Lugano, que estava observando de longe, ficou surpreso quando Lumian entregou o fino papel-alumínio para Ludwig e perguntou se ele queria comê-lo.
Apesar da demonstração anterior de hábitos alimentares anormais de Ludwig, incluindo beber um tubo de sangue humano na frente de Lugano, revelando todas as informações correspondentes, Lugano ainda nutria reservas sobre alimentar Ludwig com qualquer coisa, especialmente algo tão pouco convencional quanto papel alumínio.
Afinal, Ludwig ainda era uma criança!
Num piscar de olhos, Lugano viu Ludwig aceitar silenciosamente o velho e fino papel-alumínio, colocá-lo na boca, mastigar e engolir.
“…” Lugano ficou atordoado.
Assim que Ludwig terminou de consumir o papel-alumínio, ele calmamente se virou para Lumian e perguntou: — Quais detalhes você precisa: informações sobre os grãos de cacau usados, a quantidade exata, ingredientes adicionais, a origem dos ingredientes do papel-alumínio, as fábricas de produção ou os indivíduos com maior contato com ele?
Lumian balançou a cabeça lentamente.
— Não há necessidade.
Essa informação não ajudaria a rastrear Hisoka. Hisoka tocou na fina folha de alumínio enquanto usava luvas, não deixando para trás nenhum detalhe pessoal correspondente. A equipe de patrulha já havia confirmado que a embalagem de chocolate era comum em Porto Pylos, e não havia nada de distinto no sabor.
Quando Lumian respondeu, uma mistura de diversão e surpresa tomou conta dele.
“Ele consegue até extrair essas informações comendo?”
“Como esperado de um monstro capaz de se recuperar apenas comendo e gradualmente se libertar das restrições do selo!”
Ludwig pareceu saborear a iguaria. Depois de alguns momentos, ele comentou: — O chocolate residual tem um toque de depravação.
“Depravação? Poderia ser que Hisoka o tenha carregado por um longo período, corrompendo-o? Isso não faz sentido. A menos que alguém fosse um semideus, as auras Beyonder não poderiam atingir tal nível. A única possibilidade era que eles estivessem à beira de perder o controle, profundamente em um estado de depravação. No entanto, o corpo de tal Beyonder sem dúvida exibiria vários detalhes anormais. Eles não seriam capazes de sair de casa; sair levaria à descoberta e perseguição por agentes da lei. Ele poderia confiar na pele humana que Bram mencionou para disfarce?” Lumian ficou inicialmente confuso, mas então perguntou com antecipação: — Uma aura decadente do caminho do Diabo?
Ludwig lambeu os lábios, saboreando o gosto do resíduo de chocolate.
— Sim, pelo menos um Demônio.
— Demônio? — Lumian ficou surpreso e não conseguiu evitar franzir a testa.
Tendo estudado extensivamente Diabologia, ele sabia que a Sequência 4 do caminho do Diabo era conhecida como Demônio, representando um semideus.
Se o chocolate levemente contaminado com uma aura decadente veio de um Demônio, claramente não pertencia a Hisoka.
Lumian não estava arrogantemente descartando o potencial de Hisoka de ter avançado para a Sequência 4. Em vez disso, as marcas de papel alumínio e chocolate representavam o estado quatro anos atrás. Hisoka não poderia ser um Demônio naquela época, a menos que tivesse se tornado um Apóstolo do Desejo após a transmigração. Se fosse esse o caso, seus alvos para os assassinatos em série deveriam ter sido Beyonders da Sequência 6 ou 5.
Embora Beyonders nesse nível fossem raros em Matani, Diabologia não especificava que assassinatos em série só poderiam ocorrer em um local.
— Você tem certeza? — Lumian olhou para Ludwig em busca de confirmação.
Ludwig respondeu seriamente: — A aura decadente de um Demônio tem uma textura completamente diferente da dos Diabos de Sequência Baixa e Média.
