Anthony Reid olhou para Lumian com frieza e perguntou: — Qual é o problema?
— Ouvi de Pavard que você é um corretor de informações confiável. — Lumian rapidamente revelou sua fonte para evitar perda de tempo em investigações mútuas.
Com seu rosto rechonchudo, Anthony Reid assentiu com conhecimento de causa e apontou para uma cadeira no centro da sala.
— De que informações você precisa? Ou melhor, que informações você gostaria que eu descobrisse?
Lumian sentiu uma pontada de desconforto ao encarar Anthony Reid, que exalava um ar de honestidade e confiabilidade. Ele sentou-se e declarou sucintamente: — Estou procurando duas pessoas.
— Nomes, aparências e características distintas. — Anthony Reid lançou um olhar para o quadril esquerdo de Lumian.
Lumian refletiu por um momento antes de responder: — Um é Guillaume Bénet, ex-padre da Igreja do Eterno Sol Ardente. O outro é Pualis de Roquefort. Há mais de um mês, ela chegou a Trier com seu marido, Béost, seu mordomo Louis Lund, e a empregada, Cathy.
— Não tenho fotos deles. Tudo o que posso dizer é que Guillaume Bénet tem cabelos pretos curtos e olhos azuis. Ele possui um comportamento solene e fortes ambições. Sua característica mais notável é o nariz aquilino1. Pualis tem longos cabelos castanhos e olhos castanhos brilhantes. Suas sobrancelhas são mais claras e finas, e ela exala uma aura elegante, mas sedutora…
Anthony Reid ouviu atentamente antes de se levantar da cadeira. Ele atravessou a sala até uma mesa de madeira perto da janela, abriu uma gaveta e pegou uma pilha de papel branco e um lápis apontado.
Em pouco tempo, esboçou dois retratos.
— Veja se eles se parecem com eles. — Anthony Reid entregou os esboços para Lumian.
Lumian inspecionou os desenhos e ficou impressionado com sua qualidade vívida e realista. Além da ausência de cor, eram quase indistinguíveis das fotografias.
Ele olhou surpreso para Anthony Reid, comentando: — Estranho. Como você pode reproduzir a semelhança deles com tanta precisão com base na minha breve descrição?
Ele presumiu que Anthony Reid faria vários esboços para ele revisar antes de finalizar os retratos.
Anthony Reid abriu um sorriso raro.
— Recriei as imagens dos cartazes oficiais de procurados.
— As autoridades também estão procurando por eles.
“Não é à toa…” De repente, tudo fez sentido para Lumian.
Tanto o Padre Guillaume Bénet quanto a Madame Pualis eram devotos de deuses malignos aos quais haviam sido concedidas bênçãos. Assim que Ryan e seus companheiros relatassem a situação, certamente atrairia a atenção necessária!
Com esta constatação, a inquietação de Lumian cresceu.
“Eu também devo ser procurado… Anthony Reid viu meu retrato? Ele me reconhece?” Tentando manter a compostura, Lumian perguntou ao corretor de informações: — Não estou surpreso. Quero saber o valor de suas recompensas.
— Guillaume Bénet tem uma recompensa de 20.000 verl d’or. Cada informação vale 500 verl d’or. O mesmo vale para Pualis, — respondeu Anthony Reid com indiferença.
Lumian sorriu. — Se você descobrir alguma informação útil, poderá lucrar com a recompensa duas vezes.
Ele estava insinuando que Anthony poderia reivindicar uma parte das autoridades e outra dele.
Anthony assentiu concordando.
— Vou aceitar sua tarefa. 500 verl d’or, com 100 adiantados.
— Estes são os meus termos. Se você não pode aceitá-los, procure outro corretor de informações ou caçador de recompensas.
Lumian sabia que não havia espaço para negociação. Ele só conseguiu assentir levemente e admitir: — Sem problemas.
Quando estava prestes a entregar o dinheiro, um tiro irrompeu de repente do lado de fora da janela.
Todo o corpo de Anthony Reid estremeceu como se fosse confrontado com seu inimigo mortal. Ele instintivamente se abaixou sob a mesa de madeira para se proteger.
Lumian ficou surpreso.
