“No mundo dos magos, mesmo se você for aluno de alguém, você ainda tem que obedecer a regra da troca equivalente. Conhecimento é a coisa mais valiosa para magos, então, o que você pode me dar em retorno?”
Uma figura na escuridão revelou sua boca ensanguentada. “Se seu talento não for o suficiente, sua vida será!”
A figura avançou contra Angor. Angor sentiu o mundo à sua frente se despedaçar. A última coisa que percebeu foi estar deitado no chão, coberto de sangue, enquanto alguém estava ao lado de seu cadáver, rindo maniacamente.
Angor saltou de sua cama com as costas cobertas de suor frio. Suas pupilas arregaladas estavam cheias de pânico e medo. Levou algum tempo até que ele acalmasse sua respiração limpar algumas gotas de suor de sua testa.
“Um sonho…” Angor esfregou suas têmporas. Ele suspirou, “E espero que continue sendo apenas um sonho.”
A luz do sol suave brilhava pela janela e lançava sombras malhadas em seu cabelo macio, despertando a pequena criatura que dormia lá dentro.
“Twee, tweet.” um pássaro do tamanho de dois palmos chamado Toby esticou suas asas como se estivesse bocejando. Ele se sentou no cabelo loiro de Angor.
Angor agarrou a criatura em suas mãos. “Seu pestinha. Bagunçando meu cabelo enquanto eu estava dormindo! Por que você gosta tanto do meu cabelo mesmo? Eu acho que preciso de um chapéu logo,” Angor murmurou.
Toby não estava zangado com a ação de Angor. Quando Angor o arremessou para longe, ele voou para o lado e pegou uma cápsula pequena e em formato de bolha da bolsa de Angor.
Toby bateu suas asas e colocou a cápsula na frente de Angor.
Era uma cápsula de uso único deixada por Greya. Continha as necessidades de Toby, assim como uma recompensa para Angor.
Este era o sétimo dia na baleia-nuvem. Angor nunca tinha aberto ela. Considerando o profundo amor de Greya por Toby, quem sabe quanta coisa estava embalada na cápsula? E era de uso único. Se pudesse preencher várias salas com o que havia dentro, onde Angor deveria colocar as coisas? Essa era a razão para Angor deixar isso aqui. Ele estava planejando abrir quando achasse uma residência estável na Caverna Bruta.
Mas Toby colocou a cápsula na sua frente agora, o que significava… o pássaro estava lhe pedindo que abrisse?
“Você quer que eu abra?”
“Tweet.” Toby acenou usando sua pequena cabeça.
Angor franziu a testa e tentou perguntar, “Há muitas coisas? Se for o caso, podemos esperar até nos estabelecermos na Caverna Bruta?”
Toby piscou seus olhos inocentes como se estivesse dizendo “não consigo te entender, senhor!”
Os lábios de Angor se contraíram. Greya lhe contou que Toby era esperto o suficiente para interpretar a fala humana, certo? Não conseguia falar, verdade, mas lhe ouvir não deveria ser problema, certo?
Ou o desgraçadinho estava tentando evitar perguntas que ele não queria responder?
Angor olhou para Toby de cima a baixo enquanto o pássaro ainda lhe encarava com seus olhos adoráveis.
Normalmente, Toby poderia o entender muito bem. Porém, toda vez que Angor tentava dizer ao pássaro para não ficar em seu cabelo,
ele sempre começava a agir de forma inocente. O desgraçadinho estava enganando-o o tempo todo!
“Não consigo ler a expressão de um pássaro, senão eu lhe bateria de vez!” Angor murmurou para si. Se Toby fosse um humano, sua expressão deveria estar dizendo algo como “o que eu posso fazer a respeito, hein?!”
Angor considerou e finalmente pegou a cápsula espacial.
“O que você quer tanto disso aqui?”
Toby não se fez de bobo dessa vez. Ele apontou uma asa para algumas roupas na cabeceira da cama – aquela fantasia azul e branca que Toby tem vestido nesses dias. Acompanhada por uma pequena bolsa, elas pareciam muito com a roupa daqueles pombos correio nos contos de fada.
