Ao ouvir a pergunta de Rhea, Lumian voltou a si e se virou para Lugano.
Na pressa de salvar e “selar”, ele ignorou a condição de Lugano!
Desde que esse Médico conseguiu controlar seus ferimentos, ele estava respondendo às perguntas de Lumian. Ele estava lúcido e racional, um contraste gritante com os outros participantes do Festival dos Sonhos.
Era preciso saber que nem mesmo Ludwig, o próprio monstro, conseguia controlar seu apetite e recorreu à devorar humanos!
Além disso, Lugano nunca havia dormido na casa de Hisoka, nem havia entrado neste peculiar reino de sonho antes!
Ao ver Rhea, Camus e seu empregador olhando fixamente para ele, Lugano, ainda lutando contra a dor persistente, ficou completamente perplexo.
— Por que eu não estaria lúcido?
— Vocês ainda não estão todos em sã consciência?
“Parece que todo mundo está no mesmo estado. Por que eu deveria ser o único com um problema?”
Lumian observou cuidadosamente as emoções de Lugano e perguntou em tom calmo: — Você se aventurou para fora do motel recentemente?
— Sim. Ajudei Ludwig a comprar carne assada e doces feitos com caroços de palmeira — lembrou Lugano.
Lumian sorriu.
— Você dormiu em algum outro lugar além do motel?
— Não, eu não ousaria me envolver com as mulheres aqui. — Lugano balançou a cabeça sem hesitar.
Ele estava evidentemente um pouco arrependido sobre isso, pois havia inúmeras garotas mestiças em Tizamo que possuíam um charme diferente daquelas do Continente Norte.
Enquanto os dois homens conversavam, Camus e Rhea meticulosamente procuraram por qualquer anormalidade no corpo de Lugano. No entanto, além de estar suficientemente lúcido e sem emoções e desejos excessivos, Lugano parecia não ser afetado pelo estranho fenômeno.
Lumian olhou para Lugano com um sorriso pensativo e disse: — Estamos sendo forçados a participar de um evento chamado Festival dos Sonhos. Simplificando, estamos sonhando. Podemos fazer qualquer coisa neste sonho, mas se morrermos aqui, morreremos na realidade também.
— Além de nós, todos em Tizamo estão sob a influência de emoções e desejos intensos, assim como Ludwig.
— Eles estão conscientes… estritamente falando… mas escolheram mostrar sua malícia e expressar seus desejos há muito reprimidos. Se pudermos subjugá-los, poderemos nos comunicar, mas eles instintivamente tentarão nos enganar.
Lembrando-se de como o dono da cafeteria, Bunia, mudou imediatamente de atitude após ser alvo de sua flecha e implorou por misericórdia, Rhea concordou com o julgamento de Louis Berry.
Os participantes do Festival dos Sonhos não eram estúpidos ou loucos. Seus desejos e emoções excessivos eram a principal causa de sua maldade incontrolável!
— Entendo… — Lugano finalmente entendeu.
Percebendo o que a pergunta de Rhea significava, ele deixou escapar: — Por que estamos lúcidos e racionais?
Após uma pausa, a voz de Lugano baixou quando ele acrescentou: — P-por que consigo permanecer lúcido e racional?
Lumian sorriu.
— Podemos permanecer lúcidos e racionais porque entramos nesse sonho especial antes. Deixamos marcas e auras em certos lugares.
— Quanto a você, não sei bem por quê.
Enquanto falava, ele observava atentamente o rosto de Lugano, observando a mudança na expressão de seu servo.
Lugano disse atordoado, com a voz cheia de medo: — Eu também não sei por que isso está acontecendo…
Percebendo que Lugano permaneceu calmo mesmo depois que seu problema foi trazido à tona, Lumian aproveitou a oportunidade para dar uma olhada na sorte de seu servo.
“Atualmente em meio a uma calamidade sangrenta, Lugano pode ser vítima de uma doença nos próximos dias… A primeira parte faz sentido, considerando que Ludwig acabou de comer metade do braço. Mas o que a segunda metade implica? O Festival dos Sonhos poderia durar vários dias? Impossível. Se realmente durasse tanto tempo, a situação de Tizamo teria sido descoberta muito antes… Isso sugere que Lugano sucumbiria a uma doença durante o próprio Festival dos Sonhos? Uma doença semelhante à morte no mundo real, uma que não seria curada instantaneamente mesmo se ele acordasse e recebesse a bênção da Missa?” Lumian ponderou silenciosamente o significado por trás do destino revelado de Lugano.
