Dois dias atrás, nos aposentos do Rei.
Depois de avaliar tudo o que acontecera até então, Daneel havia convocado uma reunião com Luther, Kellor, Robert e Faxul para discutir o que fariam a seguir.
Depois que os 4 se reuniram, ele mergulhou diretamente nos detalhes.
“Qual é a coisa que uma força tentaria obter se quisesse assumir o controle de Lanthanor de forma eficaz?”
“A Pedra do Juramento.”
A resposta foi dada por todos os 4 ao mesmo tempo, levando Daneel a invocar a pedra dourada que estava definitivamente sendo cobiçada por seus inimigos.
“Exatamente. Sabendo que estou ferido, acho que a Seita Folha Fulminante vai montar um ataque ao Palácio. Mas, se eles fizerem isso diretamente, não há nada que nos impeça de teletransportar nossos soldados para cercá-los e acabar com eles. Pela minha estimativa, eles se aproximarão de alguém para se aliar sem se importar com o custo que pagariam simplesmente por estarem desesperados.”
Ao ouvir essas palavras do Rei, exceto Faxul, o resto não pôde deixar de rir e acenar com a cabeça.
Já tendo se acostumado com o fato de que a pessoa à sua frente havia crescido constantemente com o tempo para possuir uma das mentes estratégicas mais inteligentes e calculistas do Continente Central, eles sentiram orgulho inflar seus peitos pelo fato de terem sorte suficiente para ficar ao lado de alguém que parecia não ter limites.
Quanto a Faxul, seu rosto se transformou em uma determinação obstinada, pois lentamente ele começou a se esforçar para aprender exatamente o que significava estar no lugar de um Rei, como seu pai.
“Estamos de acordo, Majestade. E, de acordo com a situação atual, Axelor é o candidato provável para a aliança.”
Ouvindo Luther falar, o resto acenou em concordância, pois simplesmente não havia outra possibilidade.
Arafell sempre foi o aliado mais próximo, enquanto Eldinor não estava na equação. Isso deixou o Reino Corvo Negro e a Seita Assassinato Oculto, ambos os quais tinham negócios com Lanthanor e, por isso, definitivamente os levaria a recusar uma aliança.
Isso deixou Axelor, que também era inimigo de Lanthanor por séculos. Vendo a chance de derrotar um inimigo quando ele estava caído, era definitivamente provável que eles aproveitassem a chance de liderar um ataque.
“Sim, foi o que pensei também. É por isso que elaborei um plano em que o objetivo principal é capturar ou subjugar nossos inimigos sem sofrermos muitas perdas. Kellor, pegue o mapa. Faxul, qual é o problema?”
Quando Daneel começou a traçar o plano, observou que seu amigo mais próximo havia adquirido uma expressão perplexa no rosto.
Depois de pensar por um momento, Faxul falou enquanto olhava diretamente nos olhos de Daneel.
“Por que não… matá-los? Eles nos matariam se tivessem a chance. Por que mostrar misericórdia?”
Essa pergunta foi recebida com silêncio na sala, pois até mesmo os demais viraram a cabeça para olhar para Daneel, como se tivessem a mesma pergunta em mente, mas hesitaram em expressá-la.
Franzindo as sobrancelhas, Daneel tentou formular uma resposta, mas descobriu que não poderia dar uma resposta que refletisse suas verdadeiras intenções sem revelar informações que deveriam ser mantidas em segredo.
Como alguém que amadureceu lentamente para se tornar o Rei que superou a Rainha Eldara e a Seita Folha Fulminante, ele sabia muito bem que a melhor opção era ser implacável para dizimar um inimigo, se possível.
No entanto, havia apenas uma coisa que o detinha: a cena que ele tinha visto na memória revivida quando conheceu seu Mestre.
Quando a guerra chegasse, não seria melhor se Angaria tivesse o máximo de força possível?
Esta foi a razão por trás de considerar rotas não letais. Cada lutador e mago que ele matou poderia fazer a diferença na guerra contra a Igreja se ele pudesse encontrar uma maneira de alcançar seus objetivos enquanto ainda preservava suas vidas.
