Ninguém notou que Gravis havia partido. Mesmo que houvesse um Rei Imortal observando-o, ele não perceberia sua ausência. Era como se a realidade tivesse sido alterada, como se Gravis nunca tivesse estado ali.
SHING!
Gravis reapareceu em um local diferente e imediatamente sentiu uma vertigem enquanto seu corpo tremia levemente. “Droga! A sensação de deslocamento espacial nunca foi tão intensa antes. Isso provavelmente significa que me teletransportei uma distância insanamente longa.”
— Bem-vindo, irmão sênior! — disse, animada, a voz de uma criança.
Gravis balançou a cabeça um pouco para se recompor e olhou para quem havia falado.
Era um menino de dez anos, no Reino de Formação Espiritual. Ele parecia excitado como uma criança pequena, com os olhos arregalados olhando para Gravis.
— Ah, desculpe — disse Gravis. — Eu não sou seu irmão sênior.
— Não é? — perguntou o menino, chocado. — Mas você está aqui. Todos fazem parte da minha família aqui!
Gravis olhou ao redor e percebeu que o menino não era a única pessoa presente.
Cerca de cem seres estavam olhando para Gravis com expressões diferentes. A maioria parecia animada e chocada, mas os mais poderosos tinham reações diferentes.
Os jovens e fracos olhavam para Gravis com admiração e entusiasmo, enquanto os mais velhos e poderosos o encaravam com certa confusão, hesitação e ceticismo.
Seres?
Sim, não havia apenas humanos ali. Gravis também notou a presença de muitas bestas jovens. Humanos normais poderiam não perceber as diferenças sutis de idade entre as bestas, mas Gravis, que havia vivido entre elas por mais de mil anos, sabia que muitas delas eram muito jovens.
— Por que você veio aqui? — perguntou a Gravis uma Rainha Imortal de Circulação Menor Básica com as sobrancelhas franzidas. Sim, até mesmo Reis Imortais estavam ali. Havia até alguns seres cujo poder era tão grande que Gravis não conseguia julgar.
Reis e Imperadores Imortais tinham experiência suficiente para perceber as diferenças sutis entre Gravis e os novos membros habituais daquela “família”.
Os novos membros sempre irradiavam uma leve sensação de isolamento.
Gravis, no entanto, exalava uma sensação de harmonia madura com o mundo, indicando que estava relativamente seguro em sua vida, sem grandes problemas emocionais.
Os novos membros geralmente tinham Auras de Vontade um pouco mais fortes do que o normal, mas a Aura de Vontade de Gravis era incrivelmente poderosa. Alguém com uma Aura de Vontade tão insana para seu Reino não entraria naquela família. Uma pessoa assim seria facilmente reconhecida como um gênio valioso no mundo exterior.
Além disso, os novos membros costumavam ter força de batalha mediana ou ligeiramente acima da média.
No entanto, os olhos experientes dos Reis Imortais podiam discernir a força de batalha de Gravis.
Sua força de batalha era tão surreal que parecia uma paródia ou uma mentira. Rompia facilmente qualquer convenção comum.
Em suma, Gravis se destacava como uma zebra em meio a cavalos para todos os Reis Imortais.
Gravis era o completo oposto do que o professor deles buscava em novos membros.
Gravis olhou para a Rainha Imortal e coçou a nuca. — Não tenho muita certeza. Um Imperador Imortal loiro me deu um emblema. Aparentemente, alguém que ele chama de professor quer falar comigo. Porém, o Imperador Imortal deixou bem claro que eu não faria parte da sua… Seita? Família? Poder? Organização? Não sei, para ser honesto.
Os olhos da Rainha Imortal se arregalaram enquanto ela olhava para Gravis, surpresa. — Você conheceu o Irmão mais velho? — perguntou.
— Não sei o nome dele — disse Gravis. — Ele não se apresentou.
As crianças ficaram confusas. Alguém havia vindo para lá sem se tornar parte da família? Isso era possível?
O Rei Imortal ainda olhava para Gravis com ceticismo, mas, de repente, seus olhos brilharam brevemente. Então, ela começou a sorrir e fez uma reverência educada. — Desculpe-me pela falta de educação. O professor acabou de me contatar e disse para levá-lo até ele.
Gravis assentiu. — Sem problemas. Obrigado — disse.
— Não há o que agradecer — respondeu ela com um sorriso. Então, apontou em uma direção. — Por favor, siga-me.
— Claro — disse Gravis.
Gravis começou a segui-la, mas não antes de perceber alguns detalhes com base nas pistas do ambiente.
Primeiro, as crianças ficaram muito confusas quando ele disse que não fazia parte da família. Isso significava que ninguém entrava ali sem ser parte da família. Algo assim parecia normal e óbvio, mas, pensando bem, isso levantava uma questão estranha.
Essas pessoas não tinham família ou amigos fora dessa ‘família’? Se tivessem, esses amigos e familiares não os visitariam de vez em quando, tornando a aparição de alguém de fora da ‘família’ normal?
Isso sugeria que essas pessoas ou eram isoladas do mundo exterior ou não tinham permissão para encontrar seus entes queridos nesse lugar.
Outro detalhe notável eram as bestas. Com base no que Gravis havia ouvido das pessoas que encontrara antes neste mundo, era óbvio que humanos e bestas não se davam bem. Poderia até haver uma guerra entre eles para promover desafios.
