— Espera um segundo!
A porta se abriu, e o CEZ da Abismo em Espiral saiu correndo.
— Tem mais alguma coisa que deseja? — perguntou a Governadora com irritação.
O homem de meia-idade de cabelos negros olhou surpreso e chocado para a Governadora.
Sério, que diabos estava acontecendo com ela?!
Por que ela estava assim de repente?!
Normalmente, alguém como o CEZ da Abismo em Espiral já se sentiria insultado e se tornaria mais agressivo, mas sua surpresa superava em muito a raiva.
Ele simplesmente não sabia como interagir com a Governadora naquele momento.
— Você, você não pode simplesmente dizer uma coisa dessas e achar que o assunto está encerrado! — gritou o CEZ.
A porta se abriu novamente, e as outras três pessoas também saíram.
— Estamos aqui por justiça! Não estamos aqui…
De repente, o CEZ parou de falar, surpreso.
A Governadora apenas se virou e continuou andando pelo corredor sem dizer nada.
O quê?!
Por quê?!
Por que ela estava assim de repente?!
Por dentro, a Governadora estava extremamente nervosa, mas fazia um trabalho tremendo em esconder isso.
Ela sentia como se estivesse brincando com fogo.
Aquilo parecia uma ideia realmente, realmente ruim!
Por que o Espectro estava forçando-a a desrespeitar aquelas pessoas daquele jeito?!
A Governadora queria aliviar a tensão, mas o Espectro continuava sussurrando para que ela se mantivesse firme e desdenhosa.
— Espera! — gritou o CEZ.
— Escuta! — explodiu a Governadora ao se virar bruscamente com a voz frustrada. — Para com essa merda!
O CEZ ficou em silêncio novamente, recuando a cabeça com uma expressão chocada.
— Você está representando uma Fabricante — disse a Governadora com irritação. — Você quer dinheiro. Quer vantagens. Quer tratamento especial. Quer crescimento.
— As únicas coisas que se importam com justiça são os humanos, e empresas não são humanas.
— Tentar fingir que você se importa com qualquer uma das pessoas que morreram nos últimos dias é o mesmo que insultar minha inteligência.
— Todos nós somos veteranos da indústria. Todos nós já matamos pessoas antes. Todos nós já quebramos a lei antes.
— Escuta, eu não tenho tempo nem energia pra brincar com o seu joguinho político. Eu te dei a chance de se tornar o monopólio da produção de Zephyx na cidade.
— M O N O P Ó L I O! — disse a Governadora, lentamente.
— Tem mais alguma coisa que você quer? — perguntou ela, antes de se virar para o Diretor Executivo da Abismo em Espiral. — A Abismo em Espiral quer ainda mais do que isso? Isso não é suficiente? Ser o monopólio não é suficiente? Me diga!
O CEZ ficou cada vez mais chocado.
Quem era aquela pessoa?!
Quem diabos era aquela?!
— Espera um segundo — disse o Diretor Executivo da Abismo em Espiral, olhando para o CEZ.
O CEZ olhou confuso para o Diretor Executivo.
Depois, olhou de novo para a Governadora.
E então voltou a olhar para o Diretor Executivo.
Por fim, balançou a cabeça, confuso, e caminhou até o Diretor Executivo.
O Diretor Executivo respirou fundo e encarou a Governadora com uma expressão séria.
— Você pode, mais uma vez, confirmar o que disse antes? — perguntou ele. — Você disse que teríamos a oportunidade legal de enfrentar nossos concorrentes sem nenhuma restrição da lei. Está correto?
— Não totalmente — disse a Governadora. — Vocês precisam manter os danos civis no mínimo. Isso naturalmente inclui incriminar o outro lado pelas baixas civis.
— Nós jamais…
— Ssshh! — o Diretor Executivo silenciou rapidamente o CEZ antes de voltar a olhar para a Governadora. — Pode ser um pouco mais específica?
— Trabalho desnecessário demais — disse a Governadora. — Estou sendo honesta com vocês agora. Não estou usando algum tipo de linguagem política sofisticada que possa ser interpretada de formas estranhas que me permitam brincar com vocês. Estou sendo sincera aqui.
— Não seja um babaca — disse ela lentamente. — É tudo o que eu peço. Apenas não seja um babaca, e não teremos problemas.
Um momento depois, o Diretor Executivo sorriu de canto.
Mas seu sorriso não era de vitória nem de arrogância.
Era mais como o sorriso de alguém que está ansioso por uma boa competição ou uma boa briga.
— Por mim, tudo bem — disse o Diretor Executivo.
— Mas…
— Se você está sendo honesta, eu também serei.
A Governadora assentiu casualmente.
No momento seguinte, o Diretor Executivo estreitou os olhos, e sua aura se tornou extremamente dominante e ameaçadora.
— Se você decidir quebrar sua neutralidade…
— Existem Demônios selvagens por aqui…
Ele não disse diretamente, mas todos entenderam.
Ele tinha dito que matariam a Governadora.
Naturalmente, isso nunca tinha acontecido antes naquela cidade, e nenhum deles jamais teria acreditado que isso poderia acontecer.
Afinal, todos estavam jogando esse jogo político refinado, e fazer algo assim era tabu.
A Governadora havia quebrado as regras do jogo político com suas declarações francas, e o Diretor Executivo da Abismo em Espiral havia feito o mesmo.
