Era difícil saber o que estava acontecendo. Leon não sentiu nada quando morreu. Talvez aquele monstro fosse misericordioso o bastante para destruir seu sistema nervoso antes de matar todos para não os deixar sofrer. Porém, somente alguém insano como aquele monstro faria isto. Embora o monstro tenha os poupados da dor, o bastardo tirou a posses mais valiosas deles: as vidas. Ao perder suas vidas, aqueles perderam tudo. A única coisa que permaneceu foram as memórias daqueles que continuaram vivos. Todavia, o monstro tirou até isso deles. O universo retornou ao estado original… onde nenhum ser senciente ou sapiente existiam.
“Mmm?”
Leon notou que pensou ter morrido, mas sua mente ainda estava funcionando. No entanto, não podia fazer nada além disso. Não conseguia sentir sua mana ou mesmo um dedo. Melhor dizendo, não conseguia sentir seu corpo. Pelo olhar das coisas, estava em sua verdadeira forma espiritual.
“Então, é isto, hein? Acho que fui um pouco ganancioso demais. Queria o final perfeito, mas falhei, e como apostei tudo, perdi tudo.”
Leon não tinha olhos, então não podia abri-los. Embora estivesse cercado pela escuridão, não estava com medo, mesmo que não pudesse fazer nada. Tentou seu melhor, e tenha falhado tantas vezes… falhou tentando seu melhor. Falhou pelas suas ações, não pela inatividade.
“Ah, cara… Falhamos em alcançar nosso final perfeito doze vezes. Por que não podemos alcançar só uma vez? Isso é tão deprimente… trabalhei tanto. Trabalhamos tanto por isto… por tanto tempo.”
Leon começou a imaginar uma vida quieta como aquela que teve antes dos monstros aparecerem. No entanto, neste, apesar de ser um cara comum, seria amigo de Makoto, Yuki, Tom, Gisela, Lennart e até Ilyana, apesar do fato que era de outro planeta. Embora lutar pela sobrevivência foi o que os colocaram juntos, sabia que a ligação que tinham com eles era mais que apenas isso. Contudo… isso foi o que restou para ele. Imaginar quão legal as coisas poderiam ter sido… se tivesse vencido.
“E agora? Encontrarei Deus? Buga? Morgan Freeman? Bem, pelo menos gostaria de encontrar seja lá quem for, pois estariam dispostos a ouvir minhas reclamações.”
Também havia a possibilidade dele poder não encontrar ninguém, só que não queria pensar nisso. Na parte mais profunda de seu coração, pensou que poderia convencê-los a revivê-lo para poder tentar derrotar aquele monstro maldito. Entretanto, após um tempo, nada aconteceu. Ninguém veio… e Leon foi deixado com aquela sensação de solidão absoluta que sentiu tantas vezes.
“Então, é isto, hein. Não há ninguém do outro lado? Ou talvez eu tenha cometido tantos crimes que não mereço nem um julgamento… Droga.”
Uma vez que pensou que sentimentos eram apenas uma resposta do sistema nervoso para certas situações, notou que não era o caso agora que estava morto. Leon perdeu o corpo. Mesmo assim, conseguia sentir tantas coisas que era difícil de colocar em palavras… raiva, vergonha, culpa… viver por quem sabe quanto tempo só para ter esse final foi incrivelmente decepcionante, para dizer o mínimo.
“Sinto muito, pessoal… no final, não fui feito para liderar ninguém. Só liderei todos para suas mortes.”
Apesar de suas palavras, Leon notou que tinha a chance. Não mudaria nada. Faria tudo de novo se necessário. Como se deixasse um monstro brincar com suas vidas só para satisfazer sua ganância por conhecimento. Até onde sabia, seus amigos não mudariam nada também. Assim como Leon, eles não eram perfeitos. Eram muitas coisas, mas não covardes. Não se deixariam virar pedaços no tabuleiro de alguém. Esse era um dos vários motivos pelo qual Leon se orgulhava de tê-los como amigos.
“Sinto muito, Ilyana… mas parece que é isto. Não conseguiremos viver uma vida comum após tudo isto. Ah… como queria sentir o toque dos seios suaves dela de novo. Merda… estou pensando nisto quando estou morto. Sou pai de nove filhos velhos… acho que preciso ser mais respeitável considerando isso. Não… fui o pai de nove filhos.”
Embora quisesse falar mais com seus filhos e lhes dar a chance de crescer num ambiente mais comum, parecia que não teria essa chance. Agora que pensou sobre isto, crescer num mundo destruído enquanto via seu pai ficar mais velho parecia ser uma vida muito mais difícil da que teve, mesmo após a chegada dos monstros.
“Acho que fui uma falha como um ser humano, mago e pai…”
Ilyana e Leon tentou reparar a Terra o máximo possível antes do primeiro Reset, mas havia um limite para o que podiam. Além disso, apesar de todo o poder que tinha, nada podia ser comparado a coisa real. Essa era uma das coisas que mais odiava da solidão. Odiava a introspecção porque Leon era rápido em ficar deprimido e reconhecer seus erros. Todavia, não havia nada que pudesse fazer além disso. Não sabia quanto tempo havia passado naquela dimensão, porém, mesmo após o que sentiu parecer uma semana, nada aconteceu e sua consciência também não desapareceu.
