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Damn Reincarnation – Capítulo 187

A Catedral (3)

Dentro de uma sala branca completamente vazia de qualquer coisa, Kristina estava ajoelhada no centro dela. A sala não tinha janelas nem luz. Mesmo assim, não estava escuro. Esta sala era branca, porque as próprias paredes eram capazes de emitir luz.

Este era o edifício da capela perto da Fonte da Luz. Kristina estava familiarizada com este quarto, mas não o achava nem um pouco confortável. O dia em que recebeu a Luz, e ela começou a habitar dentro de seu corpo, foi o primeiro dia em que Kristina veio à Fonte de Luz e entrou nesta sala.

Depois de dez anos assim, o quarto tornou-se familiar para ela, mas estava tão desconfortável quanto sempre. As paredes brilhavam suavemente enquanto ela se sentava no centro da sala e se preparava para o sacramento. Sem fazer nada, apenas sentada ali e acalmando seu coração.

Era apenas uma repetição do que ela havia feito antes. Nada havia mudado.

Mesmo dez anos atrás, ela tinha esse tipo de pensamento. Tudo isso era realmente necessário? Por quê? Havia algum significado nisso, não, definitivamente havia algum significado. No entanto… Essa era a coisa certa a fazer? Isso era realmente a vontade de Deus?

Poderia a Santa realmente ser tal existência?

— …

Kristina silenciosamente repetiu tais pensamentos para si mesma.

Ela ponderou sobre as mesmas perguntas dezenas, até centenas de vezes, mas no final, ainda permaneceu na sala.

Comparado com o sucesso do sacramento, o fato dela não ser capaz de entender seu próprio papel nisso era tão insignificante quanto um grão de poeira. Isso foi o que Kristina aprendeu desde criança. Foi assim que ela cresceu.

Ela tinha sido informada sobre o papel da Santa, e ela sabia o quão importante era se tornar a Santa. Isso era algo que Kristina nunca tinha duvidado.

Ela vivia para se tornar a Santa.

A vida inteira de Kristina Rogeris foi dedicada a ganhar o nome de Santa. Agora, depois de tudo o que ela havia sofrido nos últimos dez anos, seu objetivo estava ao seu alcance. Afinal, não havia aparecido finalmente um Herói nesta era? A presença do Herói acrescentava ainda mais valor ao preço pelo qual Kristina pagou sua vida.

Não demorou muito.

Kristina abriu os olhos e olhou para baixo. A adaga que havia sido colocada na frente de seus joelhos chamou sua atenção. A lâmina foi afiada a ponto de não poder ser mais afiada. Ela já havia passado bastante tempo hesitando; agora, havia se preparado e se decidido.

Kristina imediatamente estendeu a mão e agarrou o punho da adaga e levantou a lâmina medonha. Assim como esta sala era familiar, mas desconfortável, o cabo da adaga em que seus dedos estavam firmemente enrolados também parecia familiar, mas desconfortável.

O rosto de Kristina foi refletido na lâmina polida. Um rosto tão rígido e sem vida que nem ela mesma conseguia se reconhecer nele. Sem qualquer traço de alegria, os cantos de sua boca traçavam uma linha reta em seu rosto, e seus olhos estavam opacos e fundos. Tal rosto era a verdadeira essência da pessoa chamada Kristina. Na maioria das vezes, Kristina não sentia muita vontade de sorrir.

—Você notou isso? 

Kristina perguntou silenciosamente a Eugene.

Ele provavelmente tinha notado. Kristina inclinou a adaga ligeiramente para que seu próprio rosto não fosse mais visível dentro dela. Ela sentiu que ele a havia visto durante os meses em que vagaram juntos por Samar, e ela também sentiu isso durante o curto período em que viajaram de trem juntos.

—Algo está errado?

—Você estava com uma expressão estranha no rosto.

—Parece que você está se forçando a sorrir.

—Comparada a alguns meses atrás, você voltou a ser como um Cavaleiro que deveria agir com o Herói.

Kristina viu o rosto de Eugene na lâmina inclinada de sua adaga. Um rosto cheio de travessura mal-humorada. Um sorriso provocador que dificilmente poderia ser imaginado vindo de um Herói.

“Eu não me importo se eu der esse sentimento.”

A voz de Eugene soou dentro de sua cabeça. Os cantos da boca de Kristina se contraíram em um sorriso.