Seja por juramentos ou mesmo ameaças, eles poderiam ser preservados para lutar quando realmente importasse.
Mesmo no caso em que ele deu a ordem para lançar as ferramentas explosivas na Seita, ele sabia que ferramentas defensivas permitiriam que a maioria sobrevivesse.
Enquanto esses pensamentos passavam pela sua cabeça, Daneel descobriu que não havia outro motivo que fizesse sentido.
Assim, ele optou por não procurar algo para apaziguar seus conselheiros de confiança.
“Nisso, só posso pedir que confiem em mim. É do nosso interesse capturar tantos inimigos quanto possível sem matá-los, e devemos planejar de acordo para fazê-lo.”
Depois de olhar nos olhos de Daneel por alguns momentos, Faxul assentiu e deixou passar.
Ao longo de todos os anos que passou com Daneel, ele sabia muito bem que era considerado o confidente mais próximo, não havendo quase nada que precisasse ser escondido entre os dois.
Agora, se havia algo que levava seu amigo a falar assim, ele entendia que definitivamente devia ser algo que deveria ser escondido a todo custo.
Foi o mesmo caso com os outros. Assentindo, eles avançaram para olhar o mapa do Palácio Real que Kellor acabara de desdobrar sobre a mesa.
Sentindo-se feliz por ter camaradas tão perfeitos, Daneel também se aproximou e começou a traçar seu plano.
“Usando as modificações para o Exército que darei a Luther, devemos tentar fazê-los recuar o mais rápido possível. É possível que a Seita possa dividir suas forças para garantir que o Exército Axeloriano ocupe o nosso lado por mais tempo, então devemos agir tendo isso em mente. Quando a Seita atacar o Palácio, farei com que a Formação do Coração do Dragão os segure o máximo possível antes que eles encontrem uma maneira de entrar. Eles são uma força que existe há séculos, então eles definitivamente terão meios para romper a formação. Antes disso, todos os soldados, guardas e servos DEVEM ser evacuados, pois a Seita definitivamente matará quem eles virem. Não podemos arriscar evacuá-los mais cedo, pois os espiões no Palácio teriam tempo suficiente para avisar a Seita de que algo está errado, o que pode fazê-los reconsiderar o ataque. Depois disso, eles tentarão invadir os aposentos reais, onde haverá uma… surpresa esperando por eles.”
Respirando fundo por ter falado por tanto tempo, Daneel endireitou-se e olhou nos olhos de cada um dos homens à sua frente.
Em um tom que mostrava a determinação que sentia, ele disse as palavras que refletiam seus sentimentos mais íntimos sobre essa situação.
“Eles quase tomaram nosso Reino. Eles tiveram a ousadia e salvar o maior criminoso, que levou a milhares de mortes de inocentes lanthanorianos. E ainda ousaram matar nossos soldados para nos provocar. Já chega. É hora de Lanthanor dar nossa resposta definitiva, pondo um fim a esta força e, assim, dar um recado a toda Angaria Central.”
…
Lembrando-se dessa conversa, Daneel xingou a si ao ver como as coisas realmente aconteceram.
Embora ele não tivesse como saber que a Seita poderia ter um artefato que seria valorizado até mesmo pelos 4 Grandes, ele ainda amaldiçoou e se culpou por ser o responsável pela morte de todos aqueles cujo sangue ainda estava fluindo nas passagens do Palácio Real.
Com este incidente, as últimas intenções de Daneel de não ser implacável foram varridas completamente.
Que utilidade havia para misericórdia se isso significava a morte de seus próprios cidadãos?
Que sentido havia em salvar vidas para a guerra maior se isso significava arriscar a morte daqueles que confiavam nele?
Não havia nenhum.
Gravando o rosto de todos aqueles que tinha visto até agora e prometendo a si que descobriria pessoalmente os detalhes do resto, Daneel marcou em sua mente e coração este momento em que abandonou sua casca para emergir como alguém que nunca mais recuaria, de fazer o que fosse necessário para garantir a vitória.
Com uma voz tão fria quanto as profundezas congeladas do inferno, Daneel virou-se para Kellor e deu sua ordem.
“Traga a outra parte de sua força. É hora de matar todos eles.”
