Na rua adornada com as palavras “Chilicasco” em dutanês, Lumian conduziu Camus e o resto da equipe de patrulha para o apartamento feito de pedras pretas escuras e madeira marrom.
No momento em que ele abriu a porta do quarto de Bram, uma mistura de cheiro de queimado e sangue pairou no ar.
Fragmentos de cadáver estavam espalhados pelo chão, as paredes manchadas com uma mistura de sangue e carne. Marcas de mãos, carmesim e marcas escaldantes adornavam cada superfície.
Os olhos de Camus se arregalaram, como se tivessem sido empurrados de volta para o meio de um assassinato em série.
No entanto, esse foi um nível de devastação ainda maior.
Virando-se para Lumian, Camus, apesar de já antecipar a resposta sombria, perguntou habitualmente: — Onde está o corpo dessa pessoa?
Lumian gesticulou em direção aos restos espalhados e à carne picada, respondendo com um sorriso sombrio: — Tudo isso.
Camus ficou em silêncio por um momento antes de sinalizar para seus dois companheiros atordoados examinarem a cena.
Ele havia prometido dividir uma parte da recompensa com eles, tornando-os testemunhas de seus “méritos”.
Camus não se aventurou sozinho, temendo que isso pudesse ser uma armadilha preparada por Louis Berry, uma tentativa de assassinato pela Escola de Pensamento Rosa ou outras organizações secretas visando a equipe de patrulha.
No Continente Sul, a vigilância era uma necessidade!
Aproximando-se de um armário, Camus fixou o olhar nos lábios encharcados de conservantes, enquanto o trágico destino das vítimas se repetia em sua mente.
Após um momento de silêncio, Louis Berry falou calmamente, — Bram é um membro da família Diabólica1, Andariel. Ele foi instruído pela Escola de Pensamento Rosa para reunir informações em Porto Pylos e executar os assassinatos em série. Seu tio, Devajo, deveria ser seu contato, mas eles nunca se encontraram de fato. Em vez disso, ele deixou as informações que coletou na mesa de uma casa vazia na rua…
“O que…” Camus e os outros ficaram inicialmente assustados, depois profundamente confusos.
Como Louis Berry possui um conhecimento tão detalhado?
Camus não pôde deixar de olhar para os pedaços de cadáveres espalhados, as paredes encharcadas de sangue, as marcas de mãos no chão e as várias marcas carbonizadas.
Por fim, seu olhar pousou no rosto de Lumian.
Lumian respondeu com um sorriso caloroso nos lábios.
Camus e seus dois companheiros trocaram olhares, abstendo-se de questionar se Louis Berry obteve a informação por meio de canalização espiritual, tortura ou se ele havia discernido os motivos de Bram desde o início. A perseguição de Louis ao Assassino em Série não se deveu somente a um ato criminoso.
— Essa informação é crucial — Camus assentiu, gesticulando em direção à metralhadora de seis canos severamente danificada na sala. — Precisamos guardar a arma de Bram.
— Sem problemas — Lumian respondeu casualmente.
Sendo um Piromaníaco, armas de fogo tinham pouco apelo para ele. Bolas de fogo provaram ser muito mais potentes do que o tiro rápido de uma metralhadora de seis canos… só não tão velozes.
…
Ao lado da Praça da Ressurreição, na Rua Cania, no segundo andar do prédio de quatro andares da equipe de patrulha.
Camus colocou o dossiê e os itens relacionados na mesa em frente a Lumian, enfatizando: — Você só pode ler e registrar. Levá-lo embora ou danificá-lo não é uma opção.
Lumian assentiu sutilmente, pegou um dos envelopes, desenrolou o fio algumas vezes e o abriu com cuidado.
Em vez de ler o conteúdo apressadamente, ele primeiro extraiu o dossiê e o leu atentamente.
O denso dossiê delineou meticulosamente as identidades, origens, possíveis caminhos, sequências, locais da morte, condições da cena e as variadas especulações e investigações conduzidas pela equipe de patrulha.
Ficou claro que a equipe de patrulha tinha sido diligente em suas investigações, especialmente quando novas vítimas continuavam surgindo. As operações diárias variaram até que os assassinatos em série pareceram cessar, levando a um afrouxamento dos esforços. Eles reduziram gradualmente a frequência de estudos de caso e viagens de visita em larga escala. Após seis meses, as investigações chegaram a um impasse, concluindo o dossiê.
No relatório final, o vice-capitão que supervisionava o assunto concluiu: “Este é um caso clássico de assassinato em série cometido pelo caminho do Diabo. Embora os Assassinos em Série raramente tenham como alvo apenas sete indivíduos, à medida que mais vítimas aumentam a eficácia do ritual, desta vez, todas as vítimas são Beyonders, incluindo Beyonders de Sequência Média. Mesmo com apenas sete mortes, eles são mais favorecidos pelos Demônios, agradando-os mais do que 14 ou mesmo 20 pessoas comuns.”
“A questão principal neste caso místico é que, além de serem Beyonders, não há uma conexão entre as sete vítimas. Isso o diferencia de assassinatos em série anteriores.”
“Nós levantamos a hipótese de que as sete vítimas eram Beyonders ativos em Balam Oeste, provavelmente tendo cometido alguma forma de assassinato no passado. Pode ser visto como uma manifestação de depravação…”
Lumian leu meticulosamente, concordando com a teoria de que sete Beyonders superaram 14 indivíduos comuns em rituais para agradar demônios.
