Liam e Stella olharam para a mão desintegrando de sua professora com choque e horror.
Toda a raiva desapareceu da mente de Stella, que correu até sua professora. — Me desculpe! — ela gritou emocionada enquanto a segurava. — Eu não quis dizer aquilo! Estava com raiva!
A professora de Stella sorriu e acariciou os cabelos dela. — Eu sei — disse ela. — Está tudo bem.
— Por quê!? — Stella gritou. — Por que você sacrificou sua vida pela minha!?
— Porque você é mais importante para mim do que esta velha vida que levo — disse ela. — Minha tribulação viria em alguns milhares de anos de qualquer forma, e eu não conseguiria compreender uma Lei de nível seis até lá. Minha vida já estava no fim. Então, em vez de viver esses últimos anos sem propósito, decidi sacrificar esse pouco que restava para prolongar o seu.
Liam olhava para sua professora, chocado. Ela morreria? Ela havia sido como uma mãe para eles!
Depois de um momento, Liam também correu até ela, lágrimas escorrendo de seus olhos, abraçando-a com força. Ele não queria perdê-la!
Gravis suspirou ao ver os três se abraçando. De repente,*- sentiu saudades de sua família. Ele estava ali há poucos dias, mas já começava a sentir falta de seus três filhos e de seus pais.
“Infelizmente, minha jornada neste mundo mais alto está apenas começando”, pensou Gravis.
No entanto, Gravis também olhou para Stella. Por algum motivo, ele estava genuinamente feliz por Stella não ter morrido.
Ele admirava Stella. Ela conhecia muitas Leis, inclusive a Lei da Empatia. Além disso, ela o havia alertado várias vezes em vez de simplesmente aceitar o desafio e garantir uma vitória fácil.
Na mente dela, Gravis não representava nenhum perigo real. Ela não tinha motivo para alertá-lo tantas vezes para que ele não jogasse sua vida fora. Isso mostrava que ela honestamente não queria matá-lo.
Além disso, ela não usou seus ataques mais poderosos imediatamente. Em vez disso, demonstrou seus poderes lentamente, na esperança de que Gravis reconhecesse sua superioridade e desistisse. Gravis tinha certeza de que Stella teria aceitado sua rendição e não o mataria.
Desde o começo, ela não queria matá-lo.
Gravis queria matar Stella?
Ele estava disposto a matá-la por seu próprio crescimento, mas não era algo de que gostasse. Ela havia provado ser uma pessoa realmente boa.
Infelizmente, ser uma pessoa boa não era o suficiente para Gravis. Ela havia sido uma oponente poderosa, e ele queria se refinar. Ele já havia matado tantas pessoas boas antes, então o que tornaria esta diferente?
No entanto, Gravis preferiu esse desfecho à morte dela. Ele havia conseguido o refinamento que buscava. Sua Lei do Perigo foi aprimorada, ele aprendeu muito sobre a Lei Maior dos Elementos e sua Aura de Vontade já havia subido um nível.
Gravis conseguiu o que procurava, e Stella não morreu.
“Sem razão para continuar aqui”, pensou Gravis. “Nos encontramos, lutamos, e agora nossos caminhos se separam novamente.”
Gravis se virou e verificou o mapa mental em busca do próximo ponto de recursos. Essa primeira luta havia sido intensa, mas ele duvidava que algo assim acontecesse novamente.
— Por favor, espere — disse a professora de Stella.
Gravis se virou para eles novamente. — Sim? — perguntou ele.
— Você não sente isso? — ela perguntou.
— Não sei do que está falando — ele respondeu.
A professora sorriu suavemente enquanto afastava Stella e Liam com delicadeza.
— Vivi por muito tempo e vi inúmeras pessoas — disse ela.
— E tenho certeza de que existe uma conexão entre você e Stella — afirmou.
Gravis franziu a testa enquanto Stella olhava para sua professora, confusa. Então, ela também franziu a testa ao olhar para Gravis.
— Ele? — Liam quase cuspiu. Ele ainda estava com raiva de Gravis por quase ter matado sua irmã.
— Vejo algo em você — disse a mulher para Gravis. — Você tem algo que Stella precisa.
Gravis piscou, entediado. — Quer me extorquir agora? — perguntou.
A professora riu levemente. — Não — respondeu ela. — Não estou falando de algo material.
— Estou falando do seu modo de pensar — explicou.
— Ainda não entendi — Gravis disse.
— Não entendeu? — ela perguntou com um sorriso. — Eu vi quem você é quando luta e acho que te entendo bem. Você tem algo de que Stella precisa mais do que tudo neste momento.
Gravis ainda não compreendia.
— Do que você está falando, professora? — perguntou Stella. — O que eu poderia precisar dele?
— Garota tola — disse ela, acariciando novamente o cabelo de Stella. — Deixe-me mostrar — disse enquanto se virava para Gravis.
— Minha interferência e o fato de eu ter salvo Stella tornaram mais difícil para ela se refinar no futuro. A interferência de outros é sempre prejudicial ao cultivo de alguém.
— Mas deixe-me perguntar — continuou ela. — Também salvei sua vida com minha interferência. Isso prejudicou seu cultivo?
