Flaaflaa.
A bainha do manto enrolada em seus ombros fazia cócegas nas panturrilhas de Sienna. Enquanto suportava seu constrangimento, Eugene ajustou o caimento do manto para ela.
Ele era forrado de penas. Não tinha nenhum tipo de acessório, mas Eugene achou que ficaria muito bonito se ela prendesse um broche também.
Ele deveria ter comprado um broche separadamente? Por um momento, tal pensamento passou pela cabeça de Eugene, mas mesmo que ele se arrependesse agora, não era como se pudesse fazer um broche aparecer mágicamente, poderia?
Mas, na verdade, não era como se ele não tivesse nenhum com ele agora.
Mesmo tendo sido transformado na forma de um casaco, o Manto das Trevas ainda podia desempenhar fielmente suas funções habituais. Havia uma infinidade de coisas guardadas dentro do manto de Eugene e, entre elas, também vários acessórios. Eles deveriam ser usados como bens que poderiam ser trocados por moeda real em áreas remotas onde o cartão preto do clã Lionheart não funcionasse.
Entre seus acessórios, havia também vários broches ornamentados dignos de serem fixados na gola deste manto. No entanto, Eugene sentiu que prender pessoalmente um broche no colarinho de Sienna com as próprias mãos seria muito constrangedor para ele suportar.
Além de um broche, não havia mais nada que ele pudesse dar a ela para usar? No momento em que pensou nessa questão, algo lhe veio à mente. Em outras palavras, Eugene já havia pensado na resposta para essa pergunta.
O medalhão Lionheart.
Um medalhão familiar que podia ser usado em um vestido ou manto formal.
“Você está louco?” Eugene se repreendeu.
Embora Eugene já soubesse a resposta para a pergunta sobre o que queria prender no colarinho dela, ele não poderia fazê-lo por causa de seu último fio de racionalidade. Colocar o medalhão Lionheart na gola do manto de Sienna era um ato que poderia causar uma quantidade imensa de mal-entendidos.
“Ela poderia pelo menos dizer alguma coisa”, Eugene pensou desesperadamente enquanto apagava de sua cabeça todos os pensamentos sobre broches e medalhões.
Eugene levantou ligeiramente a gola de Sienna enquanto olhava para seu rosto. Embora a gola levantada estivesse tocando suas bochechas, Sienna ainda não disse nada. Ela estava olhando diretamente para Eugene com os olhos arregalados, mas nem um único som escapou de seus lábios entreabertos.
A distância entre eles era muito próxima. Ele podia sentir o cheiro fresco que emanava de seu cabelo roxo levemente esvoaçante. Eugene não achava que esta era a primeira vez que via o rosto de Sienna de uma distância tão curta, mas talvez porque tenha sido há muito tempo, ou talvez por causa de uma mudança de perspectiva… Havia muitas coisas que sentia como se estivesse descobrindo tudo de novo.
Por exemplo, como Sienna tinha cílios longos ou como suas pupilas pareciam tão brilhantes. Como o calor sutil da temperatura de seu corpo emanando dela e o tom não muito escuro de seus lábios rosados.
— Ahem. — Eugene tossiu enquanto balançava a cabeça para aliviar uma tontura momentânea.
Então, enquanto tentava não revelar os sentimentos que acabavam de tomar conta dele, Eugene deu um leve tapinha nos ombros de Sienna.
Foi só depois dessa leve sacudida de seu corpo que Sienna voltou a si. Ela respirou fundo e deu alguns passos para trás. Então estalou os dedos e conjurou um feitiço.
Criando um espelho mágico que flutuava bem ao seu lado, Sienna se olhou no espelho e comentou:
— Não sei quem escolheu para você, mas ficou bem em mim.
Ela moveu o corpo para um lado e para o outro e até girou no mesmo lugar. A bainha de seu manto balançava em sincronia com cada movimento de Sienna.
Talvez por ter sido comprado na capital de Aroth, que se chamava Reino Mágico, até um manto como esse tenha sido encantado. Embora não houvesse nenhuma aplicação impressionante de magia para os padrões de Sienna.
