.
— Verdade…
Surha ficou surpresa ao ver Pierre parecendo tão solitário.
— A lua desapareceu do meu mundo único.
Pierre começou.
— Tenho certeza que é o mesmo para Budda. Os fundadores da Ruptura compartilham o mundo único de alguma forma.
— Hã? Você quer dizer…
— Se o mundo de Myad perder a ‘estrela’, então minha ‘lua’ também desaparecerá. Será o mesmo que a ‘estrela’ no mundo de Budda.
Surha não sabia que os fundadores da Ruptura compartilhavam seu mundo único. No entanto, fazia sentido, pois foram eles que criaram o mundo único da Ruptura. Eles estavam apenas olhando para o mesmo mundo de maneiras diferentes.
Isso significava que algo tinha que ser certeza.
— Então, o Grande Irmão está morto?
Surha não tinha certeza de seu desespero. Se o Grande Irmão estava morto, era uma coisa boa. Ela só não sabia por que não se sentia tão bem com isso.
— Não tenho certeza.
— Por quê?
— Porque ninguém sabe o que realmente é o Grande Irmão.
Era outra pergunta como resposta. Surha tentou gritar com raiva quando Pierre falou.
— Surha, você é de uma [Região Remota], certo?
Foi tão repentino que Surha perdeu a chance de gritar com raiva.
— Sim…
— Como era o lugar?
— Era um planeta pequeno. Comum. Com muitos seres vivos… Esse tipo de planeta.
— Planeta…
Pierre sorriu e perguntou:
— Como você pode ter tanta certeza?
— Hã? Quê?
— Que era um planeta. Como você pode ter certeza?
— Que bobagem é essa?
Surha sentiu como se estivesse sendo tratada como idiota.
— É de conhecimento comum. Tínhamos uma coisa chamada ciência. Nós estudamos planetas e outras coisas…
— Ciência… Então, eles provaram que seu mundo era um ‘planeta’?
— Sim, com certeza.
— Então, você confia neles e pensa que seu mundo é um planeta.
— O que você está tentando dizer? Não é senso comum que as regiões remotas são apenas planetas?
— E isso não foi dito por quem estudou ciência?
— Sim… Quero dizer, é um fato. É obvio.
— Óbvio? O que é óbvio? Como pode ser um fato se você nunca foi para o espaço para ver seu mundo com seus próprios olhos?
Surha ficou pasma.
— Não, mas há cientistas que já fizeram isso!
— Então você apenas confia nas palavras deles.
— NÃO! Quero dizer… UGH!
Surha ficou frustrada. Ela não precisava olhar com os próprios olhos para realmente saber. As pessoas aprenderam que era verdade e não havia necessidade de duvidar.
— Você já se perguntou se os cientistas talvez estivessem mentindo?
— Quer dizer… Hein? Quê?
— Mentira. Você já pensou que eles podiam estar manipulando a verdade?
— E por que fariam…
Surha engasgou no meio da frase. Ela agora percebeu que essa discussão não era realmente sobre um planeta ou seu próprio mundo natal. Pierre estava falando sobre o Grande Irmão o tempo todo.
— V-Você está dizendo que o Grande Irmão é falso? Não havia tal coisa desde o início?
— …
— Espera, você não via a ‘lua’ desde o início? Vocês…
— Eu não disse isso.
Pierre olhou para o céu novamente.
— Havia uma estrela. É a ‘verdade’.
— Mas por que…
— Mas não há como provar que a ‘verdade’ que eu via era um ‘fato’ real.
Pierre olhou para o céu. Não havia mais nada do que existia acima. Aquele que ele ansiava e esperava não estava mais lá.
Foi quando Pierre olhou para o homem do lado de fora da janela. Abaixo, havia um homem olhando para o céu. Jaehwan.
Era estranho. Como ele poderia olhar de tal maneira? Eles estavam olhando para o mesmo céu, mas o viam de maneira tão diferente. Ao contrário de Pierre, que havia perdido o que ver, Jaehwan estava claramente olhando para alguma coisa.
“Entendo…”
Pierre sorriu.
“Então, é por isso que eles chamam você de esperança.”
Pierre pensou que finalmente poderia entender um pouco mais os humanos.
Um mês se passou.
-O Grande Irmão está morto. Agora viveremos em um mundo sem ele.
A declaração de Myad se espalhou por toda a Árvore das Miragens em um mês.
Era o início da era da Ruptura.