Com alguns passos rápidos, Rhea se posicionou atrás dos escravos, levantou o pé direito e desferiu um chute poderoso.
Com um estrondo retumbante, o escravo que pressionava a criada da senhora mestiça foi lançado voando, aterrissando sem cerimônia nos arbustos na borda do jardim.
Os outros três se viraram abruptamente para encarar Rhea.
Antes que pudessem ter uma visão clara do agressor, Rhea deu um chute giratório fluido, derrubando outro no chão.
Os dois restantes, divididos entre a ganância, o desejo e o medo, olharam para Rhea e deram meia-volta, fugindo para outra parte da mansão.
Rhea retraiu seu pé esquerdo e fixou um olhar frio nos dois servos que lutavam para se levantar. Ela levantou seu arco de caça, encaixando uma flecha com um movimento suave e praticado.
Os dois servos lamberam os lábios em uníssono. Relutantes, mas temerosos, eles rapidamente escalaram os arbustos e desapareceram no jardim.
Só então Rhea baixou o olhar para a criada da senhora mestiça, cujo rosto ainda estava marcado por lágrimas e confusão.
— Você está bem?
A criada da senhora mestiça balançou a cabeça repetidamente. Com mãos trêmulas, ela rapidamente arrumou seu vestido meio rasgado e recuperou uma adaga que havia caído ao seu lado.
Vendo isso, Rhea não perdeu tempo.
— Encontre um canto isolado e esconda-se até o amanhecer.
Com isso, Rhea girou nos calcanhares e se preparou para correr de volta para onde Louis Berry, Camus e os outros esperavam na porta do prédio principal da mansão.
Quando a criada da senhora mestiça se levantou, sua expressão escureceu, e ela levantou a adaga que segurava na mão, cravando-a nas costas de Rhea.
Ao perceber o perigo iminente, Camus gritou: — Cuidado!
Embora Rhea não tivesse percebido a ameaça se aproximando, ela instintivamente atendeu ao aviso de Camus e reagiu.
Rendendo-se à inércia, ela caiu para frente e rolou para o lado, escapando por pouco do caminho mortal da adaga.
Enquanto rolava, Rhea girou para encarar seu agressor, estreitando os olhos enquanto ela instintivamente erguia seu arco, mirando na criada da senhora mestiça.
A criada mestiça brandiu sua adaga, gritando em intisiano, suas palavras cheias de ódio: — Por que você pode se juntar à equipe de patrulha, enquanto eu estou presa como uma mera criada? Nós duas não viemos do continente do sul?
— Por quê? Eu até tenho sangue intisiano correndo em minhas veias!
Antes que ela pudesse terminar seu discurso, um Corvo de Fogo vermelho, com sua tonalidade beirando o branco, surgiu do nada, colidindo com a adaga de aço.
Com um estrondo retumbante, a adaga esquentou, uma força explosiva arrancou-a das mãos da criada mestiça, fazendo-a voar vários metros antes de cair no chão.
A criada da senhora mestiça vacilou, o medo suplantando o ódio em seus olhos.
Lumian, com seu cabelo preto e olhos verdes marcantes, estava nos degraus da casa principal da mansão, uma mão casualmente enfiada no bolso. Ele gritou, sua voz carregada, — Onde está a Srta. Amandina?
“Hum…” Uma pontada de vergonha atingiu Camus.
Na pressa de resgatar a Srta. Amandina, ele agiu com uma nítida falta de profissionalismo!
Ele tinha sido um hóspede no Feudo das Palmeiras, mas nunca tinha sido convidado para visitar o quarto de Amandina no andar de cima. Consequentemente, ele se viu inseguro sobre qual andar e quarto procurar por ela mais tarde.
Se ele procurasse andar por andar, sem dúvida encontraria inúmeros obstáculos em meio ao caos atual.
A expressão da criada mestiça mudou, revelando um desejo e uma expectativa flagrantes.
— Ela está dormindo no quarto dela. Terceiro andar, segundo quarto de frente para a floresta de borracha.
— Apresse-se. Ela é uma visão de beleza, perfumada e imaculada. Sua silhueta é requintada, sua pele suave como seda. Ela está um nível acima do resto de nós. Muitos cavalheiros a consideram sua amante dos sonhos. Vá, rápido!
Ao se aproximar do fim de seu discurso, a criada da senhora mestiça cerrou os dentes, seus olhos brilhando com um desejo ilusório de testemunhar algo acontecer.
Os cabelos de Lugano ficaram em pé, um arrepio percorreu sua espinha enquanto ele confrontava a flagrante malevolência da natureza humana.
