Solant estava, como sempre, no centro de comando. Ela estava, como sempre, calma, centrada e focada.
Ao redor dela fluía o caos organizado do QG, um fluxo constante de conversas de feromônio, batedores entrando e saindo, generais discutindo, teorizando e escultores planejando, tramando, trabalhando em questões de construção e rastreando a logística. Era uma enxurrada confusa, caótica e interminável de informações que teria achatado completamente a maioria das formigas, ou mesmo a maioria dos indivíduos ao redor de Pangera, mas ela não era qualquer uma, ela era Solant.
Ela foi, literalmente, construída para isso.
Seu cérebro, ou cérebros, para ser mais preciso, filtrava e alocava informações por meio de uma rede precisa de canais, sua Matriz Logística era capaz de canalizar as informações certas para os centros de processamento certos, que então sintetizavam as informações, juntando as peças relevantes para criar um todo coordenado a partir do caos.
Solant havia se projetado com muito cuidado, garantindo que cada gota de energia evolutiva fosse gasta sabiamente para transformá-la na melhor general que ela poderia ser. Sua maestria sobre o campo de batalha havia aumentado dramaticamente, mas a necessidade de ela estar na linha de frente gerenciando a luta ela mesma havia diminuído tanto quanto.
Era uma pena.
Ela sentia falta disso, mas operar no nível que seu Sênior havia exigido exigia sacrifícios, e ela havia ajustado suas prioridades evolutivas de acordo. Ainda haveria chances para ela colocar sua verdadeira especialidade em uso, disso ela tinha certeza, mas por enquanto, ela era responsável por muito mais do que uma única batalha: uma campanha inteira, com milhões de formigas, milhares de generais e centenas de campos de batalha diferentes. Ela havia se transformado para se tornar um recipiente, um receptáculo que poderia receber as informações necessárias, processá-las e aplicá-las à sua estrutura tática e estratégica.
O que parecia caos, o que parecia ser uma cacofonia confusa de feromônios, era, para ela, uma sinfonia que só ela conseguia entender.
E agora, havia notas discordantes deslizando aqui e ali, rebarbas nos dados que jogavam o equilíbrio de toda a composição fora de ordem. Claro, ela sabia quem era o responsável, os Krath nem estavam sendo secretos sobre isso, eles queriam que ela soubesse que eles estavam lá fora, brincando. Eles estavam cutucando e cutucando há dias, incessantemente.
Os níveis de mana em diferentes túneis estavam começando a flutuar descontroladamente, pois os Krath utilizavam técnicas fora da esfera de influência da Colônia para manipular o fluxo de energia. Felizmente, eles não conseguiam controlar a mana completamente, pois isso permitiria que eles deixassem os wuffers famintos cortando o suprimento e, em seguida, trazendo tudo de volta de uma vez, esmagando a zona segura enfraquecida da Colônia.
Bem, eles ainda não tinham feito isso. Solant tinha, claro, planejado para tal eventualidade, mas essas contramedidas ainda não estavam em vigor.
Monstros únicos e desafiadores estavam começando a aparecer, penetrando fundo na mana azul e expelindo bile, muco e parasitas, sem se importar com suas próprias vidas. Eles não tinham a intenção de ter sucesso, Solant sabia disso; os Krath estavam apenas testando o que conseguiriam fazer, quanto tempo a mana azul levaria para limpar a corrupção.
E, claro, os esforços mais mundanos.
Nunca houve um momento em que eles não estivessem sob ataque. Isso sempre foi verdade no passado, monstros aleatórios surgiam de cabeça na Colônia sempre que apareciam, mas isso era diferente: os Krath estavam coordenando os surgimentos, reunindo-os e direcionando-os de alguma forma. Lados diferentes da fortaleza foram atingidos ao mesmo tempo, depois o mesmo túnel quatro vezes seguidas, depois seis pontos simultaneamente.
Então houve uma pausa, nada por duas horas, apenas para a paz ser quebrada por dez túneis diferentes sendo atacados ao mesmo tempo. Com esses ataques, houve uma pequena tentativa oculta de criar um túnel escondido atrás das linhas de formigas e inundar a área com esporos tóxicos e lodo. Naturalmente, os magos no local detectaram a intrusão e contramedidas foram promulgadas, evitando a catástrofe, mas ela sabia que o inimigo estava apenas testando as águas.
Implacavelmente, cruelmente, sondando uma fraqueza.
Em todos esses ataques e intrusões, os próprios Krath nunca foram vistos. Eles permaneceram fora de vista, escondidos, observando e esperando por uma oportunidade para se revelar. As lesmas provavelmente imaginaram que as formigas começariam a tropeçar sob a pressão, a vacilar conforme o perigo aumentasse cada vez mais.
A maioria o faria, ou pelo menos ela acreditava que eles o fariam. Solant imaginou que humanos, ou ka’armodo, ou até mesmo os próprios Krath, talvez, seriam suscetíveis a tais emoções.
Para seus soldados, isso era apenas trabalho, e o trabalho seria feito.
A cada minuto que passava, o modelo vivo à sua frente continuava a crescer e se expandir. Seções da muralha estavam sendo finalizadas, canais para mana, plataformas wuffer, estradas, câmaras, armazéns, poços de transporte motorizados, elevadores e redes de distribuição, todos sendo relatados como concluídos, permitindo que os magos moldassem a pedra viva para incluir o trabalho concluído no modelo. Havia mais de mil equipes de construção trabalhando a qualquer momento, e o progresso em direção à fortaleza concluída era rápido.
Se os Krath demorassem muito para encontrar uma fraqueza, então o trabalho estaria completo, e Solant alegremente bateria a porta na cara deles. A família então esperaria a onda passar, ficando mais forte e desenvolvendo a estratégia para a segunda fase da invasão.
Até então, seria o Krath contra os sistemas, a disciplina e as táticas que ela havia incutido no exército que guardava os túneis.
Solant não gostava de apostar, mas estava muito confiante em qual lado venceria.
O que era bom, já que ela odiava perder.
…