A bainha do manto foi encantada para se mover sozinha, de modo a não interferir nos movimentos do usuário, e a magia também foi aplicada para mantê-lo limpo, preservar sua forma e manter a temperatura corporal do usuário. Não havia nenhum encantamento que fornecesse defesa contra ataques físicos, resistência a ataques mágicos ou qualquer tipo de ajuda na conjuração de feitiços.
Em outras palavras, esses encantamentos significavam que esse manto não era nem uma arma nem uma armadura. Os feitiços para mantê-lo limpo, preservar sua forma e ajudar a manter a temperatura corporal também não eram exemplos excepcionais de tais encantamentos. Eles estavam apenas no nível de tornar o clima um pouco mais frio no verão e um pouco mais quente no inverno. Era apenas uma peça de roupa cujos designers tentaram proporcionar um certo nível de conveniência.
Mas foi justamente por isso que Sienna se sentiu tão emocionada ao receber este manto. A razão pela qual um cara como Hamel deu a ela este manto que não poderia ser usado nem como arma nem como peça de armadura…
— É lindo. — Sienna murmurou enquanto olhava seu reflexo no espelho mágico.
Ela não sentiu nenhuma vergonha ou constrangimento ao dizer essas palavras. Sienna já estava tão cheia dessas emoções que faziam com que seu rosto ficasse tão vermelho quanto uma maçã bem madura. E graças ao fato de sua cabeça estar superaquecida e seu coração disparar tão rápido, ela achou difícil dizer qualquer coisa.
No entanto, agora que finalmente disse algo, sentiu que não iria gaguejar ou interromper o próximo fluxo de palavras.
Com um sorriso brilhante, Sienna olhou mais uma vez para seu reflexo no espelho. Este foi o manto que Hamel, não, Eugene, escolheu especificamente como presente para ela. Sienna se virou para olhar para Eugene.
— O que achou? Fica bem em mim? — Sienna perguntou.
— Realmente fica bem em você. — Elogiou Eugene.
Sienna perguntou desconfiada:
— Estou perguntando isso por precaução, mas esse manto, você realmente escolheu sozinho? Ou alguém escolheu para você? Alguém como Mer ou Anise.
Eugene resmungou:
— Eu mesmo escolhi. O que tem?
Sienna deu uma risadinha presunçosa.
— Hehehe, e pensar que você realmente mostraria algum senso de moda. Não acredito que tenha tido instintos tão bons para isso em sua vida anterior, não é?
— O que você sabe? — Eugene zombou. — O único tipo de roupa que usamos em nossas vidas anteriores foram nossas armaduras, capas e mantos.
Sienna o corrigiu:
— Usávamos muitas roupas além dessas. Houve várias ocasiões em que seguimos Vermouth a uma festa para a qual ele havia sido convidado, e também usávamos trajes formais sempre que tínhamos uma audiência com um aristocrata ou rei proeminente de alto escalão.
— Não é como se eu, ou realmente qualquer um de nós, pudesse escolher que roupas usaríamos naqueles momentos. De qualquer forma, mesmo na minha vida anterior, meu senso de moda quando se tratava de escolher roupas era incrível. Então… Hum… Fiz questão de escolher este manto para você… Ahem. — As palavras de Eugene foram interrompidas por uma tosse estranha.
Sienna riu enquanto se livrava do espelho mágico e se virava para olhar pela janela.
— Como você disse, realmente parece frio lá fora. — Avaliou Sienna. — Embora eu não ache que este manto deva ser usado no inverno.
Eugene bufou exasperado:
— Hah, nesse caso, tire ele então.
— Não quero. Definitivamente, nunca vou tirar isso. — Sienna recusou enquanto passava por Eugene com um sorriso travesso. — Já que estou com roupas novas, vamos dar uma volta lá fora? Ah, deixe-me dizer uma coisa com antecedência, Eugene, posso ter morado em Aroth há muito tempo, mas isso foi há duzentos anos, certo? Este país mudou muito desde a última vez que morei nele. Portanto, não estou muito familiarizada com o lugar, muito menos com esta cidade.