—Ao invés de um vínculo entre o Herói e a Santa, eu preferiria um vínculo entre uma pessoa e outra.

—Porque esse vínculo é muito mais profundo e sincero.

— Não, não é. — Murmurou Kristina enquanto olhava para a adaga.

Não havia como um vínculo entre uma pessoa e outra ser mais profundo e forte do que o vínculo entre a santa e o herói. Kristina acreditava sinceramente nisso. Ela não pôde deixar de fazê-lo.

Kristina Rogeris não sabia nada sobre o vínculo que poderia existir entre duas pessoas diferentes. Todos os laços que ela forjou foram baseados em sua identidade como a Candidata a Santa. Kristina estava bem ciente do fato de que todos ao seu redor eram atores em uma peça que a estrelava como a Candidata a Santa.

Para ela, os laços que existiam entre uma pessoa e outra eram tão leves e tênues que chegavam a ser insignificantes. Era nisso que ela acreditava. Isso era o que ela tinha que acreditar. Kristina não viu mais o rosto de Eugene na adaga.

A única coisa que ela podia ver era ela mesma vestindo uma túnica branca pura. Sem hesitar, Kristina levou a adaga ao pulso.

Para que ela renasça como a Santa…

A fim de construir o vínculo entre o Herói e a Santa…

O futuro que ela ansiou e imaginou nos últimos dez anos logo seria anunciado.

Com olhos sem emoção, Kristina cortou o próprio pulso.

* * *

Mesmo que Eugene tenha dormido enquanto abraçava a espada a noite toda, ele não teve nenhum sonho. No final, ele acabou apenas saudando o dia seguinte.

— Porra. — Eugene cuspiu um xingamento ao se levantar da cama.

A iluminação natural nesse maldito quarto era um pouco boa demais para ele apreciar completamente. A luz do sol que entrava pela janela era tão brilhante que ardia em seus olhos a ponto de doer. Só isso já seria irritante o suficiente, mas não havia cortinas instaladas nas janelas para bloquear a luz do sol.

— Parece que você não teve um sonho bom. — Mer disse com uma risadinha enquanto se sentava ao lado da cama e lia o livro das escrituras.

Eugene apertou os olhos para o livro de escrituras, suas páginas densamente em camadas tornando-o bastante grosso nas mãos de Mer.

— Isto é interessante? — Eugene perguntou.

— É mais interessante do que pensei que seria. — Mer admitiu. — Hm… Contanto que eu considere apenas um romance, claro.

— É mais interessante do que o conto de fadas que Sienna escreveu?

— Por favor, não tente me enganar tão sorrateiramente. Não importa o que você diga, não acredito que a Senhorita Sienna seja a pessoa que escreveu aquele conto de fadas.

Eugene estalou a língua com a negação exasperada de Mer. Ele então lançou um olhar para a Espada Sagrada que havia colocado ao lado dele. Embora tivesse invadido seus sonhos por vontade própria e lhe mostrado uma visão do passado, desta vez, quando ele chegou a fazer uma loucura como abraçá-la durante o sono para que lhe mostrasse algo, fracassou. Mesmo que Eugene tenha praticamente preparado o palco para mostrar a ele o que queria, a Espada Sagrada se recusou a mostrar qualquer coisa desta vez.

— Devo apenas quebrá-la? — Eugene murmurou para si mesmo.

— Se você fizer isso, os fanáticos de Yuras certamente tentarão capturá-lo para execução. — Mer alertou Eugene com um olhar forte e uma expressão solene quando ela desceu de sua cadeira. Então juntou as mãos na frente do peito e assumiu uma postura de oração enquanto dizia. — ‘Castigo Divino!’ é o que eles gritarão enquanto tentam agarrá-lo. Eu sei que você é forte, mas não seria assustador se centenas ou mesmo milhares de fanáticos que estão preparados para se martirizarem atacassem você?

— Não sei se isso é assustador, mas com certeza soa irritante. — Disse Eugene enquanto olhava para a porta.

Ele podia sentir uma presença vindo de trás da porta fechada.

— Ele está esperando lá há cerca de duas horas. — Mer o informou.

— Que pessoa inutilmente sincera. — Comentou Eugene com sarcasmo.

Mer encolheu os ombros.

— Provavelmente é só para ficar de olho em você, Sir Eugene.

Rensol era quem esperava do lado de fora da porta.

