A lâmpada de carboneto emitia uma luz amarelo-azulada, lançando um brilho assustador sobre o túnel, que era dividido por pilares de pedra.
Lumian passeava casualmente, carregando uma bolsa de lona preta que se tornara popular entre estudantes universitários nos últimos anos. Dentro, ele havia escondido as Atormentadoras e uma pilha de velas brancas.
Depois de conduzir vários experimentos, Lumian descobriu que carregá-las na bolsa era menos arriscado do que colocá-las nos bolsos da camisa ou da calça. Embora não fizesse uma diferença significativa, ainda era melhor do que a alternativa.
Enquanto seguia a rota marcada no mapa de Gardner Martin, que o levava em direção ao subsolo do Quartier de l’Observatoire, Lumian de repente aguçou os ouvidos, atento a sinais de passos se aproximando.
Uma cacofonia de passos fracos ecoou no ar, quase inaudível.
Lumian examinou o caminho à sua frente e à sua direita, sem saber qual rota o grupo não identificado tomaria. Para permanecer discreto, ele subiu em um pilar de pedra que sustentava o teto do túnel, apagou sua lâmpada de carboneto e desapareceu nas sombras.
Não demorou muito para que um grupo de homens surgisse.
A maioria deles usava jaquetas esfarrapadas ou estavam sem camisa, curvados enquanto carregavam caixas pesadas. Mais de uma dúzia de homens corpulentos, vestidos com trajes bem usados e expressões sinistras, seguravam várias armas de fogo e lâmpadas de carboneto, espalhadas pelo grupo.
“Contrabandistas…” Lumian espiou, examinando as caixas iluminadas pelas luzes dos contrabandistas. Elas pareciam emitir um brilho metálico.
“Armas de fogo ou outra coisa?” Ele murmurou silenciosamente, observando a caravana de contrabandistas enquanto entravam no túnel à direita.
À medida que avançavam, possivelmente devido a uma sombra que se movia muito como um humano, um dos contrabandistas levantou sua arma, mirou e atirou.
Com um estrondo retumbante, o alarme cessou e o grupo seguiu em frente.
Lumian estalou a língua e balançou a cabeça, achando a reação deles muito tensa e excessiva.
No subsolo de Trier, tais ações poderiam facilmente levar a problemas!
Era bem sabido que, além de estudantes universitários explorando e cidadãos cultivando cogumelos para ganhar a vida, a maioria dos indivíduos que se aventuravam no subterrâneo não deveriam ser subestimados. As chances de encontrar Beyonders eram significativamente maiores abaixo do solo do que na superfície. Atirar em qualquer transeunte poderia potencialmente provocar membros de organizações secretas, abençoados de deuses malignos, militantes antigovernamentais ou formidáveis aventureiros.
Com isso em mente, Lumian sacou seu revólver e apertou o gatilho na direção da caravana de contrabandistas, que estava prestes a desaparecer no fim do túnel à sua direita.
Ele não estava mirando em ninguém, apenas atirando para o ar.
Bang! Os contrabandistas armados ou giraram, ou corriam para se proteger, disparando uma saraivada de balas na encruzilhada.
No entanto, Lumian não estava mais preocupado. Ele já estava escalando a parede de pedra, quase chegando ao topo.
Depois de trocar tiros com o ar vazio por um breve momento, os contrabandistas mudaram de posição nervosamente, confusos e perturbados.
Lumian observou as costas deles e não conseguiu deixar de sorrir.
“Não precisa agradecer. Considere isso uma aula grátis!”
Ele saltou para o chão e reacendeu sua lamparina.
Sentindo o cheiro persistente de pólvora, Lumian sorriu e guardou seu revólver antes de continuar sua rota planejada.
Poucos minutos depois, ele se deparou com um grupo de policiais vestidos com uniformes escuros e armados com revólveres semiautomáticos.
O oficial que liderava o grupo, ao ver a aparência jovem de Lumian, a mochila pendurada na diagonal e o traje bem-vestido, murmurou baixinho: — Filho da puta, por que é outro estudante universitário!?
Ele então exalou alto e perguntou: — Você ouviu alguma coisa agora?
