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Damn Reincarnation – Capítulo 186

A Catedral (2)

— Receio que também precisarei sair pela manhã. — Sergio informou a Eugene.

A Catedral de Tressia era um edifício histórico que ostentava um legado de centenas de anos. No entanto, para não falar da capela central, que se podia dizer ser o coração desta catedral, nem mesmo os anexos ao redor e os corredores por onde transitavam apresentavam sinais de deterioração.

— Você realmente irá embora, sendo que foi você quem me chamou aqui? — Eugene perguntou enquanto olhava para as costas de Sergio.

O homem riu baixinho com essas palavras.

— Peço desculpas. É porque eu realmente queria me encontrar com você pelo menos uma vez, Sir Eugene…

— Eu o teria encontrado no Vaticano em cinco dias de qualquer maneira. — Eugene apontou.

— Sim, é verdade. No entanto, não seríamos apenas nós dois sozinhos, Sir Eugene. Não é mesmo? — Sergio disse, ainda rindo.

Sua risada, junto com as palavras que acabara de pronunciar, tornaram suas intenções bastante evidentes.

Eugene levantou silenciosamente o canto da boca em um sorriso malicioso.

— Parece que você só queria me testar, cardeal Rogeris.

— Não nego isso. — Admitiu prontamente o cardeal, sem um minuto sequer de silêncio.

Eugene olhou para os ombros do cardeal, que não davam sinais de tremer, e para o pano vermelho que pendia de seu ombro esquerdo e descia pelo peito.

Havia um significado específico por trás das vestes sacerdotais de Sergio. O manto preto usado por dentro, mas ainda visível, representava a escuridão. A cruz branca em volta do pescoço representava que a luz ainda existia na escuridão. O manto branco usado sobre suas vestes mostrava que a luz sempre venceria as trevas. O pano vermelho pendurado em seu ombro esquerdo simbolizava sua determinação de derramar voluntariamente seu próprio sangue e se tornar um mártir de sua fé, o Deus da Luz, a Igreja da Luz, o Papa e todos os crentes da fé.

— Como você estava planejando me testar? — Eugene perguntou.

— Já confirmei que você, Sir Eugene, é inequivocamente o Herói. — Sergio assegurou-lhe ao recordar a visão de Eugene desembainhando a Espada Sagrada.

Os pilares de luz, que normalmente iluminavam a catedral sem nunca mostrar nenhum movimento, foram atraídos para Eugene por sua própria vontade. A Espada Sagrada ressoou com aquela luz e iluminou toda a catedral.

Aquela brilhante tempestade de luz foi inconfundivelmente um milagre, e Eugene, que havia segurado a Espada Sagrada no alto no centro daquela tempestade, provou ser o Herói da Luz.

Sergio hesitou. 

— Bem…

Para Eugene Lionheart, como o Herói, não havia necessidade de testá-lo mais. Muito menos os Cardeais, mesmo que o Papa Aeuryus tivesse visto aquela tempestade de luz antes, ele não teria escolha a não ser reconhecer Eugene como o Herói.

Sergio continuou.

— O Herói é a Encarnação da Luz. Então, como poderia eu, que sou apenas um servo da Luz, continuar a testar o Herói?

— Haha. — Eugene riu e acenou com a cabeça. — Cardeal Rogeris, parece que você não queria apenas testar se eu sou um herói, mas também queria saber que tipo de pessoa eu sou.

— Por favor, não se ofenda muito com isso. — Pediu Sergio.

Eugene então disse:

— Também sei que você já foi um Inquisidor do Maleficarum.

— Já se passaram trinta anos desde esse fato.

— Mas o tempo não muda o verdadeiro caráter de uma pessoa. Não é a razão pela qual um grande número de inquisidores foi mobilizado para este ritual que suas palavras ainda têm peso no Maleficarum?

— Não posso negar isso. — Sergio cedeu. — No entanto, não estou usando tal influência por motivos pessoais. É só porque o ritual desta vez é muito mais importante do que nunca—

Eugene o interrompeu.

— O fato de você estar usando-os para me monitorar não conta como um motivo pessoal?

Os passos de Sergio pararam. Enquanto acalmava sua surpresa, se virou para olhar para Eugene. Com um sorriso inocente que parecia apropriado para sua idade, Eugene encarava Sergio.

