[Há algo pior do que morrer. Se você tivesse visitado o <Caos> pelo menos uma vez, saberia do que estou falando.]
-Yoo Surha, Capitão do segundo Esquadrão de [Ruptura].
Episódio 5. Homem morto.
Três dias depois.
Jaehwan estava na entrada da <Queda do Crepúsculo> com sua bainha. O trabalho que ele pensou que levaria um dia, na verdade, levou três, mas ainda era muito menor que a média de três semanas para processar um chifre. Meikal e alguns artesãos vieram para se despedir.
— Vai mesmo partir?
— Sim, já tenho o que precisava.
Ele também conseguiu algumas informações inesperadas. Quando Jaehwan [Compreendeu] a [Criação], ele adquiriu uma informação interessante. Esses monstros não estavam surgindo naturalmente. O chifre de Garnak já tinha sido [Criado] antes deles trabalharem nele. Isso significava que—
“Os monstros são a criação de alguém.”
Não tinha como saber quem fez isso e por qual motivo, mas com certeza eram obras-primas feitas com cuidado. Jaehwan bateu na bainha e falou:
— Gostei dela.
Parecia que a espada dele também havia gostado, já que soltou um suspiro satisfeito. A bainha brilhava com uma luz negra. Sua durabilidade e habilidade para cortar a energia escura do lado de fora eram ótimas, mas a bainha também tinha o poder de assustar bestas de três chifres ou menos com algo chamado [Presença de Garnak], que era útil. Meikal olhou para a bainha e perguntou:
— Ah, escolheu o nome de sua espada?
— Não.
— Se estiver tudo bem, posso nomeá-la por você?
Meikal sorriu e disse:
— Senti algo depois de te observar por três dias.
Foram dias curtos, porém impactantes.
— Não sei o que deseja fazer e por que me mostrou aquele “mundo”.
Meikal se lembrou do mundo. Depois de sair dele, tudo parecia uma mentira. Ele provavelmente nunca mais teria permissão para ver aquele mundo novamente. Foi por causa de Jaehwan que Meikal, que estava muito acostumado com a habilidade e a interface, conseguiu ver o mundo. Foi um sonho? Uma alucinação? Ou…
Meikal olhou para Jaehwan.
— Mas uma coisa eu sei.
O que quer que fosse, uma coisa era certa.
— As pessoas desse mundo não vão gostar de você.
Nesse mundo, a verdade não significava justiça. As pessoas aqui estavam acostumadas demais com a realidade de seus costumes. Eles não gostavam de incerteza e complicação e esse homem era uma mistura de tudo isso.
— Alguns podem ficar admirados com você, mas a maioria não vai.
Meikal pensou na primeira vez que Jaehwan apareceu. Um homem que não conhecia modéstia.
— Alguns podem ter medo de você.
Ele era violento.
— Alguns vão te menosprezar.
E ele parecia estupidamente estranho.
— Alguns vão te ignorar.
Meikal sabia. Ele sabia que o que Jaehwan fez lhe compraria ódio. O mundo o rejeitaria e alguns até iriam querer matá-lo.
— Mas você ainda quer salvar aquele “mundo”?
Meikal queria impedi-lo. Mesmo que o mundo que lhe foi mostrado fosse ótimo, e continha algo que todos das <Grandes Terras> tinham que saber, Meikal desejava que Jaehwan desistisse disso e vivesse.
Entretanto, Jaehwan não respondeu. Meikal então soube que o homem não tinha uma escolha. O mundo era a vida dele. Ele enfrentaria o mundo sozinho não importa o que acontecesse.
Meikal riu.
— Só tem um nome que combina com essa espada.
Meikal ordenou que alguém trouxesse um martelo e um formão e usou a habilidade [Criação] para gravar as letras na bainha de Jaehwan.
-Lobo Solitário.
— Adeus.
Jaehwan assentiu e foi embora. Antes que Jaehwan pudesse ir muito longe, Meikal disse:
— Deixe-me te perguntar uma coisa.
Jaehwan parou.
— No “mundo” que você vê… O que eu sou?
