A mente de Nick entrou em frenesi assim que ele percebeu o que estava acontecendo.
Um dos Sete Corruptores, Ira, iria matá-lo!
No entanto, Nick só acreditou nisso por um instante antes de sua mente recobrar a racionalidade.
E quanto mais pensava, mais respostas encontrava.
“Eles não me perceberam enquanto estavam lá dentro, já que minha habilidade não foi ativada antes. Ainda assim, sabiam que eu estava aqui fora sem me sentir.”
Nick se lembrou da porta que havia se fechado de forma tão repentina atrás da CEZ.
Ele já havia achado aquilo estranho, e de fato, era estranho.
Que porta se fecharia com tanta força e violência logo após o pé de alguém mal cruzar a soleira?
“Ela tem algum tipo de reação automática ao Zephyx de Espectro”, Nick percebeu. “Assim que me aproximei da porta, ela se fechou com força porque sentiu meu Zephyx. A CEZ não me viu, mas assim que a porta bateu, ela soube que tinha um Espectro aqui.”
“Se ela fosse humana, teria saído correndo do prédio imediatamente e chamado o Governador por ajuda. Afinal, mesmo que não soubesse o quão forte eu era, entenderia que eu precisava estar confiante em derrotá-la para segui-la tão de perto.”
“No entanto, ela obviamente não é humana”, pensou Nick. “Nenhum humano ousaria interagir com um dos Sete Corruptores.”
Nick desceu lentamente do teto, e os olhos da CEZ se fixaram nele imediatamente.
Comparado com a forma como ela havia se comportado durante seu grande discurso mais cedo, agora ela parecia quase morta.
Não havia emoções em seu rosto. Era quase como se um cadáver estivesse olhando para Nick.
Um segundo depois, Nick voltou à sua forma humana e olhou para a estátua que representava Ira.
Seus olhos estavam tão mortos quanto os da CEZ.
— Um Espectro de Força que pode se transformar em humano — Ira disse com os dentes cerrados.
Se Nick não soubesse que Ira era um Espectro, pensaria que Ira estava frustrado e com raiva dele.
— Por que seguiu minha serva? — Ira perguntou, como se estivesse se esforçando para não explodir com Nick.
Nick não respondeu de imediato.
Quanto mais analisava a situação, melhor ela lhe parecia.
Na época em que viu Inveja, estava à mercê dela.
Inveja teria sugado o poder de Nick, e não haveria nada que Nick pudesse fazer.
Mas agora as coisas eram diferentes.
Esse não era o corpo verdadeiro de Ira.
Era apenas uma fração de seu poder, manifestada pelo Grande Retransmissor.
Um João estaria indefeso, mas Nick era um Especialista ou Fanático.
Embora Ira tivesse um poder tremendo, não havia como usá-lo naquele momento.
A única ameaça era a CEZ, mas Nick podia fugir dela sem qualquer problema.
Na pior das hipóteses, só precisaria fugir da cidade e procurar outra.
Por fim, Ira acreditava que Nick era um Espectro.
Isso significava que Nick não estava aliado à humanidade, o que era a única coisa que o tornaria perigoso.
Em resumo, Nick não era o inimigo.
Pelo menos, em suas mentes.
“Isso pode realmente ser uma boa oportunidade.”
— Comida — Nick respondeu com calma, cruzando os braços com tranquilidade. — Eu não sabia que você também era um Espectro.
A CEZ olhou para Nick com serenidade enquanto Ira estreitava os olhos com ódio.
— Fale a verdade ou morra! Você é um Fanático Iniciante. Minha serva é uma Fanática no Pináculo. Atacar minha serva é arriscado demais! — Ira trovejou com uma voz profunda.
— É a verdade — Nick respondeu com naturalidade. — Eu assassino pessoas. Matar sua serva não é difícil para mim.
— Como? — Ira perguntou, enfurecido.
Espectros tinham muitas habilidades especiais, mas Nick estava afirmando que podia superar quase um nível inteiro, o que era insano.
— Não vou contar — Nick respondeu com tranquilidade. — Você não está realmente aqui. Você é apenas um Grande Retransmissor.
— Eu não estou aqui, mas meus servos estão espalhadas pelo mundo — Ira falou com uma voz ameaçadora. — Eu sei quem você é. Eu sei onde você está. Sirva-me ou seja caçado por meus servos.
A expressão de Nick não mudou. — Posso simplesmente me juntar a um dos outros seis. Os poderes deles me protegerão dos seus.
— Inútil! — Ira gritou. — Servidão é servidão. Servir a mim ou a outros não faz diferença para você!
— Mas não servir a ninguém faz diferença — Nick respondeu. — Neutralidade não equivale a inimizade.
— Incorreto! — Ira gritou. — Servidão exige decisão! Você está comigo ou contra mim!
— Sirva-me ou morra!
Nick olhou para Ira com neutralidade por um tempo.
— Tudo bem, eu vou servi-lo — disse.
— Ótimo! — Ira respondeu com um sorriso malicioso.
