— Ótimo — Ira disse, olhando para Nick com os olhos semicerrados. — Agora você é meu. Nem pense em fugir.
Então, a estátua voltou a ser uma pedra redonda, e todo o poder desapareceu do Grande Retransmissor.
Silêncio.
Um momento depois, a CEZ da Sacerdócio fez um gesto para que Nick entrasse.
Nick caminhou até a frente.
BANG!
E a porta se fechou com força bem diante do seu rosto.
Nick piscou algumas vezes.
Então, esperou.
DING!
A porta se abriu novamente, e a CEZ fez sinal para que Nick entrasse de novo.
Dessa vez, a porta não se fechou imediatamente.
Nick entrou na sala com sucesso, e a porta se fechou atrás dele.
Assim que entrou, ele entendeu por que não havia outras salas naquele andar.
Todo o andar era apenas o escritório da CEZ.
Era ostensivo além da imaginação.
O único escritório comparável a esse tinha sido o de Markus Julius, na Cidade Carmesim.
“Seguidores da gula, hein?”, Nick pensou enquanto olhava ao redor.
— Você será um dos servos do Lorde Ira — a CEZ falou. — Sua vida finalmente tem um propósito.
— Guarde esse papo furado para os seus seguidores — Nick respondeu sem olhar para ela.
A CEZ não demonstrou nenhuma reação forte.
— Agora vou lhe ensinar como criar um Grande Retransmissor — ela disse com neutralidade ao dar um passo à frente.
Nick se virou e a encarou.
— Primeiro, conjure uma pedra oca que tenha essa sensação.
Então, Nick sentiu ondas invisíveis emanando da CEZ.
Era a mesma coisa que Nick havia experimentado quando falou com a grande cobra de pedra.
Esse era o modo único de comunicação dos Espectros entre si.
Naquela ocasião, Nick não tinha conseguido sentir a verdadeira utilidade daquela habilidade, já que a cobra de pedra tinha inteligência limitada.
Mas agora, ao conversar com um Espectro inteligente, Nick podia ver o verdadeiro potencial da habilidade.
Era como se a CEZ estivesse transmitindo a forma mais pura de conceitos para Nick.
Em quase um instante, Nick sabia as dimensões da pedra, como ela deveria parecer ao toque, como cheirava, como era seu gosto, o que deveria conter, quão dura era e todo tipo de detalhe.
Era como se a CEZ tivesse simplesmente pronunciado a palavra ‘pedra’, e todas as informações relacionadas a ela fossem transmitidas imediatamente.
Transmitir tudo isso por fala exigiria milhares de palavras e demandaria uma enorme interpretação para ficar exato.
Nick sabia exatamente como essa pedra deveria ser.
— E como se supõe que eu faça isso? — Nick perguntou.
Claro, Nick sabia como a pedra tinha que ser, mas ele não podia simplesmente criá-la.
Era como pedir a uma criança que partisse um pedaço sólido de metal ao meio. A criança entendia o que precisava ser feito, mas como ela deveria fazer isso?
— Apenas conjure — a CEZ respondeu.
— Como? — Nick perguntou novamente.
A CEZ semicerrou os olhos enquanto o inspecionava.
Parecia desconfiada de Nick.
— Da mesma forma que fez suas roupas e armas — ela disse com neutralidade.
— Eu não fiz nenhuma das duas — Nick respondeu.
A CEZ franziu o cenho.
Ao ver isso, Nick apenas explicou: — Minhas armas pertenciam a um Especialista Iniciante. As roupas a um Perito aleatório.
Isso não pareceu dissipar as dúvidas da CEZ.
— Você não sabe conjurar materiais? — ela perguntou.
— Aparentemente, não sei — Nick disse.
No momento seguinte, mais daquelas ondas invisíveis invadiram a mente de Nick, e ele rapidamente aprendeu a conjurar coisas.
Nick teve que se esforçar para não demonstrar choque ou surpresa.
Ele nunca havia realmente pensado nisso!
O que eram os corpos dos Espectros?
E Julian?
O que fazia parte do corpo dele?
Seu cabelo azul fazia parte do corpo?
E as roupas?
Além disso, quando um Espectro humanoide era gravemente ferido, como suas roupas se regeneravam?
Os Espectros não eram conhecidos por terem armários cheios de roupas.
Nick tinha visto muitas vezes os Espectros recuperando suas roupas danificadas, mas nunca havia pensado nisso de verdade.
Afinal, não tinha importância.
Nenhum item ou roupa conjurada por um Espectro tinha impacto em seus poderes.
Mas sim, era verdade.
Os Espectros podiam conjurar matéria aparentemente do nada!
Claro, algo não costumava vir do nada.
O que os Espectros usavam para conjurar materiais e itens era seu Zephyx.
Espectros podiam usar o Zephyx que criavam para gerar coisas que pudessem utilizar.
No entanto, não era algo tão simples assim.
Para criar algo apenas com Zephyx e a mente, era preciso entender quase tudo que havia para entender sobre esse algo.
Caso contrário, o resultado seria basicamente inútil.