Palmas! Palmas! Palmas! Lumian balançou a cabeça, um sorriso brincando em seus lábios enquanto aplaudia.
Rhea ficou em silêncio por alguns segundos antes de se levantar e sair do local.
Depois de alguns passos, ela parou, virando-se para olhar a criada da senhora mestiça. Em uma voz profunda e solene, ela reiterou: — Encontre um lugar isolado e se esconda até o amanhecer.
Com essas palavras de despedida, Rhea se afastou da criada da senhora mestiça e correu de volta para os degraus da entrada da casa principal.
Lumian desviou o olhar e liderou o caminho através da porta marrom aberta.
Quando ele, Camus e os outros entraram, foram recebidos por uma visão surpreendente na sala de estar. Uma mulher de meia-idade em uma camisola desgrenhada, seu corpo meio exposto brilhando de suor e seu cabelo preto desgrenhado, estava sentada em cima de um robusto escravo nativo. Seus movimentos eram intensos, e ela parecia completamente imersa, alternando entre gritar e xingar. O escravo nativo, claramente gostando da experiência, cooperou ansiosamente.
Perto da escada, um grupo de cinco ou seis servos e escravos, armados com uma variedade de espingardas, rifles e outras armas, disparavam intermitentemente escada acima. Contra-ataques ocasionais emanavam da área que levava ao segundo andar.
Camus ficou paralisado, com o olhar fixo no rosto corado da mulher de meia-idade.
— Você a conhece? — Lumian perguntou, com um sorriso nos lábios.
Foi Rhea quem respondeu: — Ela é a esposa de Sr. Petit, mãe da Srta. Amandina, Madame Simona.
— Eu nunca imaginei que ela seria assim… — disse Camus, com a voz baixa e sombria.
Lumian sorriu e aplaudiu mais uma vez.
— Ela não pode realizar seus sonhos?
— Para o Festival dos Sonhos, isso é algo que devemos encorajar. Ninguém está sendo forçado. Que deliciosamente inofensivo.
Camus ficou momentaneamente sem palavras.
Lumian então disse a Rhea: — Durante o Festival dos Sonhos, há uma grande probabilidade de que a pessoa que você salvar também seja uma pessoa má e possa até mesmo atacar você.
Rhea ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder em voz baixa: — Mesmo que algo assim aconteça novamente, eu ainda a salvarei.
Lumian abandonou o assunto e voltou sua atenção para Camus.
— Você está preparado para ver o outro lado da Srta. Amandina? Talvez ela vá…
Lumian deixou a frase inacabada, lançando um olhar significativo para Madame Simona, que estava em meio a um êxtase feroz e desbocado.
Camus exalou lentamente, com a voz resoluta.
— Estou aqui para salvá-la. Não importa se ela é boa ou má, gentil, maliciosa, casta ou indulgente.
— Depois de ajudá-la a encontrar um esconderijo seguro e garantir que ela espere até o amanhecer, iremos para a casa de Twanaku.
“Estou aqui para salvá-la. Não importa se ela é boa ou má, gentil, maliciosa…” Lumian repetiu calmamente a primeira metade da frase, um sorriso brincando em seus lábios enquanto ele observava os servos e escravos tentando ocupar a escada. Ele levantou a voz, perguntando: — Alguém viu a Srta. Amandina? Ela desceu?
Os servos e escravos voltaram sua atenção para Lumian e seus companheiros, rapidamente redirecionando suas armas de fogo.
Lumian calmamente estendeu a mão direita, fazendo um movimento de agarrar.
Com esse gesto, chamas vermelhas, com uma tonalidade beirando o branco, acenderam-se no ar, formando uma cortina que Lumian pareceu arrancar do vazio.
Com um hábil agarrão e empurrão, a cortina de fogo se abriu abruptamente, transformando-se em Corvos de Fogo que dispararam em direção às espingardas, rifles e revólveres antes que pudessem ser mirados corretamente.
Em meio a uma série de explosões abafadas, as armas caíram das mãos dos servos e escravos, caindo no chão, danificadas e impossíveis de serem usadas.
Os servos e escravos sofreram apenas queimaduras leves e não conseguiam segurar as armas.
Desde que avançou para Ceifador, o domínio de Lumian sobre as chamas havia crescido. Mesmo sem o brinco Mentira, ele conseguia atingir esse nível de controle.
Além disso, ele não havia liberado seu poder total. Ele nem mesmo havia invocado as chamas brancas ardentes para minimizar o dano.
— Agora, podemos ter uma conversa civilizada? — Lumian sorriu para os servos e escravos.