Desviando o olhar para Camus e Rhea, ele percebeu que eles também logo enfrentariam uma provação cruel e sangrenta. Se não conseguissem navegar por ela corretamente, arriscariam escorregar ainda mais para o perigo.
Enquanto esses pensamentos giravam na mente de Lumian, ele se virou para Camus e Reia e declarou: — Vou levar meu servo conosco.
Não foi um ato de gentileza ou generosidade. Em vez disso, Lumian temia que deixar Lugano por conta própria, dada sua inexplicável lucidez e racionalidade, pudesse desencadear a anormalidade dentro dele e alterar o curso do Festival dos Sonhos de maneiras imprevisíveis.
Melhor mantê-lo por perto, onde ele poderia ser monitorado e quaisquer acidentes potenciais prevenidos. Se Lugano realmente desencadeasse um problema terrível, Lumian sempre poderia acabar com sua vida primeiro, eliminando quaisquer complicações futuras.
Camus e Rhea trocaram olhares descontentes antes de admitir: — A decisão é sua.
— Precisamos nos apressar para a casa de Twanaku — Lumian reiterou sua proposta anterior.
O olhar de Camus se voltou para o cubículo onde Kolobo estava escondido, com um toque de hesitação em sua voz quando ele perguntou: — Alguma ideia de onde o Capitão Reaza e os outros podem estar?
— Eles deveriam aparecer ao meu lado quando o Festival dos Sonhos começasse, mas não estavam em lugar nenhum, — admitiu Lumian, relatando a situação honestamente.
Talvez a correspondência do sonho com a realidade fosse imperfeita. O local onde cada pessoa entrou nessa peculiar paisagem onírica pode ser influenciado por fatores como sua compreensão, o estado do sonho, onde dormiram e uma miríade de outras variáveis.
Lumian pensou que se não tivesse mantido a lucidez e a racionalidade, poderia ter acordado no quarto principal da suíte do Motel Brieu.
— Deveríamos tentar localizá-los primeiro? — Camus propôs, com um tom de incerteza em seu tom.
Lumian soltou uma risada irônica.
— Por quê? Para enfrentá-los em combate?
Nem Reaza, nem Maslow já tinham dormido na casa de Hisoka antes. A probabilidade de eles não terem autocontrole e sucumbirem à malícia e aos desejos básicos era alta.
Quando chegasse a hora, Lumian poderia não ter força para controlar o ritmo e a intensidade da batalha contra Beyonders tão formidáveis como fazia com pessoas comuns, não sem o risco de causar mortes.
Camus e Rhea ficaram em silêncio ao mesmo tempo, nenhum dos dois muito interessado na perspectiva de uma luta de vida ou morte com seus próprios companheiros de equipe.
Assim que Lumian estava prestes a sinalizar para os dois membros da equipe de patrulha se aproximarem, Camus cerrou os dentes e declarou: — Há um lugar onde preciso ir antes de ir para a casa de Twanaku.
— E onde seria isso? — Lumian perguntou, levantando uma sobrancelha.
Camus respondeu com uma voz profunda: — Feudo das Palmeiras.
Lumian riu.
— Você deseja resgatar a Srta. Amandina?
Camus assentiu com firmeza, com um toque de constrangimento estampado em seu rosto.
— Sim, está certo.
— Você não precisa se preocupar. Isso é apenas um sonho. Se alguém for violado dentro do sonho, ele só experimentará um toque de histeria ao acordar. Nenhum dano substancial lhe acontecerá — Lumian declarou com naturalidade, sua intenção não era provocar Camus.
A expressão de Camus permaneceu inabalável.
— Estou ciente. Mas temo que ela não consiga lidar com isso em seu estado de sonho e possa recorrer a medidas drásticas. Isso pode levá-la à morte.