Ao ouvir a resposta do afilhado, uma imagem surgiu de repente na mente de Lumian.
Hisoka, de pé dentro da parede da espiritualidade, envolvido em um ritual especial para estabelecer uma conexão com um Demônio. Durante todo esse processo, alguns pedaços de chocolate embrulhados em papel alumínio fino permaneceram em seu bolso. Eles estavam levemente contaminados pela aura decadente que permeava o altar, sutil e silenciosamente transformando…
“Sim, quando realizo um ritual, não retiro todos os meus pertences com antecedência e os deixo fora do altar, a menos que haja uma menção específica nos requisitos do ritual que eu deva evitar…” Como Conspirador, Lumian rapidamente deu um palpite e perguntou a Ludwig: — Você consegue dizer a qual aura decadente de Demônio ela pertence?
A ideia atual de Lumian era que se Hisoka não pudesse ser encontrado no futuro, ele esgotaria seus recursos e buscaria a ajuda dos especialistas em Caçadores de Demônios da Nova Cidade de Prata. Ele montaria um ritual e invocaria o Demônio que havia estabelecido uma conexão com Hisoka. Ele o espancaria antes de interrogá-lo para obter informações sobre Hisoka.
Ludwig balançou a cabeça.
— Ainda não consigo absorver informações tão sutis. Tudo o que sei é que a aura decadente pertence a uma família chamada Nois.
“Nois, uma das três famílias de demônios… O demônio que responde ao ritual especial de Hisoka é da família Nois? Isso é peculiar. Como um demônio pode responder a um ritual remotamente? Tem que ser na Sequência 3, ou mesmo no nível de anjo… De acordo com a Diabologia, Assassinos em Série podem invocar projeções de demônios do abismo porque esses demônios podem usar as propriedades especiais do abismo para responder, não porque eles atingiram o nível correspondente. No entanto, a família Nois é uma família de diabos ativa no mundo real e não entrou no abismo…” Lumian fez muitas conexões a partir do sobrenome Nois.
Ele concluiu listando três possibilidades:
“Primeiramente, o Demônio que respondeu ao ritual Hisoka não era outro senão o Anjo da família Nois.”
“Em segundo lugar, ele atingiu a Sequência 3 e estava localizado em Porto Pylos, perto de Hisoka.”
“Em terceiro lugar, a família Nois tinha uma conexão próxima com o Abismo. Eles podiam tomar emprestado as propriedades do Abismo até certo ponto. Até mesmo um Demônio podia responder a orações de longe.”
Lumian refletiu por um momento e perguntou a Ludwig: — Alguma outra informação?
— Não — Ludwig respondeu, decepcionando Lumian.
Lumian entregou o pedaço restante de papel alumínio.
— Experimente este também.
Ludwig não hesitou. Como muitas crianças atraídas pela doçura persistente nas embalagens, ele colocou a fina folha manchada de chocolate na boca e mastigou.
Depois de um momento, enquanto Lugano voltava à realidade, Ludwig olhou para Lumian e comentou: — Há mais nesse.
— Que tipo de informação? — Lumian sabia que a menção especial de Ludwig tinha que ter algum valor.
Ludwig respondeu com o ar de um conhecedor, — Esta fina folha de alumínio repousava sobre uma mesa marcada por sangue velho e um respingo de café. O sangue pertencia a um homem falecido. A espiritualidade era inicialmente potente, e o café era uma mistura Fermo, sem açúcar, distintamente amargo, mas perfumado.
Ao ouvir o relato de Ludwig, a mente de Lumian elaborou outra cena vívida.
Alguns pedaços de chocolate embrulhados em papel alumínio fino estavam despreocupadamente sobre uma mesa, encharcados de sangue velho e café derramado. Eles pareciam compartilhar uma conexão íntima por um longo período. Então, uma mão se estendeu, agarrou-os e rapidamente os colocou no bolso antes de sair apressadamente.
Ligando os pontos, Lumian suspeitou fortemente que a mesa havia servido Hisoka em uma residência que ele havia ocupado.