— Havia dois Inquisidores responsáveis por me guiar até aqui. Atarax, o Justiceiro e Hemoria, a Guilhotina. Mas agora… É incrível. O número de inquisidores atualmente me observando parece ser muito mais do que apenas dois, certo? — Eugene perguntou inocentemente.

Chamar isso de incrível não era apenas um exagero. Mesmo se você reunisse todos os inquisidores que partiram com Kristina, muito mais ainda estavam observando Eugene. Se ele tentasse contar o número de inquisidores escondidos ao redor deles, havia pelo menos uma centena.

— Haha. — Sergio soltou uma risada baixa e ergueu a mão.

Com esse gesto, as presenças ocultas que os vigiavam secretamente partiram uma a uma.

— Como o Herói, Sir Eugene, você é tão importante quanto o ritual para a Candidata a Santa. — Sergio disse como desculpa.

— É mesmo? Mas fazendo com que alguns dos inquisidores saíssem com Kristina para atrair minha atenção e escondendo o resto dos inquisidores por toda a catedral, você esperava que eu não notasse? — Eugene não esperou a resposta de Sergio. Os cantos de sua boca se torceram em um sorriso quando ele proferiu uma acusação cortante: — Nesta situação, não posso deixar de esperar que seja tudo um mal-entendido. Se eu não tivesse conseguido provar que era o Herói, ou mesmo se conseguisse, mas não cumprisse seus padrões… O que você pretendia fazer comigo, Cardeal?

— …

Sergio permaneceu em silêncio.

Eugene continuou.

— Estou ciente de que os Inquisidores do Maleficarum são hábeis em todos os tipos de ações sujas. Então, você estava planejando que todos pulassem e tentassem me atacar? Se você conseguir me matar, estava planejando cortar um dos meus braços e tirar a Espada Sagrada?

— De jeito nenhum. — Sergio balançou a cabeça. — Embora eu tenha considerado se isso funcionaria ou não, nunca iria tão longe. No entanto, Sir Eugene… Como alguém em minha posição, não tenho escolha a não ser me preocupar que você não seja um crente devoto e que sua crença no Deus da Luz seja fraca.

— E aí? O que está planejando fazer agora? — Exigiu Eugene.

— Eu acredito que é possível que as pessoas mudem para melhor. Sir Eugene, mesmo que você atualmente não seja um seguidor da Luz, acredito que um dia, graças à graça de Deus, você se tornará um crente. — Sergio afirmou com confiança enquanto enfiava sua mão no bolso. — Se você não tivesse me mostrado uma luz tão brilhante, eu teria feito tudo para tentar convertê-lo à nossa fé.

Mas por quais métodos? Eugene nem sentiu necessidade de perguntar. O tratamento dado pelos inquisidores aos descrentes, apóstatas e pagãos já era famoso há trezentos anos. Mesmo agora, seus interrogatórios eram sinônimo de tortura, e havia vários rumores sobre como eles forçariam as pessoas a se converterem para que pudessem ser usadas como ferramentas de propaganda religiosa.

— Mas eu vi tudo acontecer com meus próprios olhos. Não tem como você, que brilhou tanto, não ter fé em seu coração. Mas, Sir Eugene, você sabe o que isso significa? Para o Herói ser a personificação da Luz. Parece que você já tem uma vaga noção de sua verdadeira identidade, mas aos meus olhos, Sir Eugene, você é a própria Luz, —  Sergio continuou enquanto puxava um grosso livro de escrituras do bolso. Segurando o livro de escrituras com as duas mãos, ele o entregou educadamente a Eugene e disse: — Para reunir a Luz que surge do seu coração, você precisa ter fé. Então, por favor, pegue este livro de escrituras e considere se converter à nossa religião.

Depois de olhar fixamente para o livro de escrituras, Eugene estendeu a mão. Sinceramente, em seu coração, Eugene queria quebrar este livro de escrituras em cima da cabeça de Sergio, mas estava claro que isso acabaria sendo extremamente irritante.

— É só isso? — Eugene perguntou depois de jogar o livro de escrituras em seu manto.

Sergio olhou para Eugene com um leve sorriso antes de se virar e avançar enquanto respondia: 

— Há várias coisas que eu gostaria de falar com você sobre a Candidata a Santa.

Eugene lembrou como Kristina tinha um olhar suspeito em seu rosto durante a viagem de trem. Ela parecia desconfiada de Eugene conhecer o cardeal Rogeris, seu pai adotivo. Chegou ao ponto de preparar uma série de desculpas de sua própria vontade para fazer Eugene sair do trem.

