— Fiquem para trás! Eu vou atirar! — gritou um dos guardas em frente à Sabor que Dá Felicidade ;), apontando suas armas para a multidão.
Várias pessoas na multidão já estavam feridas, mas isso não parecia intimidar os outros.
Na verdade, só os deixava mais agressivos.
Por enquanto, ninguém havia sido morto.
Embora os Extratores da Sabor que Dá Felicidade 😉 enfrentassem Espectros de vez em quando, eles nunca haviam lutado contra outros Extratores.
Afinal, as outras Fabricantes nunca os tocavam.
Não havia motivo para lutar.
Por causa disso, nenhum deles jamais havia matado um humano antes, e não gostavam da ideia de serem forçados a isso.
Eles fariam, se fosse necessário, mas queriam esgotar todas as outras opções antes de puxar o gatilho.
Os gritos aumentaram.
A pressão cresceu.
BANG!
Uma Barreira apareceu ao redor de um dos Extratores que guardavam o prédio pouco antes do som de um disparo ecoar pelo entorno.
Os guardas imediatamente focaram em um João com um rifle.
O guarda que havia sido alvo do disparo ficou chocado.
Depois, apavorado.
Então, todo o terror se transformou em raiva.
Ele pegou sua lança e a lançou.
BANG!
A lança atravessou a Barreira do João, perfurou sua cabeça e o pregou a uma parede.
Silêncio.
A primeira pessoa havia sido morta.
Todos olharam para o cadáver.
Enquanto isso, o Veterano que acabara de ser atacado cerrou os dentes.
— Todos para trás! — gritou agressivamente, girando outra lança no ar. — Eu vou fazer de novo se vocês não recuarem!
Seus colegas respiraram fundo, mas rapidamente lhe deram apoio.
— Para trás! — gritaram.
A multidão recuou alguns passos.
Mas não se dispersou.
Em vez disso, ficou em silêncio e começou a cochichar entre si.
Isso parecia bom, mas os guardas sabiam que não era.
O sussurro parecia… malicioso.
Era como se a multidão estivesse planejando uma forma de invadir o prédio.
Os guardas observaram enquanto algumas pessoas puxavam discretamente suas armas.
A atmosfera ficou pesada e tensa.
E então…
— A Governadora! — gritou alguém.
Todos se viraram e viram uma mulher mais jovem, de cabelos pretos, aterrissando ao lado da multidão.
Por alguns segundos, ela observou a multidão.
Ninguém ousou falar com ela.
Um instante depois, vários guardas da cidade surgiram atrás dela.
Eram Especialistas e Peritos.
— Todos os reunidos aqui estão presos — declarou a Governadora.
Os olhos da multidão se arregalaram de horror.
Todos?
Ela iria prender todos?
Mas a maioria deles nem havia feito nada!
Só estavam ali parados!
Claro, alguns haviam atacado os guardas, mas a maioria só observava.
Mas as pessoas viam que a Governadora estava decidida a seguir por esse caminho.
Ainda assim, isso não refletia os verdadeiros sentimentos da Governadora.
Ela também achava que prender todos era um erro.
Um momento depois, a imagem do Espectro aterrorizante atravessou sua mente.
Ela só estava fazendo isso por ordens dele.
O Espectro havia dito o que aconteceria.
Dissera que alguém da Sabor que Dá Felicidade 😉 viria falar com ela para pedir ajuda.
Também havia previsto a turba de pessoas.
E, por fim, também dissera como lidar com elas.
— Você vai prender todos os membros da multidão, e vai dividi-los em diferentes celas com base em seu poder — dissera o Espectro.
Ao ouvir isso, ela ficou nervosa.
Sim, era a governante da cidade, mas fazer algo assim parecia transformar a cidade inteira em sua inimiga.
Fazer milhares de pessoas se voltarem contra si era assustador, mesmo que fossem muito mais fracas do que ela.
— Prendam todos — ordenou ela aos guardas da cidade atrás de si.
Naturalmente, os guardas também não estavam satisfeitos com essa decisão, mas não demonstraram.
Com profissionalismo, avançaram para prender as pessoas.
A multidão protestou.
— Isso é injusto!
— Eu não fiz nada!
— Socorro! Estou sendo agredido!
— Isso é tirania!
— Você não pode fazer isso! Sou inocente!
— Eu sou trabalhador senhor!
Os primeiros detidos foram levados pelos guardas poderosos enquanto a Governadora continuava observando a multidão.
Ela mantinha o olhar firme e dominador.
Ainda assim, isso não refletia seus pensamentos.
Por dentro, ela estava apavorada.
Sim, era poderosa, mas ainda havia algo que temia.
Ela esperava que as próximas palavras do Espectro não se tornassem realidade.
Infelizmente, essa esperança morreu assim que viu um Veterano disparar da multidão.
As palavras do Espectro ecoaram em sua mente.