Atrás dele, corvos de fogo vermelhos, de cor quase branca, se materializaram, prontos para atacar a qualquer momento.
Um criado intisiano, que parecia ter alguma influência entre o grupo, não conseguiu esconder seu medo e respondeu: — Amandina não desceu. Caso contrário…
Ele não conseguiu evitar lamber os lábios.
— E em quem você estava atirando? — Lumian perguntou.
— É Petit, aquele bastardo que merece apodrecer no inferno, e seu mordomo, aquele que está sempre empunhando aquele maldito chicote! — Um escravo de pele escura pegou a arma de fogo caída, apenas para descobrir que ela estava quebrada, assim como a de todos os outros.
Eles tinham planejado recuperar mais armas de outra sala no primeiro andar, mas, por enquanto, não ousaram fazer nada.
— É mesmo? — Lumian assentiu, um olhar de iluminação cruzando suas feições. — Continue, então.
Ele se virou, liderando os dez a vinte Corvos de Fogo que gradualmente se dispersaram, e disse a Camus e aos outros:
— Vamos escalar a lateral do prédio para chegar ao terceiro andar.
O teletransporte não era uma opção ideal àquela distância, não depois de já tê-lo usado quatro vezes.
Claro, desde que avançou para Ceifador, Lumian agora podia executar de 11 a 12 Travessias do Mundo Espiritual sem depender da espiritualidade acumulada por meio de suas habilidades Ascéticas. Foi uma melhora marcante em relação às suas limitações anteriores.
Camus e os outros não levantaram objeções. Lugano, no entanto, tremeu quando perguntou: — C-como eu vou escalar?
Ele balançou o toco que era tudo o que restava de seu braço direito.
Lumian olhou para ele e disse com naturalidade: — Camus irá ajudá-lo.
“Eu?” Camus ficou momentaneamente surpreso antes de avaliar suas próprias habilidades e concluir que era de fato viável.
Em pouco tempo, os quatro subiram ao terceiro andar, aproveitando as estátuas, decorações, canos de metal e a varanda lateral que adornavam a parede externa.
Assim que Camus abriu a porta que dava para o corredor, ele avistou uma pessoa.
Era a criada pessoal de Amandina, uma criada intisiana vestida com uma camisola de pano branco.
Naquele momento, a criada da jovem estava banhada pela luz fraca da lua, com uma adaga ensanguentada na mão e uma expressão inescrutável.
O sangue vermelho brilhante da adaga caiu no carpete do corredor, cada gota um vívido respingo de cor.
O coração de Camus apertou.
— O que é que você fez?
O rosto da criada se abriu num sorriso satisfeito e despreocupado.
— Eu matei isso. Ele me irrita há muito tempo!
“Isso?” Em intisiano, “ela” e “isso” eram duas palavras completamente diferentes. Em meio à surpresa, Camus seguiu o rastro de sangue pingando, seu olhar caindo sobre o amado cão de estimação de Amandina, deitado imóvel na porta do quarto adjacente.
“Ufa…” Camus deu um suspiro de alívio antes de perguntar com uma voz profunda e séria: — Onde está a Srta. Amandina?
A expressão da criada tornou-se ressentida.
— Eu também estou procurando por ela! Ela saiu há uma hora!
“Uma hora atrás… Antes do Festival dos Sonhos começar?” Camus insistiu ainda mais, — Para onde ela foi?
A criada, ainda segurando a adaga manchada de sangue, respondeu com uma expressão contorcida: — Ela saiu com o meu Robert!
Camus ficou em silêncio.
Lumian balançou a cabeça. Sob os olhos atentos da criada da dama, que ansiava por matar, mas se sentia em menor número, ele rapidamente vasculhou todo o terceiro andar com Rhea e os outros, mas não encontrou nenhum vestígio de Amandina.
— Vamos. — Lumian virou-se para Camus, sua voz firme.
Camus não teve escolha a não ser admitir a derrota.
Os quatro imediatamente se teletransportaram para o lado de fora da casa de Hisoka.
Quando Lumian estava prestes a prosseguir, ele sentiu algo e olhou para o terceiro andar.
Um rosto apareceu através da janela de vidro de uma sala no terceiro andar.
O rosto era agraciado com uma ponte nasal alta, olhos azuis penetrantes e cabelos pretos e grossos presos em um nó simples no topo da cabeça. Suas sobrancelhas exalavam uma aura jovem e vibrante.
Amandina!
Dizia-se que Amandina tinha ido a um encontro com seu noivo, Robert!