Um grupo de sete pessoas se entreolhava enquanto permaneciam em círculo.
Três delas estavam presentes fisicamente, enquanto as outras quatro eram representadas por projeções em grandes painéis de vidro.
— Helia Janus. Codinome: A Braço Esquerdo. Presente. Linha segura via presença do Campeão — disse a Braço Esquerdo de um dos lados da sala.
Seus cabelos pretos e o rosto mais velho lhe conferiam uma aura intensa de liderança enquanto lançava um olhar à pessoa à sua esquerda.
Após terminar de falar, a pessoa à sua esquerda coçou a parte de trás da cabeça com um ar constrangido, seus cabelos brancos desgrenhados.
— James Cloudless. Codinome: O Técnico. Presente. Linha segura via presença do Campeão — acrescentou o Técnico.
Então, o Técnico olhou para o holograma à sua esquerda.
À sua esquerda estava o holograma de um homem com quase dois metros de altura. O homem era bastante volumoso, e não era possível dizer se aquilo era músculo ou não.
O homem sorriu com uma mistura de alegria e confiança enquanto colocava as mãos na cintura.
— Bieronymus Hosch. Codinome: O Muralha. Presente. Linha segura via Barreira de Isolamento grau S — disse o Muralha.
— Elabore sobre a Barreira de Isolamento — ordenou a Braço Esquerdo com um tom sério.
O Muralha balançou a cabeça e suspirou, impotente, mas obedeceu. Durante cerca de 30 segundos, falou sobre diferentes configurações e padrões que sua Barreira seguia.
— Reconhecido — disse a Braço Esquerdo após o Muralha terminar de explicar sua Barreira de Isolamento.
Então, todos voltaram o olhar para a esquerda do Muralha, o próximo holograma.
O holograma era de uma garotinha que mal aparentava ter mais de dez anos. Ela parecia suja e desnutrida, mas seus cabelos brancos e seu sorriso brilhante a faziam parecer radiante.
— Henrietta Opfer. Codinome: A Faca. Presente. Linha segura via conexão direta por Barreira de Conferência de Fortaleza grau A — falou a garotinha com naturalidade.
Sem esperar que a Braço Esquerdo perguntasse, a Faca explicou como funcionava a Barreira naquele local.
Naturalmente, todos ali sabiam como essas Barreiras funcionavam.
O motivo de todos precisarem falar sobre como haviam garantido sua conexão era provar que eram realmente quem diziam ser.
Dependendo de onde se conectavam, esperava-se que dissessem frases-chave diferentes como autenticação secreta.
Aqueles eram os Escudos da Égide, e estavam discutindo assuntos de altíssimo sigilo.
Os inimigos da Égide eram Espectros extremamente poderosos, e alguns desses Espectros tinham a capacidade de usar equipamentos humanos e se disfarçar como humanos.
Era imperativo que nenhum Espectro conseguisse se infiltrar em uma dessas reuniões.
— Reconhecido — disse a Braço Esquerdo antes de olhar para o próximo holograma.
A próxima pessoa era um homem que aparentava estar na casa dos vinte e poucos anos. Tinha cabelos pretos e parecia tão sério quanto a Braço Esquerdo.
De certo modo, parecia uma versão masculina mais jovem da Braço Esquerdo.
— Mendez Silpheon. Codinome: O Político. Presente. Linha segura via Barreira de Isolamento grau S — falou com uma voz sem emoção.
Depois, falou sobre sua Barreira por cerca de meio minuto antes de silenciar.
— Reconhecido — disse a Braço Esquerdo antes de se virar para a próxima pessoa.
O próximo holograma era de um homem mais alto, de cabelos loiros. Tinha cerca de 1,85 metro de altura, postura firme, relativamente musculoso e vestia uma armadura brilhante.
Era um dos únicos dois que não usavam os uniformes da Égide.
Sua aura era confiável, poderosa, resplandecente e heroica.
— Byron Inferno. Codinome: O Braço Direito. Presente. Linha segura via Barreira de Conferência de Fortaleza grau A — falou com uma voz autoritária, mas encorajadora.
Assim como os outros, ele falou por um tempo sobre como havia protegido sua conexão.
Naturalmente, não bastava repetir o que alguém já havia dito.
Havia muitas frases-chave possíveis, e era necessário citar quatro apropriadas, sem repetir nenhuma já usada.
— Reconhecido — disse a Braço Esquerdo.
Por fim, ela se virou para a pessoa à sua direita.
Essa pessoa também estava à esquerda do Braço Direito.
Naturalmente, havia apenas uma pessoa que teria o Braço Direito à sua direita e a Braço Esquerdo à sua esquerda.
— Todos estão presentes, Campeão — falou a Braço Esquerdo com respeito.
— Ótimo — disse uma voz retumbante.
A voz vinha de um homem que brilhava com uma luz laranja-escura.
O homem tinha cabelos brancos e aparentava estar no início dos trinta. Seu rosto era anguloso, e suas sobrancelhas pareciam espadas.
Sua voz sombria preenchia toda a sala com autoridade e poder.
Sua aura falava de uma única coisa.
O topo.
O líder.
O auge.
O rei.
Ele era o líder de toda a humanidade, o Campeão da Luz.
Era o outro que não usava os uniformes da Égide.