— Também não sou muito familiarizado com ela. — Eugene a avisou. — Posso ter vivido aqui há cerca de dois anos, mas naquela época, passava a maior parte do tempo confinado nas Torres de Magia ou em Acryon.
— Mesmo assim, você deveria saber muito mais do que eu no momento, certo? — Sienna apontou. — Devo dizer que é uma sensação muito estranha. É como se eu tivesse viajado no tempo… Embora não precise dizer como é isso.
Eugene mudou de assunto:
— Vamos comer alguma coisa?
— Há alguma loja que você recomendaria? — Sienna perguntou.
— Tem um que vende caranguejo. — Disse Eugene ao se lembrar do restaurante que visitou com Lovellian alguns anos atrás.
Eles foram àquele restaurante porque Eugene mencionou casualmente o prato, mas os caranguejos gelados, que eram uma especialidade de Ruhr, que comeu lá estavam deliciosos.
Sienna parecia em dúvida:
— Caranguejo? Você está falando daquele caranguejo? Aquela coisa que parece um inseto do mar com garras e casca dura?
Eugene suspirou:
— Você não acha que está sendo um pouco dura demais com os caranguejos?
— Não há realmente nenhuma diferença entre eles. Camarões e caranguejos são exatamente como os insetos do mar. Eugene, você acha os insetos deliciosos? — Sienna perguntou zombeteiramente.
— Não, como eu disse, eles não são insetos. — Eugene tentou argumentar.
— De qualquer forma, não quero comê-los. — Sienna disse enquanto olhava para verificar a expressão de Eugene.
Na verdade, Sienna era do tipo que não gostava de frutos do mar em geral, não apenas de coisas como caranguejos e camarões em particular.
Isso porque Sienna morou no centro da Floresta Samar, longe do mar, desde a infância até a idade adulta. Era também por causa de suas memórias de quando caiu no mar enquanto tinha que lidar com um ataque de monstros marinhos e magos negros — quando estavam cruzando o mar para Helmuth depois que Hamel se juntou ao grupo.
Foi Hamel quem salvou Sienna quando ela estava prestes a ser sugada por um redemoinho. Hamel mal conseguiu segurar Sienna, que havia perdido a consciência, e os dois flutuaram junto com as correntes oceânicas que foram agitadas em frenesi por um feitiço.
Isso foi quando ambos eram estranhos um para o outro. Os dois finalmente desembarcaram em uma pequena ilha longe de seu navio. Sienna recobrou o juízo logo depois que chegaram à costa, mas por causa dos ferimentos causados pelo refluxo de mana, ela não foi capaz de usar nenhuma de suas magias imediatamente.
— Ahaha. — Eugene sorriu e fez um barulho de compreensão ao se lembrar daquela época.
A ilha onde eles chegaram há trezentos anos não era uma ilha deserta. Os magos negros que serviram ao Rei Demônio estavam escondidos no interior da ilha. Esses magos negros enviaram bestas demoníacas para matar os intrusos que haviam aparecido em suas praias — bestas demoníacas feias e manchadas de sangue, em forma de caranguejo, com garras enormes, e bestas demoníacas em forma de camarão, com chifres tão afiados quanto furadores, cujos corpos se contorciam no ar enquanto galopavam.
Isso podia ser o óbvio, mas Hamel e Sienna conseguiram sobreviver naquela ilha sem problemas. Hamel foi capaz de erradicar as bestas demoníacas enquanto protegia Sienna, que estava temporariamente incapaz de usar qualquer magia, e até conseguiu massacrar os magos negros que estavam reunidos no centro da ilha. Então, algumas horas depois, eles embarcaram em um barco de resgate que havia chegado à ilha e retornaram ao navio.
— Então você está agindo assim porque se lembrou do que aconteceu no passado, quando você teve que se esconder atrás de mim tremendo de medo, certo? — Eugene disse com um sorriso malicioso.
