The World After the End – Capítulo 25

Viveu por tempo demais? Foram os artesãos ao redor deles que ficaram irritados com as palavras de Jaehwan.

— Como se atreve?!

Mas Meikal estava calmo. Ele estava refletindo sobre aquelas palavras.

— O que quer dizer com isso?

Jaehwan não o respondeu imediatamente.

— Use sua habilidade de novo.

Meikal se levantou e seguiu o que Jaehwan disse para ele fazer. Ele segurou o formão e o martelo e bateu no chifre. Uma, duas e uma terceira vez. Jaehwan parou Meikal e perguntou:

— O que você viu?

— Como assim?

— Quando usou a habilidade, o que viu?

Meikal ficou confuso, mas Jaehwan balançou a cabeça.

— Olhe de perto e faça isso de novo.

Meikal usou a habilidade de novo. Os ouvidos dele estavam cheios com a mensagem dizendo “a habilidade falhou”. Ele ignorou a mensagem e ficou encarando no momento em que tinha usado a habilidade, mas não conseguia ver nada. Tudo que ele via era o martelo e o formão.

— Sim, você vai ver esse tipo de coisa.

— Está brincando comigo?

Meikal quase jogou o martelo em Jaehwan de raiva. Jaehwan perguntou:

— Você sabe como o formão e o martelo conseguem trabalhar no chifre?

Meikal pensou e respondeu:

— A habilidade [Criação]…

Jaehwan balançou a cabeça.

— Fiz a pergunta errada. Vou te perguntar de novo.

Jaehwan olhou diretamente para Meikal, encontrou as palavras certas e perguntou:

— Sabe como a sua habilidade [Criação] funciona?

O rosto de Meikal ficou incrédulo.

— Jovem, sabe do que está falando?

Meikal parecia irritado.

— Quer saber como a habilidade funciona?

Havia inúmeras habilidades, mas todas eram baseadas em outra. As habilidades da origem. A [Criação] dos [Pesadelos] era uma dessas habilidades. Elas existiam muito antes de qualquer outra. Existiam antes mesmo do mundo surgir. Pelo menos era o que todos nas <Grandes Terras> pensavam.

Como um humano poderia explicar as origens de uma existência dessas? E qual era o sentido de fazer isso?

Jaehwan concordou.

— Certo. Então você não sabe exatamente o que está fazendo e só continua usando sua habilidade.

Meikal cerrou os dentes. As palavras de Jaehwan tinham ferido o orgulho dele.

— O poder espiritual fortalece o martelo e o formão e exerce o poder para trabalhar no chifre. Provavelmente é assim que a habilidade funciona.

— Sério? Se é tão simples assim, então por que ninguém mais pode usá-la?

— Isso…

Era simplesmente porque eles não aprenderam a habilidade. Meikal tentou responder, mas recuou.  Não fazia sentido. Se a maneira como a habilidade funcionava era simples assim, então não fazia sentido que alguém tivesse que aprendê-la para usá-la.

— Você não conhece sua habilidade, mas está usando.

Meikal começou a odiar o homem. Ninguém sabia como a habilidade [Criação] funcionava e esse cara estava o insultando só por causa disso.

— Você parece saber como ela funciona.

— Sim. Acabei de descobrir.

— O quê?

Jaehwan então tocou o chifre com a mão. A superfície rodou como se estivesse reagindo ao toque dele. Em seguida, algo inacreditável aconteceu na frente de Meikal.

— C-Como você usou a [Criação]…?!

Jaehwan cortou o chifre com o dedo enquanto o passava pela marcação branca. Meikal ficou atordoado. Ele sentiu as pernas perdendo a força e desmoronou no chão. Ele estava cheio de inveja e desespero.

— O-O que é você? Como ganhou essas bênçãos e esse talento?

— Não é um talento.

Jaehwan respondeu com firmeza.

— Olhe de perto novamente e me diga o que vê.

Meikal olhou para a ponta do dedo de Jaehwan novamente. As partículas que o dedo dele tocou foram desenterradas como se algo as tivesse comido.

— As partículas estão sendo destruídas?

Jaehwan balançou a cabeça. Meikal olhou mais de perto.

— Não vai ser fácil. Seu grande esforço tornou o seu “mundo” mais resistente.

Jaehwan estava certo. Até quando Meikal estava observando com os próprios olhos, ele não confiava totalmente em Jaehwan. Ele estava cego pela suspeita de que estivesse sendo enganado. Havia a desconfiança dele em relação ao jovem, e a teimosia por seu trabalho. O produto que ele fortaleceu ao longo dos anos não foram as habilidades dele, mas sim o orgulho.

— O seu trabalho por si só não estava errado.

— Então…

— Se você tentou tanto, agora já deve ter percebido.

As partes do chifre que o dedo de Jaehwan tocou foram destruídas.

— Se tentar tanto não funcionou, é esse mundo que está errado. Não você.

— M-Mas…

Meikal não conseguia entender. Como isso era possível? Meikal pensou nos dias em que ele tinha acabado de aprender a habilidade [Criação]. A juventude dele foi cheia de incertezas. Ele acreditava que poderia se tornar um [Pesadelo] um dia, mas tinha muitas dúvidas. Ele não tinha certeza de que fazer a mesma coisa que um [Pesadelo] poderia levá-lo além deles.