Jaehwan não se virou, como se recusasse a se virar. E respondeu:
— Um humano.
Ele então partiu. Meikal sabia o motivo dele não ter virado. Meikal suspirou.
“Quem pode entender esse mundo?”
Havia uma garota indo em direção a ele. Meikal riu.
— Juventude, hein?
Jaehwan sentiu que algo havia mudado enquanto caminhava. Algo que normalmente estava ao seu lado não estava lá. Algumas vezes o cutucava enquanto ele estava na oficina e aparecia do nada como um gato, mas estava desaparecido desde ontem. Talvez finalmente tivesse ido embora.
— Está procurando por mim?
Minora apareceu com as roupas limpas. Ela usava um top escuro curto com meias pretas. Ela ainda tinha a capa preta sobre ela.
— Por onde esteve?
— Ali por perto.
— O que estava fazendo?
— Negócios. Sou uma mulher de negócios, sabe? Ah, e toma isso.
— O que é?
— Suas roupas. Não pode continuar andando por aí que nem um mendigo.
Ele então lembrou que sua roupa ainda estava esfarrapada e pegou as roupas. Tinha um estilo medieval, mas estava tudo bem. Estava tudo preto até o casaco.
— É só meu pedido de desculpas.
— Entendo.
— Talvez devesse agradecer?
— Obrigado.
Minora então se virou para olhar para a <Queda do Crepúsculo> à distância. Meikal e os artesãos ainda estavam observando.
— Devem ter gostado de você.
— Impossível.
— Você pareceu ser próximo àquele velhote.
— Você entendeu errado.
— Mas ele olhava para você como um amante ou algo do tipo.
— …
Jaehwan não respondeu. Eles caminharam pelas ruas largas por um tempo. Então foram para o lado da rua com mais pessoas.
— Por que ainda está me seguindo?
— Por quê? Acha que eu posso ter algum motivo obscuro ou algo assim?
— Também estou considerando isso.
A expressão de Minora mudou por um curto momento, mas Jaehwan percebeu. Minora sorriu e perguntou:
— Como soube?
— O que está planejando?
— Te matar.
— E fazer o quê?
— E pegar sua Pedra Espiritual.
— E depois?
— Não pensei depois disso. Bem, vai me render uma boa grana, então é um começo.
Jaehwan sorriu. Se ela realmente estivesse falando sério ou não, não ia acontecer. Minora sentiu o orgulho dela sendo ferido.
— Tô falando sério, tá?
— Claro.
Minora estava curiosa sobre onde Jaehwan ganhou tanta confiança. Ela achava que vinha da força dele, mas Minora conhecia outros indivíduos poderosos como Jaehwan, como o líder do clã em que ela estava. Mas a confiança de Jaehwan era diferente da deles. Minora então sentiu que Jaehwan não era desse mundo.
— O que vai fazer agora?
— Vou me encontrar com os [Pesadelos].
— Como?
— Meikal me ensinou como.
— E o que vai fazer quando encontrá-los?
— Perguntar sobre a Árvore da Miragem e encontrar o caminho para ir para o <Abismo>.
O rosto de Minora ficou estranho.
— Por que iria querer fazer isso? Para ficar mais forte? Ou ser renascido?
Havia pessoas que desejavam subir para o <Abismo>, o galho da Árvore da Miragem. Muitos não conseguiram e os que foram na maioria das vezes nunca retornaram. Até os que retornaram e receberam o título de “Homem Forte do Abismo” se tornaram vítimas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que os destruiu.
Cansado, Jaehwan perguntou:
— Está TÃO curiosa assim sobre meu motivo?
— Sim.
Jaehwan olhou friamente para Minora. Ela hesitou, mas não recuou.
— Não vai acreditar em mim mesmo se eu te contar.
— Experimente.
Jaehwan se virou para o céu e Minora olhou para ele. Então Jaehwan disse algo.
Minora ficou confusa. Ela não conseguiu entender de primeira. Não era porque ela não entendia as palavras dele. Era só porque—
Era simplesmente impossível.