Ira acreditava que Nick realmente o serviria de todo o coração agora?
Claro que não!
Nenhum Espectro acreditaria nisso.
Entre os Espectros, não existia lealdade verdadeira.
A única forma de se ter um Espectro como servo era sendo o maior perigo para sua vida.
Assim que um perigo maior surgisse, eles imediatamente o trairiam e ajudariam esse novo perigo.
Se houvesse um Espectro mais forte que Ira disposto a aceitar um Espectro, o Espectro o seguiria imediatamente, e todos sabiam disso.
Se houvesse uma forma de fugir da… ira da Ira, o Espectro faria exatamente isso.
Não havia lealdade.
Claro, os Sete Corruptores sabiam disso, e foi por isso que chegaram a um acordo.
Roubar servos era proibido.
Porque se começassem a roubar servos, nenhum deles teria servos.
Afinal, um servo era valioso, e se qualquer servo encontrasse um servo mais forte de outro Corruptor, ele apenas trocaria de lado imediatamente.
Nesse ponto, não importaria mais quem serviria a quem. Nenhum dos Espectros morreria mesmo. Eles apenas trabalhariam para o servo mais forte que encontraram, até encontrarem outro mais forte.
Eles também nem precisariam fazer muito trabalho. Só precisavam ser mais valiosos do que seu custo metafórico de administração.
Por causa disso, apesar do ódio que sentiam uns pelos outros, o Trio da Destruição e os Sete Corruptores concordaram que a servidão era para a vida toda.
Era permitido matar os servos dos outros, mas era proibido aliciá-los exatamente por esse motivo.
Todos queriam ter servos.
Nick não sabia disso antes de ‘aceitar’ tornar-se servo de Ira, mas Ira explicou isso muito rapidamente, embora de forma mais direta e curta.
— Se alguém descobrir que você é meu servo, vão matá-lo. Não há como sobreviver. Você está ligado a mim para sempre!
Foi basicamente tudo o que ele disse.
No entanto, Nick não estava realmente com medo ou nervoso.
Na verdade, estava até um pouco empolgado.
“Isso pode se revelar incrível para a humanidade e para a Égide!”, Nick pensou, olhando com tédio para a escultura da Ira. “Não há como um humano entrar para as fileiras dos Espectros para obter informações internas. A comunicação entre os dois lados é impossível, já que não existe chance de alguém de um lado ajudar o outro. Além disso, é extremamente fácil descobrir a que lado alguém pertence.”
“Eu sou a única pessoa… ou ser… que pode transitar entre os dois lados. Naturalmente, ainda estou do lado da humanidade, mas nenhum Espectro pode saber disso. Mais ainda, eles nem suspeitariam que eu sou servo de outro Espectro, já que, logicamente, o perigo imediato à minha frente é mais perigoso do que um perigo distante.”
“E como os Espectros só seguem a lógica, não há como eu escolher me colocar intencionalmente em mais perigo do que o necessário.”
“Tenho uma oportunidade única de aprender sobre os inimigos da humanidade por dentro!”
— O que você sabe fazer? — Ira perguntou com os olhos semicerrados.
— Sou bom em assassinato e em me manter escondido — Nick disse.
Naturalmente, Ira queria saber mais sobre as habilidades de Nick, mas sabia que Nick não contaria.
Quanto mais Ira pressionasse, maior seria a chance de Nick estimar que suas chances de sobreviver fugindo seriam maiores do que ficando ali.
Ter um servo Espectro era como segurar uma enguia viva nas mãos. Enquanto a enguia acreditasse que não seria morta, não ficaria louca, mas se fosse pressionada demais e posta em muito perigo, escorregaria das mãos e tentaria escapar se debatendo no chão.
Havia esse cálculo de risco inquebrável.
A chance de uma tentativa de assassinato ocorrer multiplicada pela chance de ela ter sucesso.
Se os dois números fossem muito altos, o servo tentaria fugir.
Se fugir diminuísse a chance total de morte, o servo o faria.
Ao saber mais sobre o servo, aumentava-se a chance de sucesso ao matá-lo.
No entanto, isso significava que o líder não poderia mais pressionar o servo com ameaças.
Tentar fugir sempre elevaria a chance de uma tentativa para 100%, mas reduziria muito a chance de sucesso da tentativa.
Se essa troca valesse a pena, o Espectro a aceitaria.
Assim, no fim das contas, Ira não perguntou sobre a habilidade específica de Nick.
Perguntar significaria que não poderia usá-lo tanto quanto queria.
— Consegue se esconder entre humanos? — Ira perguntou.
— Não preciso — Nick respondeu. — Apenas pego o que quero.
Ira permaneceu em silêncio por um tempo.
— Não preciso de você nesta cidade.
— Preciso de você em outro lugar.
— Mas antes…
— Você precisa saber como me contatar para receber ordens.
— Minha serva vai te ensinar como criar um Grande Retransmissor.
Nick imediatamente se interessou, mas não demonstrou.
— Okay.