Angor olhou para as roupas, então olhou de volta para Toby, que não estava vestindo nada agora. “… Você quer se trocar?”
Toby acenou rapidamente.
“Por que um maldito pássaro precisa trocar de roupa, pelo amor de Deus?! Sua roupa de carteiro ainda está bem, por que você apenas não continua com isso por alguns dias?” Angor quase gritou isso. Até Nausica levantou sua cortina do outro lado e olhou atordoada na direção de Angor.
Angor rapidamente acenou para ela como uma desculpa. Nausica deu ao garoto um sorriso charmoso e abaixou sua cortina de volta.
Angor fechou suas cortinas também. Então ele se voltou e encarou Toby.
Toby imediatamente retornou para sua postura de “este passarinho fofo não consegue entender o que os humanos estão fazendo!”.
Angor se sentiu derrotado. Suspirou e caminhou de lado com a cápsula espacial em suas mãos.
Credo. Esperemos que não tenha tanta coisa dentro…
Angor apertou a cápsula com seu polegar e indicador. A cápsula se abriu, seguida de alguns objetos borrados, aquosos e esfumaçados que quebraram completamente a lei do espaço dimensional. Quando a ondulação espacial desapareceu, uma pilha de coisas apareceu diante de Angor.
A pilha quase ocupou um décimo do espaço disponível na tenda. Não parecia tanta coisa, mas materiais sólidos aparecendo do nada ainda chocou Angor. O que mais o frustrou era que 99% dos objetos eram… roupas extras.
Vestido com laços, camisas com cores contrastantes, trajes de cavalheiros, uniforme de chef… Seriam essas armaduras e cotas de malha para cavaleiros? Como poderia seu corpinho caber nelas?!
Isso não era tudo. Angor notou algumas “fantasias de animais” lá. Orelhas de coelho, caudas de peixe, ursinho… Por que raios um animal precisaria usar fantasias de animais? E aquilo não seria um traje de cosplay de garota-gato? E o pássaro, era macho ou fêmea, afinal?!
Havia mais coisas além das roupas, incluindo pratos, copos, pequenos cobertores, e camas de madeira.
Os olhos de Angor brilharam vendo a cama. “Agora o pássaro não irá incomodar meu cabelo, certo?”
Angor organizou as coisas de Toby rapidamente e sinalizou ao pássaro para escolher o que ele queria.
Ao invés disso, Toby arrastou um pequeno saco sob as roupas. Uma linha de palavras em espiral estava impressa nele: “Para Angor”.
Esse deve ser o presente de Greya. Com curiosidade, Angor abriu o saco e achou cerca de 30 cristais transparentes em forma de moeda.
Ele não saberia o que eram antes de vir para a baleia-nuvem. Contudo, ele leu muitos livros na sala de coleção de seu professor e aprendeu muito conhecimento comum. Os cristais transparentes no saco eram moedas universais usadas nesse mundo. Eram chamadas de “cristais mágicos”. Angor se lembrou que Mara disse que sua renda anual era menos de 100 cristais, e o Pergaminho do Caixão de Gelo da Cura que ele deu a Jon valia um pouco menos que 30 cristais.
Como as coisas mudaram… Angor pensou que ele devia a Mara um débito para toda vida por causa do pergaminho. Agora, ele ainda nem havia alcançado o mundo da feitiçaria e já possuía 30 cristais mágicos. Talvez isso também era um destino?
Angor cuidadosamente colocou o pequeno saco dentro de seu bolso.
Quando Angor terminou, Toby também escolheu um traje que ele queria.
Era um terno preto de cavalheiro decorado com uma gravata borboleta vermelha-escura, complementado com um chapéu alto da mesma cor preta. Angor ajudou Toby a se vestir. Quando terminou, Toby pegou o chapéu, caminhou até a frente do rosto de Angor e levantou a cabeça com orgulho. O significado por trás desse gesto era claro.
Angor sentiu uma mistura de sentimentos.
Aquele pequeno idiota acabou de fazer uma careta para ele por ter que sair e comprar um chapéu sozinho?!
Angor estava confiante em sua ideia. Considerando a natureza terrível de Toby, com certeza ele faria algo assim.