Sem esperar pela resposta de Lumian, Camus falou gravemente: — Você pode ir para a casa de Twanaku primeiro. Eu irei para Feudo das Palmeiras e me encontrarei com você mais tarde.
— Quando você terminar, talvez não estejamos mais na casa de Twanaku — Rhea o alertou.
Camus assentiu gentilmente.
— Tomei essa decisão por minha própria vontade. Estou preparado para arcar com quaisquer consequências que possam surgir.
Lumian olhou nos olhos de Camus e permaneceu em silêncio por um tempo.
Camus sentiu uma pressão indescritível pesando sobre ele, sua mente conjurando os resultados trágicos que ele poderia enfrentar, mas ele franziu os lábios e se recusou a retirar sua sugestão.
Depois de mais de dez segundos de silêncio, com a expressão inalterada, Lumian finalmente falou.
— Vamos para Feudo das Palmeiras agora.
“Hein?” Antes que Camus pudesse reagir, a mão de Lumian agarrou firmemente seu ombro.
Simultaneamente, a outra mão de Lumian disparou, alcançando o braço de Rhea.
A reação instintiva de Rhea foi desviar, mas a lembrança de como Lugano havia sido transportado passou por sua mente.
Seus ombros tensos relaxaram um pouco.
Com Camus e Rhea seguramente em suas mãos, Lumian lançou um olhar significativo para Lugano.
Lugano, demonstrando uma facilidade praticada, aproximou-se e agarrou-se a uma ponta do colete de Lumian.
No segundo seguinte, a figura de Lumian ficou turva, a névoa se espalhando rapidamente e envolvendo Camus, Rhea e Lugano.
Enquanto Reia e Camus se viam cercados por camadas de cores indescritíveis e objetos sem forma, emoções intensas surgiram em seus corações.
“Poderia ser este o mundo espiritual?”
“É assim que acontece no teletransporte?”
“Foi assim que o grande aventureiro, Gehrman Sparrow, conseguiu aparecer diante de qualquer pirata a qualquer momento?”
Tendo testemunhado o desaparecimento repentino de Louis Berry e seu subsequente retorno com seu servo a tiracolo, Camus e Rhea especularam que essa poderia ser a famosa habilidade de teletransporte que se tornou uma lenda nos Cinco Mares, graças aos feitos extraordinários de Gehrman Sparrow.
Parecia que suas suspeitas estavam certas!
A equipe de patrulha de Matani contava com vários aventureiros entre suas fileiras, e Camus e Rhea eram bem versados nos inúmeros rumores que circulavam pelos Cinco Mares.
No instante em que experimentaram o teletransporte em primeira mão, seus corpos deixaram o mundo espiritual do sonho, rematerializando-se diante de um edifício bege de quatro andares.
Este não era outro senão o edifício principal do Feudo das Palmeiras.
Num piscar de olhos, Lumian, Camus, Rhea e Lugano chegaram ao seu destino.
A mansão estava tomada por gritos, lamentos, risadas sinistras e cantos agudos.
A pouco mais de dez metros do edifício principal, perto de um arbusto de jardim, uma criada mestiça estava presa ao chão por um grupo de escravos, com suas roupas meio despidas enquanto ela gritava em desespero.
“Ela lutou com todas as suas forças, mas como poderia esperar resistir aos homens adultos?” Ela estava completamente indefesa, imobilizada e à mercê deles.
Testemunhando essa cena, o ex-Xerife, Camus, instintivamente ansiou por intervir, mas rapidamente se lembrou de que isso era um sonho. Tais eventos não impactariam verdadeiramente a realidade. No máximo, resultariam em um certo grau de histeria curável.
“Seria perda de tempo pará-lo, e isso só serviria para atrasar minha busca por Amandina. Além disso, seria inútil…” Camus se avisou, desviando o olhar à força enquanto subia os degraus para o prédio principal.
Naquele momento, Rhea, que ficou em silêncio por alguns segundos, virou-se para o prédio principal da mansão.
— Vocês vão primeiro.
De costas para Lumian, Camus e Lugano, ela falou em um tom indiferente. Inclinando-se ligeiramente para a frente, ela caminhou propositalmente em direção aos arbustos na borda do jardim, indo até a criada da senhora mestiça que estava sendo violada pelos escravos.