— Mas não é isso. — Sienna negou com fingida indiferença.
— O que quer dizer com não é? — Eugene bufou. — Naquela época, você disse que não podia confiar totalmente em mim, então quase foi morta pelas bestas demoníacas enquanto tentava explorar a ilha sozinha.
Para dizer a verdade, não foi porque Sienna não confiasse em Hamel, mas por causa de uma mistura complexa de diversas fontes de constrangimento.
Então você não pode nem voar no céu, hein? Enquanto provocava Hamel com essas palavras, Sienna atravessava os céus sobre o mar enquanto conjurava seus feitiços, apenas para ser vergonhosamente atingida por um contra-ataque e cair no mar.
Ela estava extremamente grata por Hamel ter saltado no mar para salvá-la, mas também estava envergonhada da visão embaraçosa que não pôde deixar de posar devido às suas roupas encharcadas. Ela pretendia apenas secar rapidamente as roupas antes de prosseguir, mas acabou ficando ainda mais envergonhada quando foi forçada a gritar ‘Kyaaah!’ ao ver as bestas demoníacas invasoras…
— Eu disse que não é. — Insistiu Sienna, mal-humorada.
Deixando todo o resto de lado, Eugene estava certo ao dizer que era daí que vinha a antipatia de Sienna por camarões e caranguejos.
Presa em uma situação em que não era capaz de usar sua magia, Sienna enfrentou aquelas bestas demoníacas, aqueles caranguejos e camarões gigantes assustadores com olhos revirados e espuma vermelha na boca que pareciam bolhas de sangue, e ainda conseguia claramente lembrar-se do desamparo e do terror que sentiu naquela época.
— De qualquer forma, não quero que a gente vá comer caranguejos. — Insistiu Sienna.
Pensando bem, foi a partir daquela ilha que Sienna começou a prestar muita atenção em Hamel.
“Porque você me ajudou. Porque você pulou no mar para me salvar e me protegeu quando não consegui usar minha magia”, pensou Sienna com carinho.
—Ei, você pode parar de tremer agora. Está bem, não está? Sua magia? Você está dizendo que não pode usar sua magia agora? Realmente, isso nunca acaba, não é? Não, como eu disse, você ainda está bem, não está? E daí se você não puder usar sua magia imediatamente? Não é como se estivesse sozinha. Comigo aqui não haverá problemas, certo?
—O quê? Você diz que não pode confiar em mim? Haaah, você é realmente ridícula. Ei, não faça nada estúpido e apenas fique atrás de mim, entendeu? Mais uma vez, não faça nada de estranho e, em vez de gritar com toda a força se ficar com medo, apenas belisque minha lateral.
—Nós vamos ficar bem. Não há nada com que se preocupar.
—Eu prometo que vou proteger você.
— Você ainda é um idiota estúpido e ridículo. — Sienna murmurou relutantemente.
— Por que está me insultando de repente? — Eugene perguntou confuso.
— Ei! — Sienna repreendeu. — Basta pensar nisso com cuidado. Como exatamente você come caranguejos? Hein? Você arranca as pernas deles, suga a carne e mastiga a casca, certo? Você realmente acha que quero mostrar uma aparência tão desleixada na sua frente?
Eugene suspirou:
— Sério? Eu queria saber o que você estava tentando dizer. Quando estávamos no Domínio Demoníaco, fossem caranguejos ou o que quer que fosse, comíamos todo tipo de coisa, de insetos a bestas demoníacas. Você não tinha problemas para comer com as próprias mãos naquela época.
— Isso foi no Domínio Demoníaco, e é isso! — Sienna respondeu.
— Além disso, como a era atual ficou muito mais conveniente, você nem precisa usar as mãos para comer caranguejo. — Eugene a informou. — A carne é bem sugada para você com magia.
— Se eu disser que não quero, você deve simplesmente aceitar que não quero. — Sienna bufou.
Eugene sorriu:
— Eu sei que você está sendo teimosa, porque fica envergonhada sem motivo.
