Sirwen levantou a voz freneticamente.
— P-Por que você está falando sobre o Jaehwan! O que isso tem a ver?!
— Oh, presumo que você esteja interessada em Jaehwan. Acho que esqueci de mencionar.
— P-Por que está assumindo tal…!
— Enfim, vamos supor pelo bem das coisas. Mesmo que você me odeie tanto, se eu te ajudar a ficar com Jaehwan… Você não mudaria seus pensamentos sobre mim?
— I-Isso é… Uh…
Sirwen gaguejou.
— Apenas me responda. Sim ou não. É apenas um exemplo.
— B-Bem… Acho que sim.
— Explica melhor. Você quer dizer que ficaria grata por eu ajudar você e Jaehwan a ficarem juntos?
— S-Sim. Você está certo.
Sirwen respondeu enquanto desistia. Yoonhwan bateu palmas satisfatoriamente e os outros também.
— Você está certo. É exatamente isso.
— O que diabos foi isso mesmo?!
Ela sentiu que tinha sido feita de idiota. Ela olhou para Jaehwan, mas ele não pareceu se importar. Chunghuh e Runald cacarejavam enquanto Sirwen apenas olhava.
Yoonhwan disse:
— O sentimento que você terá em relação a mim é o mesmo que esses vice-gerentes têm atualmente em relação à Ruptura.
— Hã?
— Eles são gratos.
Sirwen ficou confusa. Seus dois mil e quatrocentos anos de consciência voltaram para ela. A história que fez um longo desvio finalmente voltou ao tópico original.
— Espere… Você quer dizer… Os vice-gerentes são…
— Eles são gratos à Ruptura.
— Mesmo depois de tudo que passaram?
— Sim, embora seja difícil de entender.
— Mas por quê?! Isso é impossível!
— Como eu disse, não faz sentido. Mas é um aspecto emocional.
Yoonhwan continuou explicando.
— A queda do Grande Irmão é tão significativa que as pessoas não se importam mais com o que a Ruptura fez com o <Abismo>.
Sirwen então começou a pensar. Na verdade, ela meio que entendeu. O Grande Irmão era o ser mais aterrorizante no <Abismo> até agora.
Ele era o ser que controlava o Sistema e iniciava todas as [Configurações]. Ele era um ser que poderia matar qualquer um a qualquer momento por qualquer motivo. O Grande Irmão era um ser assim. Um tirano que poderia fazer qualquer coisa. E foi a Ruptura quem libertou o <Abismo> desse terror.
“Entendo…”
Sirwen então entendeu.
— Então é isso que você quer dizer. Não temos justificativa.
— Sim. A Ruptura não é o inimigo, mas o herói do <Abismo>.
Myad apareceu de repente e derrubou o tirano no dia da Revolução. Yoonwan continuou.
— E a recente proclamação de Myad está reforçando a Ruptura em seu papel.
— Proclamação? Como assim?
— Ele está afirmando que unirá todos os mundos únicos em um só, para criar um mundo sem guerras, sem o Grande Irmão.
— Isso é impossível…
— Sim, mas é nisso que todo mundo acredita agora. Há rumores de que os locais sob a Ruptura são melhores para se viver. Independentemente disso, acredito que seja um boato falso.
Sirwen sentiu um arrepio.
— Mas isso está errado.
Ele derrotou o Grande Irmão? Poderia ser uma coisa boa se fosse verdade. Mas e todos aqueles espíritos que foram mortos antes de destruir o Grande Irmão? Como matar ele poderia justificar todas aquelas ações malignas?
Sirwen sentiu que era estranho pensar sobre tudo isso. Não era o estilo dela se interessar em questões éticas antes de conhecer Jaehwan.
— É difícil explicar, mas está errado.
— Sim, está errado, mas quem pode culpar a Ruptura por isso?
— …
— Justiça é igualdade, e não há maior justiça do que dizer que você está errado. Quem pode dizer isso a Myad neste momento?
— E daí? Quer desistir agora?
— Não.
Yoonhwan respondeu com um sorriso.
— Temos que encontrar a pessoa. A pessoa que pode questionar Myad. Bem, acho que só há uma pessoa que pode fazer isso.