Ainda assim, ali, bestas e humanos conversavam como se não houvesse diferenças entre eles. Isso poderia não ser incomum no mundo mais alto, mas, nesse mundo, onde humanos não gostavam de bestas? Muito incomum.
Outro ponto intrigante foi a reação de todos ao mencionar o Irmão mais velho e o professor.
Todos mostraram expressões de reverência e respeito ao ouvir sobre o Irmão mais velho.
Mas, quando a Rainha Imortal disse que o professor havia entrado em contato, como todos reagiram?
De forma nenhuma.
Era como se o professor fosse a pessoa mais comum do mundo, como se eles o vissem todos os dias. O professor era obviamente mais poderoso do que o Irmão mais velho, mas este comandava muito mais respeito e adoração. Isso também era incomum.
“É como a diferença entre pais e um irmão mais velho”, pensou Gravis. “Os pais estão sempre presentes, mas o irmão mais velho só retorna raramente. Os pais podem ser mais impressionantes que o irmão mais velho, mas, por estarem constantemente presentes, as crianças não percebem a importância dos pais.”
Outro detalhe interessante era o ambiente em que Gravis estava.
Ele estava em uma clareira no meio de uma floresta. Não havia construções, nem mesmo bancos ou assentos. Era como se todos vivessem na natureza.
“Ainda assim, as crianças e adolescentes parecem achar isso normal. Tenho certeza de que já viram casas e construções antes, mas não se incomodam em viver aqui. Se frequentassem o mundo exterior, sentiriam a necessidade de criar bancos ou algo do tipo. Mas não o fazem.”
“Isso provavelmente significa que eles ou não têm permissão para construir nada ou não têm nenhum contato com o mundo exterior. Tenho quase certeza de que é um pouco dos dois. Os mais fracos provavelmente permanecem aqui até atingirem certo nível de poder, acostumando-se ao ambiente. Então, quando vão para o mundo exterior e retornam, provavelmente não têm permissão para construir nada, a fim de não corromper os mais jovens.”
“Não viver em construções provavelmente torna as pessoas mais receptivas à natureza, fazendo com que se sintam mais próximas do clima e dos elementos. Viver assim provavelmente facilita muito a compreensão das Leis no futuro.”
“Além disso, os mais jovens não duvidaram das minhas palavras por um segundo. Era como se nunca tivessem sido confrontados com enganos ou mentiras. Eles também emanam uma certa aura de pureza. É como se não tivessem sido tocados pela falsidade humana.”
Gravis era um Imortal, e seus pensamentos eram incrivelmente rápidos. Ele descobriu tudo isso antes mesmo de dar o primeiro passo.
Gravis e o Rei Imortal caminharam por alguns minutos na velocidade de mortais. Gravis não estava acostumado a caminhar tão devagar, e, entediado, começou a olhar ao redor.
Ele viu muitos animais e bestas mais fracas vivendo perto da clareira, mas nenhuma delas podia entrar. Provavelmente havia algum tipo de Formação de Matrizes impedindo sua entrada.
Gravis também observou as árvores e os animais por mais algum tempo, mas rapidamente se entediou. Depois disso, continuou simplesmente seguindo a Rainha Imortal.
— Está tão acostumado aos luxos da humanidade que não consegue ver a beleza da natureza? — perguntou a Rainha Imortal. Ela não parecia arrogante, mas triste. Era como se tivesse pena de Gravis.
— Não, não é isso — disse Gravis, cruzando os braços atrás da cabeça, entediado. — É só que eu já conheço todas as Leis que posso ver aqui. Ficou chato.
Os olhos da Rainha Imortal se arregalaram em choque enquanto ela se virava para Gravis, que apenas a olhou de volta com sua expressão habitual, impassível.
Depois de olhar para Gravis por alguns segundos, ela suspirou e continuou caminhando. — Você realmente não combina com nossa família.
Com seus olhos experientes, ela foi capaz de ver que Gravis estava dizendo a verdade, mesmo sem ele precisar ativar sua Lei da Honestidade.
Saber todas as Leis ao redor significava que Gravis conhecia muito sobre os elementos e a vida. Uma floresta complexa, cheia de vida, movimento, água, terra, vento, árvores, animais e tudo o mais que compunha aquele mundo, não tinha nada de novo para ele.
Uma compreensão de Leis tão insana em um Imortal estava muito longe do comum.
Eles caminharam por mais uns 20 minutos até que a Rainha Imortal parou.
— O professor está ensinando alguns dos meus irmãos do Reino Unidade sobre os conceitos gerais de compreensão de Leis. Tenho certeza de que você pode esperar até que eles terminem — disse ela.
No entanto, Gravis não a olhou.
Ele nem mesmo a ouviu.
O Espírito de Gravis sempre esteve espalhado, e ele já havia percebido que muitos Cultivadores e bestas do Reino Unidade estavam reunidos em um lugar, olhando na mesma direção. Ainda assim, seu Espírito não conseguia ver o que eles estavam observando.
Mas agora, depois que Gravis se aproximou o suficiente para ver a congregação com seus próprios olhos, ele viu o ‘professor’.
A mente de Gravis quase parou de funcionar quando ele viu aquele professor.
Como?
Por quê?
Uma avalanche de perguntas passou pela mente de Gravis enquanto ele tentava entender o que estava vendo. Como isso era possível!?
Na frente dos estudantes, Gravis viu um homem.
Ele parecia ter pouco mais de vinte anos e tinha longos cabelos loiros.
E ele tinha cinco olhos.