“Essa reação não foi um pouco extrema? Isso não era típico da vida na Rue Anarchie?”
Tiros, brigas e escaramuças em grande escala eram comuns aqui. Quem morava nesta área já deveria ter se adaptado, bastando apenas ficar longe das janelas para evitar balas perdidas.
Em pouco tempo, a comoção diminuiu.
Anthony Reid levou alguns segundos para recuperar a compostura antes de sair de debaixo da mesa.
Ele ofereceu a Lumian um sorriso tímido e explicou: — Peço desculpas. Alguns anos atrás, durante a guerra, sofri de estresse pós-traumático no campo de batalha e não tive escolha a não ser me aposentar e retornar para Trier.
“Então por que escolher morar na Rue Anarchie, onde tiroteios eram uma ocorrência regular?” Lumian não pressionou mais. Ele não tinha interesse nos problemas psicológicos de Anthony Reid.
Ele retirou uma nota de 50 verl d’or e passou suavemente o dedo sobre a imagem de Levanx, as movimentadas ruas comerciais e as silhuetas dos comerciantes que passavam.
Sentindo a textura restante, Lumian entregou a nota azul-acinzentada, dois Louis d’or e duas moedas de cinco verl gravadas com o Pássaro do Sol para Anthony Reid.
Sua carteira parecia um pouco mais leve e ele não conseguia se livrar da sensação de dinheiro escorregando por entre seus dedos.
Ao examinar o Le Marché du Quartier du Gentleman atrás das notas, Anthony Reid dobrou o dedo e sacudiu a superfície para verificar sua autenticidade sob a luz do sol.
Satisfeito, ele embolsou o dinheiro e perguntou: — Você quer entrar em contato comigo periodicamente para saber de atualizações ou devo ter um endereço? Se eu encontrar alguma informação, posso entregá-la na sua casa”
— Estou no quarto 207. — Lumian sabia que não poderia esconder de Anthony Reid sua estadia no Auberge du Coq Doré, então forneceu o número do quarto.
Ao sair do quarto 305, a expressão de Lumian ficou cada vez mais solene enquanto murmurava para si mesmo, “preciso ser extremamente cauteloso nos próximos dias para evitar que Anthony Reid me traia… Talvez eu devesse encontrar uma oportunidade para demonstrar minha força na frente dele, convencendo-o de que não deixarei nenhuma transgressão impune.”
Enquanto Lumian refletia sobre seus pensamentos, ele caminhou em direção às escadas.
De repente, ele ouviu alguém exclamar, rir e soluçar: — Estou morrendo, estou morrendo!
Lumian olhou na direção da voz e avistou um homem agachado perto da porta do quarto 310.
O homem usava uma camisa de linho imunda e calças amarelas. Seu cabelo preto despenteado caía em cascata até os ombros.
Naquele momento, ele segurou a cabeça com as duas mãos e olhou para o chão, murmurando repetidamente:
— Estou morrendo, estou morrendo!
Sua voz oscilava entre o medo e a insanidade.
“O lunático ocasionalmente lúcido que Charlie mencionou?” Lumian avaliou-o por alguns segundos, inclinou-se e perguntou curioso: — Por que você acha que está prestes a morrer? Você tem uma doença terminal?
Sem levantar a cabeça, o homem continuou a gritar: — Estou morrendo, estou morrendo!
Lumian sorriu e passou por ele até o quarto 310, com a porta de madeira escancarada.
O layout da sala refletia o seu no 207. Estava relativamente arrumado, exceto pelos inevitáveis insetos que não podiam ser removidos.
O olhar de Lumian percorreu o lampião de querosene, uma infinidade de livros, canetas-tinteiro, malas e outros pertences. O lunático levantou-se e declarou atordoado: — Este é o meu território.
— Eu sei, — respondeu Lumian com um sorriso. — Mas se você está prestes a morrer e não tem filhos ou parentes, por que não usar sua herança para ajudar vizinhos pobres como nós?
Ele observou que o lunático tinha apenas vinte e poucos anos. Sua espessa barba preta e cabelos não eram feitos sabe-se lá quanto tempo, fazendo com que seus olhos azuis parecessem enterrados nas profundezas de uma floresta.
