O Técnico demorou para processar o que Nick acabara de dizer.
Nick não disse mais nada e apenas deixou tudo se assentar.
Era muita coisa para absorver em poucos minutos.
O Técnico desviou o olhar de Nick e caminhou até uma parede qualquer, ficando parado, olhando para o vazio, com os olhos desfocados.
— Isso é verdade? — perguntou o Técnico, com a voz trêmula. — Isso realmente… é possível?
— Hipoteticamente falando, existe uma chance — disse Nick. — Tudo está contra os animais. É quase impossível vencer. Mas não é completamente impossível.
O Técnico ficou em silêncio novamente.
E então, lágrimas escorreram por seu rosto enquanto ele contorcia o semblante.
Nick pôde até ouvir alguns soluços.
O Técnico estava realmente chorando, e não era apenas uma ou duas lágrimas.
Ele estava chorando de verdade.
Ao ver aquilo, Nick ficou feliz por ainda existirem humanos como o Técnico.
Humanos dispostos a dedicar a vida ao progresso da humanidade.
Humanos capazes de chorar por um grupo de pessoas que nem sequer conheciam pessoalmente.
Por fora, a Égide parecia estável e unida.
Parecia que estavam no caminho certo para lidar com os Espectros.
A tecnologia avançava, e mais Extratores poderosos surgiam.
E ainda assim, nos bastidores, não era nada disso.
O verdadeiro perigo não era o Sol, mas os seres que o criaram.
Lidar com eles era muito mais difícil do que lidar com o Sol.
Provavelmente, os Escudos sabiam mais ou menos o mesmo que Nick sobre os alienígenas.
Sabiam que havia uma base na lua, e não era difícil inferir o que os alienígenas mantinham lá.
No entanto, não tinham um plano de ataque.
Como poderiam manter qualquer coisa em segredo com o Campeão da Luz sendo um agente duplo e ninguém sendo capaz de permanecer nas trevas?
Embora a luz criada por Espectros não fosse luz do Sol, os Espectros pertenciam ao Sol, e era muito possível que qualquer informação perigosa fosse transmitida ao Sol por meio dos Espectros que fornecem luz.
Era desesperador.
Realmente desesperador.
Mas agora, Nick havia elaborado um plano.
Se Nick conseguisse lidar com os alienígenas, a humanidade teria uma chance contra o Sol.
Afinal, os Iluminados provavelmente conseguiram danificar seriamente o Sol.
Talvez até o tenham destruído, e os alienígenas precisaram criar outro.
Mas os alienígenas haviam sido impossíveis de matar.
Inatingíveis.
— Por que os animais continuariam lutando por tanto tempo, mesmo sem esperança? — perguntou Nick.
O Técnico entendeu o que Nick queria dizer.
Enxugou as lágrimas e recuperou o controle quase imediatamente.
— O que mais poderíamos fazer? — perguntou o Técnico. — Mesmo que as coisas pareçam impossíveis, você tem que continuar tentando. Tem que continuar lutando contra a maré, mesmo que nada mude.
— Mas é difícil — disse o Técnico com um suspiro profundo. — Lutar contra algo que você sabe que não pode vencer por toda a vida é algo muito difícil.
— Você tenta de novo e de novo, vê alguns pequenos sucessos, mas no grande esquema das coisas, sabe que isso não faz diferença.
— E mesmo assim, você continua lutando e lutando e lutando. Continua, sem parar.
— Apenas por aquele pequeno vislumbre de esperança.
— Você não espera vencer.
— Não, você só espera que pareça um pouco menos impossível.
— Você luta por só uma fração de esperança.
O Técnico respirou fundo.
— E essa esperança chegou — disse o Técnico.
Finalmente, o Técnico se virou e olhou para Nick.
Um sorriso tranquilo estava em seu rosto.
— Você nos trouxe essa esperança, e isso talvez seja o maior presente que a humanidade já recebeu.
— Obrigado.
— Obrigado, Nick.
O Técnico lutava contra as lágrimas de novo.
— Muito obrigado — disse com a voz trêmula.
Nick nunca se arrependera de ajudar a humanidade, e naquele momento, sabia que era a coisa certa a se fazer.
Apesar de suas emoções atenuadas, Nick ainda sentia plenamente a dor e a gratidão do Técnico.
O Técnico sempre havia sido descontraído e casual, mas no fundo, carregava uma montanha de responsabilidade e estresse impossível de suportar.
Assim como Nick, ele se sentia culpado.
Culpado por não ser forte o bastante para contribuir mais com a humanidade.
“Será que eu teria continuado lutando?”, pensou Nick. “Se eu soubesse a verdadeira dimensão da crise da humanidade, teria continuado?”
“Superar o Sol já parece quase impossível, mas a ameaça do Sol empalidece diante dos alienígenas.”
“Deve ter sido sufocante e desesperador lutar contra algo tão inevitável assim.”
— Vou encaminhar suas informações para os responsáveis — disse o Técnico, voltando ao seu comportamento habitual. No entanto, Nick percebia mais vida em suas palavras do que antes.
— Temos nosso próprio método de comunicação.