Assim que Eugene abriu a porta, Rensol sorriu amplamente e se aproximou com uma saudação.

— Sir Eugene, você teve uma boa noite? Como gostaria de tomar seu café da manhã? Podemos entregá-lo no seu quarto, se desejar, mas se possível, que tal tomarmos o café da manhã juntos no refeitório?

Eugene murmurou.

— Hm… Qual é a diferença entre entregar o café da manhã ou comer no refeitório? Existe alguma diferença no conteúdo do cardápio—

— De jeito nenhum! — Rensol negou imediatamente. — É que eu esperava que os outros clérigos que servem na catedral pudessem dar as boas-vindas a Sir Eugene…

— A mim? As coisas relacionadas à minha identidade não deveriam ser mantidas em segredo dos membros comuns do clero? — Eugene perguntou confuso.

— Ah… Não precisa se preocupar com isso. Tudo o que o outro clero desta catedral sabe é que Sir Eugene, do clã Lionheart, está atualmente visitando como amigo da Candidata a Santa Kristina. — Rensol revelou enquanto baixava a voz para um sussurro. — É que o nome de ‘Eugene Lionheart’ está muito famoso. Os sacerdotes mais jovens parecem querer se encontrar com você, Sir Eugene, e conversar com você sobre a graciosa luz.

Embora já esperasse isso, Eugene fingiu uma expressão confusa. Esses sacerdotes não estavam realmente tentando se encontrar com Eugene para evangelizá-lo. A verdade é que as finanças da igreja e os bolsos do clero eram todos preenchidos por generosas doações de fiéis e nobres patronos. Uma vez que o clã Lionheart era um clã de prestígio famoso em todo o continente, os sacerdotes esperavam garantir amplas doações estabelecendo uma forte conexão com Eugene.

— Vou tomar meu café da manhã no meu quarto. — Decidiu Eugene. — Como não tenho motivos para sair sozinho, só traga minhas refeições aqui sempre que for hora de comer.

 Ah… Que pena. — Suspirou Rensol. — A capela ao meio-dia, quando o sol está no auge, é lindíssima…

— Mas aquela linda capela não estaria lotada de sacerdotes e crentes? — Eugene resmungou enquanto olhava pela janela.

Os crentes que vieram para adorar na catedral já estavam fazendo fila do lado de fora. Eugene não tinha o menor desejo de se misturar com os outros sacerdotes ou crentes.

Como tal, Eugene apenas se trancou em seu quarto. Ele se alimentava das refeições que Rensol trazia para ele no café da manhã, almoço e jantar. Desde que Eugene acordou, ele segurou a Espada Sagrada, concentrou seus pensamentos nela e tentou fazê-la responder.

No entanto, nada aconteceu. Como antes, embora fosse possível fazer a Espada Sagrada emitir luz sempre que a usasse, as costas da garota que ele vira no dia anterior nunca reapareceram. Vez após vez, Eugene invocou a luz da Espada Sagrada, mas nada de especial aconteceu.

Então, no final, ele apenas foi dormir. Ainda abraçado à Espada Sagrada, Eugene caiu em um sono profundo que durou até a manhã seguinte. Talvez porque quisesse tanto ter um sonho… Realmente acabou sonhando.

Dentro de seu sonho, Eugene corria em nuvens fofas…

Ele não conseguia entender por que estava correndo. No entanto, sabia que a nuvem em que estava correndo não era realmente uma nuvem real, mas feita de algodão doce.

Depois de correr no algodão doce assim… Em algum momento, o algodão doce virou um lago de chocolate. No meio do lago, Mer pedalava um barco em forma de pato. Com os braços cheios de marshmallows, Mer pedalou pelo lago. Então mordeu um marshmallow molhado e resgatou Eugene, que estava se afogando no lago de chocolate.

Sir Eugene! Sir Eugene se transformou em chocolate!

— Que tipo de sonho foi esse? — Eugene resmungou ao acordar.

Que merda de sonho.

Eugene coçou a cabeça, pegou a Espada Sagrada e a jogou de lado. A lâmina afiada perfurou o chão, mas isso não incomodou Eugene.

— Sir Eugene, você realmente tem uma personalidade desagradável. — Disse Mer, mastigando um pedaço de chocolate ao lado da cama.

Eugene viu os espetos de um pedaço de algodão doce e uma embalagem de marshmallow ao lado de Mer.

— Você está tratando meu manto como seu depósito? — Exigiu Eugene.

