Joyce e Gravis se olharam com expressões desconfortáveis, permanecendo em silêncio por alguns segundos.
— Desculpa — os dois disseram ao mesmo tempo, arrancando uma expressão de surpresa um do outro.
— Por que você está se desculpando? — Joyce perguntou, surpresa. — Você me mostrou uma verdade sobre o mundo do cultivo. Eu é que deveria pedir desculpa, já que deixei minhas emoções controlarem minhas ações. — Joyce ficou um pouco vermelha de vergonha. — E também não quis dizer o que falei antes. Aquelas palavras foram desnecessárias.
Gravis suspirou. — Não se preocupe com isso. Não levei a sério. Além disso, devo me desculpar por falar de forma tão direta. Não levei em consideração seu caminho de cultivo. Afinal, as experiências de cada um são diferentes.
— Ei, não roube minhas palavras! — Manuel resmungou.
Gravis apenas sorriu levemente. — Sua sabedoria agora é minha sabedoria — disse com um sorriso de canto.
Manuel revirou os olhos, mas, por dentro, estava satisfeito. Ele se sentia orgulhoso. Afinal, nem todo mundo conseguia ensinar algo ao Calamidade do Relâmpago.
Joyce olhou confusa para os dois, mas logo voltou sua atenção para Gravis novamente. — De qualquer forma, me desculpe pelas minhas palavras. Sei que você só queria me ajudar.
— Águas passadas — Gravis disse, acenando displicentemente.
Joyce sorriu alegremente, e, por algum motivo, Gravis também sentiu uma certa felicidade ao ver o sorriso dela. Mas ele rapidamente se controlou. “Acho que estou realmente atraído por ela”, pensou. “Isso pode se tornar perigoso. Se eu me aproximar demais, posso ter dúvidas sobre meu caminho futuro. Não sei como vou agir em tal situação. Não posso correr o risco de decidir não deixar este mundo inferior. Não posso me aproximar demais dela.”
Joyce ficou confusa com as mudanças involuntárias na expressão de Gravis. Por um momento, ela juraria que ele havia mostrado um sorriso genuíno, mas ele desapareceu rapidamente. Agora, ele parecia apenas preocupado. “Eu realmente não o entendo”, pensou.
Manuel observava a interação enquanto cultivava, e só conseguiu esboçar um sorriso preocupado. “Acho que sei o que está acontecendo com Gravis. Não importa o que ele escolha, ele vai perder”, Manuel pensou. “Pela primeira vez, estou feliz de não estar na pele dele.”
Quem não queria ser um gênio poderoso? Só de imaginar a possibilidade de lutar dois Estágios acima de si já despertaria sentimentos de anseio. Contudo, todos têm seus próprios problemas, mesmo pessoas poderosas como Gravis. Quase ninguém tem uma vida fácil.
Assim, o tempo passou.
Algumas horas depois, Manuel atingiu o décimo Estágio de Reunião de Energia e imediatamente avançou para o Reino da Formação do Espírito. Quando o corpo de alguém era poderoso o suficiente, eles não precisavam de um dantian fortalecido. Os corpos de Manuel e Joyce facilmente cumpriam esse requisito.
Algumas horas depois, dois discípulos da Seita do Vento chegaram. Um deles era o que havia ido buscar o novo membro, enquanto o outro, obviamente, era o novo membro. O novo discípulo foi rapidamente até Manuel e o agradeceu pela oportunidade. Se Manuel não tivesse deixado o grupo da Seita do Vento, o novo discípulo não teria tido a chance de participar.
Manuel acenou, dispensando o agradecimento. Ele via suas ações como mais egoístas do que altruístas, então não se sentia confortável em aceitar a gratidão do novo discípulo.
Por um dia inteiro, nada de relevante aconteceu.
Brrr!
De repente, a porta da montanha começou a se abrir lentamente, criando um som desconfortável de pedras se raspando. Todos os grupos se levantaram e se prepararam. Muitos retiraram suas armas e se posicionaram em diferentes formações. Alguns outros grupos chegaram, mas ainda não havia sinal de nenhum grupo da Seita do Relâmpago.
Muitos dos grupos estavam confusos sobre a ausência da Seita do Relâmpago, mas apenas o grupo de Joyce sabia que nenhum grupo da Seita do Relâmpago viria. Afinal, para não forçar Gravis a lutar contra seus irmãos discípulos, Lasar decidiu não enviar um grupo para a guerra de recursos.
No entanto, havia outra coisa notável. Mesmo com a chegada de alguns novos grupos, o número total de grupos não aumentou. Isso porque os grupos das Seitas da Água, Luz e Escuridão haviam saído. Eles decidiram não correr o risco de enfrentar Gravis. Mesmo que sobrevivessem a todas as provas, lutar contra Gravis no final seria suicídio.
Como o grupo da Seita da Terra também havia encontrado um fim prematuro, apenas duas Seitas estavam participando da guerra de recursos deste ano. Uma era a Seita do Vento, e a outra era a Seita do Fogo. A Seita do Fogo era composta por maníacos de batalha, enquanto as pessoas da Seita do Vento eram mais despreocupadas. O que acontecesse, aconteceria. Eles queriam se refinar, então por que não deveriam?
Quando o portão se abriu completamente, um grupo após o outro entrou, até que apenas o grupo de Joyce restou.
— Vamos lá — Joyce disse com motivação, apontando para frente com uma espada longa e fina.
Manuel riu um pouco ao ver isso. — Essa pose ficaria melhor se você estivesse em um cavalo — disse com um sorriso.