Pelo menos em termos de uso em combate.
Se alguém não soubesse tudo sobre um determinado objeto, ainda poderia conjurar uma versão fraca dele.
Por exemplo, se alguém tentasse conjurar aço com Zephyx, mas não soubesse muito sobre aço, poderia apenas criar algo com a forma do aço, mas que carecia de quase todas as propriedades úteis.
Seria como pintar um pedaço de papel de cinza.
E era assim que os Espectros reparavam suas roupas.
Eles não precisavam saber como fibras e tecidos funcionavam.
As roupas de um Espectro não precisavam ter propriedades especiais.
Elas apenas precisavam facilitar o disfarce diante dos humanos.
No entanto, se um Espectro realmente quisesse conjurar algo útil, precisaria aprender praticamente tudo sobre aquilo que desejava conjurar.
O Zephyx era uma espécie de material universal e podia ser transformado em qualquer forma imaginável.
Claro, os humanos também podiam fazer isso, mas não sem máquinas avançadas e uma boa quantidade de Zephyx de Espectro armazenado.
Era disso que tratava todo o campo da Zefologia.
Zefologia tratava do uso do Zephyx de Espectro para criar materiais poderosos.
Naturalmente, Nick já sabia bastante sobre Zefologia a essa altura.
A base da Zefologia era traduzir a vontade humana em uma forma capaz de se combinar com o Zephyx de Espectro, após o que os dois se fundiriam e o Zephyx de Espectro se transformaria no objeto imaginado pela vontade humana.
Sem máquinas avançadas, os humanos não conseguiam fazer isso.
Suas vontades não eram inerentemente compatíveis com o Zephyx de Espectro.
Eles podiam digeri-lo, mas não podiam manipulá-lo.
Era como a diferença entre seu próprio braço e um pedaço de carne. O humano podia digerir ambos, mas só podia controlar o braço.
Mas essa mesma restrição não se aplicava aos Espectros.
As vontades deles eram compatíveis com seu Zephyx.
Isso tornava o uso de máquinas avançadas desnecessário.
Um Espectro podia simplesmente imaginar o que queria, e o Zephyx assumiria a forma imaginada.
Isso era insano!
Nick se esforçou ao máximo para manter a expressão indiferente de sempre.
— Nunca tentei isso — Nick comentou, erguendo a mão direita.
Então, Nick imaginou um pedaço de tecido vermelho acima de sua mão.
No momento seguinte, Nick sentiu seu Zephyx deixando lentamente seu corpo e se reunindo acima de sua mão direita.
Nick mal pôde acreditar quando um pequeno ponto vermelho apareceu acima de sua mão.
O ponto vermelho foi crescendo, até atingir o tamanho que Nick havia imaginado.
Por fim, o pedaço de tecido vermelho caiu sobre a mão de Nick.
Crrrrrk!
Então, o tecido se rasgou e caiu no chão.
Não era resistente o suficiente para suportar seu próprio peso e se desfez.
No entanto, essa havia sido apenas a primeira tentativa de Nick.
Em no máximo dez tentativas, Nick sabia que conseguiria criar um tecido que pudesse ser usado sem se desfazer imediatamente.
— Faça a pedra — a CEZ ordenou.
Nick não olhou para a CEZ, mas se concentrou nos atributos das pedras que ela havia transmitido mais cedo.
WHOOOOM!
Uma enorme quantidade de Zephyx se reuniu acima do braço direito de Nick.
A quantidade de Zephyx reunida era muitas vezes maior do que quando ele conjurou o pedaço de tecido.
Isso se devia à complexidade e às outras propriedades da pedra.
Quanto mais dura, flexível, tenaz ou qualquer outra característica desejada, mais Zephyx era necessário.
Claro, quanto mais complexo o objeto, mais foco o Espectro precisava investir, já que havia mais aspectos para manter sob controle.
Criar algo simples era como pedir a uma pessoa normal que memorizasse um código de quatro dígitos, enquanto criar algo complexo podia ser um código de dez, cem ou mil dígitos.
Após cerca de dez segundos, Nick parou.
Em sua mão estava uma pequena pedra curva com menos de um centímetro de largura.
Naturalmente, isso não era nem de longe suficiente para o Grande Retransmissor.
No entanto, Nick estava com pouco Zephyx e precisava se recuperar primeiro.
A CEZ apenas continuou observando Nick.
Alguns segundos depois, Nick retomou a construção da pedra.
Com base em seu progresso, ele provavelmente levaria vários minutos para concluir uma das pedras.
A CEZ não demonstrou, mas percebeu que Nick estava se tornando melhor em conjurar materiais a uma velocidade assustadora.
Ou esse Espectro tinha algum tipo de talento inato para conjuração, ou havia aprendido uma quantidade aterradora de informação ao longo da vida, o que lhe dava uma habilidade poderosa de aprendizado.
No entanto, a CEZ estava apenas minimamente curiosa.
O talento não importava.
No fim das contas, esse Espectro também era apenas mais um na tropa de servos da Ira.
Esse talento não mudava nada.