— Em vez de uma despensa, é mais como a minha casa. Então cabe a mim guardar o que eu quiser dentro da minha casa. — Mer declarou orgulhosamente.

— Na verdade mesmo, você não é realmente a dona da casa. Eu sou o proprietário, enquanto você é apenas uma inquilina. Embora você nem pague aluguel. — Reclamou Eugene.

Mer argumentou: 

— Claro que pago aluguel. Não sou uma grande ajuda para você, Sir Eugene? Imagine, Sir Eugene, como seria se eu não estivesse ao seu lado? Você certamente teria se sentido muito solitário e entediado. Mesmo agora, Sir Eugene, estou ao seu lado e conversando com você, não estou?

— Hm… — Eugene murmurou, incapaz de negar as palavras de Mer.

Mer mudou de assunto.

— Enfim, Sir Eugene, você ainda falhou em ter um sonho?

— Eu sonhei com alguma coisa.

— Que tipo de sonho foi?

— Um sonho de merda. — Eugene resmungou enquanto puxava a Espada Sagrada cravada no chão.

Eugene passou os dois dias seguintes dentro do quarto. Seu isolamento não era completamente inútil. Graças a passar tanto tempo segurando a Espada Sagrada, ele foi capaz de apresentar várias hipóteses.

A revelação que ele estava procurando não apareceu na luz invocada, nem interferiu em seus sonhos. Já que era esse o caso, ele não pôde deixar de pensar que a capela poderia ser o local vital. Aqueles pilares de luz e a Espada Sagrada. E se a Espada Sagrada tivesse conseguido tocar em algo enquanto estava lá?

Depois de passar dois dias verificando suas suspeitas, Eugene agora não tinha escolha a não ser dar uma olhada na catedral. Felizmente, o cardeal Rogeris havia partido, então não havia inquisidores lá para vigiar.

“Este é o segundo dia”, Eugene percebeu enquanto pensava em Kristina.

Como ele havia sido informado de que o ritual realizado na Fonte de Luz levaria três dias, o ritual deveria terminar no dia seguinte. Eugene ainda não sabia que tipo de ritual estava acontecendo na Fonte de Luz.

O ritual que Kristina estava participando era algo que precisava ser feito mesmo que ela não quisesse? Eugene não pôde deixar de suspeitar disso.

Se Kristina tivesse dito a ele: “Não quero ir”, Eugene teria garantido que Kristina não fosse à fonte.

No entanto, Kristina não disse isso. O ritual na fonte parecia importante e, para a própria Kristina, seu título de Santa tinha muito significado. No final, ela ainda decidiu ir para a Fonte de Luz. Enquanto escondia desesperadamente sua expressão que dizia abertamente que ela não queria ir, ela resolutamente escolheu mostrar sua determinação. Então deixou Eugene para trás.

Quanto a Eugene, ele queria respeitar sua decisão. Kristina não pediu a simpatia de Eugene. Tudo o que queria era se tornar a Santa oficial e construir um vínculo formal com o Herói.

A Santa e o Herói… Eugene definitivamente não conseguia empatizar ou simpatizar com o desejo dela por tal relacionamento, mas ele sabia que era isso que Kristina desejava desesperadamente.

Ou pelo menos era o que ele pensava.

* * *

Naquela noite, os crentes que lotaram a catedral desde o amanhecer até o pôr do sol foram todos para casa e o clero voltou para seus aposentos. À medida que a meia-noite se aproximava, a vasta catedral ficou em silêncio, pois não restava uma única pessoa lá dentro.

Era raro encontrar lugares sombrios nesta catedral, mas isso não importava para Eugene. Ele era capaz de usar magia furtiva e até suprimir sua presença. Usando-os, Eugene escapou de seu quarto e entrou na catedral.

Eugene levantou a cabeça para olhar para os pilares de luz. A luz ainda entrava pelos vidros das paredes e do teto. Ele ainda não havia tirado a Espada Sagrada, deixando-a dentro de seu manto. Seria irritante se ele a retirasse, apenas para que ela corresse desnecessariamente enquanto emitia luz por conta própria, como tinha feito dois dias antes.

[Seus olhos não estão deslumbrados com isso?] Mer perguntou, surpresa ao ver Eugene olhando diretamente para os pilares de luz.