— Depois de se encontrar com você, Sir Eugene, enquanto seguia a revelação divina e viajava junto com você pela Floresta Samar por vários meses… Parece que nossa Candidata a Santa mudou um pouco. — Sergio disse inquisitivamente.

— Parece que você não está muito feliz com essas mudanças? — Desafiou Eugene.

Sergio prontamente admitiu isso.

— Sim, não é apenas natural? Sou responsável por ensiná-la desde que era jovem. E antes que se tornasse a Candidata a Santa, como seu pai adotivo, eu a eduquei para que ela pudesse se tornar uma seguidora adequada da Luz. Depois de se tornar a Candidata a Santa, continuou recebendo orientações para que não faltasse quando chegasse a hora dela renascer como a verdadeira Santa.

— Hm… — Eugene fez uma pausa pensativa. — Receio não ter a menor ideia do que você está tentando dizer, cardeal. Você sente que há algo insatisfatório nas mudanças pelas quais Kristina passou?

Sergio foi direto ao ponto.

— Estou falando das cartas enviadas a você via Rohanna Celles.

Como esperado, era disso que ele estava atrás.

Imperturbável com isso, Eugene apenas riu e disse: 

— Mesmo que pareça que você não viu o conteúdo delas?

— Eu só não queria cometer tamanha invasão de sua privacidade. No entanto, se o conteúdo escrito não fosse motivo de vergonha, não haveria necessidade de usar um feitiço de cifra e enviá-lo por um estranho. — Acusou Sergio.

Eugene argumentou de volta.

— Mas ela não é realmente uma estranha, agora é?

— Você tem razão. Rohanna Celles recebeu o papel de acalmar o coração cansado de nossa Candidata a Santa. — Disse Sergio sem qualquer tentativa de esconder isso. — Também não é apenas Rohanna Celles. Todo o clero que serve nesta catedral, inclusive eu, os fiéis que voluntariamente cuidam dos vários assuntos da catedral, bem como aqueles que apenas vivem na paróquia juntos com o Arcebispo e o outro clero da Diocese de Alcarte onde a Candidata a Santa serviu como Bispa Auxiliar… Tantos membros do clero e nossos fiéis têm servido em diferentes funções em relação à nossa Candidata a Santa.

Que extremo.

Não, não apenas extremo. Anormal. Eugene não podia deixar de pensar dessa maneira. De acordo com esta declaração, a maioria das pessoas ao redor de Kristina eram atores e espiões atribuídos a ela devido às suas qualidades únicas como a Candidata a Santa.

— Há mais de dez anos venho a ensinando e esperando que ela cresça de maneira adequada para renascer como Santa. O mais gratificante é que ela logo se tornará a Santa, e iluminará o mundo ajudando o Herói que reapareceu depois de trezentos anos… — Sergio parou por um momento. — Por favor, não se ofenda, Sir Eugene Lionheart. Enquanto você é inconfundivelmente o Herói, está marcadamente carente da fé que um Herói requer. Eu esperava que nossa Candidata a Santa pudesse guiar o Herói e levá-lo a se tornar um crente devoto. No entanto… Ela parece ter sido influenciada por você, Sir Eugene.

— Por que você simplesmente para de atuar e fala francamente? A maneira como você continua andando em círculos parece irritante de se fazer. Mesmo ouvindo, é realmente muito… — Eugene riu sugestivamente, depois continuou falando. — Parece uma merda? Ou pelo menos, é o que eu penso. Ah, minhas desculpas. Não é impróprio para o Herói xingar assim? Também não quero recorrer a xingamentos, mas realmente acho que essa palavra é a mais adequada para expressar como me sinto agora…

— Está tudo bem. — Sergio o perdoou.

Eugene propositalmente lançou tal palavra para perturbar suas emoções, mas Sergio não demonstrou o menor estremecimento. No entanto, o pensamento passou pela mente de Eugene: “Como esperado de um sacerdote que se acalmou por meio da oração por décadas.”

Sergio confessou:

— Nossa Candidata a Santa não conseguiu convertê-lo, senhor Eugene, e foi influenciada por você, porque meus ensinamentos foram insuficientes.

— Acho que você quer me ver chegando a um culto na igreja de mãos dadas com Kristina? — Eugene perguntou sarcasticamente.

