— Tenho a vantagem única de ser um Espectro com educação e treinamento humanos — respondeu Nick com calma. — Todos os outros Espectros precisam aprender tudo sozinhos e não passam por treinamento formal de combate.
— Nos meus primeiros anos de existência, me concentrei em aprender. Aprendi a lutar com armas, a me esconder, a assassinar pessoas e a entender como diferentes tecnologias funcionam.
— Meu status como Espectro me dá vantagens únicas nesse aspecto — explicou Nick.
— Vantagens suficientes para assassinar alguém vários níveis acima de você? — perguntou a Faca com desconfiança.
Nick assentiu. — Desde que meu ataque seja forte o suficiente para consumir quase todo o Zephyx de um humano, o nível de poder dele não importa mais. Sem Zephyx, um humano não consegue nem se mover.
— Uma Barreira é uma invenção genial que oferece vantagem em 99 de 100 combates. Infelizmente, Barreiras também são suscetíveis a exploração, desde que o inimigo saiba como elas funcionam. Outros não sabem como as Barreiras funcionam. Eu sei.
— Com licença, se me for permitido demonstrar — disse Nick, olhando para o Campeão da Luz e gesticulando discretamente, pedindo permissão.
O Campeão apenas assentiu.
Os Escudos o encararam com as sobrancelhas franzidas.
No momento seguinte, uma luz surgiu nos olhos do Campeão.
— Sua voz contornou minha Barreira e foi transmitida diretamente ao meu ouvido — falou o Campeão.
Quando os outros Escudos ouviram isso, ficaram bastante surpresos.
Esse tipo específico de transmissão de voz exigia conhecimento intricado sobre o funcionamento das Barreiras da Égide.
Depois de um momento, alguns dos Escudos lançaram olhares irritados para o Técnico.
Estava mais do que claro quem teria sido descuidado o suficiente para ensinar um Espectro a contornar as Barreiras da Égide.
O Técnico apenas ergueu as mãos num gesto de inocência. — O quê? Eu só observo ele, e isso são apenas as portas abertas. Qualquer um que entende um pouco de Barreiras pode acessar. Elas têm ‘aberta’ no nome por um motivo.
— Certo — disse a Faca depois de um tempo, ainda com a expressão fechada — mas como consegue poder suficiente para destruir a Barreira de alguém num instante?
— Desculpe — disse Nick educadamente — mas não me sinto confortável em compartilhar minhas habilidades.
— Habilidades? — repetiu o Político, com ênfase no final da palavra.
Nick assentiu. — Sim, tenho uma habilidade primária, mas como possuo um Núcleo de Espectro em vez de um Sincronizador Zephyx, também tenho uma vantagem única na Manipulação de Zephyx. Criei algumas habilidades secundárias que talvez não sejam muito poderosas, mas me dão o conjunto de habilidades perfeito para assassinatos.
— Meu conjunto de habilidades é muito específico. Se algum inimigo me detectar antes de eu atacar, meu poder mal ultrapassa o de um Espectro comum — disse Nick. — Sou bom em combate, mas sou excelente em assassinatos.
A Faca não respondeu, apenas continuou olhando para Nick com desconfiança e interesse.
— Pode confirmar o poder dele? — perguntou o Campeão à Braço Esquerdo.
— Sim, posso confirmar o poder dele — respondeu a Braço Esquerdo.
O Campeão assentiu antes de encarar Nick por um tempo sem dizer nada.
— Por que deveríamos aceitar sua ajuda? — perguntou.
— Acredito — respondeu Nick — que meus poderes podem ser de grande utilidade para a Égide. Como Espectro, possuo diversos atributos únicos que não podem ser replicados por humanos. Com minha ajuda, a Égide terá diversas novas opções para lidar com os outros Espectros.
— Embora eu entenda que possam me ver como uma ameaça — e esse seria o risco dessa troca —, devo acrescentar que essa ameaça só se tornaria real se humanos de poder semelhante ao meu fossem os responsáveis por me supervisionar.
— Eu poderia enganar e prejudicar a Égide em segredo se apenas um Especialista ou Herói me vigiasse, mas agora sou conhecido por todos os sete Escudos. Acredito que, com sete Escudos sabendo da minha existência e desconfiando de mim, não conseguiria causar nenhum dano significativo à Égide antes de desaparecer deste mundo.
Os Escudos observaram Nick por um tempo.
Uma coisa era clara.
Ele era bom em se vender.
— Pode ser verdade por agora — falou o Muralha em tom amigável — mas e quanto ao futuro?
— Poderia especificar? — perguntou Nick.
— E se você se tornar poderoso o suficiente para nos enganar? — perguntou o Muralha. — Hipoteticamente, é claro.