O lunático ficou olhando fixamente por alguns momentos antes de agarrar seus cabelos e gritar de angústia: — Eles estão todos mortos. Eles estão todos mortos! Eu vi o fantasma de Montsouris. Eles estão todos mortos. Estou prestes a morrer também!
“O fantasma de Montsouris?” Lumian finalmente ouviu algo distinto do lunático.
Ele havia provocado deliberadamente o outro homem para ver se conseguia uma reação diferente.
O feedback positivo fez com que ele se sentisse como se estivesse progredindo na digestão da poção.
“Um dos princípios de atuação de um Provocador é que a provocação é apenas um meio e não um fim?” Lumian estudou o lunático pensativamente e perguntou: — Por que o fantasma Montsouris os faria morrer e empurraria você para as portas da morte?
O lunático abaixou a cabeça e murmurou: — Qualquer um que ver o fantasma de Montsouris morrerá. A família deles também morrerá. Eles morrerão dentro de um ano!
“Isso é ilusão do lunático ou algo assim realmente aconteceu? Se sim, foi uma maldição?” Lumian cutucou,
— Onde você encontrou o fantasma de Montsouris?
— No submundo, submundo! Fica abaixo do distrito comercial! — O lunático se agachou novamente, com as costas pressionadas contra a parede enquanto abraçava seu corpo trêmulo.
“O submundo abaixo do distrito comercial? Ele não poderia simplesmente reportar isso às duas Igrejas e fazer com que enviassem pessoas para erradicar os seres impuros?” Lumian refletiu silenciosamente.
Vendo que o lunático havia voltado ao estado de “estou morrendo, estou morrendo”, ele abandonou o assunto, saiu do quarto 310 e desceu as escadas.
Amanhã era domingo. Lumian planejou visitar a Cafeteria de Mason no Quartier du Jardin Botanique ao meio-dia para se familiarizar com a área. À tarde, iria ao cemitério subterrâneo para ver se Osta havia recebido uma resposta do organizador do encontro.
Os becos ao redor da Rue Anarchie estavam cheios de obstáculos feitos de pedras, madeira, galhos e detritos diversos. Mesmo na estrada principal, era possível tropeçar neles de vez em quando. No entanto, já havia um caminho largo o suficiente para a passagem de duas carruagens.
Estas eram chamadas de barricadas de rua e podiam ser encontradas em muitos distritos. Algumas apresentavam marcas de fumaça e fogo, enquanto outras ainda apresentavam restos de sangue seco. Eram uma característica única de Trier, contrastando fortemente com as ruas pedonais da arcada.
Lumian passou por um ponto baixo na beira de uma barricada, saiu do beco escuro e entrou na rua.
Ele então se dirigiu à placa de transporte público, pretendendo pegar esse transporte até o Quartier du Jardin Botanique.
Enquanto caminhava, Lumian avistou vários vagabundos deitados nos cantos, tomando sol e catando piolhos. Todos estavam imundos, magros e desprovidos de energia.
Isso trouxe de volta memórias de seus próprios dias como vagabundo.
Ao contrário do Reino de Loen, que proibia os vagabundos de dormir nas ruas e nos parques, a República Intis não tinha tais regras em vigor. No entanto, eles foram proibidos de entrar em estabelecimentos pagos ou locais privados. Frequentemente zombavam de Loen por sua falta de cultura.
Perdido em pensamentos, os olhos de Lumian se estreitaram.
Ele sentiu que alguém o estava seguindo!
Nota:
[1] nariz de bruza.
Quem tiver interesse em patrocinar a tradução desse projeto e comprar combos, segue o link com as informações do tradutor:
https://rentry.co/8u6zo43k
Lembrei do mlk “mosntro” lá de Tigen
sla começei a imaginar o protagonista da 3 parte dessa trilogia sendo um nobre, seria interessante, mas eu prefiro o Klein 🙏
Infelizmente ou não vai ter uma parte 3, e a história principal vai acabar aq em COI, ou o terceiro livro vai ser focado no continente q n foi explorado ainda(esqueci o nome) e vai ser uma side story
Pq vc fala isso ??
Matrizes é uma porra, mas determinantes… Puta q me pariu ao quadrado