— Houve um tiroteio ali. Eu queria ir lá e dar uma olhada, mas não ousei, — Lumian respondeu, sem esconder nada sobre a caravana de contrabandistas.
Os policiais da pedreira trocaram olhares e passaram rapidamente por Lumian, correndo em direção ao cruzamento.
…
Na sala de conversação.
Observando a partida do guia esqueleto com máscara de ferro, o homem vestido com trajes de Bruxo voltou sua atenção para Franca e Jenna e disse:
— O que vocês descobriram? Como mencionei, precisam encontrar o guardião ou seus restos mortais para reivindicar sua recompensa.
Jenna respondeu calmamente: — Ainda não pensamos muito sobre o pagamento. Acreditamos que a situação é mais complexa do que você descreveu.
— Durante a noite, nos infiltramos na Pedreira do Vale Profundo…
Ao ouvir o termo “Pedreira do Vale Profundo”, o homem, escondido sob uma sombra encapuzada, sutilmente levantou o olhar.
Franca observou atentamente sua linguagem corporal.
Ela havia consultado Anthony Reid e sabia que tipo de reações subconscientes humanos comuns exibiriam em tais situações.
As ações do homem sugeriram que ele era altamente sensível à menção de Pedreira do Vale Profundo.
Somente alguém ciente do problema reagiria dessa maneira.
Jenna continuou a relatar suas descobertas, incluindo o monge de olhos cibernéticos e a caverna secreta adornada com braços.
O homem vestido de Bruxo permaneceu composto, sem fazer movimentos desnecessários. No entanto, para Franca, isso indicava que ele entendia a anormalidade dentro da Pedreira do Vale Profundo.
Após ouvir o relato de Jenna, o homem deliberadamente levantou a voz e disse: — Não posso confirmar se está relacionado ao desaparecimento do porteiro, mas se você puder entrar na caverna secreta, tirar algumas fotos ou recuperar itens valiosos, estou disposto a oferecer metade do pagamento adiantado. Talvez você encontre pistas sobre o paradeiro do porteiro lá dentro.
“Você acha que somos tolas? Você espera que assumamos tal risco por meros 10.000 verl d’or?” Franca murmurou silenciosamente.
Se essa reunião de misticismo não tivesse sido organizada por sua amiga, ela teria encontrado uma maneira de seguir o cliente e descobrir sua verdadeira identidade. Ela poderia então extrair informações mais detalhadas dele e fazer Jenna vendê-las aos Purificadores.
…
“Pare!”
“O Império da Morte está à frente!”
Lumian mais uma vez se viu diante do arco natural, adornado com uma mistura peculiar de ossos brancos, girassóis e símbolos de vapor esculpidos na pedra.
Antes que ele pudesse pegar o relógio de bolso que havia pegado emprestado do Salle de Bal Brise para verificar as horas, Hela, vestida com um misterioso manto preto de viúva e cabelos loiros murchos, aproximou-se do outro lado.
A mulher assentiu levemente e disse: — Já que você já está aqui, vamos prosseguir conforme o planejado.
— Muito bem. — Lumian abriu sua bolsa e tirou duas velas brancas.
Depois de acendê-las e entregar uma para Hela, ele sorriu e comentou: — Você não está preocupada que as informações que obtive sobre a Fonte do Esquecimento possam estar incorretas?
— O sucesso vem depois de inúmeros fracassos, — respondeu Hela com frieza.
Uma risada escapou dos lábios de Lumian.
— Achei que você poderia dizer que o fracasso é a mãe do sucesso.
— Esta não é a Sociedade de Pesquisa, — Hela respondeu secamente.
Lumian não perdeu mais tempo. Apagou sua lamparina e avançou em direção ao arco rochoso, segurando a vela branca, cuja chama agora era de um laranja intenso.
Como esperado, uma figura emergiu das sombras além da porta.
A figura ostentava um colete azul e calças amarelas, com cabelos grisalhos e poucas rugas. Seus olhos amarelo-claros tinham uma leve nebulosidade, marcando-o como um homem idoso.
O velho lançou um olhar desaprovador para a vela branca na mão de Lumian e perguntou com a testa franzida: — Você não encontrou um guia?