— Se acontecesse, seria um caso muito feliz e alegre. No entanto, como parece que você, sir Eugene, não está disposto a fazer tal coisa… Vou pedir à Candidata a Santa que continue a orientá-lo para que, pelo menos, esteja disposto a rezar juntos. — Afirmou Sergio calmamente.

— Não posso deixar de pensar que seu comportamento é excessivo demais em muitos aspectos. A fé não deveria vir do coração, sem qualquer compulsão? E não é como se Kristina ainda fosse uma pirralha de dez anos. Atualmente, ela está se graduando da Candidata a Santidade plena. Não importa o que você tenha feito como pai adotivo de Kristina, ainda acho que seria presunçoso de sua parte interferir assim nos deveres dela, cardeal. — Criticou Eugene.

— Enquanto a nossa Candidata a Santa tiver uma fé inabalável e perfeita, não haverá necessidade de eu interferir. — Insistiu Sergio.

O fim deste longo corredor estava se aproximando.

— Sir Eugene. Por favor, não teste a fé da nossa Candidata a Santa. Você já é um Herói capaz de emitir uma grande Luz sozinho, mas ela é uma apóstola que recebeu a Luz de Deus. Se você continuar testando a fé dela, fazendo-a tremer… Então pode acabar duvidando completamente de suas crenças. — Alertou Sergio ao parar diante de uma porta fechada. — Assim que isso acontecer, nosso Senhor poderá confiscar a Luz que concedeu a ela. Se isso ocorresse, se tornaria um ser humano comum e não conseguiria ficar ao lado do Herói.

— Quem decide se alguém está ou não ao meu lado sou eu, não Deus. — Declarou Eugene ao passar por Sergio e estender a mão para a maçaneta. — Ela não precisa ser uma Santa para ficar ao meu lado. Se Kristina perdesse o poder de Santa, e se fosse minha culpa? Então, eu pensaria que seu Deus é muito mesquinho e continuaria a levar Kristina comigo.

— Haha… — Sergio caiu na gargalhada.

Um olhar de lado mostrou que um sorriso apareceu no rosto de Sergio. Eugene viu uma luz estranha fluindo dos cantos dos olhos dele que haviam sido espremidos em curvas por sua risada.

— Sir Eugene, mesmo que pense assim, nossa Candidata a Santa não poderá sentir o mesmo. — Sergio apontou depois de se acalmar. — Ela passou por muito trabalho duro para se tornar a Santa, e se não pudesse se tornar a Santa… Nem seria capaz de se imaginar não sendo a Santa, especialmente porque… Ela sabe quão especial esta era está provando ser.

— Especial? — Eugene repetiu interrogativamente.

— O Herói nunca apareceu nesses últimos trezentos anos. Todas as santas que nasceram desde a Fiel Anise serviram como símbolos de Yuras e se tornaram santas canonizadas após suas mortes. Isso era tudo o que elas podiam fazer. Porém, nesta época, com o aparecimento do Herói, a Santa pode finalmente cumprir seus deveres de Santa e acompanhar o Herói. — Explicou Sergio.

Quando a porta foi aberta, uma sala espaçosa foi revelada. A atenção de Eugene foi atraída para a cruz pendurada no alto de uma parede e para as esculturas religiosas que decoravam as paredes e prateleiras.

— Você disse que ia embora de manhã, não disse? Posso estar um pouco atrasado para perguntar, mas onde está indo? — Eugene perguntou quando entrou na sala.

Sergio, que havia recuado alguns passos, não tinha o mesmo brilho misterioso em seus olhos de antes.

— Vou para a Fonte da Luz. — Revelou Sergio. — Por ser um ritual sagrado, deve ser conduzido por um sacerdote de alto escalão.

— Um ritual sagrado, você diz! — Exclamou Eugene. — Se eu puder observá-lo no local, você não acha que a fé se acenderá em meu coração?

— Minhas desculpas, Sir Eugene. Os rituais realizados na Fonte de Luz são especiais, por isso, mesmo entre os nossos crentes, apenas aqueles que estiveram envolvidos nos preparativos para esses rituais podem observar. — Sergio informou Eugene quando começou a fechar a porta.

Até o último momento em que a porta foi fechada, Sergio não parou de sorrir para Eugene.

— Portanto, até que o ritual termine e a Candidata a Santa e eu voltemos, por favor, sinta-se à vontade para abraçar a presença de Deus dentro de nossa catedral. — Sergio disse em despedida pouco antes da porta ser completamente fechada.