— Você tem informações detalhadas sobre o falecido? — Lumian sondou Ludwig em busca de mais informações.
Ludwig balançou a cabeça mais uma vez.
— Não, a menos que eu consuma o sangue diretamente.
“As manchas de sangue provavelmente pertenciam a uma das vítimas,” Lumian conjecturou. “Ele ponderou se essa informação estava documentada no arquivo do caso ou em outro lugar. Hisoka estava usando a mesa como plataforma de autópsia ou talvez um altar?”
Lumian refletiu internamente, um toque de decepção nublando seus pensamentos. No entanto, ele voltou a concentrar sua atenção no café Fermo.
Ele murmurou para si mesmo: “Isso significa que Hisoka tem uma queda por café, especificamente a mistura Fermo do Vale da Paz…”
O Vale da Paz, aninhado no Continente Sul, ostentava o renomado café Fermo, comparável ao café escocês de Feynapotter e à versão própria do Continente Sul. Era um luxo apreciado principalmente pela classe média por longos períodos.
Em Matani, onde tanto o Balam Oeste como Leste produziram grãos de café de alta qualidade, tais ocorrências eram raras. Os moradores locais tinham acesso a uma infinidade de grãos de café excelentes. Aqueles impróprios para exportação eram vendidos a preços acessíveis, favorecidos tanto por colonos quanto por nativos.
Lugano, agora totalmente atento, acrescentou cautelosamente: — Ouvi dizer que aqueles que frequentam o café Fermo apreciam seu amargor e fragrância. No entanto, aqueles que o preferem sem açúcar são uma raça rara.
“Em essência, o gosto único de Hisoka por café é incomum aqui…” Lumian sorriu para Ludwig e comentou: — Muito bem. Se eu capturar o alvo no futuro, eu o darei a você.
Quando chegasse a hora, Lumian provavelmente seria um Sequência 5. Além disso, ele não daria a Ludwig a característica Beyonder. Lumian poderia aliviar seu controle sobre o garoto.
“Dar…” A ideia causou um arrepio na espinha de Lugano, um indício de que sua imaginação poderia ter corrido muito solta.
Para outros, presentear um Beyonder do caminho do Diabo pode relegar o destinatário a uma vida de servidão ou pior, se tornar um ingrediente. No entanto, com Ludwig…
Lugano estremeceu involuntariamente.
Ele não ousou pensar nisso!
Ludwig assentiu, seus olhos brilhando de expectativa.
Lumian virou-se para Lugano e disse: — Você não entende bem o dutanês? Dê uma olhada em Porto Pylos esta tarde e descubra quais lojas vendem café Fermo. É preferível que seja uma que esteja operando há quatro a cinco anos ou mais.
— Tudo bem. — Lugano de repente sentiu uma onda de utilidade.
À noite, ele retornou à Suíte 7 no B3 e relatou a Lumian: — Há apenas três lojas vendendo café Fermo. Uma fica na Rua Cania, na Praça da Ressurreição…
— Você mencionou a Rua Cania na Praça da Ressurreição? — Lumian interrompeu.
— Sim, Unidade 21 naquela rua. Chama-se Loja de Importação e Exportação Matani — confirmou Lugano.
Lumian ficou em silêncio.
Não é perto da equipe de patrulha de Porto Pylos?
……
Em Porto Pylos, no terceiro andar do prédio que abriga a equipe de patrulha.
Camus recebeu a recompensa e deu um quinto aos seus dois companheiros.
Ele então entrou na sala do telégrafo e perguntou ao telegrafista: — Você tem um telegrama para mim?
Ele já havia enviado um telegrama para perguntar a alguns amigos se eles tinham alguma informação sobre Louis Berry, o aventureiro.
Como eles estavam colaborando, ele precisava primeiro verificar a situação da outra parte!
A telegrafista, com um sorriso doce, endireitou-se e respondeu: — Sim! De Farim.