— Essa é uma possibilidade — respondeu Nick. — No entanto, se me permitirem atingir tal poder, nossa parceria já terá se entrelaçado de forma tão profunda que romper essa parceria causaria muito mais prejuízo do que benefício.
— Estou aqui porque acredito que posso alcançar mais trabalhando junto da humanidade do que lutando contra ela.
— Se eu quisesse dominar tudo, teria que eliminar todos os humanos poderosos, o que significaria me livrar da própria coisa que me permitiria crescer ainda mais.
— Uma vez li a frase: ‘matar a galinha dos ovos de ouro por causa da carne’. Não tenho certeza se era essa a formulação exata, mas transmite bem a mensagem.
— Eliminar a humanidade ou escravizá-la seria um objetivo míope. Eu sou um Espectro. Se quero ser poderoso, preciso de um humano poderoso. Enfraquecer a humanidade é o mesmo que desestabilizar meu caminho até o poder — disse Nick.
— Por que isso importaria pra você? — perguntou o Político. — Você é um Espectro.
— Está se referindo à questão do caminho até o poder? — perguntou Nick.
O Político não respondeu, mas estava claro que era sobre isso que falava.
— Porque eu não quero que minha existência seja sem sentido — disse Nick. — Como Espectro, não sou limitado por coisas como longevidade. A única forma de eu morrer é se algo encerrar minha existência com violência.
— Depois da morte, todos são iguais. Não há mais sentimentos, o que significa que você nem consegue sentir algo sobre a vida que viveu até então.
— Você não pode aproveitar a felicidade de ver um império imortal que criou, e não pode se arrepender de morrer sozinho e sem que ninguém saiba seu nome. Assim que você morre, nada disso importa, porque você não sentirá as consequências.
— O que é um tempo finito de luz diante de uma eternidade de escuridão?
— Um e um bilhão estão igualmente distantes do conceito de infinito.
— Então, não importa como eu viva minha vida. Ela será sem sentido de qualquer forma.
— A não ser que eu consiga alcançar a eternidade, e é isso que estou tentando alcançar.
Os Escudos olharam para Nick com interesse.
Apesar de ser um Espectro, ele soava surpreendentemente humano.
Naturalmente, eles conversaram tanto com Nick principalmente para investigar sua personalidade.
Se fosse um Espectro comum, não teria personalidade, ou seria simplesmente insano.
No entanto, o modo como Nick argumentava era muito humano e demonstrava valores e opiniões diferentes.
Havia uma complexidade significativa nele.
— Você quer se tornar um Eterno — declarou o Campeão.
— Não — respondeu Nick. — Isso não é o bastante. As chances de morrer nunca desaparecem de fato até que não reste mais nada que possa me matar. Tornar-se um Eterno ainda significa ter um igual.
O Campeão estreitou os olhos ao encarar Nick. — Você quer ser mais forte que o Sol?
Nick assentiu. — Esse é meu objetivo.
— Se tivesse esse poder, o que faria com o Sol? — perguntou o Campeão.
Essa era a pergunta mais delicada até agora.
Nick sabia que o Campeão da Luz era diferente, mas não sabia em qual sentido.
Seria mais inteligente dizer que queria matar o Sol ou deixá-lo em paz?
— Essa não é uma decisão que cabe a mim — respondeu Nick. — Vou trabalhar junto com a humanidade. Meu objetivo é alcançar a eternidade. A existência do Sol não tem relevância para esse objetivo. Posso seguir qualquer caminho.
— No entanto, preciso da humanidade como aliada para chegar perto desse objetivo, e a humanidade pode ter uma opinião sobre o destino do Sol. Para manter nossa parceria, deixaria o julgamento a cargo da humanidade.
O Campeão olhou para Nick por um tempo.
— Muito bem — disse após alguns instantes. — Você apresentou seus argumentos, e posso ver seu valor. Por ora, estou disposto a permitir sua cooperação com a Égide.
Nick fez uma reverência educada. — Obrigado, Campeão.
O Campeão virou-se para a Braço Esquerdo. — Pode continuar com o experimento. Use o Espectro da melhor forma que puder imaginar.
A Braço Esquerdo assentiu sem responder.
— Mas — acrescentou o Campeão com ênfase — ele não é humano. Nem mesmo humanos podem ser confiáveis como aliados da humanidade. Um Espectro é ainda menos confiável.
— Claro — respondeu a Braço Esquerdo. — Jamais baixarei a guarda.
O Campeão assentiu solenemente. — Mantenha-me atualizado sobre esse projeto.
A Braço Esquerdo assentiu.
Então, o Campeão olhou para Nick por alguns segundos sem dizer nada.
— Por ora, estamos dispostos a ajudá-lo. Certifique-se de que não mudemos de ideia — disse com firmeza.
Nick fez uma reverência. — Farei o meu melhor.
— Saia.
Nick se virou e caminhou lentamente para fora da sala.