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Kill the Sun – Capítulo 586

A Responsabilidade de um Líder

— Quer um café? Ah, é, certo, foi mal, esqueci — disse Steve, sem jeito, enquanto se sentava novamente na grade.

Como sempre, o Sol brilhava intensamente no céu, mesmo sendo duas da manhã.

Steve estava sentado no topo de uma grade no alto da megaestrutura na Cidade da Marca Selvagem.

Nas últimas horas, eles haviam discutido muitos planos.

Que planos?

Bem, planos para erradicar a Vandalize.

Nick se aproximou de Steve, que acabara de afastar sua xícara de café.

Não era difícil para Nick perceber o quanto Steve estava nervoso e inseguro naquele momento.

Normalmente, Steve sempre mantinha uma postura firme, mas quando estava a sós com Nick, essa fachada frequentemente se rompia.

Isso porque Nick era o ídolo de Steve.

Quando Steve trabalhou sob o comando de Nick, ficou surpreso com o quão absurdamente bom Nick era em liderar a equipe.

Suas decisões estavam sempre corretas.

Suas missões sempre eram sucessos limpos.

Eles não perderam um único membro.

Mais ainda, Nick sempre parecia saber exatamente o que fazer e o que dizer.

Ele nunca ameaçou ninguém, nunca elevou a voz.

E mesmo assim, todos o seguiam sem reclamar.

Quando Steve viu como Nick era como líder, sentiu-se sem esperanças.

Sentiu como se tivesse tentado matar o Sol.

Como ele poderia sequer tentar liderar uma equipe se os líderes precisavam ser tão bons assim?

Ele não era tão bom!

Naquela época, Steve desistiu de tentar se tornar um líder.

No entanto, foi isso que o permitiu conversar com Nick sem qualquer sentimento de competição.

Steve podia ser honesto.

Com o passar dos anos, Steve aprendeu com Nick.

Os dois tinham conversas regulares, e Steve basicamente usava Nick como um escape para todas as suas inseguranças e dúvidas.

E a única coisa que Nick fazia em troca era dar respostas curtas que levavam Steve a reflexões profundas, até que ele finalmente reconhecia suas próprias inadequações.

Quando Steve se tornou líder novamente, sentiu-se extremamente inseguro.

Ainda assim, as missões correram bem.

Claro, nem tudo foi perfeito, mas era bom o suficiente.

Até que, eventualmente, ele passou a se enxergar como o líder da equipe.

Nesse ponto, suas conversas com Nick tornaram-se cada vez mais raras.

Mas hoje, Steve estava nostálgico.

Lembrou-se de como era sete ou oito anos atrás.

As coisas eram muito mais simples naquela época.

No fim, ele chamou Nick para conversar novamente.

Naturalmente, Nick se aproximou de Steve e parou ao seu lado.

Mas não disse nada.

Apenas olhou para a torre distante da Vandalize.

Silêncio.

— Você poderia tê-la salvado? — perguntou Steve de repente, com a voz calma.

— Isso importa? — respondeu Nick num tom uniforme.

— Importa pra mim — respondeu Steve, em voz baixa.

— Você cometeu um erro nas suas ordens? — perguntou Nick.

Silêncio.

— Não — respondeu Steve.

— Então não faça esse tipo de pergunta — disse Nick.

Steve não respondeu.

— Esse tipo de pergunta leva ao arrependimento — disse Nick.

Steve apenas ouviu.

— E se? Eu poderia ter? Eu deveria ter? Existe um momento para esse tipo de pergunta, e é quando você suspeita que tomou a decisão errada — explicou Nick.

— Mas você não tomou. Sua decisão foi correta. Nós dois sabemos disso.

— Nesse caso, fazer esse tipo de pergunta só vai trazer miséria pra você.

— Quando você tem certeza de que tomou a decisão certa, mas ainda sente dor, a única coisa que pode fazer é lidar com essa dor.

Steve olhou para a cidade em silêncio.

Isso era um saco.

Steve havia agido corretamente, mas ainda assim sentia arrependimento e dor por sua decisão.

Não havia nada que ele pudesse ter feito melhor.

Aquele já era o melhor cenário possível.

E mesmo assim, ainda doía.

No entanto, Steve sabia que isso era o que significava ser um líder.

Funcionários normais não tinham o luxo de decidir o rumo de toda a unidade, mas, em troca, também não eram responsáveis pelas decisões dela.

O líder era o responsável.

Se a unidade cumpria uma missão perfeitamente, o líder era elogiado.

Se a unidade fracassava numa missão, o líder era repreendido.

Se o plano era perfeito, mas a missão fracassava, o líder era repreendido.

Se o plano era horrível, mas a missão tinha sucesso, o líder era elogiado.

Se um funcionário salvava a missão, o líder era elogiado.

Se um funcionário arruinava a missão, o líder era repreendido.

Tudo recaía sobre os ombros do líder.

Era justo?

Não totalmente. Afinal, por que o líder deveria ser repreendido pelos erros de um único funcionário?

Infelizmente, a existência desse funcionário na equipe do líder cai sob a responsabilidade dele.