— Eu disse que não quero comer! Vamos sair e caminhar um pouco. Você tem um mendigo no estômago? Está realmente com tanta fome? Na verdade, não estou com fome nenhuma. Eu só quero dar uma volta com você e dar uma olhada em… A voz de Sienna, que estava cuspindo palavras em um ataque de ressentimento, parou abruptamente.
Os lábios de Sienna se agitaram silenciosamente por alguns momentos antes dela passar abruptamente por Eugene e descer correndo as escadas. Ela estava louca? O que disse agora há pouco?
“Bem, se for agora, acho que não há problema em dizer esse tipo de palavras para ele…” Sienna pode ter pensado isso consigo mesma, mas não funcionou tão bem quando tentou colocar em prática.
Como esperado, a personalidade de Sienna Merdein era a mesma de sempre. Eugene estalou seu tom de decepção enquanto observava as costas de Sienna irromperem pelas portas da mansão como se estivesse fugindo de alguma coisa.
— Ela continua tão problemática como sempre. — Eugene murmurou.
Mas era exatamente por isso que ele sentia tanta falta dela, queria vê-la e estava feliz agora que ela estava ali. Eugene sorriu enquanto seguia Sienna para fora da mansão.
— Não é como se nenhum de nós estivesse tão ocupado a ponto de nem ter tempo de comer alguma coisa. — Eugene disse enquanto se aproximava de Sienna, que estava parada de costas para ele.
— Essa não é a questão. — Sienna hesitou. — É que eu, com você… Já que conseguimos sobreviver assim e nos reencontrar depois de tanto tempo…
— Então você está apenas impaciente? — Eugene perguntou sem rodeios.
— Eu vou matar você. — Sibilou Sienna.
— Seja caminhando com você, dando uma olhada ao redor ou passeando… De agora em diante, poderemos fazer tudo isso para sempre… — Eugene prometeu a ela antes de se virar ligeiramente e soltar uma tosse envergonhada.
Com essas palavras, Sienna estremeceu e se virou para olhar surpresa para Eugene.
— Eu disse alguma coisa estranha? Por que você está me olhando com um olhar tão surpreso? — Eugene perguntou defensivamente.
— Hmmm… — Sienna murmurou pensativa.
— Ou então o quê? Deveríamos parar de nos encontrar a partir de hoje? Agora que todos puderam retornar em segurança e mostramos nossos rostos um ao outro, devemos seguir nossos próprios caminhos a partir de agora. É isso que você quer? — Eugene perguntou sarcasticamente.
— Como eu poderia?! — Sienna gritou enquanto balançava a cabeça violentamente. Então, em um tom mais suave: — Não tem como ser esse o caso. Não podemos fazer isso e não quero que façamos isso. É só que… Já se passaram trezentos anos, Eugene. Já faz tanto tempo e tanto tempo se passou. Tanto para você quanto para mim.
O rosto de Sienna ainda estava aquecido desde antes. Mesmo que ela estivesse bem quando veio para Aroth pela primeira vez.
Sienna continuou hesitante:
— Você… Reencarnou e eu consegui me recuperar depois de quase morrer. Durante esses longos trezentos anos, muitas coisas mudaram. Uma dessas coisas é o seu novo nome, Eugene Lionheart. Honestamente falando, ainda me sinto estranha em dizer seu nome atual. Sinto que vou continuar chamando você de Hamel, mesmo sem perceber.
— Não importa como você me chama. Não importa qual seja meu nome agora ou o quanto o mundo mudou, ainda sou o mesmo que você sempre conheceu. — Eugene a tranquilizou.
— Hmm, isso é verdade. — Sienna concordou antes de insistir. — Mas mesmo assim, quero te chamar pelo seu nome atual. Se eu tivesse que dizer por que, é porque é o seu nome nos dias atuais. O fato de você ser o mesmo que sempre conheci só torna ainda mais importante para mim, confirmar que você ainda está aqui no presente como você mesmo.
Depois de parar e recomeçar algumas vezes, Sienna finalmente conseguiu completar sua explicação.