Meikal eventualmente decidiu se esforçar mais e mais. Ele usava a habilidade de novo e de novo. Ele se esforçou tanto que não conseguia nem pensar. Depois de se esforçar e ser recompensado com uma sensação de conquista, ele esqueceu de sua dúvida. Entretanto, era normal, já que a taxa de sucesso dele aumentava à medida que sua habilidade melhorava. Foi o mundo que o recompensou pelo esforço dele.

Foi assim que ele chegou aqui.

Não tinha outro caminho e o único caminho dele agora estava bloqueado.

— Esse mundo está errado?

A voz de Meikal ficou séria:

— E o que sugere que eu faça?

Era a voz dos 150 anos de trabalho duro dele.

— Quer que eu enfrente o mundo?

Jaehwan olhou para Meikal. Eram os olhos de um velhote que foi traído pelo mundo em que acreditava, mas ele não conseguia abandoná-lo.

— Você pode até ser velho, mas ainda pode lutar.

Os olhos de Meikal tremeram.

— Olhe de perto novamente. Não conte com mais nada. Só use seus olhos.

Meikal entendeu o que ele disse. Jaehwan estava dizendo para ele jogar fora todo o conhecimento que tinha aprendido e todas as habilidades que conhecia. Rejeitar tudo que ele havia construído ao longo desses anos. No entanto, Meikal ficou curioso sobre o que ele veria. Talvez fosse apenas a parte da juventude que restava nele.

Meikal esqueceu da habilidade.

Era difícil se livrar do aprisionamento que o restringia, mas ele não parou. Ele se concentrou na ponta do dedo de Jaehwan. Ele se esforçou para ver o que tinha deixado passar. Jaehwan pegou o martelo e o formão e a habilidade [Criação] brilhou no final.

Depois de várias batidas, Meikal sentiu seu espírito desintegrando. Toda a lógica e sentidos dele foram quebrados. Em seguida ele sentiu algo sendo destruído e uma nova verdade apareceu para ele.

Então ele sentiu que viu algo que nunca tinha visto antes. Ele fechou os olhos para impedi-lo, mas ele sabia. O mundo em que tinha vivido se foi. Agora, ele estava entrando em um novo mundo.

Havia um chifre na frente dele.

No entanto, não era um chifre. Era um monstro gigante tão alto quanto uma muralha com vários dentes afiados e espinhos saindo de seu corpo. Meikal estremeceu e observou.

Ele esteve encarando tal coisa até agora. Ele estava usando sua habilidade insignificante contra um monstro desses.

Ele olhou em volta e havia cadáveres perto da área onde os artesãos estavam. A pele deles estava podre e os olhos cheios de vermes. Meikal sentiu que ia ficar louco.

Então havia Jaehwan.

Com seu martelo e formão, ele estava encarando os monstros sem nenhuma habilidade.

O monstro atacou Jaehwan e ele atacou de volta. O monstro gritou e cuspiu sangue de seu corpo, mas não pareceu estar incomodado. Estava gostando. Os cadáveres ao redor deles aplaudiram, sem saber se estavam torcendo por Jaehwan ou pelo monstro. Em meio a tanto caos, Meikal estava atordoado e com medo.

“Esse cara… Ele sempre esteve olhando para esse mundo?”

O mundo além de habilidades, atributos ou níveis. Nada era oculto, então era vulgar, mas era um mundo justo. Meikal estava com medo, mas emocionado.

Esse era o Mundo pós-apocalíptico.

Como esse mundo podia existir? E como esse homem não ficou louco?

Meikal então olhou nos olhos de Jaehwan. Jaehwan parecia um homem comum nesse mundo. Ele não era nenhum herói ou salvador do mundo. Era só um cara normal. A única coisa que ele tinha era a coragem de não desistir desse mundo. Meikal então entendeu a loucura de Jaehwan. A solidão dele. A tristeza. Ele entendeu e sabia que ninguém poderia entender Jaehwan completamente.

O chifre “olhou” para Meikal.

— Você não pode vir aqui.

O medo da rejeição do mundo. Meikal recuou com medo. Não havia para onde ir. O monstro se aproximou com sua boca aberta. O interior estava cheio de cadáveres e Meikal viu o próprio reflexo nos olhos gigantes do monstro.

“Como… Como eu… Nesse mundo…”

Foi o que Meikal pensou antes do monstro engoli-lo. Ou quase isso.

Jaehwan franziu a testa e puxou Meikal para fora. Jaehwan limpou o suor e falou:

— Se recomponha.

— Argh…

— Esqueceu que estamos trabalhando? Me ajude.

Meikal encarou o monstro novamente. Com a mão de Jaehwan no ombro dele, Meikal ganhou coragem. Coragem para enfrentar o mundo sem nenhuma habilidade. Coragem para andar por um caminho que ele nunca tinha andado. Coragem para tomar a atitude que ele poderia ter tomado há muito tempo.

Então sua mão ficou coberta de carne. As veias apareceram nela, e sangue novo fluiu. Seu coração disparou e sua visão clareou. Ele sentiu que seu corpo estava cheio de energia, assim como nos dias de sua juventude.

Ele atacou o monstro, em direção ao chifre de Garnak.

Dois dias depois, a bainha estava completa.