O líder era quem deveria contratar apenas boas pessoas e lidar com as ruins.

Mas isso não era tão simples assim.

Às vezes, pessoas ruins eram extremamente boas em fingir que eram boas.

Se, por todas as aparências, a pessoa parecia boa, não seria uma decisão incorreta recusá-la?

Infelizmente, líderes eram avaliados pelos sucessos e fracassos da unidade, não como indivíduos.

— Você acha que o plano é ruim? — perguntou Steve após vários segundos de silêncio.

— Com base em todas as informações disponíveis, o plano é o melhor possível — respondeu Nick.

— Por que o qualificativo? — perguntou Steve.

— Porque um plano só pode ser tão bom quanto as informações disponíveis — respondeu Nick. — Na maioria das vezes, existem planos melhores, mas eles exigem informações melhores.

Steve olhou para Nick com incerteza.

— Você poderia contribuir mais do que já está contribuindo? — perguntou Steve.

— E você? — retrucou Nick.

Steve não tinha certeza.

— Eu genuinamente não sei — respondeu após um momento.

— E nem deveria — disse Nick. — Mesmo que você possa.

— Por que não? — perguntou Steve, surpreso.

— Porque somos recrutas — explicou Nick. — Nossa prioridade é aprender e ganhar experiência, não cumprir missões.

— Apostar tudo em uma chance de sucesso pode nos trazer muitas recompensas, mas nosso valor aos olhos da Égide é maior do que o que ela ganharia após cem missões arriscadas de nossa parte.

— Estão nos vendo como futuros Agentes.

— Somos destinados a proteger Cidades inteiras.

— Maximize as experiências que você ganha enquanto minimiza os riscos que corre. Não inclua os lucros obtidos ou as missões cumpridas — disse Nick.

Steve já tinha ouvido isso antes.

Shirley havia dito algo muito parecido no passado.

Infelizmente, Steve ainda não gostava muito dessa ideia.

Claro, eles estavam ali para aprender, mas muitas pessoas sofriam para que eles pudessem aprender.

Eles estavam essencialmente construindo Heróis sobre os corpos de inocentes.

Mas então, o que mais deveriam fazer?

Entregar responsabilidade sobre cidades inteiras a um Agente sem nenhuma experiência real?

Isso seria muito pior.

Steve não gostava daquilo, mas, como antes, esse já era o melhor cenário possível.

Tudo era nebuloso.

Não existiam decisões em preto e branco.

Eram todas apenas diferentes variações de cinza, e era basicamente impossível banir completamente a influência do preto no resultado final.

— Foi assim que você agiu nos últimos oito anos? — perguntou Steve.

Nick assentiu em silêncio.

Steve pensou em todas as vezes que havia mandado Nick se infiltrar nas linhas inimigas.

— Você já arriscou sua vida?

Nick apenas balançou a cabeça em negativa.

Isso surpreendeu Steve.

Ele tinha pedido a Nick que fizesse coisas bastante arriscadas no passado, mas Nick dizia que ainda não havia arriscado a vida?

O que aquilo queria dizer?

Naturalmente, Steve suspeitou muitas vezes ao longo dos anos que Nick era muito mais poderoso do que todos achavam.

Por isso, havia lhe dado várias missões arriscadas, e até mesmo a oportunidade de recusá-las.

Ainda assim, Nick sempre as completava sem alarde ou reclamações.

Mas mesmo assim, Nick dizia que não havia arriscado a vida?

Foi então que Steve se lembrou de que Nick havia evitado a pergunta anterior sobre se poderia contribuir mais.

Então, Steve se lembrou de que Nick havia dito que o plano era o melhor possível com base nas informações disponíveis.

A essa altura, Steve tinha certeza de que Nick poderia fazer muito mais.

— Nick — disse Steve lentamente.

Nick não respondeu.

— Você conseguiria lidar com o Espectro sozinho? — perguntou com cautela.

— A conversa acabou — disse Nick num tom neutro, antes de se virar e voltar para dentro.

Steve rangeu os dentes e cerrou os punhos.

— Foi mal, tudo bem — disse Steve enquanto Nick abria a porta para sair. — Esquece que eu perguntei.

No entanto, Nick apenas entrou no prédio e fechou a porta atrás de si.

Isso sempre acontecia sempre que Steve perguntava algo específico sobre o passado ou sobre a vida pessoal de Nick.

Mendor costumava brincar dizendo que Steve e Nick eram os melhores amigos, já que conversavam tanto em segredo.

Ainda assim, Steve sempre sentiu que isso não era verdade.

Na realidade, ele não sabia muito mais do que o resto das pessoas.

Eles conversaram tantas vezes, e Steve havia aprendido tanto sobre si mesmo.

E mesmo assim, não aprendeu nada sobre Nick.

Nick era como uma imagem distante.

Steve já tinha visto essa imagem incontáveis vezes, mas nunca conseguiu se aproximar o bastante para saber mais sobre ela.

Havia uma parede entre eles, e não importava o que Steve fizesse, era impossível atravessá-la.

Steve queria que eles pudessem ser amigos, mas esse desejo jamais se realizaria.

E ele sabia disso.

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