E todos se voltaram para o mesmo lugar. Sim, não precisava ser mencionado desde o início. A razão pela qual eles puderam se reunir ali foi por causa de uma pessoa.
Mas…
— Hã? Aonde ele foi?
— Ele estava aqui até um momento atrás.
— Jaehwan?
Jaehwan não estava ali.
Fortaleza de Caspion, o oitavo local. Gabinete do Mestre da Ruptura.
Kashim estava se reportando a Myad, que olhava silenciosamente pela janela. Ele tinha um rosto pálido com um bigode não barbeado. O rosto de Myad estava pálido e afundado com o passar dos dias. Kashim evitou perguntar por preocupação e continuou com seus relatórios.
— Aumentamos o número de Perdidos pedindo para se juntar a nós. Os números de cada local são…
O relatório indicou que era difícil controlar o fluxo de voluntários. Myad respondeu com uma voz rouca e cansada.
— Use a simulação para filtrá-los. Mate aqueles sem potencial.
— Tudo bem, senhor?
— Fazemos isso desde sempre. Por que é um problema agora?
— S-Sim, mas…
Kashim ficou hesitante, mas acabou respondendo:
— Entendido, senhor.
Kashim então saiu da sala. Tudo estava indo bem, mas não parecia tão bom para Kashim. Por que isso? Foi quando um homem correu até ele.
— Quarto Capitão.
— Ah, Adel.
Adel agora era um tenente de Kashim. Eles começaram a andar pelo corredor.
— Terminou o relatório, senhor?
— Sim. Vocês?
— Terminei o reabastecimento de nossas tropas. Podemos avançar para o sétimo local amanhã.
— Bom.
— Parece cansado, senhor.
— Não, está tudo bem.
— …
— Você tem algo a dizer?
Adel então perguntou:
— Se me permite, posso fazer uma pergunta?
— Sim. Tudo bem, a menos que seja sobre deixar a Ruptura.
Os dois homens sorriram com a piada e Adel continuou:
— Há rumores se espalhando entre nossos membros.
— Rumores?
— Sobre o Grande Irmão, senhor.
Kashim já percebeu onde a história estava indo.
— Há membros que estão curiosos para saber por que o Sistema ainda existe, sendo que derrotamos o Grande Irmão.
— Você está bem ciente de que matar um Deus não remove tudo.
— Além disso, a rede do <Pequeno Irmão> ainda está intacta e não há nenhuma mudança nas <Grandes Terras>. Os membros estão…
Kashim então levantou a mão para parar e falou.
— Adel. São realmente nossos membros que estão curiosos? Ou é você?
— Para ser honesto, senhor, são os dois.
— Adel.
— Sim, senhor.
Eles estavam agora fora do corredor. Adel não tinha certeza se essa frieza era do clima externo ou de seus sentimentos. Kashim perguntou:
— Eu não te disse antes?
— Sobre…?
— A simples queda de uma estrela não muda o mundo.
Kashim olhou para o céu. Não era apenas Kashim. A maioria dos seres do <Abismo> recentemente começou a olhar para o céu com frequência. Como se tivessem acabado de perceber que havia um céu, as pessoas ficavam olhando para cima. Eles continuaram olhando para cima como se algo fosse aparecer se eles continuassem fazendo isso.
Adel perguntou:
— Sabe alguma coisa sobre isso, senhor?
— Não. Sou apenas um Despertado ‘comum’.
— Comum…
— Sim. O que eu saberia?
Ambos olharam para o céu sem palavras. Eles estavam olhando para o mesmo céu, mas não parecia assim. Adel se sentiu um pouco sozinho.
O que havia naquele céu? O que eles fizeram de errado, ou o que queriam deles para que este mundo existisse?
E neste mundo, o que o Mestre da Ruptura queria alcançar?
— Não sei muito, mas sei de uma coisa.
Kashim falou amargamente:
— É apenas o começo da guerra.
No dia seguinte, as notícias das forças da Ruptura avançando em direção ao sétimo local, Eepoche, se espalharam elo <Abismo>. E não foi explicado, mas a Fortaleza da Ruptura no oitavo local explodiu ao mesmo tempo.
Era o começo da última guerra do <Abismo>.