“Vocês… Não?” Lumian olhou para Hela pelo canto do olho e percebeu que a luz da vela ao redor dela havia diminuído, como se tivesse sido corroída pela escuridão subterrânea ou envolta em densa névoa.
Nesse estado, ela parecia ter desaparecido da vista do administrador do túmulo.
Lumian lançou um sorriso para o velho.
— Não preciso de guia. Já fui ao túmulo muitas vezes, embora esteja mais acostumado a entrar pela entrada do Quartier de la Cathédrale Commémorative. Não se preocupe, lembro de todos os tabus e não os quebrarei deliberadamente.
O velho retrucou: — Vocês, estudantes universitários! Lembrem-se, saiam antes que suas velas se apaguem!
Com isso, ele deu um passo para o lado e desapareceu na escuridão atrás da porta.
Quando Lumian passou pela passagem rochosa e entrou no Império da Morte, ele se virou para o velho administrador da tumba e perguntou curiosamente: — Por que você não segura uma vela branca acesa?
Os olhos amarelo-claros levemente turvos do administrador da tumba escureceram de repente, e uma aura gelada emanou dele.
Com uma voz profunda, ele respondeu: — Estou apenas posicionado perto da entrada, sem me aventurar muito fundo.
“É assim mesmo?” Lumian, que já havia entrado nas catacumbas, abandonou racionalmente qualquer investigação posterior. Ele se concentrou no frio em seu coração e nos olhares invisíveis da escuridão ao redor.
Ele não pôde deixar de sentir uma semelhança entre a aura atual do administrador da tumba e a presença de Hela.
Sob o olhar sempre atento dos cadáveres no poço de pedra e dos montes de ossos alinhados nas laterais da passagem, Lumian seguiu em frente pelo ar mofado. Ele caminhou ao lado de Hela, passando por marcos como a tumba da capela e a tumba do pilar memorial.
Hela quebrou o silêncio, seu tom gelado. — Para qual nível estamos indo?
— O quarto nível, — respondeu Lumian, segurando a vela branca no alto e apontando para uma placa de tumba próxima, sem esconder nenhuma informação.
Hela assentiu mais uma vez e acelerou o passo, avançando à frente de Lumian.
Ela parecia intimamente familiarizada com o primeiro nível das catacumbas. Depois de algumas voltas, ela levou Lumian a uma escada que descia para o segundo nível.
Comparado ao nível anterior, havia muito menos turistas aqui. Ocasionalmente, encontravam estudantes universitários cantando, dançando ou testando sua coragem sob o “olhar” dos cadáveres iluminados por velas.
Hela não mostrou sinais de que iria diminuir o ritmo. Logo, Lumian avistou uma porta de pedra desgastada pelo tempo.
Com o brilho amarelo bruxuleante da vela iluminando o caminho, ele leu a escrita intisiana na porta de pedra: “Entrada para o Antigo Ossário”.
— Aqui embaixo, entramos no terceiro nível. Logo depois da porta está o altar do Sol e do Vapor. Continue andando até chegar ao Pilar da Noite de Krismona, e é aí que entramos no quarto nível, — explicou Hela, sua voz ainda fria.
— Você tem um mapa completo das catacumbas? — Lumian não pôde deixar de perguntar, ciente de que apenas o mapa do primeiro nível estava disponível no mercado.
Hela balançou a cabeça.
— Quanto mais fundo vamos, menos eu sei. Do terceiro nível em diante, você tem que confiar nas placas e na linha preta de orientação no teto da caverna.
Lumian decidiu não pressionar mais o assunto. Com Hela liderando o caminho, eles cruzaram o limiar do Antigo Ossuário e desceram uma larga escadaria de pedra, imbuída de um senso palpável de história.
Ao chegarem ao terceiro nível da tumba, eles encontraram uma luz bruxuleante de velas e um altar improvisado composto de duas pedras desgastadas pelo tempo.
A chama da vela pertencia a um jovem de cabelos pretos, olhos castanhos e pele clara.
Ao avistar Lumian e Hela, ele correu em direção a elas como se estivesse agarrado a uma tábua de salvação.
Enquanto corria, ele gritou: — M-meus amigos desapareceram! Eles simplesmente desapareceram!