Minora morreu de rir. Devia ser uma piada, e foi o que ela pensou. Entretanto, ela percebeu que Jaehwan não estava brincando. Ela franziu a testa.
Depois disso, sentiu, mesmo sabendo que era impossível, que Jaehwan poderia ser capaz de fazer o que ele disse que faria. Ela ficou irritada.
— O que é você? O que te faz pensar que pode fazer isso? Quem é você para fazer isso?
— …
— Eu te odeio.
Minora não conseguia nem entender por que estava ficando irritada.
— Você faz o que está a fim, não tem educação, não fala, menospreza todo mundo e…
Ela falou baixo.
— Você não considera os outros humanos.
Minora percebeu que não deveria ter dito isso, mas continuou falando:
— Todos eles estão passando por dificuldades mesmo sem você fazer isso. Nós mal saímos das raízes, chegamos nas <Grandes Terras> e morremos até chegarmos aqui.
Minora pensou por que estava dizendo tudo isso. Era por causa da raiva? Ela não sabia. Mas precisava falar.
— Você me perguntou se eu era humana naquela época?
Minora pensou sobre o que Jaehwan tinha perguntado. Ela sabia o que ele quis dizer na época, mas talvez não fosse isso que ele quisesse dizer.
— Eu sou humana. Não sou tão forte ou confiante como você, mas ainda sou humana.
Talvez a palavra “humano” significasse algo maior para ele, mas isso era muito complicado para Minora.
— Até onde eu sei, um “humano” é alguém que vive dia por dia e considera sua sobrevivência a felicidade. E não viver com um sonho grande.
Havia uma bifurcação no fim da estrada. Minora sentiu que era o destino que estava à frente dela.
— Nesse sentido, você não parece um “humano” para mim.
E eles chegaram na bifurcação na estrada.
— Deveríamos nos separar aqui.
— …
— Não posso mais continuar com você por “esse motivo”.
Minora então correu para a rua que estava cheia de mercadores. Jaehwan a observou até ela desaparecer na multidão. A primeira “humana” que ele havia conhecido. Depois de um momento, ele murmurou:
— Eu deveria trocar de roupa primeiro.
Mino chegou na taberna. Era a da Claire.
“O que me trouxe aqui?”
Minora pensou enquanto encarava a porta. Esse não era o plano. Jaehwan deveria tê-la seguido até aqui e aberto a porta primeiro, mas ela não conseguiu. Ela o havia ensinado sobre humanos e outras coisas e não conseguia trazê-lo aqui. Ela queria deixar o homem saber que os humanos aqui não eram pessoas más. Eles podem não ter os requisitos que Jaehwan havia estabelecido, mas ainda eram humanos.
Minora abriu a porta e entrou.
— Sinto muito, tia. Estou atrasada?
Claire estava amarrada na cadeira com uma expressão vazia no rosto. Ela se virou para Minora e sorriu.
— Sabia, sua pirralha.
— …
— Eu deveria ter te impedido mais cedo.
— Sinto muito.
Claire balançou a cabeça enquanto ria.
— Você vai nos matar “de verdade” dessa vez.
Claire limpou a Torre dos Pesadelos com Minora e até ficou com ela no <Caos>. Minora mordeu os lábios enquanto olhava para Claire. Ela não conseguiria salvar sua amiga mais.
— Bruxa do massacre.
Uma voz fria ecoou pela taberna. Não era apenas a taberna, toda a área em volta do estabelecimento estava preenchida com uma energia assustadora. O dono da voz era o homem que tinha vindo visitar Minora há alguns dias.
— O que aconteceu com nosso acordo?
— Ele não vem.
A atmosfera era amedrontadora. Entretanto, Minora só riu naquela atmosfera. Talvez ela tivesse sido influenciada por Jaehwan.
— Ele se foi para destruir o mundo.
para que seu mundo sobreviva, outro precisa cair. jaehwan colocou em seu mundo a definição de humano para ele, mas outras pessoas que não se encaixam no seu mundo continuam sendo humanas?
Então eu me pergunto,será que os humanos do mundo original dele são os “humanos” que ele afirma?