Sergio juntou as mãos, levantou-as em direção à porta fechada e fez uma oração antes de se virar. Ele atravessou o corredor em uma velocidade diferente de quando veio pela primeira vez e, assim que saiu da Catedral, os Inquisidores do Maleficarum se colocaram em ordem atrás de Sergio.

Sem sequer olhar para Atarax, que se aproximava ao seu lado, Sergio falou. 

— A Fonte de Luz?

— Os Cavaleiros da Cruz de Sangue estão guardando a área ao redor da fonte. A água já subiu e a Candidata a Santa está se preparando para o sacramento na capela. — Relatou Atarax.

— Realizar o sacramento sozinha não será suficiente. O ritual que começa amanhã deve ser único e diferente dos anteriores. Por isso convoquei todos vocês. — Disse Sergio.

— Sim, senhor. — Atarax concordou.

— Já que terei que ajudar a fazer o Sacramento completo e sem defeitos, parece que terei que me apressar. Como já fiz todos os meus preparativos, vamos para a fonte imediatamente. — Anunciou Sergio.

Atarax perguntou: 

— O que devemos fazer a respeito de Sir Eugene?

— Ele é inconfundivelmente o Herói. Embora sua falta de fé seja uma falha, podemos abordar isso no futuro. O que é importante agora é o ritual da Candidata a Santa. Acho que ainda temos tempo suficiente, mas caso ela precise passar mais tempo na luz, devemos garantir que tenhamos tempo suficiente de sobra. — Disse Sergio, pensativo.

— Sim, entendido. — Atarax assentiu. — No entanto, não deveríamos deixar alguém para trás na catedral para ficar de olho em Sir Eugene…?

— Claro que deveríamos. Originalmente, eu ia deixar um de vocês ficar para trás, mas… Parece que Sir Eugene é muito mais perspicaz do que eu pensava. Se eu escolhesse um de vocês, seria uma grande ofensa a ele. Então vamos deixar isso para um dos meus servos.

— Sim, senhor.

Era difícil para os inquisidores acompanhar o cardeal. Atarax não pôde deixar de se impressionar com Sergio, que avançava aos poucos.

Fazia trinta anos que Sergio deixou o serviço ativo no Departamento de Interrogatório. Atarax soube que desde então Sergio não saiu a campo, em vez disso ia e voltava entre várias igrejas e o Vaticano para realizar cultos e se dedicar aos estudos das escrituras… Mas ainda não havia um único Inquisidor que conseguia acompanhar o Cardeal, que já tinha bem mais de setenta anos.

“Não tem jeito mesmo”, pensou Atarax. “Antes de se tornar Cardeal, Sir Sergio era chamado de Exterminador e estava perto de se tornar o próximo Chefe do Departamento. Desde que recebeu os estigmas e se tornou cardeal… Pode-se dizer que ele ainda é tão forte quanto no auge de seu serviço ativo como inquisidor.”

Atarax sentiu-se profundamente grato por ter sido chamado a participar desse ritual sagrado e glorioso.

Não era apenas Atarax, também. Cem inquisidores receberam a intimação de Sergio. Todos foram influenciados por Sergio no passado e consideraram uma grande honra ele tê-los convidado para participar desse ritual.

— E o portal? — Perguntou Sergio.

Atarax respondeu: 

— Já está aberto.

A Fonte de Luz estava bem longe desta Catedral. Levaria muito tempo para andar de carruagem ou ir direto para lá. Esses inquisidores que escoltaram Kristina da estação até a distante Fonte de Luz puderam retornar à catedral tão rapidamente, porque havia um portal de dobra no porão da catedral que era mantido escondido do mundo e apagado de todos os registros.

— Sir Eugene provavelmente já descobriu a existência do portal. — Observou Sergio.

Eugene deveria ter notado que os inquisidores que partiram com Kristina voltaram mais rápido do que ele levou para chegar à catedral e participaram da emboscada armada lá dentro.

— Feche o portal assim que passarmos e sairmos da catedral. — Ordenou Sergio.

— Precisamos mesmo ir tão longe? — Atarax questionou.