Joyce se virou para ele e fez uma careta. — Ei! Não estrague meu momento!
Manuel riu de leve e então caminhou à frente. — Vamos logo — disse ele.
Gravis também caminhou à frente, passando por Manuel. Sem dizer uma palavra, ele entrou na Provação do Céu. O restante do grupo o seguiu rapidamente. Um corredor longo e mal iluminado os saudou, com apenas algumas tochas criando um pouco de luz. Sem elas, tudo estaria em total escuridão.
Eles seguiram o caminho por vários quilômetros. Surpreendentemente, o caminho não era reto. Subia e descia, ia para a esquerda e para a direita. A construção do corredor parecia mais com o corpo de uma cobra do que um corredor propriamente dito. Quem construiria um corredor tão irregular?
Gravis verificou o caminho com seu Espírito e notou outra coisa surpreendente. “As paredes bloqueiam meu Espírito. Além disso, não consigo ver mais de um quilômetro com meu Espírito. Em um caminho reto, eu poderia ver mais longe só com os olhos”, Gravis pensou. “Bem, isso faz sentido. Se todos pudessem investigar os caminhos, eles poderiam se preparar para as provas.”
Após caminhar por um tempo, o grupo chegou a um pequeno salão. Duas tochas no centro iluminavam os arredores. As pedras eram amarronzadas, e o design lembrava um templo antigo, ou as ruínas de um. Duas portas antigas estavam diante deles. Acima de cada porta havia uma grande tábua de pedra com inscrições. Uma tinha um grande ‘1’, enquanto a outra tinha um ‘4’.
— Estranho. Não vejo os outros grupos, e essas portas também são estranhas — Manuel disse, estreitando os olhos. — Isso não bate com as informações que recebi da minha Seita.
Os outros também concordaram. — Mesma coisa aqui — disse o discípulo do raio. — Todos os grupos deveriam se encontrar em um salão gigantesco com várias portas. Nesse salão, a maioria dos discípulos avançaria para o próximo Reino antes de entrar nas provas respectivas. Não consigo imaginar que todos já fizeram seus avanços.
Gravis ouviu a discussão e logo encontrou a resposta. “Não é de se admirar que o corredor fosse tão tortuoso. Depois que os outros grupos entraram, o Céu rapidamente mudou o caminho só para nós. Os outros grupos provavelmente estão confusos com uma parede que apareceu de repente atrás deles. Se tivéssemos entrado primeiro, a mesma coisa teria acontecido, e se tivéssemos entrado no meio, provavelmente teríamos sido empurrados para um novo caminho por uma parede.”
Gravis não sabia o que os números acima das duas portas significavam, mas tinha uma suspeita. — Deixe-me adivinhar. Os números acima das portas dizem quantas pessoas podem entrar — Gravis disse.
Manuel assentiu. — Exatamente, mas deveria haver muitos caminhos diferentes disponíveis. Também é extremamente estranho que não tenhamos opção de escolha. Estamos sendo forçados a nos dividir. Isso é muito estranho. Normalmente, haveria centenas de caminhos com todos os tipos de números.
— Bem, não há muito o que possamos fazer — disse Gravis, enquanto caminhava em direção ao portão com o grande número ‘1’. — É aqui que nos separamos — ele disse, olhando para o grupo. — Espero que nos vejamos de novo.
— Espera! — disse o discípulo da Escuridão. — Você não está levando isso de forma casual demais? Tem algo muito errado aqui! Vamos conversar sobre isso antes de continuar!
Gravis deu de ombros. — O que deveríamos fazer? Queríamos nos separar desse jeito de qualquer forma. Pelo que vejo, isso só facilita as coisas.
O grupo se olhou, meio sem saber o que fazer. Gravis estava certo, mas ele estava lidando com a situação de forma um pouco despreocupada demais.
— Vamos lá! — Joyce gritou e caminhou em direção à outra porta. — Por que estão hesitando? Não estamos aqui para nos refinar? Então a composição da provação é um pouco estranha, e daí? Não importa. Não podemos mudar nada de qualquer forma. Já estamos em perigo de vida de qualquer jeito. Isso não vai fazer diferença.
Os três restantes suspiraram e seguiram Joyce. Agora, todos estavam diante de seus respectivos portões, quatro pessoas em um e uma no outro. Os dois grupos se olharam. — Até mais! — Joyce gritou para Gravis com uma piscadela.
Gravis deu um leve sorriso. — Até mais!
Brrrr!
Joyce abriu o portão e entrou. Manuel a seguiu, mas não antes de dar um joinha para Gravis como sinal de camaradagem. Os outros dois também se despediram de Gravis e seguiram Manuel.
BANG!
As portas se fecharam violentamente atrás deles.
Com isso, Gravis estava sozinho novamente.
Após esperar alguns segundos em silêncio, Gravis estalou o pescoço.
— Que belo contraste, Céu — disse Gravis. — Um grupo é composto por três pessoas que passaram pelo décimo Estágio de Reunião de Energia, tornando-os muito valiosos para você, enquanto o outro é seu inimigo mais odiado.
— Um grupo tem um julgamento feito sob medida para suas necessidades. Eles provavelmente têm uma chance incrivelmente alta de passar por todas as provas. E então tem eu. Você provavelmente fez o seu melhor para tornar meus julgamentos os mais nojentos e perigosos possíveis.
Gravis riu um pouco.
— De qualquer forma, hora de eu alcançar o Estágio da Muda!