Desde o momento em que reencontrou Eugene até agora, o rosto de Sienna ficou vermelho. As emoções que ela admitiu, mas foi incapaz de confessar, eram exatamente as mesmas de trezentos anos atrás, embora tanto tempo tivesse passado. Embora o rosto cheio de cicatrizes de Eugene tenha mudado e ele tenha se tornado uma pessoa completamente diferente, os sentimentos de Sienna por ele não mudaram em nada.
Sienna apoiou a mão no peito enquanto tentava acalmar a respiração. Não havia necessidade dela tentar negar seus sentimentos.
“Mas ainda não consigo evitar de me sentir envergonhada”, pensou Sienna.
Ela ainda estava tão animada e envergonhada como sempre por tudo o que esse homem na frente dela disse e fez.
— Eugene. — Sienna despejou todas as suas emoções em sua voz enquanto chamava o nome dele. — Eugene Lionheart.
Esse nome sairia dos lábios de Sienna repetidas vezes de agora em diante.
Às vezes com os sentimentos que sobraram de centenas de anos atrás e às vezes com os sentimentos criados naquele exato momento.
Com todo o seu aborrecimento, sua raiva, sua alegria, sua diversão e seu amor.
Ela podia estar sorrindo, podia estar chorando ou podia até estar abraçando-o quando dissesse isso.
Esse nome se tornaria mais especial para Sienna do que qualquer outra palavra, ao mesmo tempo que viria a seus lábios com mais frequência do que qualquer outra palavra.
Sienna afirmou com certeza:
— Hoje não podemos absolutamente permitir que seja a última vez que nos encontraremos. Nós… Já que não conseguimos nos encontrar nas últimas centenas de anos, então, não importa o que aconteça, precisamos ficar juntos por mais centenas de anos.
Quando Sienna disse isso, sua voz ainda estava envergonhada como sempre, mas ainda mais do que isso, era séria e sincera.
— Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas. — Sienna sussurrou com uma voz baixa, mas clara.
Então Sienna se virou e começou a se afastar. As emoções que Sienna acabara de acalmar estavam prestes a começar a se agitar mais uma vez. As palavras que ela havia falado agora continuavam passando por sua cabeça.
“Bom trabalho, eu”, Sienna pensou alegremente, dando-se um tapinha nas costas mental.
Sienna sentiu orgulho de si mesma por finalmente conseguir expressar seus sentimentos em palavras. Já que ela havia falado tanto, mesmo aquele idiota estúpido e ridículo não deveria ser capaz de duvidar dos sentimentos de Sienna por ele.
E, naturalmente, foi exatamente esse o caso. Em primeiro lugar, Eugene conseguiu sentir vagamente os sentimentos de Sienna por ele, mesmo durante sua vida anterior. Mas com a época e a situação deles como eram, ele simplesmente não podia fazer nada a respeito. Se todos os Reis Demônios tivessem sido mortos e o mundo tivesse se tornado pacífico, Eugene também teria sido capaz de responder adequadamente aos sentimentos de Sienna.
— Mesmo que eu não tenha conseguido salvar o país na minha vida anterior. — Eugene murmurou para si mesmo com um sorriso enquanto começava a seguir Sienna.
Embora desde que ele participou da morte de três dos Reis Demônios, se realmente se pensasse sobre isso, daria para dizer que Hamel salvou vários países.
— Por que você está saindo sozinha mesmo tendo dito que deveríamos ficar juntos? — Eugene perguntou assim que alcançou Sienna.
— Espere um pouco antes de me seguir. — Ordenou Sienna.
— Por quê? — Eugene insistiu em perguntar.
O que ele quis dizer com ‘por quê’? É porque meu rosto está muito quente.
Sienna engoliu as palavras quando estavam prestes a subir por sua garganta e, em vez disso, deu um tapinha no rosto com as mãos.
Tá na hora do Eugene revelar pra todo mundo que é reencarnação do Hamel. Não vejo ele apresentar a Sienna sem revelar esse fato.
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