— Não há nada de errado em ser cuidadoso. Embora eu não ache que Sir Eugene vá encontrar este portal ou mesmo tentar alcançar a Fonte de Luz por conta própria… Parece que Sir Eugene é um indivíduo bastante imprevisível. — Sergio disse enquanto caminhava em direção ao portal. — Se, por acaso, Sir Eugene testemunhar o ritual… Acho que ele não vai tentar entender o porquê estamos fazendo isso. Ele provavelmente também se oporá a nós. É por isso que não posso deixar de me preocupar. Porque o ritual desta vez é extremamente importante…

No entanto, independentemente da importância do ritual, os olhos de Sergio se estreitaram em um olhar calmo. Uma vez que o Vaticano confirmasse a autenticidade da Santa, a existência da nova Santa seria proclamada na Praça do Sol, bem a tempo da festa da Fiel Anise.

A Santa que havia herdado o testamento da Fiel Anise seria então formalmente anunciada ao mundo. A Santa desta era não seria apenas o símbolo de Yuras, mas também uma protagonista da era ao lado do Herói.

Era por isso que este último ritual na Fonte de Luz era tão importante.

O próprio Sergio sentiu-se imensamente honrado em poder presidir esse ritual.

* * *

— Eu, Rensol, estarei servindo Sir Eugene durante sua estadia aqui. Se houver algo que eu possa fazer para tornar sua estadia mais conveniente—

— Existe alguma coisa como uma relíquia sagrada nesta catedral?

Eugene imediatamente interrompeu Rensol, que acabara de bater e entrar na sala, com uma pergunta. Ele não tinha intenção de construir nenhum relacionamento ou ter conversas desnecessárias com esse clérigo quando era óbvio que ele deveria ser um guarda.

— Você acabou de dizer… Relíquia? — Rensol repetiu em confusão.

— Esta Catedral de Tressia não é um dos lugares mais antigos de Yuras? Já que existe há tanto tempo, certamente deve haver uma ou duas relíquias sagradas conectadas às santas do passado, certo? — Exigiu Eugene.

Rensol hesitou. 

— Uh… Hum… Isso é… Não é como se não houvesse.

— Não pode ser que estranhos sejam proibidos de olhar para essas relíquias sagradas, certo? — Eugene perguntou coercitivamente.

— As relíquias sagradas não são atrações turísticas. — Disse Rensol com expressão firme.

Diante disso, Eugene imediatamente mudou de atitude e continuou falando: 

— Minhas palavras foram mal escolhidas. É que recentemente percebi qual é o meu destino e atualmente estou pensando com o coração sincero se devo ou não me confiar à Igreja da Luz. Eu estava apenas pensando que se eu entrar em contato com as relíquias sagradas pertencentes às santas antigas, eu poderia sentir sua devoção e encontrar minha própria fé habitando dentro de mim…

— Ah… — Rensol gemeu confuso.

— Não tenho intenção de tratar isso como um passeio despreocupado. Está tudo bem, mesmo que eu esteja apenas olhando para eles à distância. Eu só quero ver as relíquias sagradas pessoalmente. — Implorou Eugene.

Graças a tal persuasão, Eugene foi conduzido às relíquias sagradas.

Havia vários tipos diferentes de relíquias. Os restos mortais de uma santa, os pertences pessoais de uma santa e os objetos que tocaram o cadáver de uma santa ou o corpo de uma santa enquanto ainda estavam vivas. Naturalmente, entre todas as várias relíquias, as mais valiosas eram os restos mortais delas. Depois vinham os pertences pessoais da santa.

Sob o altar da capela, o maxilar de uma santa de centenas de anos atrás foi consagrado como uma relíquia sagrada. Além disso, várias relíquias sagradas, como os ossos da perna e as costelas de uma Santa antiga, uma cruz que dizem ter sido usada em volta do pescoço, uma batina, uma mortalha e um anel eram todos armazenados no coração da catedral.

Sinceramente, foi difícil para Eugene entender por que os restos mortais e os pertences de uma santa falecida eram guardados como relíquias sagradas. No entanto, fez questão de não revelar tal descrença em suas expressões faciais e continuou olhando para as relíquias para as quais Rensol o guiava com olhos encantados.

— Essa é a última das relíquias sagradas mantidas na Catedral de Tressia. Dizem que é o crânio de São Teodoro, que serviu como papa novecentos anos atrás. — Declarou Rensol.

Eugene contemplou silenciosamente como reação enquanto olhava para o crânio branco guardado dentro de um caixão de vidro.

O maxilar da Santa enterrado sob o altar e as costelas e os ossos da perna de outra Santa já haviam sido extremamente chocantes… Mas agora era um crânio inteiro.