— Algumas pessoas vão tentar fugir — ele dissera.
— E você vai matá-las.
A Governadora só havia matado três pessoas em toda a vida, e todas tinham poder semelhante ao seu.
Aquele era apenas um Veterano.
Alguém que não representava ameaça para ela.
Mas agora, deveria matá-lo?
Ela não queria matá-lo.
BANG!
O Veterano explodiu em uma nuvem de carne e sangue.
Mas ela teve que fazer isso…
Se não obedecesse, ela seria a próxima.
Aquele Espectro parecia perigoso e poderoso demais.
Ela sequer pensava em desobedecer às ordens dele.
“Por que você teve que correr, seu idiota?”, pensou ela com os dentes cerrados.
“Eu não queria ser uma assassina, sabia?”
— Ninguém se mexe — ela disse friamente.
“Eu só queria ser mais forte.”
“Me sentia sufocada nessa cidade pequena. Só queria me tornar uma Agente e sair daqui.”
A multidão congelou.
“E daí se eu trabalhei com um Espectro por um tempo? Como mais eu deveria ficar mais forte?”
De repente, várias pessoas correram apavoradas.
A pressão da fúria de uma Herói era demais para algumas suportarem.
A Governadora viu as pessoas se dispersando, e uma máscara de fúria interminável surgiu em seu rosto.
BANG! BANG! BANG! BANG!
“Vocês teriam feito o mesmo!”
Várias nuvens de carne e sangue apareceram.
Todas as pessoas que tentaram fugir foram mortas.
“Vocês teriam feito o mesmo!”
Ninguém ousou se mover.
A Governadora acabara de matar sete pessoas!
“Vocês também teriam escolhido seu próprio poder em vez da felicidade dos outros!”
“Isso é normal!”
“Isso é humano!”
“São vocês que estão me forçando a matar!”
“São vocês que estão me ferindo com essa culpa, arrependimento e dúvida!”
“Vocês não são melhores do que eu!”
“São tão horríveis quanto eu!”
A Governadora encarava a multidão em silêncio, cheia de ódio interminável.
Ninguém sabia no que ela estava pensando.
Só sabiam que não deviam se mover.
Algum tempo depois, os guardas voltaram.
Eles rapidamente pegaram o próximo grupo de prisioneiros e foram embora.
Após algumas idas e vindas, a multidão havia desaparecido.
— Governadora, fizemos 137 prisões — informou um Especialista.
A Governadora respirou fundo.
— Mantenham vigilância sobre eles — disse.
Então, as próximas palavras do Espectro ecoaram em sua mente.
— É provável — continuou — que eles comecem a se atacar.
Os guardas pareceram preocupados.
— Governadora, quais são suas ordens? Como devemos agir se eles realmente começarem a brigar? — perguntou o Especialista.
— Qualquer um que iniciar violência física será executado imediatamente e sem piedade — respondeu ela.
Com essas palavras, causaria a morte de dezenas de pessoas.
Ainda assim, isso não parecia nem de longe tão ruim quanto matar alguns humanos com as próprias mãos.
Tomar uma decisão que levaria à morte de cem pessoas era mais fácil para a mente do que sufocar uma pessoa até a morte.
Os guardas não gostaram nem um pouco.
— Governadora, tem certeza? Deve haver outro jeito. Podemos contê-los e esperar que eles…
— Eu dei uma ordem — respondeu a Governadora, sem deixar o Especialista terminar. — Qualquer um que iniciar violência será executado.
Os guardas ficaram surpresos.
Conheciam a Governadora há muito tempo, e jamais imaginaram que ela tomaria uma decisão dessas.
Claro, ela não era a mais simpática, mas sempre parecia bastante diplomática em suas ordens.
Na verdade, seus críticos até diziam que ela jogava no seguro, tentando não irritar ninguém da cidade.
Mas isso definitivamente não era jogar no seguro.
Um momento depois, a Governadora olhou para o prédio da Sabor que Dá Felicidade ;).
— Quero uma investigação completa da Sabor que Dá Felicidade 😉 — ordenou. — Todos os seus Espectros serão confiscados e contidos pela cidade. Qualquer Fabricante que quiser acesso a esses Espectros terá que negociar comigo pessoalmente.
— Se algum Espectro desaparecer, buscarei compensação com a cabeça dos envolvidos.
— Quero cada Extrator dessa empresa em Unidades de Contenção, e quero todos interrogados.
— Quero saber o que está acontecendo nessa empresa e de onde vem esse chocolate.
— Quero todas essas paredes derrubadas!
Então, ela se virou e encarou seus guardas.
— Quero que tudo seja feito conforme o protocolo — falou num tom ameaçador.
— E se eu encontrar qualquer coisa… QUALQUER COISA… que pareça suspeita…
Na mente da Governadora, a imagem do Espectro aterrorizante pareceu sorrir.
— Eu não hesitarei em coletar cabeças!