De certa forma, quebrar as regras era como descer um nível ou rebaixar-se, e o Diretor Executivo a havia seguido para esse nível mais baixo.
Agora, ele só queria uma confirmação.
E a Governadora respondeu.
— Naturalmente — disse ela casualmente com um aceno de cabeça.
Os olhos do Diretor Executivo brilharam um pouco antes de ele lançar um olhar para as duas pessoas da Caixa Vertigem.
As duas pessoas da Caixa Vertigem retribuíram o olhar.
O único que parecia um pouco confuso naquele momento era o CEZ da Abismo em Espiral.
Todo o resto parecia ter aceitado o novo estado político.
— Finalmente — disse o CEZ da Caixa Vertigem. — Estou ansioso para me provar já faz um tempo.
No momento seguinte, o Diretor Executivo da Caixa Vertigem avançou e estendeu a mão ao Diretor Executivo da Abismo em Espiral com um sorriso.
— Vamos ter uma luta boa e limpa — disse ele.
O Diretor Executivo da Abismo em Espiral apertou sua mão e devolveu o sorriso.
— Não morra tão rápido — disse ele casualmente, como se comentasse sobre o clima.
Os dois se encararam por quase cinco segundos enquanto ainda apertavam as mãos.
Foi tanto tempo que já começava a ficar constrangedor.
— Bem, então — disse o Diretor Executivo da Abismo em Espiral com carisma ao puxar a mão de volta e olhar para a Governadora. — Vamos indo. Temos… coisas para preparar.
A Governadora apenas assentiu.
O Diretor Executivo da Abismo em Espiral passou por seu CEZ e fez um gesto para que ele o seguisse.
O CEZ coçou a nuca, deu de ombros e foi atrás do Diretor Executivo.
— Governadora — disse o Diretor Executivo da Caixa Vertigem.
A Governadora olhou para ele.
— Essa foi uma… conversa interessante — disse o Diretor Executivo — mas não desagradável. Estou ansioso para trabalhar mais de perto com você no futuro.
A Governadora assentiu, e as duas pessoas da Caixa Vertigem também deixaram o prédio.
Depois que saíram, o corpo da Governadora vacilou um pouco, e ela começou a respirar rapidamente, enquanto seu olhar frio se transformava em um de choque.
Funcionou!
Funcionou?
Como aquilo funcionou?!
Qualquer uma dessas duas empresas poderia matá-la, mas simplesmente agindo como uma babaca desdenhosa, ela não só conseguiu não irritá-los, como até os deixou satisfeitos?
Eles tinham vindo para exigir compensações!
Eles estavam furiosos com ela!
Mas agora, saíram felizes sem nem mesmo pedir que ela sacrificasse algo!
Isso… como isso era possível?!
— Surpresa? — falou uma voz em sua mente.
Naturalmente, aquela voz vinha de Nick.
Nos últimos meses, enquanto Nick vigiava a cidade, ele também havia praticado um pouco mais a criação de linhas de manipulação.
Como era muito mais fácil para os Espectros criarem linhas de manipulação em seus Núcleos de Espectro, Nick também não precisava de muita prática para encontrar uma forma de enviar sua voz para alguém.
Nick havia descoberto várias formas de enviar sua voz, e o método que criou era bastante único.
As palavras que Nick queria falar eram interpretadas em Zephyx, que então era enviado à cóclea de uma pessoa. A cóclea então interpretava diretamente o Zephyx em sinais nervosos que imitavam uma voz humana. [1]
Comparado à fala normal, a velocidade era quase instantânea, e o sinal não se estendia a outras pessoas, tornando quase impossível alguém escutar.
Alguém poderia pensar que essa técnica serviria como um ataque mental, mas infelizmente, não era o caso.
Qualquer coisa perigosa seria bloqueada pela Barreira.
A única razão pela qual Nick conseguia tornar essa técnica utilizável em pessoas fortes era porque já tinha aprendido bastante sobre Zefologia até então, o suficiente para acessar os canais de transmissão das Barreiras.
Esses canais de transmissão eram livremente acessíveis, mas era preciso aprender como acessá-los primeiro.
Caso contrário, toda transmissão de voz seria bloqueada pelas Barreiras.
A Governadora respirou fundo e assentiu.
Sim, ela estava surpresa.
— Eles estão acostumados com pratos sofisticados, garfos brilhantes e facas bonitas quando comem — transmitiu Nick. — No entanto, só usam isso porque todos os outros também usam.
— Mas se você usar as palavras certas e a atitude certa, pode pedir que comam com as mãos.
— A maioria das pessoas só quer comer e acabar logo com isso, e contanto que não estejam inseguras, ficarão bem em usar as mãos se isso tornar tudo mais rápido.
— Eles querem mais poder.
— Todo o poder está nas mãos do outro lado.
— E você os deixou atacar esse lado.
— Não importa como você apresente isso. O fato é que deu exatamente o que eles queriam.
— Além disso, como você foi tão vaga com as regras, eles vão pecar pelo excesso de cautela na batalha, causando menos problemas para as pessoas comuns.
— Agora, só precisamos lidar com o motim do lado de fora do portão.
— E isso vai ser ainda mais fácil.
A Governadora olhou para a saída do prédio.
Então, respirou fundo e saiu.
Nota:
[1] Cóclea é uma cavidade espiralada no ouvido que é responsável pela audição, é o lugar onde a energia mecânica do som é convertida em sinal elétrico, que então é transmitido ao cérebro.