— Não há relíquias pertencentes à Fiel Anise? — Eugene finalmente perguntou.

— Hã? — Rensol piscou surpreso. — Você disse uma relíquia sagrada pertencente à Fiel Anise? Desde que ela desapareceu em uma peregrinação distante, nem mesmo um fragmento de seus restos mortais foi deixado para trás.

— Mas as relíquias não precisam ser do cadáver dela, certo? Coisas como a batina da Senhorita Anise… Ou um colar… — Eugene parou.

— Ah… Certamente pode ser o caso. — Concordou Rensol. — No entanto, nunca ouvi falar de tais relíquias pertencentes à Senhorita Anise. Se houver, também não seriam mantidos nesta catedral. Se as relíquias sagradas da Senhorita Anise existem… Então elas provavelmente estariam guardadas no relicário especial do Vaticano.

— Relicário especial?

— Sim. A Fiel Senhorita Anise era uma grande Santa que perdia apenas para o Fundador de Yuras, a Encarnação da Luz. Se tais relíquias dela realmente existissem, deveriam ser de qualidade excepcional, então o Vaticano as manteria sob administração direta.

Depois disso, Eugene se separou de Rensol e voltou para seu quarto. Rensol certamente relataria a Sergio que ele havia saído em busca de relíquias sagradas, mas isso não importava para Eugene.

“O relicário especial…”

Certamente era possível que as relíquias sagradas de Anise fossem realmente mantidas lá. Em poucos dias, ele estaria indo para o Vaticano com Kristina, então se Eugene fizesse bom uso de sua posição como Herói, poderia entrar no relicário especial.

“Mas aquela coisa antes… O que foi aquilo?”

Os pilares de luz, o cheiro de sangue e as costas feridas.

Embora Sergio tenha dito que tudo o que aconteceu lá foi um milagre, Eugene definitivamente não conseguia acreditar que fosse esse o caso. Eugene tirou a Espada Sagrada de seu manto e a colocou ao lado de sua cama.

— Foi você quem me mostrou isso, certo? — Eugene perguntou à espada.

De volta à floresta Samar, a Espada Sagrada intrometeu-se independentemente nos sonhos de Eugene e mostrou-lhe uma visão do passado.

— O que você estava tentando me mostrar? — Eugene perguntou mais uma vez.

Aquela garota de costas para ele… Era Anise? Ou talvez fosse Kristina. De qualquer maneira, ele não poderia simplesmente considerar isso uma visão sem sentido.

— Sir Eugene? — Mer, que estava escondida dentro do manto, colocou a cabeça para fora com uma pergunta.

Quando Eugene sentiu Mer começar a rastejar para fora, ele o desenrolou ligeiramente.

Mer hesitou.

— Hm, o que devo dizer?

— Só não diga nada. — Eugene disse a ela.

— No entanto, eu realmente não entendo por que você está fazendo isso.

— Há uma razão para tudo.

Mer olhou para Eugene, que havia fechado os olhos e estava tentando dormir enquanto abraçava a Espada Sagrada.

— Se você pretende dormir assim, não vou conseguir dormir ao seu lado. — Reclamou Mer.

— Você não dorme mesmo, então qual é o problema com isso? — Eugene zombou. — Isso mesmo, Mer, você pode ficar ao meu lado… E vigiar para que eu não solte a Espada Sagrada durante o sono.

— Sir Eugene, você está realmente me pedindo para vigiá-lo dormir a noite toda e ouvir o que você diz durante o sono? — Mer perguntou em descrença.

— Há quanto tempo você começou a viajar comigo? Por que está tão surpresa? — Eugene resmungou.

Mer sorriu ligeiramente e saiu da cama. Então puxou uma cadeira para o lado da cama e sentou-se ao lado de Eugene.

— Bem, tudo bem, então. — Mer concordou. — Vou me certificar de ouvir tudo o que você murmurar tolamente durante o sono.

— Em vez do meu rosto, fique de olho na Espada Sagrada. — Ordenou Eugene.

Mer garantiu a ele:

— Não se preocupe com isso. Mas por que está tentando dormir assim? É revigorante se você abraçar a Espada Sagrada enquanto dorme?

Eugene explicou:

— Estou fazendo isso pelos sonhos.

— Os sonhos? — Mer inclinou a cabeça em interrogação.

Eugene não respondeu mais e apenas adormeceu, ainda prestando atenção na Espada Sagrada em seus braços.


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