Essa não era uma informação nova para ele. Afinal, pessoas comuns eram apenas o terceiro melhor sacrifício, enquanto criaturas com características de Beyonder ficavam em segundo.
Situações semelhantes surgiram em “atos” específicos, particularmente aqueles que exigiam resposta. Era semelhante a decifrar a conspiração de um anjo, permitindo que Lumian assimilasse uma poção de forma mais eficaz do que a intriga de uma pessoa comum.
Tendo compreendido um entendimento geral de todo o caso de assassinato em série, Lumian mergulhou na coleta de informações sobre os sete Beyonders. Sintetizando o perfil psicológico de Hisoka feito por Anthony, o resumo do arquétipo de Franca e suas especulações sobre o ator, ele vasculhou por potenciais semelhanças.
Entre os Beyonders estavam homens e mulheres, um sob o comando do Almirante Querarill, enquanto outro era um crente da Morte que residia em Porto Pylos. Aventureiros estrangeiros, um espião da República Intis estacionado em Matani, um membro periférico da Escola de Pensamento Rosa e um clérigo local da Igreja do Deus do Vapor e da Maquinaria também estavam na lista.
A julgar por suas identidades e origens, eles aparentemente não tinham nada em comum.
No entanto, para Lumian, que lia com base em conjecturas subjetivas, detalhes sutis tinham significado.
Todas as sete vítimas eram jovens, com o mais velho na casa dos trinta, amplamente elogiado por seu talento de combate e inteligência excepcional. Lumian refletiu consigo mesmo,
“Os alvos são Beyonders que são jovens, cheios de potencial e já atingiram um certo nível de maturidade? Até mesmo os dois que não eram particularmente jovens carregavam o rótulo de famosos, poderosos, com potencial ilimitado…” Lumian obteve uma compreensão aproximada dos critérios de seleção de Hisoka.
Se Franca estivesse presente, ela poderia ter notado que ele correspondia às características do arquétipo original.
No entanto, Lumian acreditava que Hisoka aderiria ao arquétipo quando lhe conviesse, não deixando que ele ditasse seus verdadeiros motivos. A avaliação de Lady Louca sobre Hisoka como não sendo puro o suficiente apoiou ainda mais a perspectiva de Lumian.
Considerando os critérios de seleção, Lumian pensou, “Louis Berry se encaixa no fetiche homicida de Hisoka.” Ele estalou a língua e pegou itens relacionados ao caso dos envelopes oficiais.
A maioria eram pertences da vítima, mas também havia sete finas folhas de alumínio manchadas com substâncias marrom-escuras que não pertenciam a esse grupo.
Descrito no arquivo do caso, eram embalagens para o chocolate local, deixadas em cada cena de crime. Suspeitava-se que o assassino descascava a fina película após o sucesso, deliciando-se com um pedaço de chocolate antes de dissecar o cadáver.
Como o assassino usou uma mão enluvada para extrair e consumir o chocolate, nenhum traço correspondente foi deixado na fina folha. Esses chocolates eram comuns em Matani, dificultando o rastreamento.
Lumian estudou a fina folha de alumínio antes de sorrir para Camus, que o supervisionava.
— Posso levar dois ou três?
Camus, com seus cabelos castanhos, franziu a testa.
— Se você quiser usar adivinhação ou outros métodos Beyonder, você pode fazer isso aqui.
— Só dois. Não vai atrapalhar suas investigações futuras, — Lumian disse sedutoramente. — Se você concordar em ajudar, eu lhe darei uma recompensa adicional. Por exemplo, um encantamento de invocação muito útil para uma criatura do mundo espiritual.
Camus ficou em silêncio por um momento antes de concordar: — Fechado.
…
Mais de quinze minutos depois, Camus, tendo levado Lumian para comprar itens semelhantes a chocolate, observou com uma expressão perplexa enquanto uma criatura do mundo espiritual em forma de coelho copiava habilmente os dossiês com uma caneta-tinteiro.
Depois de quase um minuto, Camus desviou o olhar para Lumian, sentado preguiçosamente ao lado, tirando a fina folha de alumínio e saboreando um pedaço de chocolate marrom-escuro. Ele perguntou em voz profunda: — É essa a criatura do mundo espiritual muito útil que você mencionou?
Lumian, mastigando o chocolate perfumado, respondeu com um sorriso: — Sim, é um dos Coelhos do Conhecimento. Ele pode ajudar você a fugir do trabalho de copiar.
“Para que preciso de uma ferramenta de cópia dessas!?” Camus berrou interiormente, mas se conteve ao se lembrar da recompensa pelo Assassino em Série e da cena macabra da morte de Bram.
Lumian acrescentou com um sorriso: — Quando você preferir manter a origem de suas palavras escondida, invoque o Coelho do Conhecimento para obter ajuda.
— Além disso, esta é uma criatura do mundo espiritual orientada para o crescimento. Ela evolui com base no conhecimento que recebe. Claro, é ideal se você puder garantir um contrato com a criatura do mundo espiritual. Caso contrário, cada Coelho do Conhecimento invocado pode ser diferente, tornando a nutrição impossível.
— Orientado ao crescimento… — Camus repetiu o termo, sua expressão gradualmente suavizando.
…
De volta ao Hotel Orella, Lumian pegou as duas velhas folhas de alumínio do bolso e entregou uma a Ludwig.
— Tente comer isso, — ele sugeriu com um sorriso.
Nota:
[1] em alguns momentos traduzir para: família de diabos, pra não repetir tanto a mesma coisa.