Ela definitivamente não seria capaz de olhar diretamente para a luz como ele fazia atualmente. Era tão brilhante que Mer nem seria capaz de vê-los corretamente, e parecia que sua visão estaria coberta de manchas vermelhas e brancas.

“Não consigo ver com muita clareza”, Eugene admitiu silenciosamente.

Os olhos de Eugene podiam analisar até mesmo a escuridão mais profunda, e não importava o quão claro o dia estivesse, ele podia até olhar diretamente para o sol. Mas mesmo ele não conseguia ver através desta luz. Quanto mais ele tentava olhar para o centro, mais seus olhos começavam a formigar e sua visão começava a tremer.

Mas se ele não pudesse ver claramente à distância, só precisaria se aproximar. Eugene saltou para o céu nos pilares de luz. Ele estava tentando subir ao teto de uma só vez, mas seu corpo não podia flutuar tão levemente quanto ele esperava. Como se a própria luz tivesse peso, pressionava o corpo de Eugene.

“E daí,” Eugene bufou e sugou sua mana.

Usando-o, ele foi capaz de subir lentamente para a luz.

Embora o teto parecesse bastante alto… Não era tão alto, era? No meio de sua ascensão, Eugene percebeu que algo estava errado e olhou para o chão.

Mas não conseguia ver o chão. Tudo o que podia ver era luz.

Tudo abaixo parecia infinitamente baixo e tudo acima parecia infinitamente alto. E a luz que estava pesando sobre Eugene… Em algum momento, começou a puxar Eugene para cima.

Eugene teve um pensamento repentino.

Era assim que uma Ascensão Divina parecia?

No livro de escrituras que Sergio lhe dera, havia muitas histórias de santos que subiram ao céu e foram sentar-se ao lado do Deus da Luz. Talvez Anise tenha ascendido ao céu assim e se tornado um anjo.

Eugene viu algo, “Isso é…”

A fonte da luz, que parecia infinitamente distante, já havia começado a se aproximar dele antes que ele percebesse. Estava tão claro que era difícil ver, mas apertando os olhos, Eugene pôde ver o que havia do outro lado da luz.

O que ele viu lá… Foi uma grande tigela de arroz.

Trezentos anos atrás, enquanto o grupo viajava junto, a maioria das noites era passada descansando e fazendo sua própria comida. A ordem de quem preparava as refeições sempre mudava, mas cada um tinha seus talheres separados dos demais.

A tigela de arroz de Moron era a maior, seguida pela de Vermouth. Inesperadamente, Vermouth era um grande comedor. Então Hamel ficava em terceiro.

Quanto a Anise, ela não usava sua tigela de arroz como comida. Usava aquela tigela grande para segurar sua água benta. Sempre que chegava a hora de abrir a tampa do grande barril que mantinham abastecido, Anise era a primeira a correr e pegar uma bebida usando sua tigela.

Anise chamava a tigela de seu Santo Graal.

Do outro lado da luz estava aquela mesma tigela de arroz, não, o Santo Graal. Eugene olhou para o Santo Graal, que estava torto para o lado, com olhos vazios. Havia rachaduras aqui e ali, faltavam algumas lascas… Mas era inconfundível. Esse era o Santo Graal de Anise. A luz estava sendo derramada de seu Santo Graal.

“É… Por quê…? Não, antes disso,” Eugene se sacudiu e se aproximou do Santo Graal.

Era claro que se ele apenas puxasse assim, algo irreversível aconteceria. Então, em vez de pegar o Santo Graal, Eugene pegou Akasha de dentro de seu manto.

Então ele imediatamente usou o feitiço Dracônico para tentar encontrar Anise. Uma luz fraca foi emitida do Coração do Dragão de Akasha. À medida que o feitiço draconiano se desenrolava, forjava uma conexão com o Santo Graal de Anise.

Um pouco mais…

Um pouco mais fundo…

Só um pouquinho mais perto….

A visão de Eugene foi repentinamente consumida pela luz.

Ele viu uma jovem parada ali distraída, usando um vestido branco.

Ao contrário de quando a viu pela última vez, ela não estava de costas para ele. Sua idade parecia… Um pouco mais de dez anos, no máximo. Ela tinha longos cabelos loiros e olhos azuis.

Então veio o cheiro de sangue.