— Não — Gravis respondeu imediatamente.
Liam e Stella olharam para Gravis, surpresos. Não? Mas sua Aura de Vontade era tão poderosa! Alguém com uma Aura de Vontade tão forte deveria ter enfrentado todos os seus oponentes diretamente e sem interferências. Quanto mais poderosa a Aura de Vontade de alguém, mais devastadora seria a interferência de outra pessoa.
Como algo assim não impactaria o cultivo de Gravis?
— É disso que estou falando — disse a professora de Stella. — Stella está em um ponto crítico para seu cultivo futura. Se ela tomar uma decisão errada, sua vida terminará ou ela nunca mais conseguirá se refinar. No entanto, essa enorme questão que assola a mente de Stella não significa nada para você.
— Você pode ser capaz de guiá-la para fora dessa tribulação — afirmou.
Gravis olhou para Stella por um segundo.
Por que essa interferência não era um problema?
Na época em que o Comandante Rime havia interferido no refinamento de Gravis, ele decidiu matá-lo para manter seu caminho puro para o poder. Ele havia sido vítima da mesma circunstância naquela ocasião. Alguém havia interferido, e o caminho de Gravis para o poder havia sido comprometido.
No entanto, tudo mudou com duas realizações.
A primeira foi quando o Céu intermediário mostrou a Gravis que um caminho puro para o poder era uma ilusão. Tudo era apenas algo na mente do cultivador. Enquanto alguém não achasse que pureza era importante, a interferência não poderia prejudicá-lo.
Isso podia ser comparado a perder o parceiro da vida. Se o parceiro de uma pessoa morresse, ela ficaria destruída.
Por quê?
Por causa do amor.
Mas e se o sentimento de amor pudesse ser erradicado? A perda do parceiro ainda importaria? Ainda machucaria?
Não.
Um exemplo como esse parece frio e estéril, mas demonstra o efeito do distanciamento. Se alguém não atribuísse ao poder e ao refinamento algum ideal de pureza, a interferência não o prejudicaria.
Outra coisa era a Lei da Liberdade.
A interferência de outra pessoa teoricamente contava como alguém impondo sua vontade e decisão sobre o cultivador. Liberdade não fazia parte da realidade física, mas da realidade percebida.
De forma muito simples, se alguém acreditasse ser livre e não se importasse com a interferência de outros, essa interferência não teria importância.
Infelizmente, tudo isso era fácil de explicar, mas quase impossível de colocar em prática.
Stella era poderosa, mas não havia passado pelas intensas supressões e dores que Gravis enfrentara. Somente quando o caminho de alguém fosse completamente destruído seria possível perceber que o caminho não era importante desde o início.
— Então você deseja que eu ajude Stella a sair de sua situação? — Gravis perguntou.
A professora de Stella assentiu.
Liam não gostou nem um pouco disso, enquanto Stella estava dividida. Suas emoções ainda estavam abaladas pela visão do crânio em chamas bem diante dela, fazendo-a se sentir muito apreensiva e um pouco temerosa em relação a Gravis.
— Honestamente — disse Gravis — eu ajudaria, mas não posso. Vocês viram meu Avatar, e com seus olhos experientes, talvez saibam qual é a Lei. Então, me digam: por que tão poucas pessoas conhecem essa Lei?
Stella e Liam se lembraram do Avatar de Gravis, mas não faziam ideia de qual Lei se tratava.
— Acho que sei — disse a professora. — Nunca vi essa Lei com meus próprios olhos, mas já ouvi descrições.
Os olhos de Liam e Stella se arregalaram de choque. Uma Lei que sua poderosa professora nunca tinha visto?
— O motivo pelo qual tão poucos conhecem essa Lei é que ela não pode ser ensinada — explicou Gravis. — Você precisa descobri-la por conta própria.
No entanto, em vez de se sentir desencorajada, a professora apenas deu um leve sorriso. — Sim, mas não é uma Lei Situacional? — perguntou ela.
Gravis assentiu.
— Então, mesmo que você não possa ensiná-la, pode criar situações que permitam que alguém a compreenda por si só.
As sobrancelhas de Gravis se franziram.
— Quero dizer, mais ou menos, mas não é tão simples assim — respondeu ele.
— Não pode ao menos tentar? — perguntou a professora.
Gravis hesitou por alguns momentos enquanto olhava para Liam e Stella.
Liam claramente era contra essa ideia. Se Gravis tivesse que mostrar essa Lei a eles, significaria viajar juntos. Viajar com alguém que o odiava tanto? Seria como entregar sua cabeça em uma bandeja.
Após alguns segundos, Gravis olhou novamente para a professora com uma sobrancelha levantada.
Ela percebeu como Liam havia reagido e suspirou. Não importava o que dissesse, Liam não enterraria seu ódio por Gravis, e nenhum cultivador convidaria alguém assim para viajar junto.
— Por favor — disse Stella, chamando a atenção de Gravis e Liam.
— Eu confio na minha professora. Se ela acha que você pode me ajudar, então, por favor… — disse ela.
Liam e Gravis olharam para Stella com choque.
Isso não correspondia à imagem que eles tinham dela em suas mentes!