Um momento depois, o Técnico ficou em silêncio.
“Ele provavelmente está falando com a Braço Esquerdo”, pensou Nick.
E de fato, alguns minutos depois…
— A Braço Esquerdo quer ouvir o relatório diretamente de você — disse o Técnico. — Por favor, vá até ela.
Nick assentiu e saiu da sala sem dizer nada.
Depois que Nick partiu, o Técnico apenas ficou ali, olhando para o vazio.
Ele estava aliviado. Muito aliviado.
E ainda assim, enquanto o Técnico sentia os calorosos raios da esperança brilhando em seu coração, a garra sufocante da ansiedade e do medo o agarrava.
A esperança era tão preciosa.
Mas e se a perdessem?
Agora que o Técnico havia provado a esperança pela primeira vez em sua vida, não conseguia mais imaginar viver sem ela.
Eles não podiam perdê-la!
De jeito nenhum!
Enquanto isso, Nick viajava até os Salões da Lembrança e bateu à porta da Braço Esquerdo.
— Entre — disse a Braço Esquerdo com frieza.
Nick abriu a porta e entrou na sala escura da Braço Esquerdo.
Como sempre, ela estava sentada no centro da sala, aparentemente concentrada em algo aleatório.
— Conte-me sobre as ruínas e o Espectro — ordenou ela, com voz equilibrada.
Nick assentiu e falou sobre o poder do Espectro e o que havia encontrado nas ruínas.
— Você acredita que há uma forma de fazer os implantes funcionarem? — ela perguntou.
— Muito provavelmente, mas precisamos avançar bastante em termos de tecnologia — respondeu Nick.
O Campeão da Luz estava a menos de cem metros deles, na sala ao lado.
Por isso, Nick sabia que precisava falar com muito cuidado, e por isso dava apenas as respostas mais curtas possíveis.
— Entendo — ela disse. — Você fez uma contribuição significativa. Se desejar uma recompensa, pode entrar em contato com o Técnico. Ele o ajudará.
— Obrigado, Braço Esquerdo — disse Nick respeitosamente.
— Mais uma coisa — ela disse.
— Sim? — perguntou Nick.
— Você se colocou em certo risco durante sua missão, e preciso deixar claro que isso é inaceitável. Você é nosso único Espectro, e nos proporciona várias oportunidades únicas que são insubstituíveis.
— Sua sobrevivência é absolutamente prioritária.
— Se precisar de assistência, não hesite em entrar em contato comigo ou com o Técnico. Fui clara? — disse ela com um tom extremamente sério.
— Sim, Braço Esquerdo. Serei mais cuidadoso no futuro — respondeu Nick.
A Braço Esquerdo assentiu. — Obrigada — disse, com polidez.
— Sem problema — respondeu Nick com casualidade antes de sair da sala.
A mensagem da Braço Esquerdo fora sutil, mas Nick a entendeu.
Enquanto voltava ao departamento de pesquisa e desenvolvimento, Nick sentiu o peso aumentar sobre seus ombros.
Sua posição havia mudado significativamente.
Sua importância havia mudado significativamente.
“Ela está dizendo que minha sobrevivência é mais importante que a sobrevivência da Égide, e que, se for necessário, devo sacrificar até um Escudo para garantir minha vida”, pensou Nick.
Nick era o único que poderia atacar a base dos alienígenas.
Literalmente, não havia outra opção.
Se ele morresse, aquele pequeno brilho de esperança se apagaria, e a humanidade talvez não tivesse uma segunda chance.
A sobrevivência de Nick era ainda mais importante do que a existência da era atual.
Enquanto Nick estivesse vivo, a sexta era teria esperança.
No entanto, esse pensamento também colocava muita pressão sobre ele.
Ele não era mais apenas alguém que queria contribuir com a humanidade.
Não — sua existência era o único pino que impedia a humanidade de cair de volta no abismo.
Nick tinha que continuar vivo, custasse o que custasse!
Ao entrar novamente na sala do Técnico, Nick viu algo se aproximando rapidamente.
BANG!
Nick explodiu em luz, mas não conseguiu desviar!
Num instante, sentiu dois braços pequenos, mas fortes, envolvendo sua cintura.
Nesse momento, ele percebeu o que estava acontecendo.
A Faca o abraçava com força e o erguia com seu pequeno corpo.
O Técnico apenas sorriu.
— Obrigada! — gritou a Faca com empolgação.
Plop!
Então, ela largou Nick imediatamente e deu vários passos para trás.
— Não se acostume. Esse é o único que você vai receber — disse ela com uma carranca exagerada.
Nick a olhou por alguns instantes.
Nesse momento, um pensamento surgiu em sua mente.
“Eu consegui”, pensou Nick, em choque.
“Eu realmente consegui.”
“Acho que, com essa contribuição, finalmente me redimi.”
“Eu me redimi!”
Então, os olhos de Nick se estreitaram com convicção.
“Mas essa não é onde minha história termina!”
“Vou continuar lutando pela humanidade!”
“Com ou sem culpa.”
“Monstro ou salvador.”
“Não importa!”
“Vou continuar lutando pela humanidade!”
“Não importa o que aconteça!”