Em vez do uniforme, ele vestia uma camisa branca e uma calça preta justa ao corpo.
De certo modo, parecia um executivo vestindo-se de forma relativamente casual para os seus padrões.
— A conferência mensal está oficialmente iniciada — disse o Campeão antes de se virar para a sua direita. — Byron, quais são as novidades do seu lado?
Todo mês, todos os Escudos realizavam uma grande conferência para trocar informações.
Essas reuniões não existiam antes de o novo Campeão da Luz assumir.
O novo Campeão havia criado esses encontros para que todos pudessem se manter atualizados sobre os assuntos com que os outros estavam lidando.
Na época em que chegou à Égide para reivindicar seu trono por direito, ele havia ficado furioso com a confusão caótica de informações.
Alguns Escudos lhe diziam uma coisa, enquanto outras diziam outra.
Era quase como se a mão direita não soubesse o que a esquerda fazia.
Desde então, cada Escudo era obrigado a comparecer à conferência mensal para compartilhar informações.
— Localizei a Fome Eterna em uma área de 10.000 quilômetros quadrados — disse o Braço Direito. — Continuarei refinando a localização sem ser detectado.
O Campeão da Luz assentiu com seriedade. — Já decidiu o destino da Fome Eterna?
— Ainda não, Campeão — respondeu o Braço Direito. — Matar a Fome Eterna tornaria possível a vida no mundo externo novamente, mas sem seu efeito dissuasor, a Falsa Esperança se tornaria praticamente imparável.
A Fome Eterna e a Falsa Esperança provavelmente eram os dois Adversários mais amplamente conhecidos.
A Fome Eterna criava inúmeras gosmas negras por todo o mundo que atacavam qualquer coisa viva.
A Falsa Esperança criava florestas falsas que matavam qualquer ser vivo que entrasse.
Esses dois estavam em guerra constante, já que ambos caçavam o mesmo tipo de presa.
— Não há esperança de contenção? — perguntou o Campeão.
— Eu precisaria da ajuda de Helia e Bieronymus para ter uma chance, e precisaria deles por um tempo — respondeu o Braço Direito.
O Campeão estreitou os olhos e olhou para o chão.
Era arriscado.
— Não vale a pena — disse o Campeão após um tempo. — Deixarei a decisão a seu critério.
O Braço Direito assentiu.
Isso deixava apenas as opções de matá-la ou tentar forçar os dois Adversários a um confronto final.
Se o Braço Direito conseguisse localizar com precisão a Falsa Esperança e a Fome Eterna, ele poderia encontrar uma forma de fazê-los se encontrar.
Não havia garantia de que algum dos dois morreria no confronto, mas certamente sairiam enfraquecidos, e o caos resultante poderia criar oportunidades para a Égide lidar com um ou com ambos.
Isso era tudo o que o Braço Direito tinha a relatar sobre o mês anterior.
Depois do Braço Direito, o Político falou sobre o que havia feito.
O Político tinha sido um dos alunos da Braço Esquerdo, e sua função era produzir Zephyx para a Égide como um todo.
O Político reunia dados do mundo inteiro para verificar como andava a produção de Zephyx e quais áreas estavam produzindo menos.
Também era sua função determinar novos assentamentos para novas cidades.
Depois do Político, foi a vez da Faca falar.
A Faca não tinha nenhum papel de liderança.
Ela era simplesmente uma assassina poderosa cuja função era localizar e caçar os inimigos da humanidade.
Também tinha sido ela quem encontrou o paradeiro da Peste alguns anos atrás.
Infelizmente, essa missão não deu em nada.
Depois da Faca, foi a vez do Muralha.
O Muralha era essencialmente o oposto da Faca.
Tinha uma gama imensa de habilidades defensivas, e sua função era proteger a humanidade dos Adversários.
Embora não fosse forte o suficiente para enfrentar os Adversários, seu conjunto de habilidades permitia ganhar tempo até a chegada da Faca para ajudar.
Quando a Faca e o Muralha trabalhavam juntos, eram mais fortes do que a Braço Esquerdo e o Braço Direito combinados.
Depois do Muralha, o Técnico apresentou seus relatórios.
Sua função era recursos humanos e pesquisa.
Por fim, chegou a vez da Braço Esquerdo relatar.
— Libertamos 16 cidades no Grande Continente da influência dos Espectros — ela disse.
Após ouvir isso, os outros a olharam surpresos.
Era muita coisa!
— Como conseguiram isso? — perguntou o Campeão.
A Braço Esquerdo não respondeu de imediato.
— James e eu estamos trabalhando em um projeto secreto há algumas décadas — ela disse. — A libertação dessas cidades é resultado desse projeto.
O Técnico sorriu sem graça enquanto coçava a parte de trás da cabeça.
Os outros olharam para a Braço Esquerdo.
Projetos secretos eram… malvistos.
Não havia motivo para manter segredos entre eles.
— Você conhece nossa política sobre segredos — disse o Campeão com tom de repreensão.
— Conheço — respondeu a Braço Esquerdo. — No entanto, se eu tivesse contado antes de haver resultados positivos, você teria mandado encerrar.
Silêncio.
— Explique — ordenou o Campeão.
A Braço Esquerdo respirou fundo.
— Temos um Espectro como aliado.