Muito lentamente, o cheiro ficou mais forte. Quanto mais forte o cheiro ficava, mais sangue começava a se espalhar pelas roupas da garota. O sangue escorria de ambos os pulsos para pingar no chão. Não eram apenas os pulsos. Seus tornozelos, panturrilhas, coxas, estômago, flancos e peito… Linhas sangrentas eram desenhadas por todo o corpo com sangue escorrendo delas.

No entanto, o rosto da garota estava determinado. Como se ela nem soubesse o que era dor, a garota ficou ali resoluta, coberta de sangue, sem uma única contração em sua expressão.

O sangue derramado da garota se acumulou no chão. Então o sangue acumulado começou a fluir como um rio.

Agora, havia outra garota.

A nova garota era muito parecida com a garota ao lado dela, mas havia algumas diferenças.

Ela tinha uma verruga sob o olho e então havia sua expressão facial. Linhas de sangue foram desenhadas uma a uma no corpo da nova garota, mas ela não aguentou e ficou de pé como a garota ao lado dela. Ela mordeu o lábio enquanto suportava a dor, com os olhos franzidos e, no final, não aguentou e começou a chorar. As lágrimas da garota escorriam junto com seu sangue.

A primeira garota parada ao lado dela não olhou para a garota chorando. Mas o sangue dela que se acumulou no chão escorreu e se acumulou aos pés da menina que chorava. O sangue que escorria da menina chorando se misturou com a poça de sangue da primeira menina. E então… Então o sangue fluiu ao contrário e penetrou nas feridas da menina que chorava.

Eugene observou isso acontecer com um olhar vazio. Naturalmente, ele reconheceu as duas garotas. Anise era a garota com a expressão determinada, e Kristina era a que chorava ao lado dela.

O que estava acontecendo?

No momento em que Eugene pensou nessa pergunta e estendeu a mão, a distância entre Anise e Kristina aumentou. E então muitas outras garotas de repente estavam entre elas. As garotas recém-chegadas não se pareciam com Anise como Kristina. No entanto, de pé no meio do rio de sangue que começou a partir de Anise, todas elas derramaram seu sangue juntas, e o longo rio de sangue que foi criado através deste método continuou até Kristina….

— Olhe bem, Hamel. — A garota, não, Anise, falou.

Anise ainda estava em sua forma mais jovem. Ela não tinha asas espalhadas por ela como quando apareceu na forma de um anjo. Em vez disso, levantou a mão ensanguentada e estendeu a mão para Eugene.

Anise continuou falando.

— Para esse vínculo abominável.

Anise.

O momento em que Eugene estava prestes a chamar o nome dela.

Craaaash!

A luz explodiu. As paredes de vidro e tetos da catedral, de onde os pilares de luz haviam caído, agora estavam quebrados. Inúmeros cacos de vidro caíram como chuva. No meio de tudo isso, Eugene estendeu a mão para pegar a queda do Santo Graal.

No momento em que pegou o Santo Graal, uma memória vívida foi gravada na mente de Eugene. Foram os vestígios que Anise deixou nesta relíquia sagrada.

— …….

Eugene permaneceu em silêncio, a confusão com o que acabara de acontecer passou por sua cabeça.

— Sir Eugene?!

— Ai meu Deus, que diabos…!

Os pilares de luz, que exibiam sua majestade dentro da Catedral de Tressia por centenas de anos, foram todos destruídos. Cacos de vidro se misturaram com a luz enquanto todos caíam. No meio dessa cena, Eugene estava olhando para o Santo Graal e Akasha em suas mãos.

Ele sabia o que tinha acabado de ver.

No entanto, simplesmente não conseguia entender o que significava.

O Santo Graal era um item com alma. Entre todas as relíquias sagradas, os restos físicos eram mais valiosos do que qualquer outra relíquia, pois não apenas estavam perto de uma santa; eles faziam parte de uma santa.

Talvez seja por isso que ele conseguiu olhar mais de perto do que quando tentou o feitiço no colar. O resultado pode ser borrado, mas ainda era reconhecível.

Dentro da Catedral de Tressia, o altar que ficava sob os pilares de luz.

Através do feitiço Dracônico de Akasha, o Santo Graal de Anise estava apontando para a relíquia sagrada armazenada sob o altar.

Disseram-lhe que era o maxilar de uma Santa de quatrocentos anos atrás.

Então, por que a relíquia sagrada de Anise e o feitiço dracônico de Akasha apontavam para aquela mandíbula?

Eugene não conseguiu pensar em nenhum palpite.

Mas nem quis adivinhar.


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